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PARTE II – O CHÃO

2.9 A Inconfidência

A cobrança do quinto provocou muitas revoltas contra o rei, e causou muitos dissabores ao longo do tempo, desde a revolta de Felipe dos Santos67 em 1720 até a Inconfidência Mineira em 1782.

A temática da Inconfidência Mineira68 tem sido abordada por estudiosos de vários ângulos históricos: há quem a defina como um movimento que buscava a liberdade da colônia portuguesa frente à metrópole e há quem saliente contornos regionalistas atribuindo sua “quase” eclosão ao descontentamento da população de Minas para com o excesso da carga tributária imposta pelo governo português. Alguns pesquisadores, no entanto, salientam os interesses particulares como propulsores do movimento. O tema é polêmico, principalmente no que diz respeito ao papel de cada um dos envolvidos. Todavia, é consensual afirmar que a Inconfidência Mineira foi um movimento que ambicionou libertar o Brasil (Minas Gerais) do domínio português na segunda metade do século XVIII.

Os conspiradores eram homens maduros e da alta sociedade mineira que tinham um programa e um plano de ação bem definidos para assumir o poder da capitania de

67 Felipe dos Santos foi tropeiro, latifundiário, pecuarista, contrabandista e minerador. Ele se envolveu num

movimento de protesto à Coroa que pode ser compreendido como precursor da Inconfidência Mineira. Nessa fase, em Minas Gerais, a insatisfação dos mineiros crescia diante do anúncio feito pelo conde de Assumar sobre o funcionamento das Casas de Fundição. Em junho de 1720, deu-se uma levante de grandes proporções encabeçado por Pascoal da Silva Guimarães, rico comerciante e minerador português; Manuel Mosqueira da Rosa, antigo ouvidor e Felipe dos Santos. Este chegava a pensar, juntamente com os outros revoltosos populares no assassinato do governador e na independência da capitania. Essa revolta foi abafada pelo conde de Assumar que ocupou a cidade com uma coluna de 1500 homens armados e prendeu os revoltosos, fazendo-os desfilar pelas ruas da cidade. Felipe dos Santos foi condenado à morte sem passar por um julgamento de tribunal qualificado, ainda que fosse homem branco e que tivesse direito a isso. A sua cabeça foi pendurada no pelourinho da vila e o seu corpo foi esquartejado e exposto à margem das estradas. (RAMOS & MORAIS, 2010).

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Conforme Maxwell, em seu clássico estudo A Devassa da Devassa (2010) no ideário da Inconfidência Mineira podemos perceber as insatisfações da elite colonial mineira diante da cobrança dos impostos forjada pela Coroa, bem como o pensamento dos hábeis advogados e padres obrigados à reavaliação das relações coloniais. O movimento tinha como fonte inspiradora os ideais da Revolução Francesa e também a constituição dos Estados Unidos da América. Havia uma tendência fortemente regionalista no que se refere ao nacionalismo econômico que estava dentro dos pronunciamentos do alferes Tiradentes: Seria criada uma casa da moeda e a taxa de câmbio fixada em 1$500 réis por oitava de ouro, visando acabar com a escassez da moeda que circulava na capitania; haveria a liberação restritiva do distrito diamantino com a estimulação para a exploração do minério de ferro e seria criada uma fábrica de pólvora; os padres deveriam receber dízimos com a condição de criarem e manterem hospitais, seria dado um incentivo pelo Estado para que as mulheres tivessem mais filhos; seria constituída uma milícia nacional; em cada cidade haveria um parlamento e o desembargador Gonzaga exerceria o governo por três anos para, em seguida, haver a convocação de eleições; não haveria distinção de hábitos entre pobres e ricos e todos deveriam usar os produtos manufaturados no local; os devedores da Fazenda Real receberiam o perdão por suas dívidas. Os inconfidentes chegaram a definir até mesmo uma nova bandeira para o Brasil. Esta seria composta por um triangulo vermelho, lembrando a Santíssima Trindade, num fundo branco, com a inscrição em latim: Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade ainda que Tardia).

Minas. Este programa estava fundamentado nos ideais da elite luso-brasileira e questionava o sistema colonial.

As insatisfações com a situação econômica, o conhecimento a respeito das revoltas na França e na América do Norte e a ideologia iluminista infiltrada na sociedade mineradora fizeram surgir no seio de Vila Rica uma consciência revolucionária, detentora de um desejo de mudança, vislumbrando uma sociedade livre e independente. Os Inconfidentes69 haviam marcado o dia do movimento para uma data em que a derrama seria executada. Eles tencionavam contar com o apoio da população que estava revoltada. No entanto, o movimento que ficou marcado como Inconfidência Mineira foi frustrado pela denúncia do Coronel Joaquim Silvério dos Reis ao Visconde de Barbacena em 1789.

A força repressora da Coroa utilizou-se de todo o seu poder para punir os líderes do movimento. Esses, depois de perderem os seus bens, foram levados ao exílio, e

Tiradentes70 foi condenado à morte.

A ruína da produção aurífera e toda a crise política, econômica e cultural que sobreveio à Capitania de Minas Gerais, nos últimos decênios coloniais, foi por causa dos graves erros administrativos da Coroa, ligados à falta de compreensão de que a produção do ouro podia se extinguir, já que ele nunca poderia ser “inesgotável”. Isso parecia ser “invisível” aos governantes que representavam a monarquia portuguesa, absoluta e paternalista.

Ao rever e apresentar – de maneira um tanto sucinta – alguns aspectos históricos sobre o Estado de Minas Gerais, mostrando as características culturais, sociais e políticas ligadas à importância do ouro e das pedras preciosas para a sua constituição, desejamos perceber essas marcas na toponímia constituída. No capítulo que segue trataremos dos Aspectos Geográficos.

69 Faziam parte do movimento Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga

Peixoto, Cônego Luís Vieira da Silva, Francisco Paula Freire de Andrade, José Álvares Maciel e os padres José de Oliveira Rolim e Carlos Correia de Toledo, além do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, dentre outros (TORRES, 1967, p. 40-44).

70 O alferes Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado o “Tiradentes” foi capturado no Rio de Janeiro e acusado

de liderar o movimento. Sendo o único condenado à morte. Há muitas controvérsias que giram em torno de Tiradentes. Sabemos hoje que ele não foi apenas a figura de barbas e camisolão semelhante ao Cristo. Atrás do mito havia um homem preocupado com o futuro do Brasil e, por isso, interessado na Revolução Norte Americana e impactado pelas ideias do Iluminismo. Nas palavras de Barbosa (1970, p. 33), Tiradentes foi um homem honesto, leal, desprendido, abnegado até o extremo, capaz de sacrificar-se pelos amigos; “homem de fibra e de coragem, que soube enfrentar a morte com serenidade”.