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1.7 O modelo condicional

1.7.1 Importância do tema

Maltzman (1997, p. 32) argumenta que é um erro assumir que o Plenário e o partido se preocupam igualmente sobre todas as áreas de política pública.

De fato, tanto os estudiosos formais ou empíricos do Congresso tem argumentado que a responsividade da comissão em relação ao principal Plenário e ao principal partido varia entre as comissões e/ou entre as áreas de políticas públicas.

Outros autores corroboram esse entendimento. Smith e Deering (1990, p. 172), por exemplo, argumentam que quanto maior a agenda, mais separados os temas, mais os temas se repetem frequentemente, e, dessa forma, menos importantes eles ficam. Assim, o Congresso depende mais das comissões e menos elas dependem dos partidos ou do Plenário para tomar decisões.

Da mesma forma, Hall e Grofman (1990, p. 1163) teorizam que, dentre outras coisas, a responsividade das comissões para o Plenário pode depender de uma identificação de questões específicas dentro do conjunto de jurisdições que evocam preocupações de um eleitorado mobilizado ou visível.

Rohde (1995), por seu turno, produz um argumento similar e provê

55 suporte empírico para a proposição de que uma grande parte da agenda do Congresso inclui questões que são sem importância e, portanto, incontroversas.

Maltzman (1997, p. 33) lembra que os proponentes, tanto do modelo distributivo, quanto dos modelos partidário e informacional, reconhecem que o papel desempenhado por uma comissão varia de comissão para comissão. De acordo com o modelo distributivo, membros do Congresso possuem preferências em múltiplas dimensões. Por conta dessa heterogeneidade das preferências de seus membros, os parlamentares estão desejosos de trocar a autoridade de determinadas políticas públicas em uma determinada área por autonomia em políticas públicas em outra área. Como resultado, as trocas de favores que levam a comissões independentes devem ser mais fortes entre aquelas comissões cuja jurisdição envolvam temas que afetem a uma pequena parcela da sociedade. Em outras palavras, comissões cuja jurisdição seja de baixa relevância para a maioria dos membros do Plenário devem ter a maior autonomia.

Cox e McCubbins (1993), que também reconhecem a importância dos temas relacionados com as comissões, sugerem que a disposição dos partidos para nomear uma delegação de seus membros que representem o pensamento do partido em uma comissão depende da natureza da agenda dessa comissão. Se a agenda inclui questões que afetam muitos distritos, a atuação das comissões será central para o partido. Como resultado, os partidos usam seu poder de nomear membros da comissão para indicar integrantes do partido que representem as suas posições.

Kiewiet e McCubbins (1991) também argumentam que é provável que a agenda da comissão afete o desejo desse órgão de agir como um agente do seu partido. Especificamente, se a jurisdição de uma comissão “é dominada por questões que não dividem Democratas dos Republicanos, então o modelo partidário talvez não se aplique” (KIEWIET; McCUBBINS, 1991, p. 133).

A teoria informacional também parece reconhecer a relevância da agenda da comissão (GILLIGAN; KREHBIEL, 1990). Apesar de o modelo informacional implicar que comissões representam o Plenário da Casa, o modelo prevê que a probabilidade de que uma comissão irá agir como um agente do Plenário depende dos custos de especialização da comissão e da incerteza do ambiente de políticas públicas (KREHBIEL, 1991). Assim, implícito em cada uma das três abordagens relativas à atuação das comissões está a relevância da agenda da

56 comissão para o seu comportamento.

Maltzman (1997, p. 34), portanto, argumenta que existe uma boa razão para suspeitar que a responsividade das comissões em relação ao Plenário ou ao seu partido irá variar de acordo com as diferenças de políticas públicas de cada comissão. Realmente, isso é consistente com as constatações empíricas de Fenno (1973), Price (1979, 1981) e outros. Assim, apesar, do argumento de Maltzman de que as comissões atuem como agentes em nome de múltiplos principais, ele ressalta que as comissões com agendas mais importantes devem sofrer constrangimentos mais fortes do Plenário e do partido.

Ressalta ainda que a importância dos temas relacionados a cada comissão devem ser incorporados dentro de qualquer consideração sobre o comportamento da comissão na questão principal-agente por conta dos custos que o principal incorre para supervisionar e controlar seus agentes. Esses custos são caros e não serão empreendidos a menos que o principal se importe o suficiente com os resultados obtidos.

Cita, como exemplo, que, apesar de as bancadas partidárias terem o poder de induzir os membros individuais para dar suporte ao partido, o uso deste poder é potencialmente dispendioso. As bancadas partidárias podem punir membros individuais negando a eles a indicação a comissões desejadas ou os retirando de uma posição de presidência em comissão ou subcomissão, mas membros individuais podem dar o troco em seu partido votando com outra agremiação em futuras votações ou mesmo mudando de partido político (COX; McCUBBINS, 1993).

Devido a essa capacidade de os membros individuais de um partido poderem contra-atacar, Maltzman (1997) argumenta que as bancadas partidárias devem apenas estar dispostas a incorrer nos custos relacionados com o emprego de táticas coercitivas para forçar a lealdade de seus membros nas mais importantes questões.

Assim, de acordo com Maltzman (1997, p. 35), se uma jurisdição de uma comissão inclui questões de baixa importância, é mais provável que membros da comissão ajam sem considerar as preferências de sua bancada partidária. Da mesma forma, membros de comissões que abordam questões de alta relevância apresentam maior probabilidade de agir de maneira consistente com as preferência de sua

57 bancada partidária.

Salienta ainda que, por conta de o partido majoritário controlar e ser responsabilizado pelo eleitorado pelas políticas públicas produzidas, principalmente pelas mais importantes, espera-se que o partido majoritário seja mais agressivo no reforço à lealdade de seus membros na comissão agente do que o partido minoritário.

A importância das matérias também influencia a extensão da capacidade de resposta da comissão ao Plenário. A importância da agenda é relevante para os membros da Casa porque cada membro individual se preocupa com sua própria reeleição (MAYHEW, 1974).

Maltzman (1997, p. 35) expõe que, uma vez que a informação ao público sobre as posições tomadas pelos membros do Congresso se limita a algumas questões altamente importantes, a presença dessas questões fortemente relevantes inevitavelmente mitigam a vontade de um membro de atuar na comissão fora da lealdade institucional. E, reconhecendo isso, os membros da comissão solicitam ativamente a opinião dos não-membros da comissão ao elaborar projetos de lei importantes, como foi constatado tanto por Fenno (1966) como por Manley (1970) para duas comissões que apresentam claramente jurisdições muito importantes: a Comissão de Apropriações (Appropriations Committee) e a Comissão de Meios (Ways and Means Committee).

Argumenta, ainda, que este fenômeno, que Fenno e Manley identificaram durante a década de sessenta, apresenta uma grande probabilidade de que tenha se intensificado durante o período de pós-reforma do Congresso americano, momento em que política centrada no candidato e questões únicas dominaram o processo eleitoral. Membros são, em última análise, dependentes de seus eleitorados para a reeleição e se sentirão muito provavelmente constrangidos por fatores externos em questões de grande relevância. Assim, Maltzman (1997, p.

36) aduz que se a jurisdição de uma comissão inclui questões de baixa importância, membros da comissão mais provavelmente irão agir sem se preocupar com as preferências do Plenário. Da mesma forma, comissões que tratam de questões de alta relevância apresentam uma probabilidade maior de agirem de uma forma consistente com as preferências do Plenário.

Maltzman (1997) salienta ainda que considera assuntos importantes

58 aqueles que apresentam um alto interesse por uma grande quantidade de pessoas, e não aqueles que apresentam simplesmente um alto conflito. Lembra que, conforme Price (1979) e outros notaram corretamente, há importantes questões que apresentam alta relevância mas relativamente baixo conflito. Assim, argumenta que, apesar de o conflito ser um importante aspecto do ambiente das comissões, a responsividade das comissões, tanto para o Plenário como para a bancada do partidário majoritário, irá depender da probabilidade de que os não-membros da comissão estarem dispostos a incorrer em custos associados com a supervisão de seus agentes.

Indiscutivelmente, quanto mais indivíduos interessados houver em uma escolha política, mais membros estarão dispostos em incorrer em tais custos.

Durante seus testes com seu modelo condicional, Maltzman (1997) mensurou a importância das comissões fiando-se na classificação pioneira de tipos de comissão de Fenno (1973) e na aprimorada de Smith e Deering (1990). Cita que comissões de círculo eleitoral (constituency committees) como as de Agricultura, de Interior e de Trabalho Público apresentam temas que afetam limitadas parcelas de eleitores e portanto são de baixa importância. Em contraste, comissões de políticas públicas (policy committees), como a de Assuntos Estrangeiros e de Importância Energética, e as comissões de prestígio (prestige committees), como a de Apropriação, a de Despesas, e de Meios, tratam de assuntos que têm implicação nacional e, dessa forma, são altamente importantes.