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REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO ESSÊNCIA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A necessidade de uma atuação preventiva em matéria ambiental, de forma a assegurar uma adequada qualidade de vida aos cidadãos, tem o seu maior fundamento no princípio-essência389 da dignidade da pessoa humana. Tal princípio enseja ações afirmativas

por parte do Estado.

Ao se tratar da relação entre economia e ecologia se está tratando da possível colisão entre direitos fundamentais. Não é por outra razão que os legisladores constituintes, atentos a esta situação, estabeleceram no artigo 170 da Constituição Federal, que trata dos Princípios Gerais da Ordem Econômica, a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação (art. 170, inciso VI da CF).

E, é na procura de melhor atender ao princípio-essência da dignidade da pessoa humana que se chegará a uma solução adequada para esta colisão.

388

CF/88 - Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;

II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;

IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.

§ 1º - Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. § 2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da

lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. [Por força do art. 75 da CF/88 aplica-se aos demais TCs].

Na Lei nº 8.666/1993: Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da Administração responsáveis pela demonstração da legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previsto. § 1o Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica poderá representar ao Tribunal de

Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do disposto neste artigo.

Ingo Sarlet390,assevera que a dignidade diz respeito à condição humana do indivíduo.

Trata-se de uma situação jurídica irrenunciável. Não há como se despir de tal atributo o ser humano. Não está no campo da disposição de qualquer pessoa, muito menos do Estado. A dignidade humana é indelével, perene.

Apesar da sua intangibilidade, possui concretude na ordem jurídica, cabendo ao Estado respeitá-la, caso viole, caberá ao Judiciário assegurar a sua observância.

O conceito de dignidade está ligado a uma condição mínima de existência. Aqui há uma dificuldade de se estabelecer este ambiente de condição mínima de existência digna, vez que dependente de aspectos estruturais culturais, de visão de consumo, de análises ambientais. Este é um conceito de difícil delimitação no ambiente interno de um país.

O que se dirá então, de se estabelecer uma condição mínima de existência digna em termos globais?

Interessante abordagem a respeito do conteúdo da dignidade da pessoa humana encontra-se no artigo de Luís Roberto Barroso onde refere que a definição de seu conteúdo transfere para o intérprete uma dose importante de discricionariedade.

Dentro de uma análise jurídica, dependendo da maior ou menor densidade das normas haverá maior ou menor possibilidade de extrair delas, no seu relato abstrato, a solução completa das questões sobre as quais incidem.

Assim se manifesta o autor:

Tome-se, como exemplo, o princípio da dignidade humana e veja-se a divergência quanto à sua interpretação, manifestada por dois juristas da nova geração, criados no mesmo ambiente acadêmico. Ana Paula Barcellos situa o mínimo existencial no âmbito da dignidade humana e dele extrai os direitos à educação fundamental, à saúde básica, à assistência no caso de necessidade e ao acesso à justiça (A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: O princípio da dignidade da pessoa humana, 2002, p. 305). Dessa posição diverge Daniel Sarmento, por entender inadequada a escolha de algumas prestações sociais, com exclusão de outras que, a seu ver, são igualmente direitos fundamentais, como o direito a “saúde curativa” (Direitos fundamentais e relações privadas, 2004, p. 114).391

Cristiane Derani392procurando estabelecer uma relação adequada entre o econômico

e o ambiental, trata da matéria sobre outro enfoque:

390 SARLET, Ingo. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. 5 ed., Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2007.

391

BARROSO, Luís Roberto. Revista da PGE/RS. V. 28. nº 60, julho-dezembro de 2004. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito, p. 37

Pelo exposto sobre os princípios presentes no artigo 170 da Constituição Federal, deve-se depreender que o princípio da dignidade humana é a essência, a razão das normas da ordem econômica, entendendo-se este princípio como aquilo que a inspira e a conduz. Deve-se diferenciá-lo do que textualmente é chamado pelo mesmo artigo 170 de princípios. Estes, elencados nos incisos, não têm o poder norteador, constituidor de uma base ética da ordem econômica. Eles desempenham um papel de suporte para a organização da atividade econômica, esboçam um determinado perfil da ordem econômica, moldando sua estrutura (princípio-base). Aqui, o sentido de princípio coincide com o de preceito, uma regra de proceder. Do contrário, quando se trata do princípio da dignidade humana, está se referindo a valores essenciais que orientam toda prática social (princípio-essência).

O Estado existe em função do cidadão e não o contrário. Neste sentido, a legitimidade do Estado está vinculada ao atendimento do princípio da dignidade da pessoa humana. É em razão deste princípio que se deve averiguar se a busca de um novo modelo de desenvolvimento poderá melhor atender ao seu objeto.

Aliás, preocupação no mesmo sentido encontra-se em artigo de Gustavo Henrique Justino de Oliveira393

, conforme se verifica:

Em que pesem as inúmeras transformações pelas quais passa o Estado contemporâneo, com ele permanece (e no caso brasileiro por expressa previsão constitucional) o papel de indutor, promotor e garantidor do desenvolvimento nacional. E se no centro da noção de desenvolvimento encontra-se a pessoa humana, cumpre à organização estatal - mormente por meio de seu aparato administrativo - exercer ações em número, extensão e profundidade suficiente para bem desincumbir-se da obrigação constitucional de realizar um dos valores que fundamental a República Federativa do Brasil: o princípio da dignidade da pessoa humana (inciso III do artigo 2 da Constituição Brasileira).

Há consciência de que o quadro contemporâneo de degradação e crise ambiental é fruto dos modelos econômicos experimentados no passado. Este fato enseja o repensar da geopolítica mundial. Ambos os modelos conhecidos de organização social, capitalismo e socialismo, tomam por base um crescimento permanente de produtividade sem levar em consideração, ou ao menos na medida necessária, a proteção ambiental.

A visão de desenvolvimento como sinônimo de crescimento não se ajusta mais as necessidades de enfrentamento da degradação do ambiente natural.

Faz-se necessário o desenvolvimento de políticas públicas para a proteção ambiental, bem como o manejo de procedimentos que cessem ou mitiguem os danos de forma célere. Esta é uma tarefa que tem que ser desempenhada pelo Estado sob pena de perder a sua legitimidade, na medida em que as tradicionais tarefas até então impostas não dão conta de

393

OLIVEIRA, Gustavo Henrique Justino de. Direito ao Desenvolvimento na CF 1988. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico - REDAE. Número 16 - Novembro/Dezembro/Janeiro - 2009. Disponível: www.direitodoestado.com.br - acessado em fevereiro de 2010.

possibilitar a permanência de uma vida digna diante das constantes e crescentes ameaças propiciadas pelas implicações decorrentes do uso desenfreado de recursos naturais.

O Estado socioambiental de direito passa, necessariamente, pela regulação da atividade econômica de forma a propiciar um desenvolvimento sustentável conforme preconizado na Constituição Federal394.

Veja-se que a posição adotada pelo autor toma por base o atual modelo capitalista de produção, mitigando os seus efeitos ao inserir limites e tarefas a serem desempenhadas pelo Estado, propiciando um controle na lógica desenvolvimentista.

Há uma clara associação entre a injustiça social e a injustiça ambiental. Os bens sociais são distribuídos de forma injusta, privilegiando determinadas camadas sociais em detrimento de outras, assim como o acesso aos recursos naturais, de modo que as populações

menos privilegiadas acabam por ter violados os direitos de acesso a um ambiente sadio395.

Uma racionalidade econômica dos direitos humanos favorece valores individuais e materiais. Uma racionalidade ecológica dos direitos humanos, por outro lado, não necessariamente inverteria essa ordem, mas questionaria seu utilitarismo subjacente396.

É claro que a assimilação ética e jurídica dessa preocupação básica mostra-se, ainda, pouco desenvolvida. Em termos jurídicos, os seres humanos valem muito mais do que o meio ambiente como objeto de proteção. Ainda não há uma concepção compartilhada em comum de que o bem-estar humano depende do bem estar de todo o mundo vivo. Por isso, não surpreende que o desenvolvimento dos direitos humanos ambientais desde a década de 1980 tenha sido dominado pelo antropocentrismo tradicional397

.

Parece evidente que um desastre como uma explosão de gás metano num lixão municipal situado nas proximidades viola o direito à vida, a privacidade ou a propriedade. Menos evidentes, porém, são casos em que o impacto não é tão imediato e individualizado, mas sim, de longo prazo e em grande escala, afetando populações inteiras.

O exemplo principal é o aquecimento global. Normalmente, a mudança climática é percebida como uma ameaça para a saúde ambiental, para a saúde humana e para a propriedade, mas só em grau menor como ameaça para a dignidade e os direitos humanos398.

394

SARLET, Ingo Wolfgang e FENSTERSEIFER, Tiago. Estado socioambiental e mínimo existencial. Estado Socioambiental e Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2010. p. 22.

395 Idem., p. 37.

396 BOSSELMAN, Klaus. Direitos Humanos, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Estado Socioambiental e

Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2010. p. 74.

397 Idem., p. 77. 398 Idem., p. 78.

[...] Os direitos procedimentais são direitos democráticos e importantes como tais. Entretanto, eles constituem apenas um pré-requisito para uma melhor tomada de decisões ambientais e não salvaguardam, por conta própria, a sustentabilidade ecológica399.

Existe uma ligação entre os direitos humanos e ambientais. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos constatou que o Governo Brasileiro violou direitos dos indígenas Yanomani à vida, liberdade e segurança pessoal, por ter deixado de impedir que danos ambientais graves fossem causados por empresas de mineração400.

Pode-se concluir que os direitos humanos e o meio ambiente estão, inseparavelmente, interligados. Sem os direitos humanos, a proteção ambiental não poderia ter um cumprimento eficaz. Da mesma forma, sem a inclusão do meio ambiente, os direitos humanos correriam o perigo de perder sua função central, qual seja a proteção da vida humana, de seu bem-estar e de sua integridade401.

O projeto dos direitos humanos ecológicos tenta reconciliar os fundamentos filosóficos dos direitos humanos com princípios ecológicos. O objetivo é ligar os valores intrínsecos dos humanos com os valores intrínsecos de outras espécies e do meio ambiente. Em face disto, os direitos humanos (como, por exemplo, dignidade humana, liberdade, propriedade e desenvolvimento) precisam corresponder ao fato de que o indivíduo opera não só num ambiente social, mas também num ambiente natural. Da mesma maneira como o indivíduo tem de respeitar o valor intrínseco de seus outros pares, os demais seres (animais, plantas, ecossistemas)402

.

Não é por outra razão que as legislações trazem, com frequência, a seguinte referência geral: “limites razoáveis prescritos pela lei que podem ser justificados de modo aferível numa sociedade livre e democrática403”.

E isto se deve ao fato de que os direitos fundamentais não são absolutos.

O meio ambiente como direito fundamental, conforme Ayala, teve a sua inauguração no julgamento do RE 134287-7SP, e o seu significado diferenciado somente foi realizado no julgamento do MS 22.164/DF, no qual, pela primeira vez, o STF reconheceria expressamente características essências do bem ambiental, tal como proposta pela Constituição brasileira, quais sejam: a) a repartição de responsabilidades no exercício desses deveres; b) a relação

399 BOSSELMAN, Klaus. Direitos Humanos, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Estado Socioambiental e

Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2010. p. 82.

400 Idem, p. 82. 401

Idem, p. 91.

402 Idem, p. 97. 403 Idem, p. 99.

estabelecida entre a sua concretização e os deveres atribuídos aos Poderes Públicos e à coletividade; e, sobretudo, c) a titularidade compartilhada de interesses sobre o bem, que alcançam inclusive as futuras gerações404.

Na perspectiva de assegurar os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana, foi elaborada a Carta de Terra. Trata-se de uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. O conteúdo de seu texto busca inspirar todos os povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltado para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação405.

Como incitação à participação da sociedade e o papel a ser desenvolvido pelas instituições o artigo 13 afirma a necessidade do fortalecimento das instituições democráticas em todos os níveis, da transparência e responsabilização406.

Todavia, os “direitos humanos” não são infensos a críticas. Da mesma forma os direitos fundamentais que potencializam esses direitos no âmbito interno dos países. Nesse sentido, há que se ter cautela na avaliação dessa espécie de direito para que se evite a captura através de uma nova bandeira que é o direito ambiental.

404 AYALA, Patryck de Araújo. O Novo Paradigma Ambiental e a Jurisprudência Ambiental no Brasil,

p. 380.

405 Para se atingir uma visão compartilhada de valores básicos que proporcione um fundamento ético à

comunidade mundial emergente, a Carta da Terra está estruturada em quatro grandes princípios. Estes princípios são interdependentes e visam a um modo de vida sustentável como padrão comum. Espera-se que através deles a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais seja dirigida e avaliada adequadamente. São eles:

- Respeitar e cuidar da comunidade de vida - Integridade ecológica

- Justiça social e econômica - Democracia, não-violência e paz

406

Carta da Terra

IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça.

a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse. b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica, de associação e de oposição. d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

Os direitos humanos, após a Segunda Guerra Mundial foram parte integrante da guerra-fria, e como tal considerados pelas forças políticas de esquerda407.

Para Boaventura Santos,

A história traz exemplos da utilização de duplos critérios na avaliação das violações dos direitos humanos, complacência com ditadores amigos do Ocidente, defesa do sacrifício dos direitos humanos em nome dos objetivos do desenvolvimento – tudo isso tornou os direitos humanos suspeitos enquanto guião emancipatório408.

Enquanto até meados dos anos setenta as crises de regulação social suscitavam o fortalecimento das políticas emancipatórias, hoje a crise de regulação social – simbolizada pela crise do Estado intervencionista e do Estado-Providência – e a crise da emancipação social – simbolizada pela crise da revolução, do reformismo social democrático e do socialismo enquanto paradigmas da transformação social – são simultâneas e alimentam-se uma da outra. A política dos direitos humanos, que pode ser simultaneamente uma política regulatória e uma política emancipatória, está armadilhada nesta dupla crise, ao mesmo tempo que é sinal do desejo de a ultrapassar409.

Nesse sentido é que Boaventura Santos fala numa tensão dialética que ocorre entre o Estado e a Sociedade Civil. A tensão deixa, assim, de ser entre Estado e sociedade civil para ser entre interesses e grupos sociais que se reproduzem melhor sob a forma de Estado e interesses e grupos sociais que se reproduzem melhor sob a forma de sociedade civil.

Uma terceira vertente da sua classificação aborda a tensão ocorre entre o Estado- nação e o que designa-se por Globalização. Quer a regulação social, quer a emanciapação social, deverão ser deslocadas para o nível global410

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A efetividade dos direitos humanos tem sido conquistada em processos políticos de âmbito nacional e por isso a fragilização do Estado-nação pode acarretar consigo a fragilização dos direitos humanos. Este é um aspecto interessante de análise, na medida em que as soluções para a crise ambiental devem ser tomadas num contexto mundial, portanto, sem levar em consideração os processos de divisão geográfica.

Todavia, como assegurar a manutenção dos níveis de proteção aos direitos humanos que se fortaleceram dentros desse contexto de Estado-nação? Há que se alcançar um modo de manter os níveis de proteção já alcançados pela humanidade.

407 SANTOS, Boaventura de Souza. A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política. Coleção para

um novo senso comum. V. 4. São Paulo: Cortez, 2006. p. 433.

408

Idem p. 433.

409 Idem p. 435. 410 Idem p. 436.

Boaventura Santos salienta que hoje, no início do século XXI, pode-se pensar os direitos humanos como simbolizando o regresso do cultural e mesmo do religioso. “Ora, falar de cultura e de religião é falar de diferença, de fronteiras, de particularismos. Como poderão os direitos humanos ser uma política simultaneamente cultural e global?411”. Este é o dilema

que envolve a questão dos direitos humanos e que tem que se ter presente para uma adequada análise da situação.

Deve-se encontrar as condições que permitam conferir aos direitos humanos, tanto o escopo global, como a legitimidade local, para fundar uma política progressista de direitos humanos, direitos humanos concebidos como a energia e a linguagem de esferas públicas locais, nacionais e transnacionais, atuando em rede para garantir novas e mais intensas formas de inclusão social.

É neste seara que a proteção de direitos que assegurem a dignidade da pessoa humana, sob um viés em que se tem presente o ambiente, deve ser levada em consideração.

As culturas são relativas. Nessa medida, a relatividade cultural exprime também a incompletude e a diversidade cultural. A homogeinização põe fim a diversidade cultural e enseja a perda de inúmeras práticas potencialmente importantes para a relação entre o homem e a natureza.

Sarlet assevera que a proteção ambiental enseja uma dupla funcionalidade tomando a forma de um objetivo e tarefa estatal e de um direito e dever fundamental do indivíduo e da coletividade. Decorre daí todo um complexo de direitos e deveres fundamentais de cunho ecológico412

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Bertolo ressalta a qualidade de direito fundamental do meio ambiente

No contexto das diversas dimensões ou gerações dos direitos fundamentais, a proteção da vida e da dignidade da pessoa humana é emblemática da dimensão coletiva e difusa do direito ao meio ambiente sadio. A diferença estrutural contida nos enunciados normativos permite identificar o conteúdo material dos princípios. Seu peso e importância são determinantes para a sua aplicação. Os princípios expressam o núcleo valorativo representado pelos direitos fundamentais nas suas diversas gerações ou dimensões incluindo, portanto, o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, entre os direitos a serem garantidos.413

411 SANTOS, Boaventura de Souza. A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política. Coleção para um