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2. A IMPORTÂNCIA ECONÓMICA DA PI

2.4 PI E MONOPÓLIOS

Àqueles que criticam o sistema de patentes84 acusando-o de fomentar um monopólio que, além de fazer aumentar os preços85 dos bens e produtos impede outros sem poder de compra suficiente de os usufruir, como no caso dos países mais pobres e menos desenvolvidos, Ullrich (1989) refere que a situação de monopólio apenas acontece em raras situações, principalmente naquelas em que a invenção é de tal forma inovadora e radical que não existe no mercado qualquer forma de alternativa ou substituição, pelo menos por um determinado período de tempo. Por isso, mesmo a existir qualquer situação de monopólio ela é sempre temporária86.

Essa é a altura em que se verifica existir uma vantagem competitiva nítida para o inventor ou a empresa detentora dos DPI, que será sustentada ou

83 “O ciclo de I&D nas empresas nipónicas é tipicamente constituído por três fases distintas. Na

primeira fase, de cópia, as tecnologias dos competidores mais avançados são identificadas e implementadas dentro da empresa. Numa segunda fase, de melhoria, promove-se o refinamento da tecnologia adquirida e o desenvolvimento das principais características dos produtos. Por fim, na fase de inovação, novas tecnologias são concebidas e novos produtos criados. (…) O processo de assimilação de know-how pressupõe a capacidade de compreender e selecionar as tecnologias mais adequadas às necessidades da empresa. Apenas engenheiros com um elevado nível de conhecimentos teóricos e práticos podem identificar corretamente o potencial de diversas patentes e integrar diferentes tecnologias em novos produtos. (…) A evolução da cópia para a melhoria e finalmente para o desenvolvimento de tecnologias originais é acompanhada pela progressão dos recursos humanos para níveis mais avançados de conhecimentos e pela acumulação gradual de meios financeiros para investir em projetos de pesquisa." (Freire, 1996, pp. 148; 150; 325, 326)

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“It has to be added that a number of economists have argued against the existence of intellectual property rights and especially against the existence of patents. In their view patents do not promote technological innovation, or there are more effective ways to promote innovation (Machlup, 1958; Machlup & Penrose, 1950; Penrose, 1951). They are, however, unable to provide clear evidence that intellectual property rights do not fulfil a useful economical function and none of their alternatives has ever been tested successfully in practice. All they can demonstrate is that some features of the existing patent system cannot be justified economically” (Holyoak & Torremans, 1995, p. 18). Machlup acaba, ele próprio, por reconhecer no fim do seu estudo, a impossibilidade de demonstrar que o sistema de patentes não detém importantes vantagens económicas para os países que o promovem. Cf. (Machlup, 1958).

85 “A visão tradicional, como a de Penrose, sobre o sistema de patentes é que estas garantem

poder de monopólio a seus detentores e, em consequência, acarretam um custo social devido à elevação dos preços dos produtos”. (Tachinardi, 1993, p. 215)

86 “Intellectual property rights confer exclusive rights, but they hardly ever confer a real monopoly

in the sense that the monopolist can act in an arbitrary way without being influenced by his competitors”. (Holyoak & Torremans, 1995, p. 18)

não, dependendo da possibilidade de imitação, ou da extensão de proteção requerida pelo detentor dos direitos (Ullrich, 1989, pp. 102-105).

Esta perspetiva é partilhada por Rozek que refere “this sophisticated system of legal rights does not provide innovators perfect appropriability (monopoly) for the use of their innovative output (1987, p. 54).”

Também Kitch (1977) considera que a patente não confere poder monopolista ao seu detentor. Segundo a sua perspetiva, a patente é apenas um direito de propriedade como outro qualquer, sujeito às pressões competitivas do mercado. Defende que, tanto o produto como o processo patenteados estão dependentes do lançamento de substitutos, estando desde a fase inicial do seu surgimento no mercado em concorrência direta com outras tecnologias existentes e também patenteadas. Esta opinião é partilhada por outros autores que acompanham de perto a PI, não só nos seus aspetos económicos como também legais87. Acresce a este argumento o facto de, ao chegar o final do prazo de proteção concedido pela patente, assistirmos à entrada de novas empresas que vão competir diretamente com as já existentes, obrigando a que ocorra uma descida de preços com o propósito de aumentar a sua competitividade ao mesmo tempo que desincentiva a entrada de novos concorrentes. Nas suas palavras, o sistema de patentes desempenha uma função até agora não percebida e que é, “to increase the output from resources used for technological innovation” (Kitch, 1977, p. 265).

Vale a pena salientar que, segundo nos refere Lehmann (1985, pp. 525- 537), os DPI não concedem ao seu proprietário qualquer tipo de lucro, ou nas suas palavras um lucro automático, que esteja assegurado pelo simples facto de deterem a patente de um produto ou processo. Muito pelo contrário, estes só existirão se vier a existir mercado para a invenção protegida pela patente, isto é, só existirá lucro na medida em que exista procura para o produto cujo resultado das vendas ou licenciamentos a terceiros permitam cobrir a despesa resultante do desenvolvimento do produto bem como a manutenção das obrigações de PI. Assim, a recompensa que os DPI proporcionam pela atividade inventiva está dependente da estrutura competitiva do mercado em questão, somente

87 “The monopoly is not absolute; patents are only granted for a limited period and are

accompanied by public disclosure enabling others in the field to consider and perhaps subsequently improve on it.” (Holyoak & Torremans, 1995, p. 33)

recompensando o proprietário dos DPI quando o mercado aprecia os méritos e vantagens da sua inovação.

Considerando ainda que, se em todos os países se pode ter acesso aos conhecimentos técnicos contidos na patente através da divulgação pública da matéria que a constitui, este privilégio não pode ser considerado como um monopólio do inventor, pois a mesma é fonte de informação tecnológica possibilitando à sociedade, incluindo os seus concorrentes mais diretos no mercado, um conhecimento técnico novo que estimula a geração de novas invenções e inovações. Acresce a esta constatação que o direito de monopólio é restringido à produção de mercadorias, podendo o conhecimento técnico abrangido pela proteção de patente ser utilizado sem restrições em programas de I&D de novas invenções ou aperfeiçoamentos que conduzam a modelos de utilidade, também eles considerados invenções, afirmação de onde partimos para a realização deste projeto e com a qual estamos de acordo.

Deter ativos intangíveis88, como o são os DPI, nunca será prejudicial para a economia por se tornarem um monopólio mas, pelo contrário, é um estímulo em virtude destes, para além de terem um limite temporal, serem uma efémera restrição à concorrência motivando a inovação no sentido de ultrapassar a empresa que detém os DPI através da criação de algo sujeito a esses mesmos direitos de forma a manter a reputação da empresa no mercado perante os seus clientes e concorrentes.

Por seu turno, Lunn (1985, pp. 423-425) defende que os DPI devem ser criados desde que os bens e serviços daí decorrentes sejam produzidos e usados da forma mais eficiente possível numa dada economia. O que virá a estimular empresas e indivíduos a investirem em I&D será a perspetiva de que deterão esses DPI em resultado do seu investimento. Estes direitos devem ser concedidos a quem tenha a capacidade de maximizar economicamente os lucros, assumindo-se que o inventor tenha sido motivado pela ânsia de obter e expandir esses lucros, seja pela exploração própria do resultado do invento, seja licenciando alguém para o fazer, transmitindo-lhe esses direitos (Lehmann, 1985, pp. 1-11).

88 “Just as private property protects and promotes the production of material goods, the property

rights system for intellectual and industrial property protects and promotes the production of intangible goods.” (Holyoak & Torremans, 1995, p. 540)

Ainda segundo Lunn (1985, p. 423; 427), está amplamente demonstrado que um sistema de patentes que garanta e conceda a um inventor direitos de propriedade adequados, cumpre melhor a tarefa reservada para um tal sistema se integrado numa economia de mercado. Manter secretas as novas invenções não poderá nunca substituir de forma plena um sistema de patentes mas, de acordo com este autor, poderá ser um útil complemento deste. E, apesar da função económica das patentes ser ainda um assunto em debate, parece claro que estas aumentam a possibilidade de apropriação de resultados de investigação sob a forma de inovações, salientando o autor particularmente a inovação de produtos.

Discutidas as posições de alguns reputados autores no que concerne às vantagens da PI, englobando um sistema de patentes que permita proteger devidamente as invenções, bem como a consulta da informação disponibilizada por tal sistema, passaremos de seguida a analisar a importância da Internet no acesso à informação de patentes para a obtenção de vantagens competitivas.