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o município de teodoro sampaio como território educacional

Alberto Batinga Pinheiro & Robinson Tenório

INTRODUÇÃO

Discutir territórios educacionais, objeto teórico e prático relativamente novo, exige iniciar pela descentralização. O tema descentralização ganhou noto- riedade no Brasil, a partir da elaboração e promulgação da Constituição Federal, em 1988. Trata-se da institucionalização da perspectiva de atuação colaborativa dos entes da federação com divisão de responsabilidades e competências, assim como a repartição de receitas.

Do ponto de vista teórico-conceitual, a descentralização de políticas pú- blicas refere-se à redistribuição territorial de poder, embora seus significados possam variar de rearranjos administrativos à transferência de poder decisório entre unidades de governo e entre grupos sociais. A Constituição Federal em vigor instituiu, desde 1988, um modelo de federalismo com três níveis autôno- mos: Federal, Estadual e Municipal. Na dimensão política, o poder decisório e o financiamento mediante transferências constitucionais ampliaram fortemente a capacidade dos entes federativos não federais, como os estados, o Distrito Federal e os municípios, agirem com autonomia frente ao nível federal, no aten- dimento das demandas cujas competências passavam ao seu território.

A dimensão administrativa da descentralização caracteriza-se pela respon- sabilidade na execução das políticas públicas em geral e das políticas educa-

cionais em particular, instituídas na Constituição e pormenorizadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Este aspecto do modelo des- centralizado de gestão apresenta possibilidades importantes para este processo: a tomada de decisão mais próxima aos demandantes das ações públicas, amplian- do o controle social.

A descentralização pode oferecer, de um lado, a eficácia da ação pública, ao identificar as reais demandas sociais, e por outro, maior eficiência advinda da fiscalização e aperfeiçoamento da gestão dos recursos públicos.

Para as escolas, isto se consubstancia no desenvolvimento da capacidade institucional para responder aos desafios impostos pela gestão escolar. A des- centralização dos sistemas educacionais atinge fortemente a escola pública, ins- tada a atuar diante de um novo modelo: a autonomia na prestação dos serviços educacionais. Esta autonomia aplica-se a três dimensões: a administrativa, a financeira e a pedagógica, factum nuclear da escola.

Observamos assim a “territorialização” das políticas educativas. E é a partir desse entendimento que desejamos articular este texto, em particular, com certa peculiaridade de que trata a experiência do ProAge em Teodoro Sampaio, pe- queno município baiano, situado a 93 km de Salvador, e com uma cartografia do lugar propriamente dita, ainda que nos refiramos ao território como referên- cia simbólica da ação educacional e política.

Para tanto, gostaríamos de prosseguir apresentando um pequeno “passeio” pela ideia de lugar, base do território; um olhar geográfico sobre o lugar pode sustentar de forma mais crítica o olhar político sobre o território.

O LUGAR

Por definição, o município é o núcleo político-administrativo hierarqui- camente menor dentro da estrutura brasileira. (CALLAI, 2008, p. 126) Pode parecer que o assunto termina por aí, como a maioria das definições faz parecer. Mas, na verdade, ele apenas começa aqui, porque nenhum lugar se explica por

si mesmo. A partir desta constatação, podemos perceber a importância que tem o município enquanto lugar e o esforço de seriedade que se tem de empreender para explicá-lo.

Passemos então a explicar o que é o lugar, e para tanto tomaremos empres- tado da Geografia, já que ela nos possibilita o olhar espacial, algumas ideias.

Neste momento falamos muito de globalização, de como ela tende a tornar todos os espaços mais ou menos semelhantes entre si; homogêneos. No entanto, na medida em que isso ocorre, ocorre também uma diferenciação: os grupos sociais, as pessoas, vão intensificando onde vivem as marcas que vão construir a identidade do lugar.

A globalização vai fragmentar os espaços, fracioná-los, quebrá-los, para além dos limites das divisões político-administrativas. Torna-se preciso, então, entender, de modo crítico, o novo lugar que se passa a ver no antigo lugar.

Um lugar reproduz num dado tempo, numa certa época, o espaço do todo, do global, do mundo. Antigas relações de vizinhança, de proximidade, são ago- ra recortadas por distâncias descontínuas, que vão se estabelecer, na maioria das vezes, pelos interesses externos. A vida e as relações sociais não vão seguindo uma sequência, encadeada do menor para o maior, do mais próximo para o mais distante.

No nosso dia a dia nos damos conta da presença do mundo em nossas ca- sas, em nosso trabalho, no que vestimos, comemos etc. Com isso, cada lugar vai reagir a seu modo aos impactos causados pela globalização e vai se configurando de maneira diferenciada.

Cada lugar passa a entender seu significado, não só a partir de suas ca- racterísticas internas, mas a partir, também, das relações com os outros lugares. Um município em relação a outro município, ao Estado, ao país, à região. As relações das pessoas com o lugar e com os lugares passam a sentir a força polí- tica das relações sociais, econômicas, culturais e ambientais entre o interno e o externo, que ali, no lugar, interferem.

Quando, por exemplo, estudamos o município de Teodoro Sampaio e, mais particularmente, os seus processos educativos, tínhamos a necessidade de reconhecer certos fluxos, que são a circulação dos instrumentos de trabalho, e as forças produtivas em si, os fixos, e determinar, em uma certa escala de

análise, a sua ordem, sua lógica local em relação com o interno – seus próprios padrões de relação – e o externo – suas intrínsecas relações ampliadas e torna- das mais complexas. Para tanto, é fundamental entender que “[...] não existe um lugar onde tudo seja novo, ou onde tudo seja velho”. (SANTOS, 1988, p. 98)

Nesta perspectiva, de certa maneira, estávamos levando algo de novo, em forma de pesquisa, para a gestão educacional do município; para um lugar que já dispõe de certas lógicas de funcionamento de seus fluxos. “O novo nem sempre é desejado pela estrutura hegemônica da sociedade. Para esta, há o novo que convém e o que não convém.” (SANTOS, 1988, p. 98) Verifica-se, então, que o que acontece no lugar não pode ser pensado a partir das noções de certo e errado, mas a partir dos interesses políticos, culturais e econômicos, locais. Por isto, muitas vezes, “[...] é preciso um esforço especial para provocar empatia em relação às vidas e valores dos habitantes”. (TUAN, 1980, p. 74)

Acreditamos que um vínculo entre os pesquisadores do projeto e o lugar Teodoro Sampaio se deu de maneira absolutamente tranquila. Desde cedo, a empatia e a colaboração marcaram as relações que se desdobrariam no aperfei- çoamento do trabalho e no significado da contribuição de uma perspectiva nova sobre o uso de indicadores para a qualidade da educação básica. Utilizando o que o município disponibiliza, requalificando processos e equipamentos, todas as ações da parceria entre os pesquisadores, a comunidade de aprendizagem e a gestão da educação, de lá para cá, são sentidas como uma potencialização das iniciativas locais, ajudando a compor uma visão sistêmica para as políticas pú- blicas em educação no município.

UMA CARTOGRAFIA DOS LUGARES QUE EDUCAM