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Infância e Adolescência nos países de acolhimento

CONCEITOS TEÓRICOS ESPECÍFICOS

2.2.1. Infância e Adolescência nos países de acolhimento

O imigrante vai debater-se, essencialmente, com a diferença, nomeadamente no espaço físico e no espaço social, ao defrontar-se com dois mundos diferentes: os modelos tradicionais do seu país de origem e os modelos vigentes no país acolhedor.

“A situação de cada imigrante deve quase sempre ser vista dentro do contexto da respectiva família, (...) e ainda porque o estatuto de “ser emigrado” tem um significado ambivalente, por estar entre dois países e duas culturas” (Monteiro, 1999: 4).

Há que ter em conta o modo como reagem à diferença. Por um lado, a primeira geração (os pais) sociabilizada numa cultura que levou do seu país de origem, a tentar adaptar-se a outra; por outro lado, a segunda geração (os filhos) que nasceu ou não no país de acolhimento e fez aí todo o seu processo de socialização.

Os progenitores adaptaram-se à nova cultura mas de uma forma “contida”, isto é, trata-se de uma aculturação formal, ou melhor, adaptam o seu comportamento às necessidades ocupacionais do dia-a-dia, mas mantém o cerne da cultura de origem intacto. Monteiro (1987) acrescenta que esta situação é discutível e que muitos usam a sua “etnicidade” de acordo com as suas conveniências.

E os mais jovens, o que sentem, como vivem, como reagem perante um novo país e uma nova cultura?

A adolescência é uma etapa no desenvolvimento do ser humano que combina modificações biológicas, sociais e cognitivas dos indivíduos e o modo como tais mudanças afectam o seu desenvolvimento

psicossocial.

O adolescente defronta-se consigo próprio face às transformações e modifica as suas relações com a família, com os colegas e com a escola; segundo Giddens (1989), o processo de sociabilização é de tal modo significante durante a infância e a adolescência que pode marcar toda a vida do indivíduo. Por outro lado, nenhum indivíduo é imune àquilo que o rodeia, modificando constantemente o seu comportamento ao longo das diversas fases da sua vida (o endógeno e o exógeno).

Há que ter em conta a consistência entre dois tipos de

sociabilização, a primária e a secundária, isto é, o que é construído pelo indivíduo e o que ele integra daquilo que o rodeia (Guerra, 1993:69) e a opção que prevalece.

A socialização aparece, assim, como um processo interactivo que facilita a evolução do indivíduo de acordo com padrões especifícos; “o modelo analítico para o processo de sociabilização deve, contudo, integrar uma perspectiva diacrónica que considera a unidade dialéctica entre determinantes estruturais e a actuação lógica de contextos

interactivos ao longo da trajectória social dos indivíduos” (Guerra, 1993:17).

A família, o grupo semelhante e a escola constituem uma trilogia de agentes socializantes que veiculam regras que “regulam” o

comportamento do indivíduo. A família é, sobretudo, prioritária na infância e na adolescência.

A família surge como responsável pela primeira sociabilização. Nas sociedades tradicionais era à família que cabia o papel de incutir regras, valores, que deveriam moldar o indivíduo para o resto da vida, o que nem sempre acontece, actualmente, nas sociedades ocidentais.

A criança começou por ser vista como um capital, o que implicava uma forte submissão ao grupo em que se integrava.

O habitus ou matriz, na raíz do comportamento, é condicionado pelo processo de socialização, cuja especificidade depende da integração social.

Os grupos semelhantes são constituídos por crianças ou jovens da mesma idade que podem desenvolver um processo de socialização igualitário. Na infância, a criança apreende e aprende; na adolescência, o jovem partilha pensamentos e sentimentos.

A escola, por sua vez, assume uma posição de relevância pelo papel formal que lhe cabe no processo de socialização. É ela que molda a identidade do indivíduo, incutindo-lhe um conjunto de ideias, orientações e comportamentos de valor comum, refazendo pontos de vista, moldando opiniões.

Sendo a escola, deste modo, o espaço formal de transmissão de conhecimento, de normas e valores, subordinando-se à lógica formal da autoridade e da disciplina, a ela cabe uma função de sociabilidade, especialmente na infância e na adolescência.

2.3. A Identidade

Identidade é um conceito tão abrangente que falar dela implica trazer à luz um fenómeno que vai do foro psicológico ao sociológico, uma vez que identidade pressupôe uma dialéctica entre o individual e o social. Ao focá-la, neste trabalho, apenas teremos em linha de conta a identidade como factor subjacente a trajectórias de risco decorrentes de

comportamentos e práticas desviantes por parte do imigrante conducentes à marginalidade e à marginalidade social.

“Há discussões em todo o lado sobre a chamada “crise de

identidade” sem se saber o que é inerente a esta expressaão: dificuldades de integração por parte dos jovens, aumento de exclusão social,

inadaptação em relação às mudanças” (Dubar, 1991: 7).

A formação da identidade é um processo dinâmico, não linear, que decorre de um constante processo de reformulação. A adolescência é a melhor etapa para a formação da identidade, para a construção do self. Erik Erikson (1980) foi um dos autores que se debruçou sobre a compreensão do processo de formação de identidade. Na adolescência começa o desafio, num processo que envolve maturidade (puberdade), expectativas culturais (os adolescentes começam a planear como desempenhar papéis de responsabilidade na idade adulta) e pressões sociais (estar em desacordo como os pais, a pressão do grupo).

Como afirma Dubar (1991), a identidade “não se recebe ao nascer mas constrói-se na infância e, a partir daí, reconstrói-se constantemente ao longo da vida”.

Tal como o processo de socialização, o processo de formação da identidade social decorre também de forma contínua mas não linear, revelando-se activa e interactiva (Dubar, 1991). O relacionamento com novos grupos semelhantes (considerado emocionalmente forte) constitui um contexto favorável à criação de novas identidades.

A construção da identidade social decorre, assim, num processo dinâmico, em que os indivíduos têm uma percepção da realidade e organizam os seus modos de vida num contexto marcado por

conjuncturas históricas. Tal processo está em constante remodelação (Guerra, 1993).

Segundo Tajfel (1983), esta concepção é entendida “como esse fragmento de auto-conceito de um indivíduo que deriva da percepção de pertença a um grupo (ou grupos) social, em conjunto com o lado

emocional e de valor associado a essa pertença”.

Assim, poder-se-á falar de uma categoria social que, para além de abranger aspectos de diferenciação, como o género, idade, papéis sociais ou profissionais, grupos semelhantes, trabalho, em suma, todas as

dimensões cuja estabilidade permite a emergência de um “nós” por oposição a um “eles”. Os grupos sociais buscam uma identidade social positiva, porque “sempre que os indivíduos que pertencem a um grupo, interagem, colectiva ou individualmente, com outro grupo ou com os seus membros, em termos de identidade grupal, estaremos perante um

exemplo de comportamento inter-grupal”(Tajfel, 1983:261).

É nesta base que Tajfel (1983) distingue as relações inter-grupais das relações individuais. Estabelece, em relação ao grupo, três

componentes (idem: 261):

a) a cognitiva - que abrange a sensação de pertença ao grupo; b) a valorativa - que implica a conotação positiva ou negativa do grupo;