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Imputabilidade (Capacidade de Culpabilidade) a) Conceito

No documento Direito Penal Militar Prof. Rodolfo Souza (páginas 51-54)

g) Dever objetivo de cuidado

4.2. Imputabilidade (Capacidade de Culpabilidade) a) Conceito

A imputabilidade é a aptidão psíquica do agente em relação à compreensão do ilícito e à capa- cidade de determinar seu comportamento. Configura o conjunto das condições de maturidade e sanidade mental que permitem ao agente conhecer o caráter ilícito de seu ato e determinar- -se de acordo com este entendimento.

Por ter plena capacidade de entender e querer, o imputável responde por seus atos, sendo do- tado de responsabilidade criminal.

A imputabilidade penal desdobra-se em dois aspectos:

• Cognoscitivo (intelectivo), que é a capacidade genérica de compreender as proibições ou determinações jurídicas, levando a que o agente possa prever as repercussões de sua con- duta no mundo social.

• Volitivo (determinação da vontade): evidenciando a capacidade de dirigir a sua conduta de acordo com o entendimento ético-jurídico. O sujeito deve ter condições de valorar o motivo e o valor inibitório da ameaça penal e atuar de acordo com essa compreensão.

b) Causas de exclusão da imputabilidade (causas de inimputabilidade)

b.1) Inimputabilidade por alienação mental (art. 48, CPM)

O artigo 48, do Código Penal Militar estatui “não é imputável quem, no momento da ação ou omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

À semelhança do Código Penal comum, adotou-se na esfera militar o Critério (sistema) Biopsi-

cológico ou misto, que atende tanto às causas biológicas que produzem a imputabilidade como

às suas consequências na esfera psicológica do agente. A imputabilidade caracteriza-se pela combinação de dois elementos: presença de anomalias mentais e a completa incapacidade de entendimento e determinação.

O Código Penal Militar adota o sistema vicariante em caso de inimputabilidade por alienação mental, devendo o juiz aplicar medida de segurança em lugar de pena, sendo-lhe vedada a im- posição simultânea ou concorrente das duas respostas penais.

Assim, o inimputável que apresenta periculosidade submete-se ao disposto no artigo 112, CPM: “quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas condições pessoais e o fato praticado revelam que ele oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina sua internação em ma-

nicômio judicial”.

Todavia, se a doença ou deficiência mental não suprime, mas diminui consideravelmente a ca- pacidade de entendimento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade, porém a pena pode ser atenuada.

Trata-se de uma redução da reprovação penal, que deve ser proporcional à capacidade de cul- pabilidade. Assim constatada tal circunstância, o juiz deve atenuar a pena, devendo-se interpre- tar a expressão “pode” à luz das frações previstas no artigo 73, CPM, que dispõe que quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo entre um quinto (1/5) e um terço (1/3), guardados os limites da pena cominada ao crime. Ademais, se o juiz verificar que o semi-imputável necessita de tratamento curativo, deve aplicar o parágrafo único do artigo 48 do CPM, em homenagem ao sistema vicariante, substituindo a pena já atenuada por medida de segurança de internação em estabelecimento psiquiátrico.

b.2) Inimputabilidade por embriaguez acidental completa (art. 49, CPM)

Nos termos do artigo 49 do Código Penal Militar “não é igualmente imputável o agente que, por embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Embriaguez é o distúrbio físico-mental (perturbação psicológica) resultante de intoxicação por álcool ou substância de efeito análogo, que afeta o sistema nervoso central como depressivo ou narcótico.

A causa de inimputabilidade exige que a embriaguez seja involuntária. Quando decorrente de

caso fortuito (imprevisibilidade – evento do acaso), o sujeito desconhece o efeito inebriante

da substância, que associada a sua particular condição fisiológica, causa estado de embriaguez. Na segunda hipótese, a embriaguez é decorrente de força maior quando alguém é coagido física ou moralmente por outrem (ação humana) a ingerir bebida alcoólica ou substância de efeitos análogos.

Além disso, para que seja excluída a imputabilidade penal, exige-se que a embriaguez seja com- pleta, ou seja, suficiente para provocar a incapacidade total de entendimento e determinação. Caso a incapacidade seja apenas relativa, haverá causa de redução de pena. Conforme dispos- to no parágrafo único do artigo 49, CPM, a “pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou omissão, a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determi- nar-se de acordo com esse entendimento”.

Cumpre registrar, ainda, que o Código Castrense, assim como o Código Penal Comum, adota a

teoria da actio libera in causa (ação livre na causa), segundo a qual é imputável ao sujeito que,

em estado de embriaguez, é causador, por ação ou omissão de um resultado punível, desde que se tenha colocado naquele estado de embriaguez de forma voluntária ou culposa.

A aferição da imputabilidade é transferida para o momento anterior ao do estado de embria- guez e não no momento da prática delitiva. Há três situações que caracterizam a aplicação da teoria da Actio Libera in Causa:

• Embriaguez voluntária em sentido estrito: o estado de embriaguez é desejado pelo sujei- to, que faz a ingestão da substância com a finalidade de embriagar-se, sem necessariamen- te haver intenção de praticar crimes.

• Embriaguez Preordenada: voluntariamente o sujeito coloca-se em estado de embriaguez a fim de praticar infrações penais.

• Embriaguez Culposa: o estado de embriaguez, apesar de não ser desejado, é previsível pelo sujeito, pois este, sem observar o dever de cuidado, ingere álcool em quantidade sufi- ciente para colocá-lo naquele estado.

O tema tem relevância, pois o Código Penal Militar trata a embriaguez não acidental do militar sempre como circunstância agravante (art. 70, II, “c”, CPM). Se o agente for civil, a pena será agravada somente no caso de embriaguez preordenada, conforme ressalva do parágrafo único do mesmo artigo 70, CPM.

Por fim, atente-se para o fato de que, no Código Castrense, a embriaguez em serviço é tipifi- cada como crime contra o dever militar (art. 202, CPM). O tipo penal descreve duas condutas voluntárias: embriagar-se o militar estando de serviço ou apresentar-se para prestar o serviço embriagado.

Note-se que não basta a simples ingestão de bebida alcoólica ou substâncias de efeitos análo- gos, sendo necessária a comprovação efetiva do estado de embriaguez, em regra, através de perícia de dosagem alcoólica ou, na falta dessa, de outra prova idônea, de acordo com o con- junto probatório.

b.3) Inimputabilidade por imaturidade natural (art. 228, CF)

A Constituição da República adota a presunção absoluta de imputabilidade do menor de 18 anos, sujeitando-o às normas da legislação especial. O legislador constitucional acolheu o cri- tério biológico puro, por questões de política criminal, para presumir a inimputabilidade dos menores de 18 anos.

Somente por meio de um procedimento qualificado de emenda à Constituição, a menoridade penal pode ser reduzida, não cabendo ao legislador ordinário alterar tal critério. O menor de dezoito anos fica sujeito às disposições específicas do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), respondendo pela prática de ato infracional e submetendo-se às medidas de prote- ção e medidas socioeducativas.

Assim, as ressalvas e equiparações dos artigos 50 a 52 do Código Penal Militar não foram recep- cionadas pela atual ordem constitucional.

De outro lado, na esfera penal, considera-se que o sujeito com idade entre 18 e 21 anos ainda não completou sua formação psicológica e, apesar de imputável, merece menor reprovação, o que se traduz na atenuação da pena (art. 72, I, 1ª parte, CPM) e redução do prazo prescricional pela metade (art. 129, CPM).

b.4) Emoção e paixão

Segundo a doutrina, a emoção é um sentimento intenso e passageiro que altera o estado psico- lógico do indivíduo (angústia, medo, vingança, tristeza). Já a paixão é considerada uma emoção- -sentimento, ou seja, uma ideia permanente ou crônica por algo (cupidez, amor, ódio, ciúme). O Código Penal Militar adota o critério puramente psicológico. Portanto, os estados emotivos ou passionais não excluem a imputabilidade, salvo quando patológicos (art. 48, caput, CPM). Todavia, em certas circunstâncias, a emoção pode caracterizar circunstância atenuante (art.

nuição de pena de 1/6 a 1/3 (artigo 205, §1º, CPM – Homicídio privilegiado e artigo 209, §9º,

CPM – Lesão corporal privilegiada: “sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a in- justa provocação da vítima”).

4.3. Potencial consciência da ilicitude

No documento Direito Penal Militar Prof. Rodolfo Souza (páginas 51-54)