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Ler a bíblia

Para me informar sobre a vida do país

Conferir contas e não ser enganado

Escrever cartas e bilhetes para me comunicar com outras pessoas Resolver problemas da vida cotidiana

Fonte: relatos espontâneos em sala de aula, durante a realização da pesquisa-ação em questão.

A compreensão da leitura como a aquisição do conhecimento também estava limitada, para alguns estudantes, a utilização da mesma estava voltada para fins religiosos, visto que a religião era um elemento muito presente na vida desses sujeitos. A busca da leitura para fins religiosos, representados pelo termo “ler a bíblia” foi apontado por alguns estudantes como um dos principais objetivos

para ao aprendizado da leitura e da escrita, conforme indicam as palavras da estudante Rosa Maria Lima de Souza (indicada na foto ao lado):

“Quero ler para entender melhor a bíblia. Queria saber ler para explicar a palavra de Deus a outros irmãos. Eu fazia obra no presídio, quando meu filho estava lá. Eles precisavam ouvir a palavra do Senhor, porque eles são muito carentes”. Rosa Maria Lima de Souza, 53 anos.

Em relação ao gráfico, o aspecto da empregabilidade foi colocado de forma bastante contundente, sendo um objetivo passível de unanimidade entre os estudantes. A reflexão do estudante abaixo demarcou bastante essa situação:

“Está cada dia mais difícil conseguir um trabalho decente; se a gente não tem estudo, fica mais difícil ainda, porque ninguém é nada sem saber ler. Não dá pra conseguir trabalho nenhum”. Herbert Jesus Santos, 35 anos.

Além disso, esta fala reforça a hierarquia entre o saber escolar em relação ao conhecimento empírico, visto que a escola ainda é vista como a instituição que legitima os sujeitos que são capazes e, por isso, aqueles que não passaram, ou estiveram durante pouco tempo, pela escola, têm menores chances de ascenderem socialmente.

Como foi visto, o letramento é uma condição construída pelo sujeito por meio da apropriação da leitura e da escrita e está relacionado ao seu uso e à sua função na sociedade. Com a apropriação da escrita, ocorre um impacto nas relações sociais às quais o sujeito está inserido. Atuar em uma sociedade letrada sem o domínio da língua escrita e sem fazer uso desta pode acarretar para o sujeito o sentimento de incapacidade, de fracasso e de impotência no contexto social. Já com a leitura, tal relação se torna mais igualitária, atribuindo a cada sujeito a oportunidade de participação com reais condições de busca por melhores condições de vida. Uma situação vivenciada por um estudante e relatada em uma das atividades realizadas na pesquisa estimula a compreensão destas mudanças ocorridas por meio da aprendizagem e da utilização da língua escrita:

“O estudo está me ajudando a melhorar no meu trabalho, porque eu já tô sabendo ler. Agora eu consigo ler as correspondências para entregar às pessoas. Eu sou porteiro e antes eu ficava achando que não ia conseguir saber de quem era a carta. Agora, eu leio o nome e sei de que morador é a carta. Isso é ótimo! Até para pegar o ônibus, eu ficava na dúvida e todo confuso, todo nervoso. Agora não; agora eu já tô mais tranqüilo, eu leio o ônibus e sei para onde ele vai e por onde ele vai passar e até ajudo as pessoas que não sabem ler a pegarem o ônibus certo.” (Josias Brandão, 33 anos).

Este estudante mostra a utilização da leitura e da escrita no seu universo de trabalho, apesar de não dominar ainda todas as ferramentas da escrita. A sua reflexão demonstra o quanto à produção da leitura criou mudanças no seu ambiente de trabalho. Com base no depoimento, percebe-se que Josias, por meio da leitura, já consegue resolver demandas sociais e se relacionar de forma mais qualificada com outros sujeitos sociais. Esta mudança ocorreu em pouco tempo de escolarização, quando este estudante começou a participar como sujeito da pesquisa em questão. As mudanças e os efeitos são nítidos, oferecendo ao sujeito a possibilidade de comparar o seu estado anterior- de analfabeto- com o estado atual- de alfabetizado a caminho do letramento. Sobre este aspecto, Magda Soares (2004) traz uma importante contribuição sobre as mudanças que são operadas na vida dos sujeitos que passaram do estado de analfabetismo para a condição de letramento:

Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente. (SOARES, 2004, p. 37).

Neste sentido, a utilização da leitura e da escrita traz uma mudança qualitativa da forma de relacionamento com o mundo, pois esta relação com a língua transforma os sujeitos sociais, conduzindo-os a uma outra condição social, cultural e cognitiva. Com a observação do estudante Josias, percebe-se que este adulto compreende a importância da leitura e da escrita para a realização de suas atividades, avaliando os resultados alcançados em alguns meses de escolarização no turno noturno desta escola pública. Dessa forma,

Quanto maior a participação do sujeito na cultura escrita, maiores serão, entre outras coisas, a freqüência de utilização de textos escritos, de realização de leitura autônoma, de interação com discursos menos contextualizados e mais auto-referidos, a convivência com domínios de raciocínio abstrato, a produção de textos para registro, comunicação ou planejamento. Em resumo, maiores serão a capacidade e as oportunidades do sujeito de realizar tarefas que exijam controle, inferências diversas e ajustes constantes. Por isso, pode-se dizer que participar da sociedade de escrita implica conhecer e poder utilizar os objetos e discursos de cultura escrita o que implica deter a informação, saber manipulá-la e inseri-la em universos referenciais específicos. (BRITTO, p. 50-51).

Nesse caso, quanto mais o sujeito se debruça no uso de diversas atividades que envolvem a leitura e a escrita, mais a relação com este código tende a ficar complexa. O sujeito que só sabia assinar o nome vai, aos poucos, aprendendo a redigir uma carta, um ofício, a responder a um e-mail, a resolver um problema bancário pela internet, entre outras tarefas mais complexas. As atividades passam a exigir cada vez mais o controle, a reflexão e a tomada de decisões, utilizando-se do código escrito, enquanto ferramenta básica. A utilização da leitura para a realização de diversas tarefas no cotidiano estabelece sinais de que o sujeito está construindo a sua própria inserção na sociedade, qualificando a sua atuação no ambiente de trabalho e em outros setores sociais em que participa, pois

Pertencer à cultura escrita significa, portanto, mais que a soma dos conhecimentos e capacidades individuais no uso da leitura e da escrita. Na

medida em que uma pessoa se emprega, na medida em que utiliza os instrumentos e aparatos técnicos que constituem o espaço urbano, em que organiza seu tempo e seu deslocamento em função da organização produtiva e jurídica, ela necessariamente está submetida à ordem da cultura escrita. Pode- se dizer que até mesmo sua representação de mundo está, pelo menos em parte, sobre-determinada pela representação do modo de ser que se impõe a partir dos discursos hegemônicos. (BRITTO, 2004, p.50).

Assim, ao iniciar a utilização do sistema escrito em suas relações sociais, o sujeito não modifica somente a sua realidade através da sua ação, como o caso do estudante Josias que atribuiu uma maior qualificação no seu ofício como porteiro de um edifício, localizado em uma cidade letrada; na verdade, a maior mudança ocorre com o próprio sujeito na medida em que vai se tornando letrado: ao elevar a sua auto-estima, este passa a se reconhecer como um sujeito capaz de se relacionar de diferentes formas nas práticas sociais. A utilização da leitura cria um novo sujeito; promove um sujeito mais atuante, mais livre e mais participativo porque este passa a sentir-se inserido numa relação igualitária com outros indivíduos letrados. Desse modo,

O processo de letramento tem de considerar a sua dimensão social, o significado que a escrita tem para determinado grupo social e em que tipo de instituição foi adquirida. As mudanças pretendidas através do processo de letramento visam à formação de um indivíduo consciente, crítico e transformador, que participe do poder da língua escrita na sociedade letrada. (DURANTE, 1997, p.27).

Com uma abordagem pautada no letramento crítico, Paulo Freire (1980) anuncia que a inserção qualificada, que envolve a ação e a reflexão, na sociedade através da apropriação do sistema escrito, amplia a forma de participação do sujeito letrado e crítico. Neste contexto, o sujeito não apenas se relaciona socialmente através do código escrito; na verdade, o sujeito se recria, passa a ter um maior domínio da sua ação, passando a ser sujeito da sua ação no trabalho, na família e nos demais setores sociais. Ele passa a responder com independência aos desafios encontrados em suas experiências de vida, visto que:

No ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, ação... todas essas coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente ‘adaptado’ à realidade e aos outros, mas ‘integrado’. (FREIRE, 1980, p.37).

Para Paulo Freire, a capacidade de participar de práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita é um modo do sujeito tomar consciência de sua realidade e transformá-la. Desse modo, Freire considera que o principal objetivo do letramento deveria estar voltado para um instrumento de mudança social. No âmbito ainda individual, a fala do estudante Josias demonstra que, com a utilização da leitura, houve um aumento da sua auto-estima e auto-confiança na realização de suas tarefas como porteiro, conforme indica o trecho: “eu ficava na dúvida e todo confuso, todo nervoso. Agora não; agora eu já tô mais tranqüilo”. Essa observação demonstra a dificuldade dos sujeitos se relacionarem, no contexto letrado, sem a aquisição da leitura, causando insegurança e baixa auto-estima. A utilização da leitura, ainda que de forma elementar, possibilita ao sujeito uma melhor relação com as atividades que desempenha, permitindo-lhe uma maior autonomia.

Esta situação específica revela uma mudança ocorrida, ainda que no campo individual deste estudante, contribuindo para o crescimento da percepção de suas capacidades. Este é um dos primeiros passos de mudança que ocorrem no adulto que começa a ler: primeiramente, há o reconhecimento da capacidade individual de inserção social e, com o envolvimento em atividades que trabalhem com a conscientização, o sujeito vai compreendendo a necessidade de uma inserção ainda maior na sociedade. Assim, compreende-se que

O que se constrói na convivência e na permuta, logo é apropriado como fonte de um enriquecimento individual: um processo de contínua apropriação e assimilação do trabalho social para a eficácia das operações pessoais mais íntimas de reflexão e da expressão. (FRANCHI, 1997, p. 174).

É neste sentido, que se dá o estado permanente de busca por mudanças sociais. É necessário salientar que o trabalho com a conscientização dos sujeitos pode estar presente desde o início da escolarização, preparando o sujeito tanto para a aquisição da leitura e da escrita, quanto para o processo de conscientização. Além dos impactos causados na ação cultural do sujeito, constata-se que o letramento possibilita também algumas mudanças nas estruturas lingüísticas utilizadas pelo sujeito, conforme mostram algumas pesquisas sobre a

diferença entre a fala do letrado em relação ao analfabeto ou iletrado. Magda Soares (2003) tece alguns comentários em relação a esta questão:

Pesquisas que caracterizam a língua oral de adultos antes de serem alfabetizados e a compararam com a língua oral que usavam depois de alfabetizados concluíram que, após aprenderem a ler e a escrever, esses adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convívio com a língua escrita teve como conseqüências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas lingüísticas e no vocabulário. (SOARES, 2003, p.37).

Neste sentido, é possível concluir que com a aquisição da leitura e com o envolvimento do sujeito em práticas sociais que implicam a leitura e a escrita, este passa a estabelecer diversos tipos de relações sociais, que provocam determinados tipos de mudança no seu dia-a-dia, conforme confirma a reflexão de Marta Durante (1998):

As mudanças cognitivas estão menos relacionadas com a escrita em si e muito mais com o uso dado à escrita nas suas funções e contextos diferenciados. E esse uso da linguagem pode estar presente em indivíduos não alfabetizados que estão em contato com o uso letrado da língua. Mais do que ter acesso à linguagem é necessário que o indivíduo tenha acesso ao modo de pensar e refletir sobre a linguagem nas suas múltiplas funções de uso. (DURANTE,1998, p.27).

A reflexão feita pela autora, em conjunto com um comentário feito por um estudante- Josias Brandão- auxilia na compreensão de que, muitas vezes, o sujeito é letrado, mesmo sem estar alfabetizado, porque está inserido num complexo sistema de relações com a língua escrita. Ou seja, o sujeito analfabeto é um cidadão de uma sociedade grafocêntrica e participa de um sistema de relações com a língua escrita, mesmo sem saber ainda efetivá-lo. Nota-se, com o seu depoimento, que Josias já possui uma compreensão de um sujeito letrado porque compreende que a língua escrita auxilia o sujeito a construir conhecimentos. Mesmo não tendo construído muitas das habilidades de utilização da língua escrita, um outro estudante da turma expressa que já compreende que a leitura auxilia as pessoas a buscarem informações sobre a realidade social do país e possibilita ao sujeito a construção de conhecimentos para a sua inserção social plena:

“A leitura ajuda a pessoa a ter mais conhecimento, a crescer mais. Quando a pessoa lê um jornal, ela fica sabendo de coisas que o outro que não sabe ler não vai saber. É bom também para não ficar dependendo dos outros, não precisa ficar pedindo que o outro leia pra gente”. (José Carlos, estudante, 39 anos).

Para ele, a leitura está ligada à produção do conhecimento, atribuindo ao sujeito letrado uma vantagem em relação ao analfabeto. José Carlos considera que o ato de ler um jornal é uma forma de se informar dos acontecimentos e das notícias que estão ocorrendo na sociedade. Ele julga que o indivíduo que sabe ler é um sujeito que está em uma situação melhor do que o analfabeto. É interessante notar que este estudante ainda está em processo de aprendizagem da leitura e da escrita, mas já traz consigo o reflexo da sociedade que elegeu a escrita como a principal forma de participação e inserção em suas práticas sociais. Por conta deste reflexo social, José Carlos já compara a situação do analfabeto com a situação do letrado e este é um dos reflexos da cultura do letramento.

Analisando, ainda, a reflexão deste estudante, percebe-se que além da conquista da autonomia, a leitura cria independência, pois o sujeito passa a ser capaz de realizar ações que antes não era possível sem o instrumento da leitura e da escrita. Esta autonomia possibilita que o sujeito reconheça o seu valor na sociedade, num estado de descoberta das oportunidades de participação nas relações estabelecidas culturalmente.

No entanto, apesar da aquisição da leitura e da escrita possibilitar uma série de mudanças no cotidiano do sujeito, verifica-se também o estabelecimento de ilusões e falsas esperanças em relação à mudança das condições econômicas que poderiam ser geradas pela aquisição da leitura e da escrita. Muitos educandos, participantes desta pesquisa, acreditam que quando conseguirem ler e escrever sozinhos se tornarão independentes de uma série de problemas sociais. Acreditam, por exemplo, que com a leitura e escrita, serão capazes de conseguir um emprego e de melhorar o seu nível de vida, compreendendo a leitura como uma solução para os problemas de ordem econômica. Pelo fato de terem aprendido a ler e a escrever, estes sujeitos tendem a criar diversas ilusões, atribuindo à leitura uma estratégia mágica de ascensão social imediata.

Um dos motivos para a criação desta crença refere-se à transferência de diversos problemas sociais vivenciados, como o desemprego e outras dificuldades socioeconômicas, para o estado do analfabetismo. Esta crença está diretamente associada à falta de compreensão da estrutura econômica do país, tão marcada pela desigualdade social. Assim, são criadas as falsas ilusões de que os sujeitos letrados conseguem facilmente uma ascensão social, e que o analfabetismo é a causa da pobreza, da fome e da miséria, e, ainda, a visão de que a desigualdade social é um problema que está no âmbito individual, e que ao deixar de ser analfabeto, automaticamente, o sujeito consegue resolver problemas de ordem financeira. Este fato reforça, mais uma vez, a necessidade do trabalho com a aquisição da língua escrita em paralelo com o processo de conscientização frente à conjuntura social e política do país.

Este tipo de pensamento é fruto também de algumas práticas assistencialistas que historicamente vêm criando ações paliativas emergenciais para a resolução de problemas complexos, de forma simples e descontextualizada, como é o caso do Programa Bolsa Escola e do Programa Bolsa Família criados pelo governo federal do Brasil. Estas ações e programas aumentam as expectativas das famílias economicamente desfavorecidas em relação a mudanças por meio da inserção na escola, mas, em geral, não resolvem tais problemas sociais, por não os tratarem profundamente e, sim, de forma superficial.

No âmbito de todo este complexo sistema social, torna-se possível analisar que a prática do letramento se constitui como um processo que está além da aquisição do código escrito. O letramento focaliza os aspectos sociohistóricos da utilização da leitura e da escrita, situando o ser humano enquanto sujeito construtor da própria história e cultura. Dessa forma, compreende-se que o analfabetismo não é um fator meramente individual, e sim uma prática de exclusão social; porém, por meio da escrita, o sujeito estabelece diversos tipos de relações sociais que, sem ela, seria muito difícil de construir. Os sujeitos que não têm acesso a este tipo de linguagem estão excluídos de diversas práticas sociais que elegeram a escrita enquanto elemento básico de comunicação.

Alguns estudantes adultos- participantes desta pesquisa-, apesar de estarem no início do processo de alfabetização, podem ser considerados sujeitos letrados, pois compreendem a prática da leitura e da escrita com uma importante forma de participação social. Esses estudantes participam de práticas sociais que envolvem a língua escrita, mesmo que não seja de forma ativa, ou seja, agindo por meio da ajuda de um amigo, um vizinho de um familiar. Magda Soares (2004) analisa esta questão quando aponta que

Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita: pede a alguém que escreva por ele, dita uma carta, por exemplo (e é interessante que, quando dita, usa as convenções e estruturas lingüísticas próprias da língua escrita evidenciando que conhece as peculiaridades da língua escrita) – não sabe escrever, mas conhece as funções da escrita, e usa- as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que funciona como uma máquina de escrever...); pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus. (SOARES, 2004, p.47).

Isto pode ser considerado como um elemento importante para ser considerado no contexto da Educação de Jovens e Adultos porque, ao chegar na sala de aula, o adulto já participou de diversas experiências que envolvessem a leitura e/ou a escrita, conforme explica Marta Durante (1998):

Concebendo os adultos pouco escolarizados como indivíduos ativos e cognoscentes, em interação com o mundo letrado ao seu redor, criando recursos diversos de interpretação, para lidar com as representações da língua, torna-se realmente impossível considerá-los analfabetos. De formas variadas, todos possuem conhecimentos sobre a escrita como representação da língua. (DURANTE, 1998, p. 28).

Enfim, a experiência em uma sociedade letrada provoca mudanças de comportamentos, de linguagem e de visão e de posicionamento frente à sociedade, mesmo que o código escrito ainda não tenha sido adquirido. A compreensão do universo de condicionantes sociais do analfabetismo é uma medida importante a ser construída por um pesquisador que pretende debruçar-se acerca dos estudos sobre o processo de alfabetização de jovens e adultos.

No próximo capítulo, a questão da alfabetização e do letramento será