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Razões declaradas do repatriamento

Deportação como resposta à desinserção no país de acolhimento

6.3. Razões declaradas do repatriamento

A maioria das razões que levaram estes indivíduos a ser

deportados, está relacionado com o tráfico e posse de droga, crimes não violentos contra bens (ou roubos) e violência familiar. Outros tipos de crime, como homicídios, crimes violentos contra pessoas ou problemas legais, também existem mas em muito menor número, o que demonstra que a droga é a principal causa de repatriamento nos EUA (os EUA são o primeiro país consumidor de substâncias estupefacientes em todo o

mundo). Os dados obtidos nas entrevistas revelam que os crimes relacionados com droga estão entre os mais frequentes.

Causas declaradas para o repatriamento

violência familiar 19% tráfico e posse de droga 46% homicídios 0% crimes violentos contra pessoas 8% crimes não violentos(contra bens-roubos) 23% Problemas legais 4%

outros tipo de crime 0%

violência familiar tráfico e posse de droga homicídios

crimes violentos contra pessoas crimes não violentos(contra bens-roubos)

Problemas legais outros tipo de crime

Fig. 14

O tipo de crime cometido por estes indivíduos varia também com a idade. Os mais novos (idades entre os 18 e os 38 anos), estão mais relacionados com crime de tráfico e posse de droga. À medida que as idades vão aumentando, o tipo de crime cometido relaciona-se mais com

problemas legais, violência familiar, e a menor gravidade de crime correspondem penas mais leves.

A violência familiar, fruto de frustrações ou de conduta tida como imoral por parte da mulher, aparece-nos em todos os grupos etários, o que traduz ser uma prática comum no seio parental.

“... eu batia-lhe sim, era a bebida (...) mas meus pais também tinham

problemas...” (B3).

“...a minha mulher enganava-me(...)nenhum homem suporta uma traição destas (...) se soubesse que ia ser deportado, tinha-a matado!...” (C14).

O tráfico de droga praticado por estes indivíduos circunscreve-se a um pequeno círculo de amigos e, na maior parte dos casos, é feito para sustentar o vício e também para obterem algum dinheiro.

Importa aqui referir três categorias que definem a relação do repatriado com a droga: o delinquente-toxicodependente, o especialista da droga-crime e o toxicodependente-delinquente (Agra, 1997). Esta caracterização permite entender o percurso individual traçado por cada um.

Desta forma, o delinquente-toxicodependente inicia-se na

delinquência aquisitiva antes do consumo de drogas, continuando este percurso após iniciar o consumo.

O especialista na droga-crime inicia-se na actividade criminal associada ao mercado ilícito de drogas no momento de transacção entre o consumo de drogas leves e o consumo de drogas duras.

O toxicodependente-delinquente não é um especialista em comportamento criminal. Inicia o consumo regular de drogas duras e durante muito tempo mantém-se afastado da delinquência, recorrendo ao crime de forma oportunista, como forma de encontrar meios para atingir o único fim em causa, ou seja, a droga. Os próprios agentes da

delinquência atribuem as causas deste comportamento à necessidade de obtenção de meios que viabilizem a aquisição da droga (Manita, 1997). “... vendia, mas era pouco, era com esse dinheiro que eu podia sustentar o

meu vício...” (B15).

“... era um dinheiro que dava para comprar mais para mim e ainda dava para o dia-a-dia...” (C4).

“... eu ganhei muito dinheiro com a droga, mas quando começas a fazer dinheiro, os gangs não te deixam e aí fica perigoso...” (B4).

“... era viciado em heroína (...) fui ficando cada vez mais agarrado (...) o

dinheiro que ganhava no emprego já não chegava (...), comecei a roubar para sustentar o vício...” (B32).

Os homicídios aqui foram todos involuntários e resultaram de brigas,

quatro ocorreram quando cumpriam pena na cadeia e dois resultaram de rixas em bares.

“... um gajo numa cadeia tem que se impôr, senão eles comem-te vivo lá

dentro (...) era eu ou ele...” (B22).

“... foi uma briga num bar, enfiei-lhe um soco e o gajo caiu, nunca mais se levantou, até hoje...” (C28).

Os crimes violentos contra pessoas estão relacionados com assaltos em que foram surpreendidos, ou situações extremas de

dependência, em que o arranjar dinheiro era imperativo para sustentar o vício da droga. Também existem alguns casos de violação sexual.

“... a gente tava a assaltar uma casa, pensávamos que não tinha ninguém,

quando de repente apareceu o dono de arma na mão, tive que me defender...”

(B1).

“... eu tava a ressacar e não tinha dinheiro (...) por isso assaltei uma mercearia, o empregado quis se armar em herói (...) ficou todo partido!...” (A6).

“... ela andou toda a noite a provocar-me (...) depois à saída do bar, já no carro dela já não queria nada (...) um homem não é de ferro! E também já tava bem bebido, foi mesmo ali (...) no dia seguinte, a puta foi na polícia dizer que a tinha violado...” (B7).

Quanto aos roubos, ou crimes contra bens, são feitos na maioria dos casos para sustentar o vício da droga ou por ser um modo fácil de obter dinheiro de uma forma rápida.

“... eu roubava casas e armazéns, era a única maneira que tinha para poder

ter dinheiro para sustentar minha família...” (A11).

“... um gajo quando tá dependente da droga, precisa de dinheiro, não

trabalhava, era a única maneira...” (A5).

Problemas legais aparecem em maior número na faixa etária dos 39-48 anos. Trata-se de indivíduos que foram denunciados pelos colegas aos serviços de imigração por estarem a trabalhar sem visto para tal, o que demonstra que existe rivalidade entre as diferentes comunidades imigrantes.

“... eu fui chibado pelos hispânicos que trabalhavam comigo, eles

descobriram que estava ilegal (...) e queriam pôr pessoal deles no meu lugar...”

“... o meu chefe era italiano e não gostava muito dos portugueses, acho que queria meter no meu lugar um dos seus amigos, foi falar com os da Imigração...”

(C19).

“... os da Imigração disseram que fui denunciado, mas não sei por quem...”

(C23).

Em relação a outros tipo de crime, tivemos nas nossas entrevistas apenas um caso, e que se refere à fuga de impostos - é de salientar que este indivíduo possuía uma formação académica elevada (frequência universitária).

“... o meu estilo de vida era alto, ganhava muito dinheiro, mas também se

paga muitos impostos (...) fiz o que muita gente faz, tentar enganar os impostos mas dei-me mal (...) nunca pensei ser repatriado por isso...” (C12).

Tipo de crimes cometidos pelos repatriados agrupados por grupos etários

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18-28 29-38 39-48 49-58 59-68 69-78 idades n º d e i n d iv íd u o s violência familiar tráfico e posse de droga homicídios

crimes violentos contra pessoas crimes não violentos(contra bens-roubos) Problemas legais

outros tipo de crime

CAPÍTULO VII