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3. O SISTEMA DE PATENTES

3.1 ORIGENS HISTÓRICAS

A patente é a forma institucionalizada de proteção de direitos de propriedade intelectual mais antiga que se conhece. Originariamente, as patentes eram “concessões discricionárias de uma autoridade governamental, quase sempre um rei” (Sherwood, 1992, p. 33).

Normalmente, reconhecem-se os casos mais antigos deste tipo de concessão como tendo ocorrido nos estados italianos durante a Renascença94. No entanto, alguns autores (Holyoak & Torremans, 1995, p. 33) fazem remontar esta noção de direitos exclusivos aos mineiros alemães dos Alpes que no decurso do século XIII se socorreram deste privilégio para salvaguardar o monopólio dos seus novos processos de extração de minério.

Não obstante, a primeira Patente digna dessa denominação foi concedida em Veneza em 147495, em pleno século XV, sendo essa a razão que conduz a maioria dos autores a referirem as repúblicas italianas como as primeiras a concederem esses privilégios. Mesmo em Inglaterra, existem fortes indícios de que a primeira patente concedida a um inventor pela Rainha Isabel I foi entregue também a um inventor italiano que já detinha patentes em Veneza, mas que teve de se exilar por motivos religiosos (Holyoak & Torremans, 1995, p. 34).

Após Veneza ter tido a sua primeira concessão de patente em 1474, outros países iniciaram processo idêntico para proteger as novas invenções, o

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“The word patent comes from the Latin 'litterae patentes', meaning an open letter. Such letters were used by medieval monarchs to confer rights and privileges. With a royal seal, the letters served as proof of those rights, for all to see. While the first system for patenting inventions cannot be attributed to any one country, it is generally acknowledged that the first informal system was developed in Renaissance Italy. This system was introduced into the rest of Europe by émigré Venetian glass-blowers to protect their skills against those of local workers. The first recorded patent of invention was granted to John of Utynam. In 1449, he was awarded a 20-year monopoly for a glass-making process previously unknown in England (subsequently, he supplied glass for the windows of Eton College Chapel, UK). In return for his monopoly, John of Utynam was required to teach his process to native Englishmen. That same function of passing on information is now fulfilled by the publication of a patent specification” (Holyoak & Torremans, 1995, p. 33).

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“(…) but the first more universal patent scheme evolved in Venice, then at the height of its international power, in a Decree of 1474 (…)” (Holyoak & Torremans, 1995, p. 33). “The Venetian Law of 1474 is often referred to as the first systematic approach to protecting inventions by a form of patent (…).” (Idris, 2003, p. 13)

que aconteceu em Inglaterra em 1623-2496, seguindo-se-lhes os EUA97 em 1790, a França em 1791 e a Alemanha em 1815 (Beier, 1980, p. 571).

Esta primeira forma de proteção patentária visava recompensar os inventores com um monopólio limitado, desde que estes aceitassem revelar as suas invenções ao Estado. Quinhentos anos passados e alguma evolução e alterações realizadas, a divulgação da informação técnica necessária para a elaboração do invento continua a ser a motivação da concessão de um título de patente pelos Estados.

De acordo com Sherwood (1992), após a segunda metade do século XIX o conceito de patente começou a suscitar problemas complexos motivados pelo aumento do comércio internacional. Entre esses, assuntos relativos à exclusividade da invenção, impunham que a mesma deveria ser original, isto é, ainda não conhecida do público, estabelecendo a prática de aguardar 18 meses até à publicação do pedido de forma a dotar os inventores da possibilidade de requererem patentes noutros países.

De forma a superar e evitar os problemas que a prioridade suscitava, nomeadamente a pressão para poder realizar os pedidos de patente em diversos

96 “Mas é em Inglaterra, já em 1624, que se anuncia de modo decisivo o mundo moderno com o

início do direito das patentes (as leis americana e francesa apenas serão promulgadas em 1790 e 1791): nasceu a proteção da propriedade industrial, o valor económico da produção intelectual é reconhecido.” (Lattès, 1992, p. 16)

97 Curiosamente, o primeiro examinador de patentes do USPTO foi aquele que viria mais tarde a

tornar-se o terceiro Presidente dos EUA – Thomas Jefferson. Cf.

(http://www.earlyamerica.com/review/winter2000/jefferson.html). Cf. também (Johnson, 2012) “Thomas Jefferson was the first superintendent of our patent system, and our first patent examiner. Among the public men of the late eighteenth century, he was by far the best qualified for the job. He was an inventor himself: he invented a moldboard for plows, a swivel chair, a pedometer, a camp stool, and a copying device, among other things. He was interested in inventors, and seems to have understood them” (Seabrook, 1993, p. 6).

Também Albert Einstein foi examinador de patentes em Berna, antes de emigrar para os EUA, exercendo sobre ele um importante estímulo para o estudo e desenvolvimento da Física.

Outros examinadores de patentes famosos são, por exemplo, Clara Barton – fundadora da Cruz Vermelha (Red Cross) – que trabalhou como professora e como Patent Clerk, e Genrich Altshuller, examinador de patentes da Marinha Russa – criador do TRIZ – Theory of Inventor’s Problem Solving. Com base na sua análise de 40.000 resumos (abstracts) de patentes, entre 1946 e 1969 formulou os seus 40 Principles of Invention de onde retiramos a seguinte afirmação, esclarecedora do importante papel de que se reveste a análise dos documentos de patente: “Inventing is the removal of a technical contradiction with the help of certain principles. To develop a method for inventing, one must scan a large number of inventions, identify the contradictions underlying them, and formulate the principle used by the inventor for their removal.”

(http://www.altshuller.ru/world/eng/ - 11-09-2010). Cf.

(http://www.salon.com/technology/feature/2000/06/29/altshuller/index.html) e ainda (http://www.themanufacturer.com/us/detail.html?contents_id=1909). Para mais informação sobre como utilizar a TRIZ para apoiar na resolução de problemas e fomentar a criatividade na ideação de novas soluções, Cf. (Carvalho, 2011) e também (Dantas & Carrizo Moreira, 2011).

países o mais cedo possível, tem origem a Convenção de Paris em 188398. Esta estipula que, caso um pedido de patente tenha dado entrada num outro país dentro do prazo de um ano a contar da data do primeiro pedido no país de origem, este obtém prioridade sobre os pedidos de invenções concorrentes.

Esta Convenção teve também como função a eliminação da discriminação contra estrangeiros, obrigando a que os pedidos de patente realizados por cidadãos de outro país tivessem a mesma consideração e proteção que os pedidos nacionais. Outra vantagem é a de que este prazo concede uma margem de tempo ao inventor para que este possa avaliar a recetividade que a sua invenção está a suscitar e os investimentos que merecem ser realizados para proteger a invenção noutros países.

Desde então, têm vindo a realizar-se melhorias conducentes a uma mais fácil e eficaz utilização do sistema, sendo o Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT) o resultado mais recente de tais implementações. O PCT99 é um tratado que rege o depósito de pedidos que visem a obtenção da proteção por patente em diversos países. Estabelece um procedimento simplificado a ser obedecido pelo inventor ou depositante para requerer e finalmente, obter a patente. Outra das suas finalidades é facilitar o intercâmbio das informações técnicas contidas nos documentos de patente entre os países interessados, e igualmente, no seio da respetiva comunidade científica, que agrupa os inventores e as empresas que exercem a sua atividade numa determinada área.

Resta dizer, de forma a concluirmos esta descrição sintética da origem e surgimento das patentes, que Portugal é signatário de todos os Acordos existentes atualmente para simplificar a obtenção de patentes, por via europeia ou via internacional. Aliás, Portugal é signatário de todos os acordos relativos à PI, possibilitando aos seus cidadãos um apoio e uma vantagem enormes no que respeita à simplificação de processos e de custos em relação à obtenção de proteção de DPIs, mas não tem feito bom uso dessas vantagens (Doornbos, Gras, & Toth, 2003; Godinho, 1999, 2003, 2007; Godinho & Caraça, 1999; Marcovitch, 1983; Ministério da Economia, 2001, 2002; Moutinho, Fontes, &

98 “Paris Convention for the Protection of Industrial Property, Article 12 (1): Each country of the

Union undertakes to establish a special industrial property service and a central office for the communication to the public of patents, utility models, industrial designs, and trademarks”. Para mais informações sobre a Convenção da União de Paris, Cf. Summaries of Conventions, Treaties and Agreements Administered by WIPO (www.wipo.int)

Godinho, 2007; Roland Berger & Partner, 1998), através do aumento da utilização desses instrumentos legais de proteção que seriam de extrema importância para o nosso país.