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A política educacional é um processo transformador da demanda social. David Easton (1965 apud DRUWE, 1994, p. 171) desenhou o processo políti- co como um esquema de processo circular entre input-output, no qual o sistema político (a) percebe demandas, necessidades e apoios da sociedade, (b) elabora leis, diretrizes, programas, (c) os implementa e (d) avalia os resultados e conse- quências dessas implementações. Nessa concepção acima descrita, um sistema político específico (governo), para reformular suas políticas educacionais, por exemplo, precisa de informações oriundas da sociedade, ou seja, de um retorno, chamado de feedback por Easton. O sistema político utiliza essas informações para tomar as próximas decisões ou para reajustar suas decisões anteriores.

Diante da complexidade dos obstáculos e desafios da sociedade moderna questionou-se, no entanto, se a tomada de decisões pode ser realizada por uma única ou por poucas pessoas situadas no topo do processo decisório. Questiona- se se decisões tomadas numa instância isolada serão adequadamente aplicadas por terceiros, ou seja, os executores. Procura-se, por isso, compreender a ges- tão como processo de interação entre sujeitos. No nível político, isso se chama uma gestão cooperativa. No nível escolar, como discutiremos ainda adiante, estabelece-se o conceito da gestão participativa.

Gestão cooperativa significa que o Estado, anteriormente produtor de ser- viços, agora se transforma em um Estado que “[...] serve de garantia à produção do bem público; [...] que aciona e coordena outros atores a produzir para ele; [...] que produz o bem público em conjunto com outros atores”. (KISSLER; HEIDEMANN, 2004, p. 4-5) A sua gestão cooperativa1 “[...] engloba tanto o

trabalho conjunto de atores públicos, comunitários e privados, como também novas formas de transferência de serviços para grupos privados e comunitários.” (KISSLER; HEIDEMANN, 2004, p. 4)

Nessa concepção ressalta-se o papel da avaliação. A avaliação, anteriormen- te compreendida como controle e prestação de contas, torna-se agora elemento-

1 Este conceito se baseia na concepção do New Public Management. Um dos seus elementos básicos é o compartilhamento de decisões estratégicas de órgãos políticos e competências operacionais de institui- ções administrativas e entrelaçamento de planejamento, implantação e execução. (MEYER, 1998)

chave na informação e comunicação transparente entre todas as pessoas envol- vidas nos processos organizacionais (stakeholders).

Assim, compreende-se melhor o importante papel atribuído à avaliação no Plano de Ações Articuladas (PAR), desenvolvido dentro do Plano de Desen- volvimento da Educação (PDE), apresentado pelo Ministério da Educação em 2007.

A partir de um Plano de Metas, instituído pelo Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007), cada município elaborará seu PAR, baseado num diagnóstico da própria realidade e abrangendo quatro dimensões: gestão educacional, formação de professores e dos profissionais de serviços e apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação, e infraestrutura física e recursos pe- dagógicos. O PAR, ao estabelecer o apoio do Governo Federal aos Estados e Municípios na implementação de políticas de melhoria da qualidade da educa- ção, instala um Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (SIMEC).

No discurso de melhoria da qualidade, fala-se de qualidade social da educa- ção, como mostra, por exemplo, o objetivo do Fundo Nacional de Desenvolvi- mento da Educação que prevê no seu Plano oferecer

[...] subsídios aos gestores escolares para que eles possuam as ferra- mentas específicas, de acordo com os novos marcos legais e o con- texto da gestão democrática do ensino, para viabilizar e assegurar o direito à educação escolar básica com qualidade social. (BRASIL, 2007b)

Porém, Unicef e MEC junto com PNUD, INEP e Ação Educativa esclare- cem na introdução do livro Indicadores da qualidade na educação que “[...] não existe um padrão ou uma receita única para uma escola de qualidade. Quali- dade é um conceito dinâmico, reconstruído constantemente. Cada escola tem autonomia para refletir, propor e agir na sua busca pela qualidade da educação”. (AÇÃO EDUCATIVA et al., 2004)

O conceito qualidade social reflete, desta forma, um valor socialmente esta- belecido, ou seja, com participação da sociedade e respeitando as características

do meio social. Recomenda-se, inclusive, em cada escola, a constituição de uma equipe responsável para planejar a implementação do processo da avaliação da qualidade da educação e mobilizar a sociedade a participar.

Compreende-se aqui que qualidade social da educação abrange, além da eficácia da construção e transmissão de conhecimento, o acesso democrático ao mesmo e a permanência no sistema educacional, mas também a conscientização no que diz respeito à qualidade de vida e à sustentabilidade socioambiental. Garantir qualidade social, então, implica o reconhecimento das diversidades socioculturais do contexto da escola, adaptando a oferta da escola à demanda social.

A qualidade social focaliza também a superação das desvantagens referentes à desigualdade regional do Brasil, isto é, zona rural X zona urbana; regiões norte e nordeste X regiões sul e sudeste; pobre X rico; preto/pardo X branco, por um lado; por outro lado, deixar de mensurar a escola com uma medida de mono- cultura e reconhecer que a escola é um espaço plural e multicultural.

As avaliações externas orientam-se em padrões a partir de um olhar nacio- nal, mas o conceito de qualidade social coloca ao seu lado um olhar contextual, que permite uma autocompreensão de qualidade. A qualidade social expressa-se em reconhecimento e valorização de especificidades e pluralismo de formas de vida com base no compromisso democrático e participativo.

Evidentemente, os atores políticos em nível municipal assumem uma fun- ção imprescindível na formulação do PAR, ou seja, na realização do diagnóstico do próprio município. Mas não menos importantes se tornam os gestores das instituições escolares que contribuem com seus olhares da prática escolar coti- diana para garantir uma adequação de demandas e ofertas.