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Informação de patentes e vigilância tecnológica

4. A INFORMAÇÃO DE PATENTES

4.4 VANTAGENS COMPETITIVAS DA INFORMAÇÃO DE PATENTES

4.4.2 Informação de patentes e vigilância tecnológica

As mudanças tecnológicas são uma das forças com maior impacto na estrutura competitiva de muitas indústrias192. Por esse motivo muitas empresas foram afastadas da competição por não terem sido capazes de identificar as ruturas tecnológicas produzidas por tecnologias inovadoras (Hruby, 1999).

Entre as várias ferramentas de planeamento estratégico e gestão que podem servir para auxiliar as empresas a identificarem, desenvolverem e implementarem novas tecnologias temos a vigilância tecnológica (VT)193, muitas vezes subaproveitada e não utilizada. Esta ferramenta, que é um caso particular de inteligência competitiva, pode ajudar efetivamente a reduzir riscos e abrir novas oportunidades de negócio. Alguns autores apelidam-na de ferramenta poderosa para obter vantagem competitiva (Ernst, 2003; Idris, 2003).

As atividades desenvolvidas pelos especialistas em informação para retirar valor da informação científico-técnica dizem respeito às práticas de vigilância tecnológica194 (Ashton & Klavans, 1997; Bernstein, 2009; Dantas,

192

“As empresas inovadoras, ou com intenções de o serem, devem assim prestar uma atenção especial à introdução de inovações tecnológicas por parte de outras empresas, sejam elas do mesmo setor ou provenientes de outras áreas de atividade. Não só o estudo técnico destas inovações pode servir de inspiração para novos produtos, como o seu grau de aceitação por parte dos mercados fornece indicadores preciosos sobre a permeabilidade destes às novas tecnologias. Uma empresa que pretende inovar tem assim por obrigação recolher o máximo de informação sobre a inovação que acontece a cada momento no seu mundo exterior e disponibilizá-la a todos os que no seu seio desempenham um papel na conceção das suas próprias inovações.” (E. Neves, 1997, pp. 67, 68)

193

A vigilância tecnológica pode ser descrita como sendo o processo de recolha, análise e utilização de informação pública disponível acerca das atividades externas que podem afetar o negócio de uma determinada empresa (Ashton & Klavans, 1997; Freitas, 1993; Miller & Business Intelligence Braintrust, 2002)

194

“The Technology Watch is considered as a practice facilitating the innovation process within the European companies and developing the potential to successful innovative business actions. Technology watch is a collective voluntary process with which the companies work the information in an active manner. The treatment, analysis and validation of the information allow adopting the better decisions about the way of research and development projects, investment and strategy design. By using the Technology Watch Tool over the Internet, European SMEs can have an easy and cost effective access to information on a variety of issues and find answers to complicated

2001; Dantas & Carrizo Moreira, 2011; Naetebusch et al., 1994; Ribault et al., 1995), patent intelligence195 (Kalanje, 2005; Naetebusch et al., 1994; Schoeppel & Naetebusch, 1995; Seymore, 2009, 2010) e patinformatics196 (Moehrle et al., 2010; Trippe, 2003).

Para Dantas, a vigilância tecnológica tem por objetivo a observação e análise do meio envolvente das organizações, permitindo antecipar ameaças e detetar oportunidades, “evitando uma gestão meramente reativa” (2001, p. 72).

«Vigilância tecnológica» é a designação consagrada da atividade que consiste em vigiar o que nos rodeia para aí detetar os sinais «fracos» em emergência acerca da evolução das tecnologias. (…) De outro modo, a empresa estará cega (Ribault et al., 1995, pp. 84, 85).

No esquema abaixo podemos visualizar de que forma a análise da informação de patentes se pode revelar frutífera para a criação de insights que podem ajudar a valorizar as atividades de I&D e a rentabilizar invenções já realizadas.

problems regardless of their geographical location. Furhtermore, the fast dissemination of the technological information through this Web application enables SMEs to keep pace with the technological state of the art.” (http://www.newventuretools.net/technology_watch.html - 02-05- 2011)

195 “As atividades de Patent Intelligence têm vindo a assumir uma importância crescente para as

estratégias empresariais, permitindo a obtenção de informação relevante para o desenvolvimento de negócios e, em particular, para a definição de estratégias e tomada de decisões, quer em termos de marketing, lançamento de novos produtos e serviços, internacionalização e constituição de parcerias, quer para a investigação ou para a comercialização de tecnologias.” (http://www.marcasepatentes.pt/index.php?section=588 – 02-05-2011)

196

“Trippe introduced the term patinformatics which encompasses all forms of analyzing patent information. This introduction of a new term proved quite valuable in two respects: firstly, patent information may in several ways be distinguished from other forms of information like journal information or webpage information, especially in terms of the (more or less) standardized structure of documents, the relevance for managerial decisions in companies as well as in other institutions like research labs, and the relevance for technical developers as a major source of documented technical knowledge. And secondly, for patent information specific analysis processes and tools may be applied, that make use of these characteristic attributes. (...) The main goal of patinformatics is to provide efficient access to patent information and reduce business decisions on the basis of diverse patent analyses. (…) Major requirements on the patinformatics process are: preparation of the data for efficient access, analysis of the data by means of different methods and utilization of analysis results for decision making.” (Moehrle, Walter, Bergmann, Bobe, & Skrzipale, 2010, pp. 291, 292)

Figura 8 – A Patinformatics como forma de rentabilizar invenções patenteadas (http://www.cas.org – 09-12-2009)

Herring refere a importância da identificação dos riscos e oportunidades decorrentes das mudanças tecnológicas uma vez que considera que ser surpreendido pelos avanços técnicos de um concorrente pode ser devastador para qualquer empresa. Para este autor, esta é uma componente decisiva da IC pois “a capacidade de coletar e analisar sinais precoces dos rumos futuros da tecnologia da concorrência é um aspeto fundamental da manutenção da vantagem competitiva” (2002, p. 293).

Ora, sabendo que, de acordo com alguns autores (Bregonje, 2005; Greif, 1987; Marcovitch, 1983) somente cerca de 20% da informação técnica contida nas patentes se encontra disponível noutras fontes de informação, como jornais e revistas científicas, quem não consultar esta fonte de informação descura cerca de 80% da informação técnica existente, suscetível de conduzir a mudanças e alterações tecnológicas que podem ser vitais.

Projetos encetados em países de baixo desenvolvimento tecnológico permitiram verificar mudanças assinaláveis na capacidade de criação do próprio emprego, melhorias sociais e económicas, diversificação da oferta e aumento das exportações após a introdução da prática de monitorização de mercados e tecnologias, com especial incidência na vigilância tecnológica usando a informação de patentes através da Internet (Dou, 2004; Dou & Bai, 2007; Dou & Hassanaly, 1988; Dou, Leveillé, Manullang, & Dou Jr., 2005).

Num desses projetos, é-nos relatada a situação de uma província indonésia, numa ilha remota e sem grandes recursos económicos, mas com grande abundância de cocos. O fruto era comido e o seu sumo bebido (leite de coco), mas as cascas resultavam num grave problema ambiental pois não lhes era dada qualquer utilização e constituíam pilhas de detritos espalhados pela

ilha, retirando-lhe a sua beleza e afastando os turistas. Foi dada formação à população para que pudesse utilizar os computadores da biblioteca municipal, com acesso à internet, para realizar pesquisas na Espacenet®197 de patentes de tecnologias que envolvessem a utilização de cocos (COCONUT ou KELAPA na língua autóctone). Graças a esses documentos descobriram que podiam usar o fruto e o seu sumo em várias aplicações diferentes como compotas, doces, bolos, licores, etc., mas que a sua casca também poderia ter utilizações até aí desconhecidas, que potenciavam fazer desaparecer esse detrito de uma forma rentável. Assim, as cascas podem ser utilizadas como adubo/fertilizante, para a construção de mobiliário, materiais de construção e isolamento, brinquedos e artigos decorativos (matéria-prima em produtos artesanais) e, depois de processadas, como material para encher almofadas e colchões. Tais conhecimentos despoletaram um sem número de indústrias familiares bem- sucedidas, transformando uma pequena ilha sem recursos económicos num local próspero de maior igualdade social e sede de pequenos empresários que já expandiram os seus negócios além-fronteiras. De salientar que a maioria das tecnologias e patentes descobertas eram de origem brasileira, não protegidas na Indonésia, podendo ser usadas sem qualquer impedimento ou pagamento de direitos (Dou, 2004; Dou, Leveillé, Manullang, & Dou Jr., 2005).

Em Portugal, onde recentemente se passou a poder certificar na Associação Portuguesa de Certificação (APCER), de acordo com a Norma Portuguesa 4457: 2007198, os Sistemas de Gestão de IDI (Investigação, Desenvolvimento e Inovação), verificamos que das 24 empresas pioneiras nessa certificação, várias são as que referem consultar a informação de patentes como fonte de ideias e ferramenta de vigilância tecnológica e prospetiva de cenários tecnológicos futuros. Entre estas encontramos a Brisa, a Nokia Siemens Network, a PT Inovação, a Renova, a ANA, a EFACEC, a Exatronic, a SAG, a BIAL e a TMG Automotive (Caetano (Coord.), 2010, pp. 108-259).

Tratando-se de algumas das maiores empresas nacionais, de projeção internacional e reconhecido mérito, certificadas nas suas ações relacionadas com a inovação e o seu sistema de I&D, se explicitamente referem consultar a

197 Foi utilizado um software de apoio à pesquisa, interpretação e visualização da informação

fornecida pela Esp@cenet®, designado MatheoPatent® cuja autoria e criação é dos autores dos

artigos citados.

informação de patentes para daí extraírem ideias e seguirem os avanços tecnológicos da concorrência, seguramente deverão ser referências a seguir por aqueles que ainda não descobriram as vantagens e benefícios da utilização deste valioso recurso, integrando-o nas suas próprias atividades de IDI para seu próprio benefício. Entre estes deverão estar os centros de investigação universitários, um dos maiores recursos de I&D do nosso país.

Desde sempre a obtenção das melhores e mais recentes tecnologias motivou a procura de informação que permitisse manter a produtividade, competitividade, superioridade e estatuto perante os adversários e concorrentes (Burgelman et al., 2009; Christensen et al., 2004). Não ficar relegado para segundo plano e perder oportunidades de negócio impele determinadas empresas, nações e sujeitos a tentarem alcançar os conhecimentos mais valiosos199.

Todas as práticas aqui descritas são legais, socorrem-se das possibilidades permitidas pelo próprio sistema de patentes e são a principal justificação para a sua criação e existência. Nada do que é aqui sugerido incorre em qualquer tipo de prática ilegal ou desonesta e não deve ser confundido com

199 “Na Alemanha a BP desenvolve novos produtos… e investiga os dos concorrentes. (…) Estamos

agora nas salas onde a BP testa motores e veículos de todas as marcas e feitios. Bem, não todas. (…) mas todas as outras marcas passaram por aqui (…)” (Prado, 2011, p. 16). Veja-se o caso recente da Renault como alvo de espionagem industrial por parte da China na sua tecnologia de baterias para veículos elétricos (http://www.bbc.co.uk/news/world-europe12142299; http://pt.euronews.net/2011/01/07/servicos-anti-espionagem-investigam-escandalo-na-renault/; http://pt.euronews.net/2011/01/07/franca-em-alerta-devido-a-espionagem-na-renault/;

http://pt.euronews.net/2011/01/07/chineses-espiam-a-renault/ - 08-01-2011), recentemente

desmentido mas cujos contornos levantam várias dúvidas e questões

(http://economia.publico.pt/Noticia/renault-esquece-caso-de-espionagem-industrial-e-pede- desculpa-a-dirigentes-acusados_1484926; http://pt.euronews.net/2011/03/15/renault-pede- desculpa-por-engano-em-caso-de-espionagem-industrial/).

Mas, também a China é um alvo, como o ilustra o caso da empresa anglo-australiana Rio Tinto (http://pt.euronews.net/2010/03/22/trabalhadores-da-anglo-australiana-rio-tinto-julgados-por- espionagem-industrial/; http://pt.euronews.net/2010/03/29/prisao-e-desemprego-para-os-espies- da-rio-tinto-na-china/ - 08-01-2011). Outros exemplos de espionagem industrial e económica dizem respeito a empresas americanas como a Microsoft, sendo os EUA alvo de várias tentativas ilegais de obtenção de informação (http://www.pse.com.pt/noticias.php - 08-01-2011). Até a conhecida e reputada Nestlé recorreu a este estratagema (http://www.pse.com.pt/noticias.php - 08-01-2011) e a inovadora Apple foi processada pela Nokia por infringir 10 patentes suas no iPhone e cinco no iPad (http://www.businessweek.com/news/2010-05-07/nokia-sues-apple-over- technology-used-in-iphone-ipad-update5-.html - 08-01-2011) e a Huawei Tech. (chinesa e detentora do maior número de pedidos de patente internacionais em 2010) processou a Motorola por passar informação licenciada à Nokia (http://tcrn.ch/hdESWk - 25-01-2011). No entanto, apesar de a Apple ter utilizado informação de patentes de tecnologias já existentes, os seus produtos não deixam de poder ser considerados inovadores já que trouxeram para o mercado soluções para suprir necessidades dos utilizadores que até aí não existiam pois essas tecnologias não estavam disponíveis para aquisição e uso.

atividades de espionagem industrial ou espionagem económica, apesar de estas existirem e serem praticadas por quase todos os países desenvolvidos200.

Os próprios EUA, após a queda do muro de Berlim e consequente término da Guerra Fria, converteram os seus espiões em agentes de recolha de informação económica e industrial, colocando-os nas diversas embaixadas espalhadas pelo mundo sob a designação de Adidos Culturais201 (Guisnel, 1997; Rustmann Jr., 2002), uma vez que atualmente a guerra se trava no plano económico (Amaral, 2008; Dinis, 2005; Toffler, 1992), tendo mesmo sido criada em 1997, em Paris, a primeira escola de guerra económica (Fialka, 1997) por Christian Harbulot na ESLSCA Business School202.

Normalmente estes casos são desconhecidos do grande público pois, conforme confessa Bernard Carayon, especialista em guerra económica e deputado Francês da UMP, “há vários milhares de empresas, em França, que são vítimas deste tipo de pilhagem, todos os anos. É raríssimo uma empresa confessar que foi objeto de espionagem com receio de perder clientes, ficar com má imagem”203 e, consequentemente, desvalorizar-se perante os mercados.