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2.4 NATUREZA DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

2.4.2 Imputação de débito e da multa

Na função de controle, deve ser levado em consideração o custo benefício para a sociedade das ações a serem realizadas. Se o controle for muito mais dispendioso do que o benefício que irá gerar, me parece que não é justificável.

Esse critério deve ser sopesado quando se está diante da possibilidade de degradação de um bem ambiental, pois aqui não se deve levar em conta os custos financeiros exclusivamente. Pelo contrário, o bem ambiental é de difícil mensuração; todavia a sua proteção possui uma dimensão elevada.

Na busca do crédito público, decorrente de prejuízo causado ao erário, atualíssima a preocupação do eminente Ministro Victor do Amaral Freire, quando afirma:

O que cumpre aos Tribunais é agilizar as providências para tornar mais eficiente e mais eficaz a utilização do instrumental que foi posto em suas mãos, ampliando sua ação e permitindo uma atividade sempre mais crescente, reformulando a organização de suas secretarias, pondo em prática, no exame dos atos financeiros e orçamentários, o sistema de auditoria, reduzindo a zero a sistemática, como rotina, de liberação de documento por documento, para examinar com maior intensidade relatórios financeiros gerados pelas inspeções, onde as irregularidades isoladas serão postas em relevo, mas não uma a uma, formando processo a processo, substituindo a preocupação do tostão pelo controle do milhão e, ainda, recrutando e habilitando seu pessoal técnico para as tarefas especializadas resultantes de novos métodos de fiscalização.

A reposição ao erário vincula-se à responsabilidade civil. O supedâneo para a busca da reparação do prejuízo causado decorre do inciso VIII do art. 71 da constituição Federal.

Fábio Medina Osório110 informa que as medidas de ressarcimento ao erário se

aproximam mais da responsabilidade civil do que penal ou das sanções administrativas. Para o autor, a obrigação de ressarcir é uma restituição do estado anterior.

Já a possibilidade de aplicação de multa por parte dos Tribunais de Contas decorre do mesmo dispositivo111. A ampliação das suas atribuições, com o advento da Constituição

Federal de 1988, não poderia vir desacompanhada da possibilidade de aplicação de sanção. Ficaria esvaziada a possibilidade de direcionar as ações administrativas na busca da eficiência e do aprimoramento da gestão pública, sem a previsão de multa pelas infrações cometidas.

Na mesma linha de entendimento segue decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal112.

Uma característica da multa, que a difere da imputação de débito, é o caráter personalíssimo que possui. Nenhuma pena poderá passar da pessoa do condenado, conforme art. 5º, inciso XLV, da Constituição Federal. Já, a imputação de débito, ligada ao prejuízo causado ao erário, pode ser transmitida aos sucessores do agente causador do dano.

As multas passíveis de serem aplicadas aos causadores de lesão ao erário são de duas ordens: a) decorrem do poder de polícia dos Tribunais de Contas; ou b) caracterizam-se por ser proporcional ao dano causado ao erário.

110 OSÓRIO, Fábio Medina. Direito Administrativo Sancionador. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais., 2002.

p. 92.

111

Constituição Federal, art. 71, VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário.

112

RE 190985 / SC - SANTA CATARINA. Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA

EMENTA: - Recurso extraordinário. Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Pedido acolhido, em parte, pelo Tribunal de Justiça catarinense, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 76 e 77, incisos I, III, IV, V, VI e VII, da Lei Complementar n.º 31/90. 3. Alegação de ofensa ao art. 71, VIII, da CF. 4. Parecer da PGR pelo provimento do recurso extraordinário. 5. Afastada a incompetência do Tribunal a quo para processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de normas estaduais, em face de expresso dispositivo da Constituição do mesmo Estado. 6. Recurso extraordinário conhecido e provido para julgar improcedente a ação direta de inconstitucionalidade e declarar a constitucionalidade dos arts. 76 e 77, incisos I, III, IV, V, VI e VII, ambos da Lei Complementar n.º 31, de 27.9.1990, do Estado de Santa Catarina. 7. Não é possível, efetivamente, entender que as decisões das Cortes de Contas, no exercício de sua competência constitucional, não possuam teor de coercibilidade. Possibilidade de impor sanções, assim como a lei disciplinar. 8. Certo está que, na hipótese de abuso no exercício dessas atribuições por agentes da fiscalização dos Tribunais de Contas, ou de desvio de poder, os sujeitos passivos das sanções impostas possuem os meios que a ordem jurídica contém para o controle de legalidade dos atos de quem quer que exerça parcela de autoridade ou poder, garantidos, a tanto, ampla defesa e o devido processo legal. 9. As normas impugnadas prevêem possam as multas ser dosadas, até o máximo consignado nessas regras legais. Disso resulta a possibilidade, sempre, de se estabelecer relação de proporcionalidade entre o dano e a multa. (grifou-se).

As primeiras decorrem da primeira parte do inciso VIII do art. 71 da Constituição Federal (aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei). Já as segundas, decorrem da parte final do mesmo dispositivo (que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário).

Elizete Gandini113 apresenta uma classificação semelhante. Para a autora, as multas são de duas espécies: a) multa por infração às normas de administração financeira e orçamentária; b) multa proporcional ao dano causado ao erário. Obtempera que, em ambos os casos, devem estar previstas em lei, conforme art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal.

Tanto as multas como a reposição ao erário geram decisões condenatórias com conteúdo pecuniário.