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A atividade humana, na simplicidade de sua cotidianidade, é carregada de todos os elementos que compõem uma complexa trama de significados. O está- gio em que a reflexão chegou até o momento, de abstração das dimensões que compõem o Triângulo da Sustentabilidade, não exclui a existência de um outro conjunto de dimensões que permaneciam envolvidas numa rede de relações concretas, existentes, importantes, mas não explicitadas.

Nossa reflexão acerca do fenômeno da sustentabilidade, já há algum tempo denunciava a existência de outros mediadores não explícitos.

Em primeiro lugar, porque toda ação humana é uma ação carregada de conteú do ético. Ético no sentido de que toda ação ocorre em uma comunidade de seres humanos, envolve um conjunto de valores e, na maioria das vezes, valores que entram em conflito com visões de grupos humanos diferentes entre si. Por esse motivo, uma organização ou uma comunidade humana qualquer que preten- da discutir a sustentabilidade deve incluir os aspectos éticos em seus princípios.

Em segundo lugar, como vimos na seção destinada à discussão da educação, essa dimensão humana sempre ocupou lugar de destaque na construção do que se pode chamar de processo de humanização. Não há comunidade humana sem um sistema educacional capaz de transmitir para as gerações mais novas um conjunto de conhecimentos, técnicas e valores que se constituem, em última instância, nas próprias bases de sustentabilidade daquele grupamento humano.

Nossa intenção era propor um aprofundamento da compreensão do con- ceito de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, ampliar o conceito com a própria experiência existencial do grupo.

Acerca dos princípios da sustentabilidade ética, destacam-se os seguintes: a justiça, a prudência e a temperança. Tais princípios agregam valores como: a pontualidade, a honestidade e a responsabilidade.

Esses princípios agregam valores como o respeito ao outro. O outro, só pelo fato de ser outro humano, de ter a sua identidade, já merece o nosso res- peito, a nossa lealdade.

Manter a palavra, cumprir os acordos, lealdade com os amigos, com a fa- mília, com a organização, com o país, com a humanidade. Cumprir os compro-

missos, isso é lealdade. O cumprimento das leis é uma lealdade. A legalidade, o cumprir as leis, que são frutos da discussão social para o estabelecimento das regras de comportamento e de convivência coletiva. Se estamos valorizando a sustentabilidade social e essas leis são regras criadas pela sociedade como um todo, elas devem ser cumpridas. Evidentemente que as leis refletem um certo momento do funcionamento da sociedade humana e, como o mundo é dinâ- mico, eventualmente precisarão também ser alteradas.

O respeito à lei também não significa passividade. Se as leis existem, não vamos desrespeitá-las. Se o conjunto da sociedade não está de acordo com elas, teremos que mudá-las. Para isso teremos que trabalhar com uma outra instân- cia, nos polos adequados, para análise, discussão e mudança da legislação. Isso é um valor muito importante.

Tais princípios e valores foram discutidos e sistematizados como contribui- ções próprias dos participantes para o que poderia vir a se constituir como um compromisso ético dos participantes da organização.

As discussões acerca dessa ampliação do conceito de sustentabilidade nos fez chegar à metáfora da pirâmide.

Para a apresentação dessa metáfora, primeiro discutimos o conceito de edu- cação e de ética para chegar em seguida à inclusão do educacional como ele- mento fundamental no processo de sustentabilidade.

Assim como a educação, a ética, enquanto elemento fundante da socia- bilidade, base para tomadas de decisões, é agregada ao conceito de gestão da sustentabilidade. Educação e ética articulam-se para a criação de hábitos indi- viduais, para a tomada de decisão do sujeito, para que haja efetiva integração à sociedade, ao ambiente organizacional e social. Com isso, nos propomos a transformar o triângulo da sustentabilidade numa pirâmide, como uma nova metáfora para a sustentabilidade, criando um modelo de sustentabilidade am- pla. O conceito de sustentabilidade até o momento está centrado no triângulo financeiro-social-ambiental. A proposta amplia, faz crescer, dá volume a esse triângulo, transformando-o em uma pirâmide, com o acréscimo dos elementos educacional e ético.

A gestão das organizações

[...] adquire um significado bem mais amplo, para além de referir-se apenas a questões administrativas e burocráticas. Elas são entendi- das como práticas educativas, pois passam valores, atitudes, modos de agir, influenciando as aprendizagens [...]. (LIBÂNEO, 2004, p. 30)

De todos os envolvidos nas atividades organizacionais. Esse duplo caráter do processo de gestão implica na complexidade necessária ao exercício de uma gestão que vise a sustentabilidade. Nesse sentido, todos os elementos que cons- tituem a pirâmide tornam-se meio e fim de uma mesma ação. E mais ainda, a gestão da sustentabilidade, mesmo quando exercida especificamente, enquanto gestão da sustentabilidade financeira, deve fazer parte de um todo orgânico que envolve todas as dimensões da sustentabilidade organizacional.

De todos os conceitos envolvidos no processo de gestão, a gestão da susten- tabilidade econômico-financeira é o que se encontra mais desenvolvido e o que dispõe de mais recursos humanos e tecnológicos para a sua implementação. Tal fato deve-se ao longo percurso já percorrido pela humanidade em atividades que envolvem o controle de excedentes econômico-financeiros. Poderíamos conjec- turar que os excedentes de todas as vertentes sempre tenderam a se converter em excedentes econômico-financeiros devido à tendência de acumulação de “recur- sos materiais” que se apoderou da humanidade em determinado momento da história. Entretanto, como afirma Boaventura Souza Santos (2002, p. 64),

Ainda que a produção seja uma parte essencial das iniciativas porque providencia o incentivo econômico para a participação dos atores, a decisão de empreender um projeto alternativo e a vontade diária de o manter dependem igualmente das dinâmicas não-econômicas – culturais, sociais, afetivas, políticas etc., – associadas às atividades de produção.

A relevância de tal fato impõe a necessidade de aprofundamento do proces- so de conhecimento da complexidade da gestão da sustentabilidade em todos os níveis. Tal tarefa revela a necessidade de criação de mecanismos de controle e de registro das ações que criam valores em todos os níveis da sustentabilidade.

O caminho percorrido pelo campo econômico-financeiro pode servir de guia a esse processo, desde que não nos deixemos cair na tentação de quanti- ficação de todos os valores humanos em valores monetários. No futuro, talvez possamos recuperar a capacidade de valorizar todos os produtos da atividade humana, prescindindo do equivalente universal monetário. E para valorizar, ou identificar o valor, a avaliação é essencial: enquanto pesquisa, para diagnos- ticar as dimensões de sustentabilidade existentes; enquanto gestão, para decidir as dimensões a serem destacadas e aperfeiçoadas; enquanto ação social, para o incremento dos valores, melhoria dos processos e sustentabilidade.