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7 ANÁLISE DE DADOS

7.2 ANÁLISE DA APLICAÇÃO E DA OBSERVAÇÃO DOS JOGOS

7.2.3 Limites e dificuldades apresentados pelos pesquisados a partir da prática

7.2.3.2 Individualismo e a dificuldade de partilhar

Apesar dos jogos cooperativos propagarem a união e o compartilhamento de ideias e de materiais, um grupo pequeno de pesquisados manifestou individualismo e egocentrismo em suas ações no momento da vivência desses jogos, visto que eles realizaram alguns comandos/regras dessa atividade de forma individual e não auxiliaram os colegas em determinadas situações ao longo da prática lúdica. Isso pode ser confirmado pelas verbalizações a seguir:

Aluno P: [...] porque ninguém ajudou (jogo “Lista de compras”). Aluna E: Ninguém me ajudou na brincadeira (jogo “Abraço musical”). Aluna NO: Nem todo mundo ajudou no jogo (jogo “Abraço musical”). Aluno P: Nem todo mundo sabe ouvir as regras (jogo “Eco-nome”). Aluna A: Só eu que ajudei. Ninguém me ajudou (jogo “Eco-nome”).

Aluna A: [...] Porque as crianças não queriam deixar pegar na roupa (jogo “Cor”).

Aluna ME: [...] Parece que teve gente que não ajudou (jogo “Max”).

Aluno M. E: A Laura atrapalhou o jogo porque ela não deixava eu pegar os dados (jogo “Princess”).

Aluna NO: [...] Teve alguns que não ajudaram (jogo “Princess”).

Pelas assertivas, fica evidente que os entrevistados consideraram que certos colegas não contribuíram na realização do jogo cooperativo, porque não foram capazes de apoiar e auxiliar o outro em ações a serem realizadas em grupo. Além disso, alguns não compreenderam corretamente as regras ou não souberam colocá-las em prática. Dessa maneira, algumas situações-problemas foram desencadeadas por essas ações individualistas que ocasionaram atritos entre os integrantes.

Nas observações, um jogo que se destacou por alguns comportamentos individualistas nessa subcategoria foi o jogo “Quebra-cabeça cooperativo”, aplicado no dia 23/04/2015, em que o grupo tinha de fazer a montagem de quatro quebra-cabeças que estavam misturados em uma caixa em que cada um era responsável por pegar uma peça e procurar a qual quebra-cabeça pertencia. E, ao longo das retiradas de peças, todos se auxiliariam na formação das imagens. Veja as Figuras 31 e 32 a seguir, que destacam alguns instantes desse jogo a ser relatado:

Figuras 31 e 32 – Etapas do jogo “Quebra-cabeça cooperativo”

Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora.

No momento das montagens, os jogadores se distribuíram nos quebra-cabeças que lhes chamaram a atenção e nos quais tinham obtidos mais peças. Grande parte se auxiliava na montagem, trocava peças entre as mesas e mostrava-se bem concentrada na realização do jogo. Contudo, uns começaram a discutir e a reclamar do parceiro, porque um queria montar uma parte e o outro também desejava montar esse pedaço por ter a peça que se encaixava naquele espaço. E, muitas vezes, uns participantes não queriam dar a sua peça ou não juntavam as partes já montadas, pois não queriam compartilhar dos objetos com o outro.

Alguns diziam que não estava certo, refazendo o que o outro já tinha feito. Um bateu na cabeça do outro, porque o colega não queria dar a sua peça para o outro montar. Em seguida,

pediram o auxílio da pesquisadora, quando se conversou sobre o ocorrido e resolveu-se a situação-problema. Depois de alguns minutos, os meninos já estavam brincando juntos novamente.

Nos minutos finais, duas meninas começaram a se empurrar e reclamar uma da outra em virtude de uma não disponibilizar espaço para a montagem do quebra-cabeça. Pediram a ajuda da pesquisadora, mas um colega chamou uma delas e pediu para ficar ao lado dele. Portanto, grande parte desses conflitos se originou pela disputa de espaço e a dificuldade de partilhar as peças do jogo, sendo de grande importância a mediação do facilitador ou de alguém mais experiente nesse processo.

Essas ações realizadas nos jogos podem ser consideradas egocêntricas e revelam que as crianças nessa faixa etária de cinco anos passam por esse fenômeno que significa, de acordo com Piaget (2013), a incapacidade de diferenciar o seu ponto de vista para o de outra pessoa. Todavia, esse processo é extremamente importante para o desenvolvimento psíquico da criança, em que ela utiliza a fala egocêntrica como uma ferramenta de controle e regulação do comportamento. Ao se deparar com um obstáculo, a criança desenvolve uma consciência sobre a situação e a linguagem tem papel fundamental nesse momento (VIGOSTKI, 2007).

Nessa perspectiva, não significa que as crianças sejam egoístas por não deixar o colega colocar uma peça ou não dividir o espaço e que não é possível a cooperação entre elas. Contudo, elas estão em processo de desenvolvimento e é relevante a estimulação da partilha e da divisão de materiais durante a vivência de jogos como os cooperativos para que se sintam mais à vontade em perceber o outro e comecem a pensar na questão da colaboração.

Outro momento a ser destacado nessa subcategoria foi a vivência do jogo “Cor”, aplicado no dia 16/06/2015, cujo objetivo consistia em fazer o colega, ao comando do facilitador, tocar em uma cor determinada, e essa cor deve está presente no outro jogador. Nesse dia, os participantes estavam de roupa de festa junina e essas eram bem coloridas. Entretanto, certos jogadores não deixavam os companheiros pegarem ou tocarem nas suas roupas quando a pesquisadora falava determinada cor, evidenciando situações individualistas. Assim, foi conversado sobre a relevância de se deixar o outro tocar na cor mencionada para que o jogo pudesse ter continuidade e, aos poucos, uns foram cedendo e aceitando mais que os colegas os tocassem. Todavia, outros só deixavam aqueles amigos mais próximos.

Outros jogos já citados evidenciaram certos momentos de individualismo, como foi o caso do jogo “Lista de compras”, em que uns dois ou três jogadores queriam procurar os produtos sozinhos, corriam na frente ou pegavam a lista primeiro. Assim, eles acabavam encontrando os itens sem a participação do colega.

Na sequência, é feita uma exposição dos limites encontrados no uso dos materiais durante a aplicação dos jogos cooperativos.

7.2.4 Limitação no uso dos materiais utilizados nos jogos e as adaptações necessárias