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intervenções baseadas em modificação da consequência

Até o momento, apresentamos as interven- ções relacionadas à modificação do antece- dente. Apresentaremos, agora, intervenções que alteram as consequências da resposta. Uma dessas intervenções, a modelagem, está intimamente relacionada ao uso de fading, re- ferido anteriormente. O que ocorre é que o

fading é um controle de estímulos por aproxi-

mações sucessivas, ao passo que a modelagem é um reforçamento diferencial de respostas por aproximações sucessivas, sugerindo, tal- vez, a importância da combinação das duas intervenções.

A modelagem consiste no reforçamento diferencial e gradativo de respostas que perten- cem a uma classe operante -alvo, empregada para produzir respostas que, devido a um nível operante baixo e/ou a sua complexidade, não seriam emitidas ou seriam emitidas somente depois de um tempo considerável. A variabili- dade do responder que segue o reforço geral- mente provê as oportunidades para o reforço de outras respostas que se aproximam mais do critério que define a classe operante -alvo.

Retomando o exemplo citado anterior- mente para ilustrar o uso de fading, a combi- nação das duas intervenções levaria o clínico a reforçar diferencialmente a emissão da res- posta do cliente de relatar sobre o cotidiano, ainda que as respostas reforçadas no início da modelagem sejam simples, curtas e/ou pouco descritivas. Para isso, o clínico pode, por exemplo, demonstrar mais atenção, preocu- pação e empatia quando seu cliente relata qualquer evento de seu cotidiano. Aos pou- cos, ele pode fazer isso mais intensamente para relatos que se aproximem mais da queixa que o trouxe à terapia, e menos para outros tipos de relatos.

Nesse sentido, o reforçamento diferen- cial é parte do processo de modelagem. Ele pode ser realizado de diversas maneiras. Na Tabela 15.1, a título de ilustração, citamos o DRA, reforçamento diferencial de respostas alternativas, isto é, respostas diferentes da- quelas que se pretende reduzir a frequência, mas que também produzam as suas mesmas consequências. Já o DRO, reforçamento di- ferencial de outras respostas, significa refor- çar qualquer resposta do cliente que não aquela que se pretende extinguir. Por fim, o DRI, reforçamento diferencial de respostas incompatíveis, significa que as respostas a serem reforçadas devem ser aquelas que são fisicamente impossíveis de serem emitidas concomitantemente às que se pretende ex- tinguir. Por exemplo, vamos supor uma criança com tricotilomania (compulsão por arrancar os cabelos). Se o clínico reforçar qualquer resposta da criança que não a de arrancar cabelos, está fazendo um DRO. Se ele reforçar que a criança brinque com mas- sinha, toque um instrumento musical ou jo- gue bola com as mãos, está fazendo um DRI. E se reforçar qualquer resposta que produza as mesmas consequências do arrancar os ca- belos (que podem ser, talvez, alívio de ansie- dade, autoestimulação e/ou chamar a aten- ção), está fazendo um DRA.

Na base do uso do reforçamento dife- rencial estão os pressupostos de que:

1. certas respostas do cliente estão ocorrendo em seu cotidiano, mas são socialmente inadequadas (provavelmente porque tam- bém produzem consequências aversivas para si ou para outrem);

2. se tais respostas estão ocorrendo, é porque estão sendo reforçadas;

3. existe probabilidade de o cliente também emiti -las em sessão, na presença do clíni- co; e

4. o analista tentaria consequenciar de ma- neira diferente daquela que a comunidade do cliente tem feito.

Uma questão importante a respeito do uso de reforçamento diferencial e modelagem em sessão é o alcance da intervenção do clíni- co. Ainda que o cliente passe a responder de forma distinta na sessão, como planejar uma generalização dos novos padrões para o am- biente fora do consultório? É nesse sentido que a combinação de diferentes intervenções e técnicas pode aumentar a probabilidade de generalização como, por exemplo, quando o clínico, além de modelar repertório, descreve a mudança de comportamento do cliente. Isso significa formular regras que poderão funcionar como estimulação suplementar a controlar o responder fora da sessão.

Temos ainda, relacionado a processos nos quais o foco da intervenção é sobre a con- sequência, o uso da extinção (que, de certo modo, é um componente da modelagem) e da punição. Ambas estão relacionadas a inter- venções que visam à redução da taxa de deter- minado responder e possuem componentes aversivos, verificados até mesmo pela produ- ção de efeitos colaterais decorrentes de seu uso. A extinção corresponde à quebra da rela- ção entre resposta e consequência, como, por exemplo, se o terapeuta, propositalmente, não verbaliza reasseguramentos (mas a comu-

nidade verbal usualmente o faz), quando o cliente inseguro diz coisas como “não vou conseguir”, “não me acho bom o suficiente”, etc. Já a punição corresponde à consequen- ciação do responder com a apresentação de um estímulo punidor ou com a retirada de um estímulo apetitivo. Ela é especialmente útil em situações em que é necessário supri- mir rapidamente uma resposta que coloca o cliente (ou outros) em risco, como quando uma criança ameaça subir pela janela do con- sultório, podendo se machucar gravemente. Nesse caso, o clínico pode repreendê -la, ex- plicitando claramente os riscos (“Desça já daí! É muito perigoso, dessa altura você pode se machucar bastante”), o que poderia fun- cionar como punição positiva, e/ou encerrar a sessão, como punição negativa (retirada dos estímulos apetitivos presentes na sala), além de ser time ‑out, pois ela não tem mais acesso aos antecedentes (as presenças da janela e do clínico) para emitir a resposta de ameaçar.

A extinção e a punição, muitas vezes, podem fazer parte de outras intervenções (por exemplo, toda modelagem pressupõe a extin- ção de certas respostas para a diferenciação e reforço de outras). Em última instância, cons- tatar que tais intervenções podem ser utiliza- das contrasta com a ideia do clínico como “audiência não punitiva”. Na prática, quando falamos em “audiência não punitiva”, não es- tamos nos referindo à total ausência de inter- venções aversivas, mas sim a:

1. um reforçamento não contingente a res- postas específicas, mas à simples presença do cliente, o que é usualmente referido com termos como “aceitação incondicio- nal” e “promoção de ambiente acolhe- dor”;

2. um reforçamento de respostas que preci- sariam ser modeladas pelo clínico porque foram punidas – ou não ensinadas – pela comunidade do cliente e que, portanto, sua emissão em sessão pode ser inicial-

mente aversiva justamente porque foram pareadas com punição, na vida, em situa- ção semelhante;

3. extinção ou punição de respostas social- mente inadequadas que precisam ter a fre- quência reduzida e foram reforçadas pela comunidade do cliente, procedimento este que também pode ser inicialmente aversivo mas que, a longo prazo, visaria seu bem -estar e melhora.

Ainda assim, seria interessante que a es- colha das intervenções balanceasse o mínimo de aversividade com o máximo de benefícios. No caso clínico de Afonso, podemos hipote- tizar que o próprio falar de si, na presença do clínico, pode ser aversivo, uma vez que impli- caria em falar sobre problemas e que o cliente tenha pouco repertório para tal. Além disso, qualquer intervenção do clínico que procure aumentar a frequência dessas verbalizações também teria chance de ser aversiva. O clíni- co, portanto, precisaria ser hábil ao constituir- -se como uma “audiência não punitiva”, con- forme definida anteriormente, e combinar as diversas intervenções aqui apresentadas como, por exemplo, fading in de assuntos aversivos e acolhimento e empatia para sua ocorrência, em um processo gradual (modelagem).

A última intervenção listada na Tabela 15.1, dentre as manipulações do termo da consequência, é a técnica de economia de fi- chas, que consiste na liberação de reforçador arbitrário6 contingente à emissão da resposta

que se pretende instalar, manter ou aumentar sua frequência. O termo “economia de fi- chas” é derivado do uso inicial da técnica, nas décadas de 50 e 60, pelos modificadores do comportamento em hospitais psiquiátricos, com fichas que funcionavam como reforço condicional, e sua soma era posteriormente trocada por outros itens. Destaca -se aqui a necessidade de se avaliar os benefícios e riscos do uso de reforço arbitrário. Embora este tipo

de controle do comportamento seja comu- mente alvo de críticas, nossa posição aqui é que ele pode ser útil, caso seja avaliado que: 1. ele instalará mais rapidamente uma res-

posta para a qual, inicialmente, o reforço natural não existe ou é insuficiente para mantê -la;

2. ele se constitui em uma alternativa inicial de instalação de resposta, mas para a qual o clínico planeja outras alternativas futu- ras de manutenção por meio de reforços intrínsecos; e/ou

3. seu uso manterá respostas iniciais que não se manteriam somente pelo reforço natu- ral, mas que são importantes porque sua execução produz novos SDS, que se consti-

tuem em oportunidades de acesso a outros reforçadores (como reforço arbitrário para respostas de autocuidado em crianças pe- quenas e deficientes mentais que, se emiti- das, aumentam a probabilidade destes se inserirem em grupos sociais).

intervenções baseadas em