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Imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-

3.3 Relações de coordenação e subordinação, imunidades condicional e

3.3.1 Imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-

O mínimo que se exige para que uma norma abstrata seja aplicada é que ela contenha, em seu antecedente, os critérios material, espacial, temporal, e, em seu consequente, os critérios subjetivo e quantitativo.

Não se defende, com esta assertiva, que outros critérios não deverão ser positivados pelo legislador para que estas normas exerçam, plenamente, sua função: apenas se afirma que este é o mínimo para que se tenha uma norma de feição dual.

Ao outorgar à lei complementar371 a função de regular as limitações constitucionais ao poder de tributar,372 o artigo 146, inciso II, da Constituição Federal de 1988, permitiu que enunciado-enunciado daquele veículo introdutor institua outras exigências, que não aquelas previstas no texto constitucional, para que a norma imunizante seja aplicada.

368

Em termos ideais (aplicação conforme as normas que regrem este procedimento), frise-se.

369

Essa é a regra posta no texto constitucional e que não carece, necessariamente, de ser confirmada no plano concreto.

370

Este condicionamento, se tratando de imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional- legalmente, é necessário (obrigatório): sem ele sua aplicação não é possível. No que toca às imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucionalmente, este condicionamento é permitido.

371

Art. 146, inciso II, da Constituição da República.

372

A própria Seção II do Capítulo I (Do Sistema Tributário Nacional) do Título VI (Da Tributação e do Orçamento) é intitulada de “Das Limitações do Poder de Tributar”.

Mesmo na ausência do supra mencionado dispositivo constitucional, entendemos que a necessidade de enunciado de lei complementar regular algumas das imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-legalmente decorreria do artigo 146, inciso III, da Constituição Federal de 1988: a diversidade de competências tributárias por ele atingidas e a necessidade de uniformidade nos regimes jurídicos a eles aplicável impõe que assim seja.373 Estas imunidades tributárias possuem como sujeito passivo os Estados, Distrito Federal e Municípios.

A exigência de que enunciado de lei complementar preveja os requisitos necessários à aplicação das normas instituidoras de imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-legalmente374 não implica que as mesmas sejam desprovidas de estrutura sintática hipotético-condicional (com todos os critérios375 inerentes a esta espécie normativa). Pelo contrário. Caso o legislador constitucional não exigisse a prévia produção de lei complementar como pressuposto para a aplicação das imunidades tributárias de aplicação condicional constitucional-legalmente, poderiam elas ser aplicadas independentemente daquelas: seu enunciado, em termos sintáticos, não difere daqueles previstos nas alíneas “a”, “b” e “d” do inciso VI do artigo 150 do texto constitucional.

373

“Na realidade, a restrição do alcance da norma constitucional expressa defendida pela Fazenda Nacional fragiliza a própria força normativa e concretizadora da Constituição, que claramente pretendeu a disciplina homogênea e estável da prescrição, da decadência, da obrigação e do crédito tributário. (...).

Embora pouco se tenha avançado na doutrina no sentido da busca da adequada definição para „normas gerais‟, é possível extrair na interpretação dos diversos dispositivos constitucionais que estabeleceram reserva de matéria à disciplina da lei complementar que a esta espécie legislativa foi atribuída a

missão de fixar normas com âmbito de eficácia nacional e não apenas federal.

Se a Constituição não determinou o conceito da norma geral de Direito Tributário, no mínimo fixou- lhe a função estabelecer preceitos que devam ser seguidos em âmbito nacional, que ultrapassem a competência do Congresso Nacional para ditar o direito positivo federal.

Trata-se de normas com maior espectro, a serem seguidas por todas as esferas políticas com competência tributária de maneira uniforme, seja por direta incidência sobre as relações jurídico- tributárias, seja como fator delimitador da edição da legislação ordinária em matéria fiscal” (STF, Tribunal Pleno, RE 556.664/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 216, de 13.11.2008 – destaques do autor).

374

Ex.: artigo 150, inciso VI, alínea “c” (lei para definir os requisitos que o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos partidos políticos, não sejam tributados por impostos), artigos 153, § 4°, inciso II (lei para definir pequenas glebas de terras para fins de tributação pelo ITR) e 195, § 7° (lei para definir as exigências a serem atendidas pelas entidades beneficentes de assistência social para fins de tributação por contribuições para a seguridade social).

375

Este é um dos motivos que nos levam a crer que os “requisitos” a que alude, por exemplo, o artigo 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal, não compõem o antecedente ou consequente da norma instituidora de imunidade tributária.

Agora, para que o artigo 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal, seja incidido, mister faz-se que se aplique, concomitantemente, o enunciado da lei complementar por ele mencionada. O antecedente deste ato de aplicação denotará critérios eleitos por ambos os enunciados.

Assim sendo, não vemos como negar que enunciado de lei complementar possa acrescer, aos critérios previstos no antecedente da norma instituidora de imunidade tributária, outros nela não previstos e não menos necessários à sua aplicação: a prova-produto desse relacionamento está no ato que aplicá-las.

Não estamos, com isso, atestando que o enunciado de lei complementar abandonará o veículo que lhe fez jurídico para abrigar-se em uma morada mais segura (Constituição Federal de 1988 ou Emenda Constitucional).

Defendemos apenas que, juridicamente, não é permitido que se aplique imunidade tributária de aplicação condicionada constitucional-legalmente sem que, concomitantemente, se faça incidir enunciado de lei complementar. O ato que lhes aplicar condensará, em um único enunciado, a interpretação destas duas normas (semiose).

Ao fixar as exigências necessárias à aplicação das imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-legalmente, não poderá o enunciado de lei complementar alterar quaisquer dos critérios contidos em seu antecedente ou consequente normativos.

O enunciado de lei complementar deve pressupor (adotar como premissa) os critérios material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo da norma instituidora de imunidade de aplicação condicionada constitucional-legalmente para, com fundamento nela, definir os requisitos necessários à sua aplicação.

Dito de outra forma, os requisitos instituídos por enunciado de lei complementar não podem alterar o espectro semântico-pragmático dos critérios constitutivos da norma imunizante. Desta forma, ao engendrar os requisitos necessários à aplicação:

(a) do artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal de 1988, não poderá o enunciado de lei complementar alterar a definição de qualquer dos símbolos encartados na expressão: “patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos”;

(b) do artigo 195, § 7º, da Constituição Federal de 1988, enunciado de lei complementar não poderá alterar a definição dos termos “contribuição para a seguridade” e “entidades beneficentes de assistência social”;

(c) do artigo 153, § 4º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, enunciado de lei complementar deve se limitar a definir “pequenas glebas rurais”, não se imiscuindo no espectro semântico-pragmático dos verbos “explorar” e “possuir” e dos adjetivos “proprietário” e “imóvel”;

(d) do artigo 5º, inciso LXXVI, da Constituição Federal de 1988, enunciado de lei complementar deve se limitar a definir o signo “pobres”;

(e) do artigo 5º, inciso LXXVII, da Constituição Federal de 1988, enunciado de lei complementar deve se limitar a definir a forma com que os contribuintes gozarão de gratuidade na prática de atos necessários ao exercício da cidadania, excluídas as ações de

habeas-corpus e habeas-data.

Com estas considerações não afirmamos que enunciado de lei complementar não possa influenciar, de outra forma que não aquelas acima mencionadas, na aplicação das imunidades tributárias de aplicação condicionada constitucional-legalmente: apenas delimitamos o papel de enunciado de lei complementar produzido com esteio nos artigos 5º, incisos LLXXVI e LXXVII, 150, inciso VI, alínea “a”, 153, § 4º, inciso II e 195, § 7º, da Constituição Federal de 1988.

Ao enunciado de lei complementar produzida com fundamento no artigo 146, inciso II, da Constituição Federal de 1988, reservamos o tópico a seguir.

3.3.2. Da relação entre imunidades tributárias e enunciado de lei complementar:

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