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INDICADORES PARA GESTÃO EDUCACIONAL NO BRASIL

A educação é uma função adaptativa da espécie humana; entretanto, a edu- cação em geral é apenas uma abstração. Enquanto fenômeno humano, a educa- ção é sempre datada e localizada.

Talvez, devido à extrema capacidade adaptativa da espécie, os seres humanos nasçam com uma predisposição à adaptabilidade cultural ao ponto de, tendo sido criados por animais, tornarem-se, pelo menos na forma como se compor- tam diante das primeiras necessidades, cópias fiéis desses animais. Assim foram os inúmeros casos de crianças selvagens registrados pela literatura antropológica e sociopsicológica.

Compreende-se, portanto, que a educação é o amálgama de todas as po- tencialidades herdadas geneticamente e das predisposições culturais inerentes

a cada sociedade humana. É com essa compreensão que incluímos a educação e a ética como duas dimensões essenciais da sustentabilidade das comunidades humanas.

Em plena sociedade do conhecimento, a educação incorpora-se quase que naturalmente ao conceito de sustentabilidade. Numa sociedade assim, mais do nunca, para haver sustentabilidade para as novas gerações é preciso haver edu- cação continuada e aprendizado constante. É preciso enfrentar bem os novos desafios que surgem constantemente na dinâmica social; esse papel compete à educação.

Os indicadores são instrumentos valiosos de gestão e no Brasil podemos considerar que, do ponto de vista metodológico e da implementação empírica, a existência de indicadores não é o motivo pelo qual os problemas na educação persistem.

Atualmente, as principais fontes de dados para as análises da educação bra- sileira destacam-se, dentre as instituições nacionais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Tais órgãos são responsáveis por pesquisas de extrema relevância para o conhecimento da realidade educacional no Brasil. Dentre elas, cita-se o Censo Demográfico, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e o Censo escolar da educação básica.

As pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNADs), como o pró- prio nome diz, são pesquisas realizadas anualmente em uma amostra de domi- cílios. A primeira PNAD foi realizada em 1967, com uma abrangência bem limitada. Aos poucos, seu universo foi sendo expandido, e desde 1981 a PNAD já cobre todo o Brasil, com exceção da área rural da região Norte.

A pesquisa tem periodicidade anual, não sendo realizada apenas em anos censitários. Essa pesquisa surgiu da necessidade de um acompanhamento perió- dico do quadro socioeconômico brasileiro, permitindo análises baseadas em dados mais recentes. Essa seria a principal vantagem das PNADs em relação aos censos demográficos. Entretanto, para que uma pesquisa anual fosse viável economicamente, a complexidade da coleta de dados deveria ser muito menor que a dos censos. Para que isso fosse possível, mantendo-se uma estrutura de questionário semelhante à do Censo, optou-se por restringir a pesquisa a uma

amostra bem menor que a do Censo, o que limita a representatividade das PNADs, cujos dados podem ser desagregados apenas para unidades da Federa- ção e regiões metropolitanas. Esta seria a principal desvantagem das PNADs em relação aos censos.

Com relação aos temas investigados, a pesquisa amostral é constituída de um levantamento básico, com questões referentes a aspectos gerais da popu- lação como educação, trabalho, rendimento e habitação, e de levantamentos suplementares que abordam diferentes temas em cada ano.

De 1981 a 1990, o questionário básico da PNAD manteve a mesma estru- tura. Uma das poucas alterações no período foi a introdução dos quesitos sobre cor e sobre a existência de rádio e televisão nos domicílios, respectivamente em 1987 e 1988. No período de 1992 a 1999, foram feitas algumas mudanças mais significativas na estrutura do questionário, como a inclusão dos temas da migração, fecundidade e nupcialidade no levantamento básico, registrando-se também uma mudança metodológica nos quesitos referentes à educação e tra- balho. É necessário, portanto, quando se deseja fazer uma análise da série his- tórica utilizando diversas PNADs, ter o cuidado de considerar essas mudanças metodológicas, bem como as revisões feitas nas projeções populacionais usadas na ampliação da amostra.

A terceira parte da PNAD possui um conjunto de perguntas sobre educação que permite gerar indicadores sobre EJA, e.g.: “Sabe ler e escrever?”; “Frequenta escola ou creche?”; “Qual é o curso que frequenta?”; “Qual é a série que fre- quenta?”. Pela terceira pergunta serão identificadas as pessoas que frequentam a Educação de Jovens e Adultos.

Pelos motivos atrás citados, a PNAD se constitui num poderoso instrumen- to para a realização de políticas públicas no Brasil.

No que concerne aos indicadores educacionais, o INEP, através da Coorde- nação Geral de Sistemas Integrados de Informações Educacionais, desenvolveu e divulgou através do Dicionário de indicadores educacionais — fórmulas de cál- culo1 dos mais importantes indicadores educacionais.

1 O dicionário pode ser obtido on line através do site do INEP. O interessante é que através dessa fonte podemos conhecer e utilizar todas as fórmulas de cálculo de cada um dos indicadores.

Apesar da expansão da escolarização no Brasil nos últimos anos, as pessoas idosas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, ainda têm um peso importante para a determinação da taxa de analfabetismo. Alfabetizá-las seria uma maneira de acelerar a redução do analfabetismo. Para isso, diversos governos de todas as esferas implementaram, com maior ou menor intensidade, programas de alfa- betização de adultos. A efetividade desses projetos, no entanto, deixa a desejar.

O gráfico 1 apresenta a taxa de analfabetismo das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por grandes regiões. Observa-se uma grande discrepância entre as regiões. Enquanto nas regiões Sul e Sudeste os índices ficaram próximos de 5%, no Nordeste alcançaram 18,3%.

O índice de indivíduos de um determinado grupo etário que são analfabe- tos, em relação ao total de pessoas do mesmo grupo etário, corresponde à taxa de analfabetismo. Uma pessoa alfabetizada é aquela que sabe ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece.

Em relação à distribuição dos estudantes pelas redes pública ou privada, o ensino público permaneceu preponderante nos níveis iniciais de ensino, visto que é obrigatória, como consta na Constituição Federal, a oferta de ensino fun- damental pelo poder público.

Nordeste Norte Centro-oeste Sudeste Sul 18,3% 9,9% 7,3% 5,3% 5,0%

Gráfico 1: Brasil - Taxa de analfabetismo das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por grandes regiões, segundo os grupos de idade e o sexo - 2008.

Um outro problema constatado pela PNAD é o do analfabetismo funcional como indicador da situação educacional em uma perspectiva mais abrangente. Uma pessoa é classificada como analfabeta funcional quando, mesmo com a capacidade de decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não é capaz de interpretar o que leu e de fazer as operações matemáticas básicas.

O gráfico 2 apresenta a taxa de analfabetismo funcional entre pessoas de 10 anos ou mais de idade e com pelo menos 4 anos de estudos completos.

A média nacional de pessoas classificadas como analfabetas funcionais em 2006 foi de 23,6%, contra 24,9% em 2005. Essa variação foi impulsionada pela queda mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste que apresentaram, mais uma vez, os piores indicadores no país, com 35,5% e 28,5% de analfabetos funcionais, respectivamente, índices superiores aos das outras regiões.

Já no PNAD de 2008, o número médio de anos de estudos completos das pessoas de 10 anos ou mais de idade foi de 6,8. Esse indicador acompanhou as desigualdades observadas nos indicadores de educação verificados anteriormente: a média de anos de estudo foi mais alta nas regiões Sudeste (7,5 anos) e Sul (7,2 anos), enquanto a região Nordeste apresentou a média mais baixa (5,6 anos).

Nordeste Norte Centro-oeste Sudeste Sul 35,5% 28,5% 21,3% 17,9% 17,7%

Gráfico 2: Brasil - Taxa de analfabetismo funcional das pessoas de 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de estudo completos, segundo as grandes regiões - 2006.

O gráfico 3 mostra a evolução educacional entre as gerações. Os grupos in- termediários apresentaram melhora significativa em relação às faixas com maior idade, indicando avanço ao longo das gerações.

No gráfico 4, apresentado a seguir, pode-se verificar o percentual de pessoas que não frequentavam escola na população de 5 a 17 anos de idade, por grandes regiões e grupos de idade. Note-se que o percentual extremamente elevado de 94,5% de pessoas que não estavam frequentando nenhuma escola, a partir dos 25 anos, significa que a noção de educação continuada não está incorporada à sociedade brasileira. Fica patente que a universalização das séries destinadas à população de 6 a 17 anos apresenta um índice de pessoas fora de qualquer escola de 3,00% e 2,40%, respectivamente. 10 a 14 anos 15 e 17 anos 18 e 19 anos 20 e 24 anos 25 a 29 anos 30 039 anos 40 a 49 anos 50a 69 anos 60 anos ou + 4,1% 7,2% 8,7% 9,2% 8,9% 8,7% 7,9% 6,1% 3,9%

Gráfico 3: Brasil - Número médio de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais de idade, segundo os grupos de idade - 2006.