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PARA FINS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

O resultado da atuação judicial é a emissão de conceitos de legalidade (à luz da Constituição Federal), e não de mérito. Já, os TCs têm a competência do exame de mérito da

424 STONOGA, Andreza Cristina. Tutela Inibitória Ambiental. A Prevenção do Ilícito. São Paulo: Ed. Juruá,

ação administrativa. Nesse sentido, torna-se extremamente difícil para o Judiciário sindicar políticas públicas de uma maneira abstrata, desvinculada da ameaça de dano concreto ou dano iminente que legitimam todos aqueles que ocupam o pólo ativo de uma relação processual.

O controle a ser exercido é, portanto, não repressivo, que deve ser dirigido a opções políticas que, na data do controle, ainda não se mostram claramente equivocadas425.

As auditorias operacionais visam exatamente a esta finalidade, ou seja, a orientação prévia do agir administrativo. E cada vez mais são objeto de implementação ingressando na cultura institucional desses Órgãos, capacitando os servidores através de contato com organismos internacionais mais avançados nessas práticas.

A alteração do atual quadro não será alcançada sem a necessária mudança de cultura a ser assimilada tanto pela sociedade como pelas próprias instituições. Todos os dias somos bombardeados com notícias de corrupção. Todavia, são poucos os casos em que há uma responsabilização a altura das mazelas decorrentes de tais crimes. A sensação de impunidade, além de deixar perplexa a sociedade, estimula a prática de tais ilícitos.

O desperdício no Brasil, em decorrência direta da corrupção e da ineficiência, segundo Rizzo Junior, consome um terço da arrecadação nacional, o que equivale a R$ 234 bilhões por ano. Como não há outros estudos sobre esse tema, é temerário questionar a legitimidade dos dados ora apresentados. Assevera o autor que o princípio da precaução tem plena aplicação na atenção que deve ser dispensada a esses números, porque a cautela que ele exige deve ser efetivada antes da absoluta certeza científica sobre se tal situação configura de fato uma ameaça real de dano econômico e social426

.

Da mesma forma, no editorial intitulado “Dinheiro de ninguém”, de O Estado de São Paulo, pág. A3, 30 set. 2007, o leitor, estarrecido, é informado sobre o relatório do Ministro Ubiratan Aguiar, do Tribunal de contas da União (TCU), que descreve como órgãos públicos que já foram extintos jamais prestaram contas

Considerando as justificativas não entregues pelos Ministérios, ou aquelas apresentadas, mas não analisadas, repasses de nada menos que R$ 12,5 bilhões, feitos pela União, estão sem prestação de contas. O atraso médio na prestação de contas de programas que utilizam recursos de transferências voluntárias do governo federal está em torno de 3,9 anos – o que equivale, praticamente, a um mandato

425 RIZZO JUNIOR, Ovídio. Controle Social Efetivo das Políticas Públicas. Tese de Doutorado. USP. São

Paulo: 2009. Disponível no banco de dissertações e teses do IBICT. Acessado em 08 de junho de 2011. p. 22.

presidencial inteiro [...] Não poderia haver combinação mais propícia para que se dilapide o patrimônio público com conforto e segurança.427

Nesse sentido, vê-se a necessidade de uma atuação por parte das Cortes de Contas voltadas para o controle do orçamento, na medida em que o âmbito de atuação vai além daquele exercido pelo Poder Judiciário. Ademais, um acompanhamento aproximado da elaboração e execução evitará desvios e estimulará a participação, na medida em que os cidadãos irão contar com um órgão afastado das paixões políticas, com independência e técnicos qualificados, voltados para assegurar o cumprimento das tarefas a cargo do Estado.

Há autores que propugnam uma releitura do Direito Constitucional à luz da Análise Econômica do Direito. Valem-se do argumento de que, se assim não procederem, acarretaria a própria inefetividade dos direitos fundamentais. Cita-se, por todos, Luciano Benetti Timm, para quem a eficiência não é apenas um valor para os economistas, mas um dever imposto ao Estado em todas as suas manifestações. Baseia a sua afirmação na limitação dos recursos orçamentários, o que conduz necessariamente a escolhas428.

Diante dessas considerações, e dentro de um campo de competências para a análise orçamentária, os TCs são os Órgãos com a maior vocação para o controle dos gastos públicos.

Assevera o autor citado

Numa perspectiva de Direito e Economia, os recursos orçamentários obtidos por meio da tributação são escassos e as necessidades humanas a satisfazer, ilimitadas. Por essa razão, o emprego daqueles recursos deve ser feito de modo eficiente a fim de que possa atingir o maior número de necessidades pessoais com o mesmo recurso. 429

E esse emprego é passível de aferição. Ingo Wolfgang Sarlet430 trata do tema

agregando o princípio da moralidade, ao lado da eficiência, para a devida condução nos processo de escolhas diante da escassez:

Parece-nos oportuno apontar aqui (mesmo sem condições de desenvolver o ponto) que os princípios da moralidade e da eficiência, que direcionam a atuação da

427 RIZZO JUNIOR, Ovídio. Controle Social Efetivo das Políticas Públicas. Tese de Doutorado. USP. São

Paulo: 2009. Disponível no banco de dissertações e teses do IBICT. Acessado em 08 de junho de 2011. p. 45

428 TIMM, Luciano Benetti. Qual a maneira mais eficiente de prover os direitos fundamentais: uma perspectiva

de direito e economia? In: SARLET, Ingo Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (Org). Direitos Fundamentais, Orçamento e Reserva do Possível. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 56-59.

429

Idem., p. 56 e 57.

430 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 8 ed. Porto Alegre: Livraria do

administração pública em geral, assumem um papel de destaque nesta discussão, notadamente quando se cuida de administrar a escassez de recursos e otimizar a efetividade dos direitos sociais.

É sabido que os custos não são algo externo ao Direito; é um elemento a ser considerado na análise de casos concretos431

. Por esta razão, baseando-se na doutrina colacionada, é que se sustenta o papel preponderante a ser exercido pelos Tribunais de Contas no controle orçamentário, na medida em que pode ir além de qualquer outro poder, avançado na aferição da eficiência, da legitimidade, da economicidade, através, principalmente, das auditorias operacionais.

4.5 TEORIA PROCESSUAL DEMOCRÁTICA E A LEGITIMIDADE DO PROVIMENTO