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Implicações metodológicas da teoria da atividade

F UNDAMENTAÇÃO T EÓRICA

DESCENDENTE Relações sociais

4. Implicações metodológicas da teoria da atividade

Embora a teoria da atividade pareça promissora no sentido de oferecer uma estrutura de análise e uma terminologia próprias para descrever a atividade humana em contexto, não apresenta um método padrão para pesquisa. Como foi observado por Engeström (1999) e Jonassen (1999b), ela não oferece técnicas e procedimentos de pesquisa já prontos.

A primeira tentativa para se especificar as implicações metodológicas da teoria da atividade foi feita por Vygotsky, em 1930. Tal tentativa foi expressa segundo três princípios:

a. Análise de processo e não de objeto. “Qualquer processo psicológico, quer seja desenvolvimento de pensamento ou comportamento voluntário, é um processo no qual mudanças ocorrem bem em frente aos nossos olhos” (Vygotsky, apud Tolman, 1999: 76. Tradução minha).

b. Explicação versus descrição. Vygostky buscava explicações.

c. Problema do comportamento fossilizado. Noção de que processos subjacentes não estão sempre evidentes na superfície aparente das ações.

Entretanto, os princípios da metodologia ainda precisam ser dominados e não podem ser traduzidos como procedimentos precisos e definidos. Segundo Tolman (1999), a literatura da teoria da atividade está

repleta de exemplos concretos de pesquisas que revelam três determinantes: (1) a existência de um entendimento teórico do processo geral; (2) um foco na natureza concreta do problema imediato e (3) um objetivo de revelar as dinâmicas causais subjacentes.

A teoria da atividade, como estrutura, tem continuamente se desenvolvido, como pode ser visto na primeira parte deste capítulo. Conseqüentemente, os esforços têm ocorrido no sentido de fornecer um guia prático geral e recomendações de como aplicar tal teoria.

No que se refere à sua aplicação, Engeström (1999) descreve três princípios cruciais: o primeiro refere-se à necessidade de se enfocar e usar um sistema de atividade coletivo como unidade de análise. Tendo-se estabelecido o sistema de atividade coletivo, deve-se identificar os componentes e atributos do sistema de atividade em questão. O segundo diz respeito à necessidade de identificar as contradições internas e externas entre os vários componentes do sistema de atividade, quando se analisa os dados. As contradições formam a base para o entendimento do sistema de atividade investigado e manifestam-se como distúrbios ou conflitos. Uma investigação nessa direção é necessária para se entender as inovações e os tipos de mudanças ocorridas no sistema de atividade em investigação. O terceiro refere-se à análise do desenvolvimento histórico da atividade examinada no contexto em que ela normalmente ocorre. Engeström (1999) não estipula procedimentos metodológicos específicos para se colocar em prática tal conjunto de princípios, fica a cargo do pesquisador interpretá-los e aplicá-los da melhor forma possível.

Embora faltem procedimentos metodológicos definidos, a teoria da atividade tem atraído pesquisadores em diversos campos, quer na interface do ensino de línguas e tecnologia, quer na compreensão de práticas de estudo a distância (Carelli, 2003; Tavares, 2004; Sprenger, 2004), nos campos de ensino e aprendizagem (Moll, 1990), na interação homem-

computador (Nardi, 1996), na cognição distribuída (Salonom, 1993). Algumas práticas têm sido geralmente aceitas.

Independentemente do foco, a atividade deve ser estudada em uma situação de vida real, o que inclui os pesquisadores como participantes ativos no processo. Para a teoria da atividade, o contexto deve ser visto como um sistema que comporta interações socioculturais, as quais caracterizam um comportamento que produz um tipo de mudança chamado aprendizagem.

A teoria da atividade está associada a uma abordagem de análise qualitativa e, no caso de análise de situações de aprendizagem, Jonassen (1999b) e Nardi (1996) afirmam ser importante pressupor certas características:

a. o tempo de pesquisa deve ser longo o suficiente para se entender os objetos da atividade. A compreensão do objeto implica estabelecer os tipos de mudanças que poderão ocorrer na atividade e nos objetos e suas relações com outras atividades; b. a análise deve considerar primeiro os padrões mais amplos da

atividade, antes de considerar os fragmentos episódicos que não revelam a direção geral e a importância da atividade;

c. os pesquisadores devem usar métodos variados para a coleta de dados (entrevistas, observações, vídeo, diários etc.) e pontos de vista (sujeito, comunidade, ferramentas) diferentes.

Síntese do capítulo

Neste capítulo, apresentei um breve histórico sobre a teoria da atividade e descrevi seus princípios, por acreditar que ela fornece pressupostos que ajudam a entender a atividade humana como um sistema próprio com ferramentas, regras, divisão de trabalho e estrutura. Tratei também da habilidade de compreensão da fala no processo de ensino-

aprendizagem; de sua definição, natureza e, ainda, das características do processo.

Das idéias apresentadas, a mais importante, talvez, seja a noção de que a atividade humana é mediada por uma realidade culturalmente definida. Nesse sentido, uma das contribuições fundamentais da teoria da atividade para o contexto educacional é a explicação da atividade humana como um processo dinâmico de ações e operações reguladas por objetivos e metas que são melhor entendidos e definidos no sistema de atividade.

A teoria da atividade define o ser humano como um ser social e histórico, portanto valoriza os aspectos culturais e remete à visão filosófica de que o homem é produto e produtor de si mesmo. O que as pessoas fazem representa a unidade básica de análise quando se estuda o comportamento humano. Desse modo, a teoria da atividade pretende entender tanto o aspecto individual quanto o coletivo das práticas humanas, com base em uma perspectiva sociocultural histórica.

No próximo capítulo, descreverei a metodologia e o contexto da pesquisa.

M

ETODOLOGIA

Neste capítulo, apresentarei os aspectos que fazem parte do desenho metodológico desta pesquisa: a justificativa da escolha metodológica, a descrição do contexto em que a investigação se insere, a descrição do curso de Compreensão do Inglês Falado via Internet I e II, a caracterização dos participantes, os procedimentos e instrumentos de coleta utilizados, os procedimentos para análise e a descrição da sistematização dos dados.

O objetivo geral da pesquisa é investigar os aspectos envolvidos na atividade de se engajar no curso de Compreensão do Inglês Falado via Internet I e II8, realizado por professores de inglês da rede pública do estado

de São Paulo em 2003. Com base na teoria da atividade, pretendo responder as seguintes perguntas:

• Como ocorreu a atividade, da perspectiva do aluno?

8 A primeira versão do curso foi feita em 1999 pela seguinte equipe de design:

WADT, M. P. S., COLLINS, H., FONTES, M. C. M., CARELLI, I. M., PEREIRA, K. M., GABRIEL, S., FERREIRA, A., LESSA, A. . Posteriormente, em 2002, o curso foi redesenhado por WADT, M. P. S., COLLINS, H., FREIRE, M. M., FERREIRA, A. A versão de 2002 foi a utilizada para a turma de 2003.

o Como a mediação de ferramentas ajuda a entender a relação entre o aluno e seu(s) objetivo(s) para se engajar no curso?

o Quais as contradições ocorridas?

o Quais as soluções encontradas?

• Quais são os indícios, produzidos pelo aluno nos diversos espaços do curso, que ajudam a perceber o seu desenvolvimento e engajamento?

Para uma melhor apreciação de como a pesquisa foi desenvolvida, a próxima seção trata mais detalhadamente do embasamento metodológico que orientou o estudo.