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O LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

5.4 A LUDICIDADE, A ARTE E A CRIATIVIDADE NA EJA

Neste tópico, a prática lúdica será abordada como um dos elementos importantes para o trabalho com a criatividade na Educação de Jovens e Adultos. Neste momento, o espaço da EJA será tratado como um ambiente de fomento da ação criativa para proporcionar novas possibilidades de intervenção pedagógica, principalmente no que se refere à aquisição da leitura e da escrita.

Desse modo, convém sinalizar alguns elementos que constituem o processo criativo, traçando uma discussão pertinente à temática trabalhada. Primeiramente, é preciso destacar que a criatividade e a imaginação baseiam-se na integração entre os fatores do consciente, da sensibilidade e da cultura. A sensibilidade, enquanto captação das emoções, está presente em todos os seres humanos. Os processos de criação estão intimamente ligados à sensibilidade, pois é esta que possibilita a percepção das condições culturais para a descoberta e a inventividade de novas criações. Assim,

A afeição retroalimenta a socialização, ao tempo em que favorece a motivação; esta mobiliza os aspectos criativos que são devolvidos em forma de interesse produzido pela curiosidade semeada pela criação. A dimensão criativa, então, fomenta e é fomentada pela cognitiva, já que a primeira torna o indivíduo sensível às lacunas do conhecimento, incitando-o à busca de soluções e a segunda decodifica o contexto possibilitando as respostas àquelas lacunas. (MIRANDA, 2001, p. 91).

Dessa maneira, convém afirmar que os processos de criação ocorrem no âmbito da sensibilidade, da intuição e, principalmente, da cultura. O trecho acima informa que um estado propício à criatividade refere-se ao campo da inteireza entre a razão, a emoção e o que está disponível na cultura. O ser humano, por ser um sujeito cultural, não somente percebe e contribui com as transformações ocorridas em seu meio social como, sobretudo, nelas se percebe e cria sobre esta realidade. Tal atuação se dá como efeito da percepção das necessidades do meio, captadas pela emoção e concebidas pelo intelecto. Por esta razão, pode-se constatar que o ato criativo não se dá de forma espontânea, pois é fruto da consciência e da análise das necessidades individuais e sociais.

Desta forma, é importante ressaltar que os processos de criação ocorrem em consonância com o meio sociocultural onde o sujeito está inserido, conforme afirma Fayga Ostrower: “A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se desenvolve numa realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam nos próprios valores da vida” (OSTROWER,1987, p.5). Apesar da criatividade se apresentar enquanto um processo inerente ao sujeito, representando as potencialidades e características de um ser único, a criação humana só torna-se possível quando contextualizada com o conjunto de valores, regras e costumes de determinada cultura. Dessa forma, um produto da criação de um sujeito pode ser válido e criativo em determinada cultura, mas pode não fazer sentido em um contexto diferente.

Considerando a importância da formação cultural dos sujeitos sociais, é possível estabelecer que o processo de criação implica em formar e, ainda, transformar elementos apresentados em determinada realidade cultural e, a partir de processos individuais, como o da imaginação e da intuição, o sujeito é conduzido a formar (criar) dentro do seu meio, utilizando as suas potencialidades criativas que são inerentes à sua própria condição. Assim, afirma Ostrower,

Nessa busca de ordenações e de significados reside a profunda motivação humana de criar. Impelido, como ser consciente, a compreender a vida, o homem é impelido a formar. Ele precisa orientar-se, ordenando os fenômenos e avaliando o sentido das formas ordenadas; precisa comunicar-se com outros seres humanos, novamente através de formas ordenadas. Trata-se, pois, de possibilidades, potencialidades do homem que se convertem em necessidades existenciais. O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando. (OSTROWER, 1987, p.9-10).

Em síntese, a necessidade de criação e a conseqüente transformação do ambiente apresentam-se como partes constituintes da natureza humana. Quando o sujeito cria algo novo, ele não somente transforma os elementos disponíveis para tal ato, como também se transforma, construindo estruturas mais elaboradas de criações posteriores. Os processos de criação apresentam a característica de serem infindáveis no que se refere ao fato de que o ser humano nunca está

satisfeito com a sua criação, pois, sempre surgem novas necessidades que impelem à busca de formas e perspectivas de atuação, descobertas e invenções.

Ao criar, o sujeito entra em contato com os elementos já construídos anteriormente por outras pessoas em seu meio social. Após este momento, o sujeito constata as necessidades, efetuando aí 7 (sete) estágios do processo criativo: “observação de uma necessidade, análise dessa necessidade, resenha das informações disponíveis, formulação das soluções prováveis, sua análise crítica, invenção propriamente dita e experimentação para verificar-lhe a validade” (ROSSMANN, apud DE MAIS, 2003, p. 567). Assim, utilizando-se da imaginação e da sensibilidade, o ser humano inicia o processo de criação de algo novo e inusitado que poderá ser utilizado por outros sujeitos na construção de saberes não-lineares.

Diante do exposto, percebe-se que a inteligência criativa se difere da simples apropriação de conceitos construídos e sistematizados e se configura enquanto estrutura resultante do processo de investigação humana e de busca de novos atos geradores para a transformação do meio. Isto ocorre porque as criações não se extinguem em si mesmas; elas possibilitam a fecundação de novas criações. No processo de letramento, por exemplo, o sujeito analfabeto, embora não crie um novo código de comunicação, utiliza-se, muitas vezes, de sua ação criativa para aprender. Ou seja, ao entrar em contato com o sistema escrito, o sujeito cria uma série de hipóteses para se aproximar da estrutura da escrita. Quando avalia que seu resultado deu certo, ele passa a ter a necessidade de criar estratégias de criação de novas palavras.

O ato de criação de hipóteses, nesse caso, pode ser considerado como um processo criativo, pois o sujeito capta a pequena noção ortográfica já adquirida e a experimenta, criando novas possibilidades de utilização das letras, palavras e textos. Este tipo de possibilidade se difere substancialmente da alfabetização tradicional que concebe a língua escrita como uma estrutura a ser decodificada, concebida fora do contexto social do sujeito. Desse modo, a criação de hipóteses deve ser estimulada pelo educador, como estratégia de dar forma ao que está sendo construído mentalmente pelo sujeito referente à língua escrita.

Uma atividade realizada com os estudantes da EJA reflete bem este fato. Ao analisar, por exemplo, a estrutura do bairro do Pau Miúdo, solicitei que os estudantes escrevessem qualquer palavra que qualificasse seu bairro. Então, eles escreveram (como sabiam, utilizando-se das hipóteses para a criação escrita) palavras, como: bonito, sujo, movimentado, comercial, agradável, dentre outros. Em seguida, pedi que, em duplas, mostrassem ao colega que tentaria ler e escrever uma outra palavra para o bairro. Foi interessante notar que alguns estudantes tinham a tendência de escrever começando com a letra que iniciava o vocábulo apresentado pelo colega, por exemplo: se alguém escreveu “bonito”, tinham a tendência de escrever tudo com a letra “b” (bom, batata, bala). Tal situação, apesar de ser bastante elementar e fugir do tema proposto, demonstrou que os estudantes estabeleciam regras para a atividade produzida, ou seja, criaram a hipótese de que se o colega escreveu “bonito”, todas as palavras que começassem com a letra “b” estariam corretas.

Quanto maior a oportunidade de criação aberta e espontânea na alfabetização de jovens e adultos, maior será a possibilidade do sujeito de entrar em contato com suas hipóteses e criações, que estão disponíveis para todos os seres humanos. Se, nesse caso, o educador dissesse que o estudante estava errado, talvez o seu processo de criação pudesse ser interrompido. Tal espaço de construção de hipóteses, erros, tentativas e acertos devem ser considerados como um caminho de busca pela aprendizagem. Por esta razão, é importante enfatizar o papel da ludicidade como um campo de possibilidades de abertura à imaginação e da percepção do próprio potencial criativo.

A ludicidade, bem como os processos criativos da arte, possibilita ao sujeito o domínio do seu corpo, das emoções e da mente de uma forma plena. Brincar e criar são processos que proporcionam o contato, de forma prazerosa, com atos de expressão e de aprendizagem de forma menos convencional. Possibilitar o acesso à criação artística, à brincadeira, ao ritual e à meditação significa uma maior integração das estruturas humanas. O brincar está diretamente ligado à vivência que pode resultar na ação criativa dos participantes. Assim, é importante evidenciar a compreensão de que sobre criatividade que “está visceralmente

agregada à ludicidade e que a realização do jogo incentiva a faculdade criadora, que- por sua vez- carrega consigo a potencialidade pedagógica, já que implica prazer e imaginação”. (MIRANDA, 2001, p. 73).

Diversos trabalhos de cunho lúdico e artístico foram desenvolvidos, nos círculos de leitura com jovens e adultos, por considerar que a arte, e mais especificamente a poesia, se constitui como um dos caminhos de construção metafórica e, ao mesmo tempo, um exercício criativo com a palavra escrita e falada. Partindo das variadas possibilidades que o trabalho com poesias oferece, diversas leituras foram desenvolvidas em sala de aula, com a ajuda de alguns poetas, a exemplo de Vinícius de Moraes, Patativa do Assaré e Manoel Bandeira. O trabalho com as rimas, versos e com a linha melódica dos poemas possibilitou o contato com o som, a grafia das palavras e o conteúdo de vida encontrado nos poemas. Isto produzia, ao mesmo tempo, identificação e descoberta de novas possibilidades de ver/ler o mundo. Assim, surgiu a necessidade do ser humano de avançar em relação à leitura da vida, criando possibilidades de expressão artística: a dança, a poesia, as artes plásticas, etc. O ser humano, desde o início da sua existência, apresentou a necessidade de expressar-se de forma simbólica e, por isso, foram criados o alfabeto, a matemática, a arte, a filosofia. Nesse sentido, Duarte Jr. (1995) considera a capacidade de expressão do ser humano, de criação e de atribuição de significados:

A capacidade humana de atribuir significações – em outros termos, a consciência do homem – decorre de sua dimensão simbólica. Por intermédio dos símbolos, o homem transcende a simples esfera física e biológica, tomando o mundo e a si próprio como objetos de compreensão. Pela palavra, o universo adquire um sentido, e o homem pode vir a conhecê-lo, emprestando-lhe significações. Portanto, na raiz de todo conhecimento subjazem a palavra e os demais processos simbólicos empregados pelo homem. (DUARTE JR, 1995, p. 15).

Desse modo, o uso da palavra na EJA, de forma criativa e viva, permite que o sujeito considere a comunicação como um instrumento caracteristicamente humano e que, por meio da ação comunicativa, o ser humano constrói significados e sentidos para a vida social. Da mesma forma, Huizinga disserta acerca da capacidade humana de comunicar-se:

No caso da linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar, ensinar e comandar. É a linguagem que lhe permite distinguir as coisas, defini-las, constatá-las, em resumo, designá-las e com essa designação elevá-las ao domínio do espírito. Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. (HUIZINGA, 1999).

Enfim, o ser humano é o único ser capaz de aprender criativamente e esta característica o distingue dos outros animais e da natureza em geral. Esta é uma característica humana, pois somente o ser humano pode desenvolvê-la. O que não aprende e não se desenvolve, se estagna. Na verdade, a maior característica do ser humano é a sua capacidade de aprender e, por meio de sua ação, ele cresce e evolui a sua forma de compreender o mundo. De tal modo, a educação lúdica pode ser considerada como uma das formas de desenvolvimento criativo, pois a partir do prazer pleno, o sujeito entra em contato com a sua estrutura integralizada, num processo de ação-reflexão. Além disso, o lúdico pode auxiliar o sujeito a criar novas possibilidades de utilização do espaço, do material disponível, da palavra e do próprio corpo, utilizando-se de formas ricas e variadas, de acordo com a imaginação de cada sujeito.

Uma outra atividade foi proposta aos estudantes da EJA. Cada participante recebeu um pequeno papel, de um lado havia um círculo e do outro tinham duas retas paralelas desenhadas. Pedi que cada um deles desse sentido às figuras geométricas, desenhando a partir do círculo e das retas paralelas. Depois que todos desenharam, pedi que escrevessem o nome das figuras criadas por eles. Ao compartilhar os resultados das imagens geradas, os estudantes ficaram encantados com a riqueza que se apresentavam nos papéis. Partindo do círculo, eles desenharam figuras, como: sol, rostos, relógio, palhaço, pizza, etc, e com base nas retas paralelas, desenharam escada, quadro, copo, campo de futebol, dentre outras figuras.

A atividade auxiliou na compreensão dos estudantes de que eram capazes de criar e que cada criação é diferente, pois expressa a individualidade de cada sujeito. A brincadeira citada incentivou a compreensão de que a criatividade é uma

característica inerente à condição humana que pode ser estimulada no meio onde o sujeito vive e atua, nesse caso, na escola. A capacidade criativa é marcada pela habilidade individual de criar novas idéias e de delinear formas de comportamento e de ação diferentes e inovadoras. No caso específico dessa atividade, percebe-se que todos receberam os mesmos desenhos (círculo e retas) como ponto de partida, mas deram sentidos e significados distintos à mesma imagem. A ação criativa é resultante da interação entre a sensibilidade, o pensamento e o meio sociocultural. Dessa maneira, Ostrower (1987) afirma que

Desde as primeiras culturais, o ser humano surge dotado de um dom singular: mais do que homo faber, ser fazedor, o homem é um ser formador. Ele é capaz de estabelecer relacionamentos entre os múltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando os eventos, ele os configura em sua experiência de viver e lhes dá um significado. Nas perguntas que o homem faz ou nas respostas que encontra, ao agir, ao imaginar, ao sonhar, sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER, 1987, p.5).

Com base nas considerações de Ostrower (1987), pode-se compreender que os comportamentos criativos humanos baseiam-se na integração entre os fatores do consciente, da sensibilidade e da cultura. A cultura é a expressão e a representação do desenvolvimento social do sujeito, mas a consciência e a sensibilidade são características inerentes ao ser humano em diferentes níveis e em qualquer cultura. Sem a sensibilidade, o sujeito não conseguiria perceber a possibilidade de articulação entre estruturas já existentes na transformação de uma nova estrutura mais elaborada. De tal modo, o potencial criativo se realiza sempre na cultura do individual. Porém, não há processo criativo que ocorra independentemente da cultura, pois esta é a referência para os comportamentos, costumes, pensamentos e criações do ser humano.

É válido destacar a existência de inúmeras possibilidades de ampliação da criatividade humana. Nesta dissertação, a prática lúdica foi tratada como uma fonte de inventividade e estímulo à imaginação e ao aprendizado da língua escrita de forma contextualizada no meio social vivido por estudantes jovens e adultos. A ludicidade e a arte conciliadas à educação estimulam o desenvolvimento de processos voltados para a construção da identidade e da subjetividade do sujeito,

contribuindo também para a criação do sentido de pertencimento da cultura e de possibilidades de intervenção no contexto social.

As atuais teorias na área da ludicidade (KISHIMOTO; LUCKESI, dentre outros) estão ampliando o campo de discussão em relação à idéia de inclusão da atividade lúdica e da expressão livre para a escola, trazendo um conjunto de conhecimentos de vida para o currículo formal de ensino. Isto vem possibilitando a reformulação de programas escolares, a experimentação de novas práticas de ensino e a diversificação das atividades escolares, contribuindo para o aumento do exercício da ludicidade nas escolas. Apesar da restrita incorporação da arte e das práticas lúdicas no cotidiano escolar, diversos grupos de pesquisa, a exemplo do Gepel, vêm consolidando estudos que validam a importância da ludicidade para a formação humana. Tais estudos possibilitam a reflexão a respeito de uma educação que permita a liberdade de criação e de expressividade do ser humano, contribuindo para o processo de desenvolvimento integral.

Com isso, permite-se construir uma concepção de educação através da ludicidade, formando novos paradigmas educacionais. Sendo assim, o objetivo desta forma de educação, está voltado para a construção do conhecimento a partir do ver, observar, sentir, fazer, expressar e refletir e não mais uma educação voltada somente para o intelecto e a racionalidade. Para isto, é preciso transformar a realidade da escola, concretizando projetos educativos, através dos quais o sujeito possa se perceber como agente capaz de interagir com o seu próprio universo lúdico, construindo atitudes criativas e libertadoras.

A abordagem de uma educação lúdica considera o ser humano numa estrutura global e integral, procurando valorizar e desenvolver os aspectos intelectuais, criativos, corporais e estéticos. Desse modo, tal desenvolvimento pode ser desencadeado a partir da prática em jogos, brincadeiras e atividades que exigem do sujeito a habilidade de resolução de problemas e de intervenção na realidade, pois “é no brincar e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integralmente” (WINNICOTT, apud MIRANDA, 2001, p. 75).

No processo educativo baseado na ludicidade, o sujeito se depara com situações que oferecem desafios e, ao mesmo tempo, prazer e envolvimento na participação. Após superar o desafio encontrado em determinado jogo ou brincadeira, o sujeito, ao ser convidado a refletir sobre a própria participação na atividade, tende a realizar o percurso inverso do jogo para buscar a compreensão acerca da solução encontrada para o desafio proposto. É neste processo que se dá a reflexão sobre a absorção dos jogadores nas atividades, ao tentarem decifrar qual o caminho percorrido nesta descoberta, ressignificando-a para si mesmo. Assim, a aprendizagem lúdica é desencadeada quando o sujeito busca aplicar essa capacidade de intervenção em novas situações que surgirem.

No caso da EJA, a descoberta do próprio potencial para a resolução de determinado problema incide na auto-estima do adulto analfabeto que, até o momento anterior à brincadeira, julgava-se incapaz de participar com êxito da atividade proposta em sala de aula. Ainda que de forma restrita e inicial, a atividade lúdica permite que o sujeito reconheça as próprias potencialidades, pois consente que este entre em contato com a descoberta de si mesmo que até então se mantinha oculta. É nesse sentido que me posiciono afirmando que a participação em atividades lúdicas promove o autoconhecimento e o desenvolvimento da auto-estima de estudantes jovens e adultos. Além disso, o lúdico permite que o sujeito desencadeie processos amplos de desenvolvimento humano, visto que “uma situação criativa abre espaços para a atuação dos demais fenômenos considerados, aqui, como necessários à aprendizagem: socialização, cognição, afeição e motivação” (MIRANDA, 2001, p. 74-75).

Na participação em atividades lúdicas, o movimento de auto-reflexão e auto-análise passa a ser compreendido pelo sujeito como uma capacidade inerente ao ser humano, mas que precisa ser explorada e desenvolvida. A auto- reflexão se constitui como um movimento de conhecer as próprias possibilidades, necessidades e limitações, representando uma forma de não-acomodação à condição em que se encontra. É um descobrir-se cotidianamente para a atuação com o outro e com o mundo. As atividades lúdicas, ao oferecerem desafios

constantes para quem participa, se constituem como uma metáfora para as circunstâncias que a vida oferece.

Nesse contexto, a arte e a ludicidade se apresentam enquanto processo de expansão das potencialidades do sujeito na formação de novas possibilidades de relacionamento com a realidade, conforme analisa Duarte Jr:

Ao propor novas ‘realidades possíveis’, a arte permite que além de se despertar para sentidos diferentes, se perceba o quão distante se encontra nossa sociedade de um estado mais equilibrado, lúdico e estético. A utopia é também uma forma de tomarmos consciência do que existe atualmente, de tomarmos consciência do atual estado do mundo humano. (DUARTE JR,1986, p.68).

A utopia e a proposição de novas possibilidades de concretização da realidade, em um processo de educação lúdica comprometido com o desenvolvimento da conscientização dos sujeitos e com a transformação da realidade social, permitem a visualização e a reflexão sobre a dinâmica social, partindo para a busca de estratégias de transformação do meio em que o sujeito constrói e é construído