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Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou insígnia

No documento Direito Penal Militar Prof. Rodolfo Souza (páginas 121-123)

DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR

6. DA USURPAÇÃO E DO EXCESSO OU ABUSO DE AUTORIDADE

6.5. Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou insígnia

• Tipo legal

Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de posto

ou graduação superior:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

• Objetividade jurídica: a disciplina militar é o alvo de proteção dessa previsão legal, pois a ordem é perturbada com a aparição pública de militar com indumentária que não lhe é pertinente. Como a peça indevida pertence a superior, há afronta, também, à autoridade do posto ou da graduação que está sendo violado, sendo ela, a autoridade militar, também objeto de proteção.

• Sujeitos do delito: o sujeito ativo é o militar (federal ou estadual), que deve ser compreen- dido, nos termos do art. 22 do CPM, como o militar em situação de atividade.

Afastamos, desde nossos comentários à Parte Geral, a possibilidade do cometimento de delito militar por assemelhado, por entendermos não mais existir essa figura no cenário jurídico. Militar inativo e civil podem perpetrar este delito se em concurso com um militar da ativa, quando a circunstância pessoal “militar”, que é elementar do tipo, comunica-se aos consortes (art. 53, § 1º, Segunda Parte, do CPM). No concurso, no entanto, somente será possível a parti- cipação, por tratar-se de crime de mão própria.

O militar inativo, ademais, poderá perpetrar este delito se estiver sendo empregado na Admi- nistração Militar, conforme expõe o art. 12 do Código Castrense.

O sujeito passivo, titular dos bens jurídicos aviltados, é a própria Instituição Militar.

• Elementos objetivos: o núcleo da conduta é “usar”, que significa “utilizar”, no caso unifor- me, distintivo ou insígnia de posto ou graduação superior.

Evidentemente, exige-se que a utilização seja em público, pois o uso de uniforme ou de suas peças e distintivos de forma velada, às escondidas, com o fim único de analisar-se em frente a um espelho, por exemplo, é mero desejo pueril e não afronta os valores tutelados. Ademais,

O uso deve ser indevido, o que implica desconformidade com os regulamentos e ordens vigen- tes e está desabrigado pela autorização superior (p. ex.: autorização de uso para teatralização em um treinamento ou até mesmo para um evento de cunho artístico).

Quanto aos demais elementos típicos, o agente deve usar uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou graduação superior.

Uniforme é o fardamento constituído pela roupa, cobertura, calçados, equipamentos e acessó- rios como cinto, meias, quepes, capacetes e outras peças que assim forem definidas em regu- lamento.

Distintivo é o símbolo sobreposto ao uniforme, indicativo de curso (brevê), da Unidade Militar (brasão), ou de função desempenhada pelo militar (p. ex., o alamar).

Insígnia é o símbolo também sobreposto ao uniforme, geralmente nas golas, ombreiras ou mangas de camisa, indicativo de quadro, arma, posto ou graduação.

Por essa compreensão, aquele que se utiliza de peças avulsas do uniforme não estará em práti- ca delitiva, resolvendo a questão apenas na esfera disciplinar. Com efeito, o crime visa tutelar a disciplina e a autoridade militares, exigindo que aquele que pratique a conduta nuclear esteja hábil a passar-se por superior.

A utilização dos elementos acima deve ser capaz de provocar o engodo, de levar à confusão, sem o que os bens tutelados estejam em risco. Não significa dizer, por outro lado, que o unifor- me deve estar completo e com todas as insígnias e distintivos para caracterização do delito, bas- tando a utilização de peça(s) que possa(m) levar à confusão – obviamente somada ao elemento subjetivo. Dessa forma, por exemplo, não está em prática delitiva, mas de simples transgressão disciplinar, aquele que sobrepõe ao seu casaco, não pertencente ao fardamento (casaco de couro, jeans etc), uma insígnia de oficial superior, quando detém o posto de primeiro-tenente. • Elemento subjetivo: só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente do autor de

usar uniforme, distintivo ou insígnia de superior, capaz de provocar o engodo, não necessa- riamente praticando atos em que pretensamente se passe por superior.

O dolo está ausente; portanto inexiste o delito se o ato for praticado por brincadeira (animus jocandi), em peças teatrais, trotes etc. Caso a “brincadeira” ou a peça tenha sido autorizada, nada restará ao agente; porém, não havendo a autorização, a questão se resolverá na esfera administrativo-disciplinar, não havendo o porquê de se falar em crime, pela ausência do ele- mento subjetivo, mas em mera transgressão disciplinar.

Também não há elemento subjetivo, não prevalecendo, portanto o crime na conduta do aspi- rante a oficial que, em data de promoção, pensa ter sido sua promoção ao posto de segundo- -tenente publicada em Diário Oficial, quando, em verdade, por qualquer motivo, a publicação não foi efetivada. Todavia, uma vez conhecendo a ausência de publicação e, ainda assim, in- sistindo na ostentação da insígnia do posto de segundo-tenente, estará, em tese, incorrendo neste delito.

• Consumação: o delito se consuma quando o autor usa peça (própria de superior) a que não faz jus, independentemente de praticar ou não o ato de passar-se por superior; basta, como já suscitamos, a demonstração de que sua conduta era capaz de confundir os que com ele eventualmente interagissem, gerando, portanto, um risco à disciplina e à autorida- de militares (crime de perigo concreto).

• Tentativa: não é possível em vista de ser crime unissubsistente. • Crime propriamente militar

• Tipicidade indireta: como o delito só pode ser perpetrado propriamente por militares da ativa, para se ter a completa compreensão da tipicidade deste crime, deve-se verificar o in- ciso I do art. 9º do CPM, que trará ao intérprete o entendimento de que, para a subsunção do fato a este delito, basta que sejam encontrados os elementos grafados no tipo penal da Parte Especial.

• Ação penal: é pública incondicionada.

6.6. Uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar por qualquer

No documento Direito Penal Militar Prof. Rodolfo Souza (páginas 121-123)