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CAPÍTULO 6 VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS PELA OMISSÃO DO ESTADO

6.2 A Impunidade e Inoperância do Sistema

Segundo o estudo apontado por Veja, a impunidade é “construída” a partir dos seguintes fatores:

- corrupção na polícia e na justiça;

- ineficácia do trabalho da polícia – de cada 100 ocorrências de delitos graves, apenas 24 suspeitos são presos;

- falha na investigação – em apenas 2,5% dos casos de homicídios de autoria desconhecida são descobertos os autores;

- lentidão da justiça – um homicídio pode levar até 10 anos para ser julgado em definitivo;

- legislação tolerante – infindáveis recursos durante o processo e atraso na prisão dos criminosos; e

- a cadeia não prende – apenas 1% dos condenados cumpre a pena até o fim. Os outros fogem ou conseguem benefícios legais.

A mesma revista Veja, em matéria anterior,101 compara o tempo efetivo em que os criminosos passam na cadeia no Brasil e nos Estados Unidos. Para o crime de homicídio, a média brasileira é de 1 ano e meio. Nos Estados Unidos, 12 anos. Para roubo, 1 ano e meio e 10 anos, respectivamente. Para o tráfico de drogas, no Brasil, 3 anos. Nos Estados Unidos, 15 anos.

Assim, o sentimento de impunidade, construído pela inoperância do sistema, contaminou toda a sociedade brasileira. É algo que se situa entre a barbárie africana e a eficiência do Primeiro Mundo.102

Por outro lado, um sistema eficiente e de penas severas tem demonstrado eficácia, como o americano. Pesquisa da Universidade de Chicago, concluiu que uma queda relativa de 10% da massa carcerária provoca aumento de 4% na criminalidade. Outra pesquisa da Universidade de Missouri aponta que para cada aumento de 10% na população carcerária, havia redução de 15% a 20% nos homicídios.103 101 Veja, 7 de fevereiro de 2001, p. 92. 102 Ibidem. 103 Idem, p. 93.

A experiência americana indica que a adoção de leis draconianas surtiu efeito bastante positivo. Pesquisa da Universidade de Harvard mostra que a política de penas mais longas e severas, teve um impacto de 3,7% na queda da criminalidade.

No Brasil vive-se um paradoxo: o governo quer diminuir a criminalidade diminuindo a massa carcerária! Sedimentou-se nos meios acadêmicos e jurídicos o mito de que o crime é resultante da pobreza ou da desigualdade social. Ambas as idéias são combatidas pelo antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares,104 para quem ser pobre não torna ninguém criminoso, “tanto é que os estados mais pobres não são os recordistas em criminalidade”, e que há “muitos exemplos de sociedades desiguais, inclusive de castas, ou com regimes monárquicos profundamente hierarquizados, com poucos crimes.” Teixeira105 também é categórico:

Conhecendo os países campeão e vice nesse torneio da miséria humana, no qual o Brasil ocupa o desonroso 3° lugar (pela ordem: Índia, com 496 milhões de pobres, Indonésia, com 116 milhões), procuramos saber quais os níveis de violência em alguns países com grande número de pobres, incluídos Índia e Indonésia, tomando-se o número de homicídios.

Tabela 1 – Índice de Violência

PAÍSES HOMICÍDIOS POR 100 MIL HABITANTES

ÍNDIA 4,1

INDONÉSIA 3,1 BRASIL 31,2

Em relação à Índia, o Brasil tem sete vezes mais homicídios e em relação à Indonésia, dez vezes mais. E todos são igualmente pobres. Ou ricos semelhante, como quiser.

No quadro abaixo, que teve como fonte o PNUD, OECD, 2000, o Professor Ib Teixeira expõe melhor essa situação:

104

Veja, 7 de fevereiro de 2001, p. 79. 105

Tabela 2 – Pobreza & Violência PAÍS

IDH HOMICÍDIO POR 100 MIL

HABITANTES PIB PER CAPITA* PAÍSES POBRES ETIÓPIA 0,309 6,1 574 MADAGASCAR 0,483 0,5 756 NIGÉRIA 0,439 1,9 796

PAÍSES DE MÉDIO DESENVOLVIMENTO

COLÔMBIA 0,764 75,9 6006 BRASIL 0,747 31,0 6625 RÚSSIA 0,772 21,8 6460 PAÍSES RICOS BAHAMAS 0,843 85,5 12362 HOLANDA 0,925 15,4 22176 SUÉCIA 0,926 16,8 20659

Fonte: PNUD, OECD, 2000.

Como diz o Professor Ib Teixeira, os resultados “podem decepcionar quem vive afirmando que a violência é uma função da pobreza.106 Pelo quadro, verifica-se que o Brasil, com um IDH quase duas vezes superior à Nigéria e um PIB per capita mais de oito vezes superior, tem dezesseis vezes mais homicídios que aquele país africano. A Holanda, com um IDH três vezes superior à Etiópia e um PIB per capita quase quarenta vezes superior, tem três vezes e meia mais homicídios que o país africano. A defesa da surrada tese da pobreza como causa da violência não se confirma.

Outro argumento dos que defendem que a violência deriva da pobreza é o nível de desemprego. Quanto maior o desemprego, mais violento é o país. Pesquisa internacional apresentada pelo Professor Ib demonstra o contrário:

106

Tabela 3 – Desemprego & Violência

PAÍSES TAXA DE DESEMPREGO HOMICÍDIO POR 100 MIL

HABITANTES ESPANHA 16,5 1,6 ARGENTINA 16,0 3,5 ESLOVÁQUIA 15,6 2,4 CHILE 14,0 2,4 ITÁLIA 12,5 4,7 FRANÇA 12,4 4,5 GRÉCIA 9,7 2,5 CANADÁ 9,3 1,9 BÉLGICA 9,0 3,1 BRASIL 7,6 31,2

O Brasil, com uma taxa duas vezes menor de desempregados que a Espanha, ostenta quase vinte vezes mais homicídios. A tese não se confirma.

Baseado nesse mito, tão bem defendido pela esquerda no Brasil, nas últimas duas décadas, o Estado brasileiro tem sido pródigo na promulgação de leis penais lenientes com o crime e os criminosos. O resultado, as estatísticas demonstram.

Tabela 4 – Países Mais Violentos (Presos por 100 mil habitantes)

PAÍSES PRESOS HOMICÍDIO

COLÔMBIA 82,4 78,6

BRASIL 90,0 37,3

JAMAICA 86,9 29,8

NICARÁGUA 74,3 25,6

Fonte: Nações Unidas/Pesquisa Ib Teixeira.

Em contrapartida, os países, menos violento são os que exibem maior número de presos por cada grupo de 100 mil habitantes:

Tabela 5 – Países Menos Violentos

PAÍSES PRESOS HOMICÍDIO

SINGAPURA 631,0 1,6

CANADÁ 419,3 1,9

MALÁSIA 302,8 2,0

NORUEGA 272,2 2,1

Fonte: Pesquisa de Ib Teixeira, a partir de dados fornecidos pela ONU.

Como se observa, onde a prisão é exceção, como no Brasil e na Colômbia, a violência aumenta. Onde os criminosos são efetivamente presos, como no Canadá e em Singapura, ela diminui.

Tudo isso, porém, leva a crer que a sociedade brasileira chegou a exaustão. A reação nem sempre é a esperada. Pesquisa do Instituto Brasmarket, realizada em outubro de 1999, em São Paulo, a principal cidade do País, demonstra que 38,6% dos entrevistados são a favor da pena de morte incondicionalmente e 28,5% são a favor, dependendo do caso. Somente 27,8% seria contra e 5,1% não souberam ou deixaram de responder à pesquisa.107

Há descrença quanto ao funcionamento e eficácia do sistema. O Estado brasileiro deixa de cumprir o seu papel. A justiça criminal funciona mal, a polícia é inoperante e corrompida, as leis são de extrema benevolência.