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Os motivos que le- vam um indivíduo a procurar ajuda de um psicólogo clínico são a busca de auto- conhecimento e/ou problemas que o cliente não está con- seguindo enfrentar sozinho, entre eles os chamados transtor- nos psiquiátricos. Quando uma pessoa procura ajuda de um psicólogo clínico/analista em busca de autoconhecimento – comportamento ainda pouco frequente em nosso país –, ela está se engajando em um comportamento que pro- duz, principalmente, maior acesso a reforça- dores. Isso porque, ao conhecer melhor seus comportamentos – ou seja, aquilo que faz, pensa e sente, bem como as contingências que controlam/afetam essas respostas –, teo- ricamente, maior será sua capacidade de lidar com esses eventos, podendo alterá -los, geran- do, como consequência, mais reforço ou re- forçadores mais potentes. Por exemplo, uma pessoa que, entre outras coisas, vive um rela- cionamento amoroso “bom” e busca discutir em sua análise esta relação, poderá compre- ender quais atitudes suas agradam seu parcei- ro e emiti -las mais frequentemente, o que, possivelmente, fortalecerá o apreço que seu parceiro tem por ela. Se o objetivo dessa pes- soa é fortalecer seu relacionamento amoroso,

esse é um comportamento que poderá ser emitido com esse objetivo.

Todavia, a maior parcela dos clientes que procuram um clínico o faz porque “está com problemas”. Você não ouve alguém dizer que está com problemas porque está ganhan- do dinheiro ou está feliz no relacionamento amoroso ou foi aprovado na faculdade. Ao contrário, um indivíduo diz que está com problemas quando

seus comportamen- tos não produzem aquilo de que ele gos- taria ou, quando pro- duzem, trazem con- sigo sofrimento. Nes- se sentido, “estar com problemas” refere -se a dificuldades em emitir respostas que diminuam estimula- ções aversivas ou que deem acesso a refor- çadores.

A dificuldade em produzir reforçadores ou eliminar ou atrasar aversivos pode se dar por diferentes motivos: pela falta de repertório, o indivíduo não sabe (aprendeu) emitir a res- posta que produz essas consequências; por fa- lhas no controle discriminativo, o indivíduo não fica sob controle de eventos do ambiente que deveria ter para que sua resposta seja refor- çada; por dificuldade em relação à intensidade (excesso ou insuficiência) da resposta, não pro- duz a consequência; etc. Assim, caberá ao clíni- co identificar estes comportamentos e auxiliar o cliente na mudança destas relações, permi- tindo a ele (cliente) maior acesso a reforçadores e/ou menor exposição a eventos aversivos.

O outro motivo que alguns psicólogos atribuiriam como determinante na busca por um trabalho clínico (análise) é “estar acome- tido por um transtorno psiquiátrico”. Toda- via, seriam os “transtornos psiquiátricos” di- ferentes dos demais “problemas clínicos”?

Os motivos que levam um indivíduo a procurar ajuda de um psicólogo clínico são a busca de autoconhecimento e/ou problemas que o cliente não está conseguindo enfrentar sozinho, entre eles os cha‑ mados transtornos psiquiátricos.

Um indivíduo diz que está com proble‑ mas quando seus comportamentos não produzem aquilo que gostariam ou quando produzem trazem consigo sofrimento. Nesse sentido, “estar com problemas” refere‑ se a dificuldades em emitir respostas que diminuam estimula‑ ções aversivas ou que deem acesso a reforçadores.

Com o avanço dos estudos da psiquia- tria e das ciências do comportamento, sabe -se hoje que tanto “transtornos psiquiátricos” como qualquer outro comportamento so- frem influência em três níveis: filogené- tico, ontogenético e cultural, o que, para muitas disciplinas, é mais referido como biopsicossocial. Nes- sa perspectiva, não existiriam diferenças significativas entre “transtornos psiquiátricos” e outros “proble- mas clínicos”.

Todavia, há aqueles que defendem que apesar de os “transtornos psiquiátricos” sofre- rem influências múltiplas, sua diferenciação dos outros problemas se dá pela sua presumi- da origem orgânica.

> multideteRmiNação do

compoRtameNto

Para a Análise do Comportamento, a psicolo- gia é uma ciência natural que está alinhada com a biologia, especificamente com o mo- delo de seleção natural. Assim, o comporta- mento é entendido como algo que é natural e variável e passa por um processo de seleção pelos efeitos que produz no ambiente, o que chamamos de seleção por consequências. Desse modo, o comportamento – assim como as espécies no modelo de seleção natural – é produto de variação e seleção, o que ocorre em três níveis: filogenético, dado que o indi- víduo nasce com uma predisposição a res- ponder de determinada maneira, a qual foi herdada através de seleção de genes; ontoge- nético, dado que, a partir de sua concepção, o indivíduo naturalmente age (emite respostas) de forma variável (variabilidade comporta-

mental), produzindo mudanças no ambiente, sendo essas (mudanças no ambiente) selecio- nadoras de repertório (tornarão mais prová- veis uma parcela destas respostas); e cultural, dado que o sujeito é sensível, também, ao ambiente social que integra, sendo este (am- biente social) selecionador de padrões com-

portamentais típicos daquele grupo.1

Uma vantagem dessa proposta é não dar a uma das instâncias selecionadoras (filo- genética, ontogenética e/ou cultural) trata- mento diferencial ou maior importância. O importante é observar o entrelaçamento entre elas, não ignorando nenhuma.

Assim, ao se voltar à discussão que encer- ra a seção anterior – que trata da “crença” de alguns que a diferença entre problemas psiqui- átricos e problemas clínicos está na sua origem, sendo que os primeiros têm causas “orgânicas” (físicas) enquanto os

outros têm causas “psicológicas” (meta- físicas) –, pode -se di- zer que todo compor- tamento resulta da história do indivíduo, ou seja, do entrelaça- mento de mutações genéticas, experiên- cias diretas ou trans- mitidas pelo grupo social que integra, e

que os chamados transtornos psiquiátricos também são produtos dessa história, receben- do maior ou menor influência de cada um des- tes aspectos da história. Resumidamente, os “transtornos psiquiátricos”, assim como qual- quer outro comportamento, são comporta- mentos multideterminados em suas origens e em sua manutenção.

Essa explicação analítico -compor ta- men tal dos problemas clínicos e transtornos psiquiátricos não igualam totalmente tais eventos. Se, por um lado, iguala seus aspectos causais atribuindo a ambos a multidetermi-

Com o avanço dos estudos da psiquia‑ tria e das ciências do comportamento, hoje se sabe que tanto “transtornos psiquiátricos” como qualquer outro comportamento sofrem influência em três níveis: filogené‑ tico, ontogenético e cultural. Os “transtornos psiquiátricos” são resultantes do entrelaçamento de fatores genéticos, experiências diretas ou transmitidas pelo grupo social que o indivíduo integra. Assim são determi‑ nados por multiplas “causas” e mantidos por contingências entrelaçadas.

nação histórica, por outro lado, permite uma distinção entre eles pelo comprometimento que podem exercer sobre o organismo, inclu-

sive diferentes graus de comprometimen- to em diferentes ní- veis de variação e se- leção.

Assim, ao se deparar com uma criança com desen- volvimento atípico (por exemplo, autis- mo), pode -se verificar uma forte determina- ção no nível filogenético, mas pode -se encon- trar, em muitos casos, influências nos níveis ontogenético – por exemplo, pais que super- protegem, dificultando o desenvolvimento (aprendizagem) da criança – e cultural – por exemplo, práticas de exclusão que podem le- var à maior diferenciação entre essa criança e as demais. Em contraponto, é possível encon- trar casos em que o indivíduo não apresenta influência filogenética evidente (ausência de histórico familiar de transtornos mentais), mas apresenta padrão comportamental espe- cífico (por exemplo, transtorno de ansiedade generalizada), iden ti fi can do -se nestes casos fortes influências nos níveis ontogenético – por exemplo, história com grande exposição a punições no âmbito familiar – e cultural – por exem plo, cobrança de que é preciso ser o melhor.

Toda esta discussão é de fundamental importância para o psicólogo clínico, pois, compreendendo o fenômeno por esta pers- pectiva, ele poderá e deverá buscar identificar as contingências que influenciaram o desen- volvimento deste repertório e, mais ainda, as contingências que o mantêm. Diante delas o clínico estará mais perto de encontrar meios eficientes de intervir sobre tais padrões com- portamentais, resultando em menor sofri- mento para o cliente.

> NoRmalidade: um

coNceito defiNido