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VANTAGENS DA PI PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

2. A IMPORTÂNCIA ECONÓMICA DA PI

2.2 VANTAGENS DA PI PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Sherwood refere que “a proteção à inovação tem sido o fermento do desenvolvimento económico de muitos países”. Isso verifica-se pois, “os países com economias avançadas tendem a ser aqueles que dispõem de sistemas de proteção à propriedade nos quais o público deposita um certo grau de confiança” (1992, p. 11).

Com isto, alerta para o facto de ser necessário adotar medidas eficazes de proteção à PI em todas as suas vertentes, patentes, marcas, modelos de utilidade, etc., sob o risco de os países em desenvolvimento verem escapar para outros países a sua maior riqueza, o Capital Intelectual, que não tendo meios para proteger as suas invenções no seu próprio país a procuram noutros países onde a podem obter, ficando a riqueza daí decorrente nesses países e não no seu que era aquele que mais dela necessitava67.

Assim, os países desenvolvidos continuam a desenvolver-se e os não desenvolvidos estagnam sem ideias novas que possam ser canalizadas para fontes de riqueza que permitam explorar os seus recursos. Também pelo mesmo motivo, as empresas multinacionais não investem nesses países com receio de serem expropriados da sua fonte de rendimento em virtude da apropriação ilegal

67 “A criatividade humana é o grande recurso natural de qualquer país. (…) A proteção à PI é a

das suas descobertas e invenções, motivadas pela fraca proteção à propriedade desses ativos intangíveis que caracterizam a PI68.

Esta posição é também partilhada por Idris (2003) que defende a necessidade de implementar leis de PI rígidas nos países em desenvolvimento de forma a estimular a criação de empresas inovadoras, locais ou internacionais, que se fixem nesses países por se sentirem seguras e protegidas, promovendo assim o desenvolvimento tecnológico69 que condicionará o crescimento económico pela concorrência que motiva.

Neste sentido, Barbara Hansen (1980) na sua análise sobre os aspetos económicos decorrentes da transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento70 introduz a ideia de “absorção de tecnologia”, definindo esta como sendo a indução de progresso técnico com base numa tecnologia transferida, salientando que para que tal ocorra é necessária a presença de vários fatores tais como, adaptação, melhoria e posterior desenvolvimento da tecnologia transferida de acordo com as condições da economia que recebe e integra essa tecnologia como clima, fatores de produção, recursos, etc.71

Esse estudo, que tem por cerne a ideia de que a realização de objetivos que visam o desenvolvimento está intimamente dependente da adaptação correta dos mecanismos de absorção de novos conhecimentos de uma dada economia, salienta que a capacidade para absorver esses conhecimentos técnicos contém três aspetos intimamente interrelacionados, que são: (i) a capacidade de reconhecer possibilidades de adaptação de tecnologias estrangeiras mais avançadas; (ii) a capacidade de adaptar as tecnologias aos contextos físicos, sociais e económicos do país e (iii) a capacidade de adaptar as condições sociais e económicas aos requisitos dessas novas tecnologias.

68 “Um outro componente do sucesso coreano (…) tem sido a criação de subsidiárias locais de

empresas multinacionais e as joint-ventures (…). O roubo de tecnologia não teve nenhum papel nessa história de sucesso.” (Sherwood, 1992, pp. 174-175)

69 “A tecnologia moderna exerce um papel importante no desenvolvimento económico”. (Sherwood,

1992, p. 141)

70 “The main objetive of developing countries is the initiation or acceleration of a cumulative

process of growth. Technical progress is seen as a key factor of such a process. The transfer of technology aiming at economic development can thus not only be limited to a mere transfer of specific technologies leading to a single increase of productivity, but also has to give rise to technical progress.” (Hansen, 1980, p. 429)

71 “The primary objetive of technology transfer should thus be to induce technical progress on the

basis of the imported technology, which in this paper is called ‘absorption’ of technology.” (Hansen, 1980, p. 429)

Numa obra mais recente do que a de Hansen, (Ullrich, 1989) retoma-se a discussão e análise sobre o valor das patentes e dos modelos de utilidade como forma de promover a inovação, principalmente nos países em desenvolvimento72.

Ullrich (1989) salienta que a PI, especialmente as patentes e modelos de utilidade representa um utensílio de política económica e industrial na função que desempenha como estímulo à inovação. Esse estímulo é conseguido pela proteção provisória que concede para a exploração comercial dos resultados dos trabalhos de pesquisa e investigação.

A PI tem por principais funções a difusão de informação técnica e económica que estimula o desempenho económico de um país mas também das unidades de negócio individuais. A PI tem também o mérito de apoiar os processos de transferência de tecnologia, tão importantes para os países em desenvolvimento, estabelecendo a ligação entre centros de I&D empresariais e universitários e a estrutura económico-financeira caracterizada pela estrutura do mercado.

Talvez uma das fraquezas do nosso país seja precisamente esta dificuldade e demora em adaptar as infraestruturas sociais, económicas e, principalmente, humanas (de mentalidade), às vertiginosas mudanças tecnológicas sentidas no decorrer da última década que poderiam proporcionar um contacto mais eficaz com a informação conducente à inovação.

2.2.1 Proteção fraca à PI

Alguns países fomentam uma política de proteção fraca à PI, isto é, ou não dispõem eles próprios de leis de proteção à PI, ou não impõem o cumprimento rígido das leis de PI conforme instituídas e determinadas pelas convenções internacionais. Tal atitude fundamenta-se em quatro mitos, a saber: (i) a proteção fraca traz economia de divisas para o país; (ii) promove a indústria nacional; (iii) apoia a aquisição de tecnologias e (iv) diminui a dependência de tecnologia estrangeira.

A experiência recente de economias florescentes refuta estas afirmações e comprova precisamente o oposto73. Todos os casos de países que adotaram

72

“In all these respects, protection of inventions by patents and by utility certificates appears to be well adaptable to the specific needs of developing countries”. (Ullrich, 1989, p. 112)

73 “Muito pouco se achou nas entrevistas relatadas no Capítulo 5 que confirmasse esta avaliação do

fortes medidas de proteção à PI demonstram um aumento de atividade económica não verificado antes da adoção dessas medidas (Rivette & Kline, 2000, pp. 24-29), normalmente resultante de uma inovação ou descoberta e não partindo da mera cópia ou pirataria.

Sherwood refere que “é interessante observar que a cópia legal pode ser benéfica para as firmas baseadas em pesquisas” (1992, p. 165) uma vez que se pode constatar que a aglomeração de empresas num determinado segmento de mercado atrai a atenção para esse tipo de produtos74.

2.2.2 Proteção forte à PI

Rozek (1987) procura analisar a função da PI nas tomadas de decisão das empresas ao nível do investimento em I&D, focando o estímulo da contribuição deste tipo de proteção para o crescimento económico tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. A principal conclusão a que chega é a de que os benefícios, de estruturar e implementar um mecanismo de proteção forte à PI, geralmente são superiores aos custos.

Salienta, de forma positiva, os benefícios alcançados por empresas que investem em I&D em países com uma proteção forte à PI demonstrando, assim, as vantagens económicas auferidas com essa proteção.

capacidade de fundamentar a atividade industrial na inovação e na descoberta, em vez da imitação e cópia, seja do tipo legal ou ilegal, é principalmente uma função da existência de confiança dentro das comunidades de pesquisa, financeira e empresarial de que os resultados da inovação e da criatividade podem ser protegidos legalmente. Sem a confiança, pouco se irá fazer. Além disso, parece que empresas que se dão bem na atividade pirata têm pouco incentivo para ascender ao nível da inovação. Pelo menos, não nos vêm à mente muitos casos”. (Sherwood, 1992, p. 165).

74

“A doutrina da propriedade intelectual não é uma aplicação clara do princípio ético «Não roubarás». No seu âmago está a noção de que há determinadas situações em que se pode roubar. As proteções dos direitos de autor, por exemplo, têm uma duração temporal; depois de uma coisa passar para o domínio público, qualquer pessoa pode copiá-la sem restrições. Suponha que inventou uma cura para o cancro da mama no laboratório da cave da sua casa. Qualquer patente que obtivesse protegeria a sua propriedade intelectual durante 20 anos, mas depois disso qualquer pessoa poderia usar a sua invenção. A pessoa tem um monopólio inicial sobre a sua produção, porque queremos que as pessoas inventem coisas como fármacos para o cancro. Mas toda a gente pode roubar a sua cura para o cancro – após um espaço de tempo decente -, porque também é do interesse da sociedade deixar o maior número de pessoas possível copiar a sua invenção; só assim outras pessoas poderão aprender com ela, aperfeiçoá-la e arranjar alternativas melhores e mais baratas. Na verdade, este equilíbrio entre a proteção e a limitação da propriedade intelectual está consagrada na Constituição” (Gladwell, 2010b, p. 274).

Segundo Rozek (1987) os países têm duas possibilidades de escolha relativamente à PI: (i) permitir o livre acesso às invenções (free rider)75 e (ii)

proporcionar proteção.

De acordo com os resultados do estudo, optar pela primeira solução resulta em benefícios de curto-prazo, ao mesmo tempo que impõe elevados custos de longo-prazo, enquanto a segunda solução realça as perspetivas do crescimento económico permitir e possibilitar a produção de benefícios de longo- prazo. Continuando o raciocínio de Rozek, o segundo ponto melhora o tamanho, qualidade e eficiência, tanto da força de trabalho como da quantidade de capital acumulado de um país.

A Coreia do Sul, já aqui citada, obteve um desenvolvimento exponencial após 1987, altura em que adotou medidas de proteção à PI menos permissivas, sendo considerada hoje um dos três Tigres Asiáticos e, a constatação de que países como a China (Dejardin, Fenart, Kyberd, Larroquette, & Ziani-Cherif, 2008) e Singapura (AEGE, 2008), extremamente fechadas ao exterior, após a adoção de medidas de proteção e estímulo à PI em 1985 e 1987 respetivamente, atingiram resultados absolutamente notáveis76.

Vincando mais uma vez a sua perspetiva, alertando para as vantagens que algumas empresas e nações estão a obter e outras não por falta de informação sobre o sistema de PI, Sherwood salienta que “quando considerada como parte da infraestrutura de uma nação, a proteção à PI pode ser facilmente examinada por sua contribuição para a mudança técnica, difusão do conhecimento, expansão dos recursos humanos, financiamento da tecnologia, crescimento industrial e desenvolvimento económico” (1992, p. 187). Remata a sua análise com a garantia de que os benefícios da PI e de um sistema de patentes podem ser substanciais para um país.

Não é por acaso que as pessoas parecem ser mais inventivas nos EUA, Europa ou Japão. Não é uma questão genética, ou de escolaridade, inteligência ou destino. A implementação do sistema de PI é de importância vital por causa do modo de pensar da população. O engenho e a criatividade humanos não estão espalhados

75 “Those countries with little or no protection for intellectual property free ride on the relatively

strong protection of intellectual property provided by nations such as the U.S.” (Rozek, 1987, p. 61).

76 “Como a nova lei cobre o software, Singapura está se tornando o Vale do Silício asiático. (…) A

experiência recente de Singapura (…) indica a ocorrência de uma rápida aceleração após a vigência da proteção”. (Sherwood, 1992, p. 155; 165).

de modo desigual no mundo. São talentos presentes em qualquer país” (1992, p. 193).

O problema é que, mesmo num país com um regime forte de PI, a maioria das pessoas não tem conhecimento das vantagens que tal sistema lhes pode proporcionar, desconhecendo até os pormenores de como tal sistema funciona e atua na sociedade em geral. O desconhecimento e a falta de informação impedem qualquer país e as suas empresas de poderem beneficiar das inúmeras possibilidades que um tal sistema acarreta e pode proporcionar. Sublinhe-se que uma mudança de mentalidades não ocorre rápida nem facilmente e que o maior obstáculo a essa mudança da atitude por parte das pessoas, principalmente tratando-se de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, reside na falta de conhecimento nessas matérias. Urge, por esta razão, encetar um programa de sensibilização e informação da população em geral, começando pelo local mais óbvio onde se adquirem informações e conhecimentos novos: as escolas e universidades. Somente aí esse conhecimento poderá adquirir o estatuto de urgência e necessidade que lhe permitirá enraizar-se naqueles que irão dedicar a sua vida profissional futura à descoberta, invenção e inovação.

Compete a cada um de nós velar para que o país possa aproveitar da melhor forma estes recursos disponíveis e muitas vezes desperdiçados por falta de um outro recurso básico que os agregue e enriqueça. Esse recurso é a informação.