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5 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS VÁRIAS APRENDIZAGENS

5.3 O PAPEL DO PROFESSOR NA PROMOÇÃO DE ESPAÇOS

É imprescindível que o educador acredite no seu trabalho e o realize com competência ética e profissional, conhecendo as concepções de educação e as estratégias de ensino que possam nortear sua prática pedagógica. Se ele for realizar a aplicação de jogos deve considerar as propostas já mencionadas de Muniz (2010, no prelo) no primeiro capítulo. Caso for utilizar os jogos cooperativos, há a necessidade também de se conhecer os princípios desses jogos e criar um ambiente de envolvimento entre os educandos, pois o ato de ensinar se baseia no comprometimento com os educandos e na intervenção no mundo (conhecimentos científicos, mas também valores, condutas e comportamentos). Nessa intervenção, o professor precisa ser um mediador no ato de aprender a forma cooperativa.

Talvez, no começo, seja difícil a mudança de postura do educador, porque implica na questão de revisão de valores, de crenças, entre outros aspectos. Além disso, ela traz uma

sensação de insegurança e medo diante do desconhecido e do novo. Entretanto, a modificação pode ser possível, pois é uma questão de hábito e exercício que requer prática. Assim, quando mais você pratica, mais você conhece e aprende a nova forma de jogar. Para isso, é preciso estabelecer um espaço de integração entre os educandos por meio da relação de diálogo e de respeito às potencialidades de cada umdentro de sala de aula. Por consequência, fica mais fácil os educandos aceitarem o convite de experimentar os jogos cooperativos e exercitarem valores que só serão possíveis se os participantes se predisporem a essa construção coletiva.

Mesmo que o professor não consiga estabelecer uma vivência anterior da cooperação, segundo Brown (1994, p. 96), é imprescindível que ele deva antes de convidar os educandos para a brincadeira: “[...] criar um ambiente para o jogo, [...] acender o fogo. Se um facilitador sugere um jogo seca e desinteressadamente, o grupo não vai responder. É preciso mostrar com alegria, entusiasmo e riso que o jogo é cooperação e celebração”.

Assim, o andamento do jogo vai depender da forma como ele é proposto e aplicado. Primeiramente, o educador deixa os educandos manusearem os objetos ou vivenciarem situações para que eles façam suas considerações sobre o momento e, depois, intervir na situação como o propósito do jogo ter o efeito desejado. Logo, o que faz a diferença na aplicação dos jogos é ter alguém que respeite o momento de descoberta do objeto pelo indivíduo e, posteriormente, auxilie os participantes tanto para as regras quanto para o compartilhamento dos momentos de aceitação, de diversão e cooperação. Dessa forma, a pessoa que auxilia o jogo é chamada de facilitador. Por que será?

De acordo com Brown (1994), a palavra facilitar está envolvida com a atitude da empatia que corresponde à pessoa se colocar no lugar da outra. Ouvi-la e estar atento às necessidades e às condições de cada uma. Assim, o jogo cooperativo, por ser um jogo de trabalho em conjunto, está perfeitamente relacionado a essas atitudes que colocam o outro num lugar de importância do que simplesmente a palavra dirigir. Portanto, facilitar o jogo “vai muito além de explicar como se joga. É uma atitude que responde a certa concepção de educação. Implica levar em conta o grupo e estar disposto a mudar” (BROWN, 1994, p. 97).

Com essa afirmação, facilitar representa a principal função do professor na medida em que ele é parceiro do educando no processo de ensino-aprendizagem, colaborando e ajustando sua prática para a melhoria da educação. Além do mais, ele deve apresentar algumas características que são indispensáveis para aplicação dos jogos, conforme chama a atenção (BROWN, 1994):

a) comunicativo: o facilitador precisa comunicar tanto as regras quanto o seu sentido; b) amável / amigo: o facilitador é amigo, companheiro, como mais um dentro do jogo;

c) criativo: o facilitador deve saber como intervir, quando sugerir e onde fazer adaptações necessárias no jogo;

d) flexível: o facilitador deve ter a capacidade de mudar, iniciar e suspender o jogo caso ocorra algum imprevisto;

e) alegre: o facilitador precisa motivar a alegria, demonstrando-a;

f) sensível: o facilitador precisa ser sensível, tanto ao grupo quanto às suas necessidades; g) paciente: o facilitador precisa esperar as coisas acontecerem no ritmo delas;

h) sensual: o facilitador é aquele que está atento a todos os sentidos.

Essas características não devem só aparecer nos jogos, mas também estar presentes em todos os momentos dentro de sala de aula. Isso pode representar um grande desafio, pois nem sempre se está disposto a ser criativo, flexível e sensível aos outros. Todavia, esse desafio vale a pena ser superado.

Além de fatores pessoais, há também elementos que precisam ser levados em consideração pelo facilitador no momento de aplicação dos jogos cooperativos, de acordo com Brown (1994):

a) espaço: em que local vai ser realizado? Na sala, no espaço aberto ou na rua? É preciso considerar algumas condições ao se escolher o espaço;

b) número de participantes: o jogo terá a participação de 5, 10, 15, 20 pessoas?;

c) idade dos participantes: o jogo será aplicado para qual faixa etária (crianças, jovens, adultos ou vai integrar todos?);

d) objetivos: o que se quer alcançar? É a integração do grupo, avaliar uma atitude, relaxar ou reforçar algo com o grupo?;

e) disposição do grupo: os participantes se conhecem? ou já conhecem alguns jogos? Esses elementos são importantes para a preparação dos jogos cooperativos, uma vez que, para cada tipo de grupo e para o local disponibilizado, existe toda uma organicidade para a escolha do tipo de jogo a ser aplicado. Não é abrir o livro e pegar o primeiro que se encontra, pois se pode correr o risco de disponibilizá-lo de maneira inadequada, prejudicando todo o objetivo do jogo.

Para a utilização dos jogos cooperativos com as crianças, é imprescindível também explicar as regras de forma clara, demonstrar alguns procedimentos da forma de se jogar e utilizar jogos em que a participação seja plena. Assim, as crianças compreendem melhor o que deve ser feito e a finalidade do jogo.

Soler (2006) afirmou que, no momento da realização dos jogos, o educador deve estar atento aos comportamentos e posturas dos educandos. Por exemplo, num jogo de quebra-

cabeça, o facilitador tem a função de observar a questão do relacionamento interpessoal dos jogadores e se eles conseguem trabalhar em conjunto a fim de atingir um objetivo. Dessa forma, após a aplicação, o professor poderá reconhecer mais facilmente se a cooperação foi ou não exercida e de que forma se deu essa realização.

Depois de aplicar o jogo cooperativo, vem o momento da conversa com o grupo. Esse momento é muito importante, pois serve para que os participantes exponham suas ideias e reconheçam as práticas realizadas. Portanto, se você perde algum tempo ouvindo o grupo, você agrega significados aos jogos. No caso de aplicação com as crianças na faixa de cinco anos, é coerente conversar com elas para saber o que acharam da experiência dos jogos e como realizaram as atividades para atingir a meta proposta (SOLER, 2006, 2011).

Outro aspecto que não pode deixar de se enfatizado é a questão da premiação. De acordo com Soler (2006, 2011), o facilitador precisa diminuir o fato de ganhar, incentivando o divertimento, a alegria, o companheirismo e a solidariedade. Se prêmios forem utilizados, todos devem receber.

Nos jogos cooperativos também existe a questão de vencer ou perder como nos outros tipos de jogos. Assim, os jogadores podem ganhar ou não, dependendo se a meta proposta foi alcançada. Todavia, isso não é o mais importante e sim o aspecto da união entre todos na ação de jogar diante de um desafio. Dessa forma, o aspecto da perda acaba sendo minimizado e essa experiência não se torna tão dolorida, mas ela faz parte da vida.

Todos os desafios mencionados são sugestões para que a cooperação faça parte do ambiente educativo. O professor, como a pessoa responsável por esse espaço, é o grande instrumentador para a execução dessa proposta uma vez que sua atuação é intencional e política. Dessa forma, tanto ele pode propagar valores positivos (união, organização, confiança e ajuda mútua) quanto negativos (desunião, desvalorização do outro e desconfiança).

A partir dessa perspectiva, Freire (2013a, p. 96) disse que:

Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença, não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.

Nesse sentido, a atitude que o professor assume em sala de aula vai refletir em uma intencionalidade que seja para provocar o diálogo, a solidariedade, o respeito entre as pessoas e, consequentemente, possibilitar mais aprendizagens em grupo no espaço pedagógico. Dessa

forma, os educandos se sentirão mais pertencentes ao ambiente escolar e integrados em um grupo em prol de atitudes positivas para a vida.