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3. O SISTEMA DE PATENTES

3.2 OBJETIVO E FUNÇÃO

Ao sistema de patentes podem atribuir-se três efeitos benéficos: a perspetiva de poder vir a obter proteção de patente estimula a atividade de I&D que culmina na produção de uma invenção, a situação semi-monopolística produzida pela proteção de patente às invenções minimiza os riscos da sua utilização, permitindo realizar os investimentos subsequentes que conduzem ao desenvolvimento pleno da invenção na fase de inovação e sua difusão através da colocação do produto no mercado e, por fim, a inevitável revelação dos segredos através da publicação do documento de patente, estimula novas atividades de investigação ao mesmo tempo que faz aumentar o fluxo de informação.

Oppenläender (1977, pp. 97-99) procurou analisar os efeitos do sistema de patentes nestas três fases, de forma a tentar encontrar diferenças nos seus efeitos dependendo da fase em que se encontrasse o processo da invenção à inovação ou disseminação da informação. Concluiu que, de acordo com o estudo realizado, a proteção por patente se traduz num incentivo à atividade de I&D realizada pelas empresas.

No que respeita à divulgação da informação, o efeito informacional das patentes suporta consideravelmente a difusão de conhecimentos técnicos. Já relativamente ao efeito económico benéfico da proteção de patente, durante as fases de inovação e disseminação, este é difícil de julgar pois varia muito dependendo de várias circunstâncias e motivos, alguns alheios ao inventor outros propositados como o facto de patentear somente para impedir a exploração dessas tecnologias pela concorrência (Oppenläender, 1977, p. 120).

Para Idris (2003, p. 37), um sistema de patentes é estabelecido pelas seguintes razões: promover a criatividade e inovação facultando direitos de propriedade exclusivos, bem como um período razoável para recompensar os custos de I&D da sua invenção; promover o investimento na comercialização de novas invenções, através de direitos exclusivos limitados, para permitir a exploração industrial da invenção e o seu Marketing e difundir o conhecimento e

a informação através da publicação dos pedidos de patente e das suas concessões para benefício de outros programas de I&D e da sociedade em geral.

Apesar de existirem algumas vozes críticas relativamente ao sistema de patentes (Machlup, 1958; Machlup & Penrose, 1950; Penrose, 1951), a verdade é que o referido sistema oferece vantagens práticas e positivas. De salientar, por exemplo o apoio que promove no licenciamento e transferência de tecnologia através do uso ativo e eficaz da informação de patentes.

Segundo Idris (2003), pode também ser utilizado como um guia prático de tomada de decisões de investimento por empresas que procuram obter baixos custos de produção para as suas atividades industriais, procurando para isso países em desenvolvimento onde se estabelecerem.

Refere também que, a qualidade das leis de um país no que concerne à proteção da PI, serve para aferir a importância e seriedade do empenho desse governo no apoio e encorajamento dado à inovação e ao respeito que essas mesmas leis podem ter no contributo da PI para o desenvolvimento da nação (Idris, 2003, p. 38).

Considerando que a razão da existência de um tal sistema é precisamente estimular a economia e o desenvolvimento económico, promovendo a concorrência ao originar uma motivação financeira para a invenção, Idris refere que “The ‘fuel of interest’ - the profit motive – is a catalyst of scientific, technological and economic development” (2003, p. 78) e encontra três razões principais do ponto de vista do inventor para justificar a existência do mesmo: (i) o sistema de patentes permite ao inventor recuperar as suas despesas, os custos em que incorreu no desenvolvimento da invenção, normalmente medidos em tempo, capital, equipamentos e trabalho; (ii) o sistema de patentes torna mais provável que o inventor obtenha lucro, isto é, um retorno positivo para o seu investimento. De referir que a possibilidade de obtenção deste lucro, seja através de um maior volume de vendas ou através de preços mais elevados pelos produtos patenteados, depende da invenção possuir características que a tornem desejável para os consumidores, relativamente a outros produtos alternativos ou substitutos e (iii) o sistema de patentes possibilita ao inventor obter um retorno financeiro através de contratos de licenciamento da sua tecnologia ou mesmo da venda dos direitos a terceiros que desejem explorar a invenção em mercados onde o inventor não deseja atuar,

usando redes de distribuição de que o inventor não dispõe, ou combinando a invenção com outras invenções e produtos de forma a criar novas invenções e produtos, recebendo o inventor taxas de licenciamento ou Royalties (Idris, 2003, pp. 78, 79).

Pelo atrás referido, facilmente se deduz que o inventor tira partido da concorrência de mercado sendo a sua recompensa um ganho financeiro que o motivará a repetir novamente o processo, levando-o a investir algum do seu lucro em novos processos de I&D gerando novas invenções e, consequentemente, inovação100. Daí Idris afirmar “the patent system is designed to strike the proper balance between the inventor’s interest and the public interest” (Idris, 2003, p. 79).

Apesar das vantagens demonstradas resultantes do uso de patentes como fonte de informação tecnológica e de apoio aos negócios, que permite analisar e conhecer as mais recentes tecnologias facilitando encontrar parceiros de negócio e possibilidades de realizar contratos de licenças de exploração dessas novas tecnologias, a verdade é que o real valor do sistema de patentes na obtenção de informação valiosa tem sido amplamente desconsiderado (Godinho, 1999, 2003, 2007; Godinho & Caraça, 1999; Idris, 2003; Jolly, 2002, 2009; Jolly & Philpott, 2004; Jolly & Philpott, 2009; Maia, 1996; Marcovitch, 1983; Ministério da Economia, 2001, 2002; Sherwood, 1992).

Basta analisar alguns exemplos recentes, e bem conhecidos, de economias cujo desenvolvimento económico se viu acelerado pela eficaz utilização de um sistema de patentes, para facilmente se perceber a poderosa ferramenta económica que um sistema de patentes se pode revelar (Amba, 2001; Arai, 2000, 2006; Armitage, 1980; Barroso, Quoniam, & Pacheco, 2009; Cailiang, 1993; Dou, 2004; Fai, 2005; Gumbs, 1989; Hansen, 1980; Imam & Tandon, 1986; Jialian, 1990; Newton, 1988; Newton & Paranjpe, 1995; Ono, 1996; Pirchner, 2003; Ramachandran, 1989; Schellner, 2001; Sherwood, 1992; Vacek, 1994; Xiaomin, 1989)101.

100 “The obligation to disclose is not the principal reason for a patent system. . . The reason. . . is

to encourage innovation and its fruits: new jobs and new industries, new consumer goods and trade benefits.” (Seymore, 2009, p. 208)

101 Por exemplo, os casos de países como o Japão, República da Coreia, Brasil, Índia, México,

Singapura, China, Malásia, Indonésia, etc., que assumidamente usam de forma estratégica a informação de patentes promovendo a inovação e o desenvolvimento de novos produtos, sem os custos maciços de I&D associados, como catalisadores de progresso e desenvolvimento económico (Marcovitch, 1983; Sherwood, 1992).

Para Beier (1980, p. 580) um sistema de patentes oferece múltiplas vantagens se comparado com qualquer outro sistema de planeamento e financiamento da tecnologia promovido por algum governo, uma vez que um tal sistema abrange praticamente todas as áreas da tecnologia necessárias para suprir as necessidades humanas, da mesma forma que desenvolve o progresso tecnológico numa macroescala. Acresce ainda que estes direitos atribuídos pelo Estado ao inventor, apesar de terem custos irrisórios para o país, desempenham um papel importante nos efeitos resultantes da inovação que promove.

Beier desenvolve uma apologia do sistema de patentes, no que respeita ao progresso técnico, social e, principalmente, económico. Alega que, sendo a lei de patentes introduzida num país após longo e intensivo debate acerca das suas vantagens e desvantagens, não seria possível que tantos países, dos mais avançados e desenvolvidos a todos os níveis, estivessem errados. Exemplos de países como a Inglaterra, EUA, França, Alemanha, Suíça, Holanda, entre outros, discutiram largamente os prós e contras e consideraram útil e necessário implementar um tal sistema, sendo de realçar que a própria Constituição dos EUA o consagra com a famosa frase “to promote the progress of science and useful arts” (Beier, 1980, p. 571).

De acordo com a análise deste autor, outra justificação para a necessidade da existência de um sistema de patentes releva do facto de a produção industrial de um país aumentar, de forma mais ou menos percetível, após a introdução de um sistema de proteção de patentes. Utiliza dois exemplos recentes que corroboram o seu ponto de vista, os casos de Israel e do Japão, e conclui que foi sem dúvida graças ao sistema de patentes e à PI que estes dois países puderam obter o nível de desenvolvimento em que se encontram atualmente. Neste caso, a sua opinião é suportada pela opinião dos governos desses dois países que o reportaram à Secretaria-geral das Nações Unidas em 1966102. Continua, descrevendo de que forma se processa a proteção das invenções em diferentes sistemas económicos e sociais, concluindo que um sistema de patentes se torna necessário para atingir o estádio de inovação nas

102 “It can be shown both for Israel and, especially, for Japan that the change from a developing

country to a highly industrialized country which occurred after World War II would not have been possible, and certainly not with the same speed, without effective patent protection including the protection of foreign technology and without an active patent and licensing policy based on this protection” (Beier, 1980, p. 580).

áreas mais avançadas do conhecimento, em conjunto com um sistema económico orientado para o mercado.

No fundo, se bem analisados os benefícios e as contrariedades de um tal sistema, Beier considera que o sistema clássico de proteger as invenções que concede e garante ao inventor, ou a alguém por ele designado, um direito exclusivo para os seus inventos continua a ser a forma mais simples, económica e eficiente de qualquer país promover a inovação.

É na sua função de disseminar o conhecimento técnico que o sistema, a longo-prazo, se revela decisivo para o progresso tecnológico que promove o desenvolvimento económico103. Uma vez acessível após a publicação da patente este conhecimento, disponível a partir da consulta da informação de patentes, torna-se um bem comercializável que pode ser transacionado e disseminado, tornando-se, assim, um dos mais importantes instrumentos de transferência de tecnologia104.