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1. A PROPRIEDADE INDUSTRIAL

1.2 MODALIDADES DE PI

1.2.1 Patentes de invenção

As patentes43 constituem uma das mais antigas formas de proteção da propriedade intelectual. Como em todas as formas de proteção da propriedade, a finalidade de um sistema de patentes é incentivar o desenvolvimento económico e tecnológico recompensando a criatividade44.

Sendo a finalidade da patente conceder uma forma de proteção aos progressos tecnológicos, ao menos em teoria, a proteção da patente recompensa não só a criação da invenção, mas também o desenvolvimento dessa invenção para a tornar realizável do ponto de vista tecnológico e comercial. Esse tipo de incentivo é suscetível de promover a criatividade (De Bono, 2005; Foerster & Kreuz, 2009; Rouquette, 1973) e encorajar as empresas a continuarem o desenvolvimento de novas tecnologias, para as tornar comercializáveis, úteis para o público e favoráveis ao interesse público.

Todos os inventos, novos ou não, podem ser sujeitos a técnicas que estimulam modificações à sua composição inicial. Estas técnicas de criatividade que permitem novas inovações designam-se por SCAMPER (em português MESCRAI) e TRANSFORM45, similar à anterior (Baxter, 2000; Duailibi & Simonsen

43 “Anglo-Norman and Middle French patent (c1260 in Anglo-Norman; 1330-2 in Middle French)

and its etymon classical Latin patent-, pat[e]ns open, lying open, unobstructed, wide, broad, readily accessible, clear, obvious, use as adjetive of present participle of pat[e]re to be open” (Oxford English Dictionary online - www.oed.com – 17-09-2010).

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“Compreende-se por criatividade a capacidade de um sistema vivo (indivíduo, grupo, organização) produzir novas combinações, dar respostas inesperadas, originais, úteis e satisfatórias, dirigidas a uma determinada comunidade. É o resultado de um pensamento intencional, posto ao serviço da solução de problemas que não têm uma solução conhecida ou que admitem mais e melhores soluções que as já conhecidas. Todos os seres humanos têm potencialidades para serem criativos, uns mais do que outros, mas todos podem desenvolver e melhorar a sua capacidade criativa. O pensamento criativo não se processa, por exemplo, quando é dificultado pela falta de conhecimento da área, pela inexperiência ou pela falta de motivação” (Tschimmel, 2003).

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SCAMPER diz respeito às “operações: Substitute (Substituir), Combine (Combinar), Adapt (Adaptar), Magnify (Ampliar), ou Minify (Reduzir), Modify (Modificar), Put to other uses (Destinar a outros usos), Eliminate (Eliminar), Rearrange (Reordenar) e Reverse (Inverter). O segundo acrónimo – TRANSFORM – é muito similar (…). Aqui, as letras representam as seguintes ações a serem efetuadas no produto ou problema: Twist or Turn (Torcer ou Girar), Reverse or Rotate (Inverter or Rodar), Adapt (Adaptar), Novelise (Romancear), Substitute (Substituir), Fuse (Fundir), Omit (Omitir), Rearrange (Reordenar) e Magnify (Ampliar)” (O'Dell, 2004, pp. 131, 132).

“Esses termos funcionam como uma lista de verificação para estimular possíveis modificações no produto. Quando se pensa em modificar um produto, é possível que ocorram apenas as ideias mais óbvias, esquecendo-se das outras” (Baxter, 2000, p. 79). “Manipulation is the brother of creativity. When your imagination is as blank as a waiter’s stare, take an existing item and manipulate it into a new idea” (Michalko, 1991, p. 71).

Jr., 2005; O'Dell, 2004). Se olharmos para um produto de uso generalizado na atualidade como o telemóvel, podemos constatar que os métodos acima se adequam muito bem à sua evolução. A sua constante miniaturização, o número de ferramentas que integra, não relacionadas com a sua conceção original (Web

browser, calculadora, agenda, relógio, calendário, despertador, câmara de vídeo,

rádio, leitor de Mp3, plataforma de jogos, entre outros), mostram bem de que forma se pode acrescentar, alterar, modificar, miniaturizar, combinar, adaptar, etc., produzindo sempre inovações valorizadas pelos consumidores e aumentando o valor de uso do produto.

A informação de patentes não é a única fonte de estímulo à criatividade e fomento da inovação, mas é uma das fontes, e por isso deve ser bem explorada (Baxter, 2000)46.

A patente é, pois, um direito exclusivo concedido a uma invenção, quer se trate de um produto ou um processo, que permita uma nova forma de realizar algo ou uma solução técnica nova para resolver um problema. Protege a invenção, geralmente por um período de tempo limitado, em troca da divulgação pública pelo inventor, da inovação técnica nela contida.

De acordo com o Art.º 51.º (CPI, 2009, p. 83), podem ser objeto de patente as invenções que sejam, (i) novas; (ii) impliquem atividade inventiva; (iii) sejam suscetíveis de aplicação industrial.

Estes três Requisitos de Patenteabilidade podem ser melhor compreendidos à luz do Art.º 55º (CPI, 2009, p. 89), que nos esclarece quanto ao seu significado: (i) uma invenção é considerada nova quando não está compreendida no estado da técnica; (ii) a atividade inventiva de uma invenção é considerada se, para um perito na área técnica do invento, este não resultar de uma maneira evidente do estado da técnica; (iii) a aplicação industrial de uma invenção é considerada se o seu objeto puder ser fabricado ou utilizado em qualquer género de indústria ou na agricultura.

É possível obter patentes para quaisquer invenções, quer sejam produtos ou processos, em todos os domínios da tecnologia, desde que estejam de acordo com as condições atrás referidas.

46 “É por isso que é importante que as empresas protejam o conhecimento que adquirem. Os seus

concorrentes depressa irão aproveitar qualquer novo conhecimento desprotegido que chegue ao mercado” (Andrew & Sirkin, 2008, p. 79).

O ponto 3 do Art.º 51º (CPI, 2009, p. 83) refere algo que pode ser extremamente importante no contexto do problema que aqui abordamos, e que é o facto de poderem também ser objeto de patente os processos novos de obtenção de produtos, substâncias ou composições já conhecidos. Assim, conhecer a informação de patentes pode permitir o desenvolvimento dos mesmos produtos, mas por processos diametralmente diferentes, originando uma redução nos custos que pode conduzir os seus detentores a vantagens competitivas.

De salientar, por ser de importância crucial, o Art.º 102.º (CPI, 2009, p. 113), Limitação aos Direitos Conferidos pela Patente, que menciona os direitos não abrangidos pela patente. São de especial importância as alíneas a), b) e c) que passamos a resumir. Aqui, ficamos a saber que se excluem do âmbito de proteção da patente “os atos realizados num âmbito privado e sem fins comerciais;” e mais importante ainda “os atos realizados exclusivamente para fins de ensaio ou experimentais, incluindo experiências para preparação dos processos administrativos necessários à aprovação de produtos pelos organismos oficiais competentes, não podendo, contudo, iniciar-se a exploração industrial ou comercial desses produtos antes de se verificar a caducidade da patente que os protege”47 mas, permitindo aos investigadores obterem o know-how necessário para, uma vez entendidos os preceitos subjacentes a essa tecnologia, darem o salto cognitivo necessário para a invenção de outros produtos que permitam às empresas deixarem o papel de seguidores e iniciarem projetos de I&D conducentes à sua emancipação tecnológica.

Atualmente, a duração da patente em Portugal é de 20 anos contados da data do respetivo pedido. Para dispor livremente da tecnologia nelas contida é necessário esperar que a patente caduque por limite temporal, ultrapassados os 20 anos, ou por outras razões como o não pagamento das taxas devidas pela manutenção anual da patente, a qual em quantos mais países tiver sido requerida, mais encargos financeiros acarreta, pelo que, se não for devidamente explorada em termos comerciais, cedo cessa a sua viabilidade48.

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Como acontece, por exemplo, com os medicamentos genéricos que usam substâncias ativas cujas patentes caducaram e caíram em domínio público sendo, portanto, livres de serem usadas sem o pagamento de quaisquer direitos aos seus anteriores detentores.

48 “Das 557 concessões de patentes a residentes que se verificaram no período da amostra (1980-

2001), cerca de 50% haviam caducado até ao final de 2001. Destas, mais de dois terços não passaram além dos 10 anos de duração. (…) Das 17027 concessões de patentes a não-residentes

Também de realçar é o conteúdo dos Art.º 107.º e 108.º (CPI, 2009, pp. 115-117) que dizem respeito às Licenças Obrigatórias e Licenças por falta de Exploração da Invenção. De acordo com estes artigos, podem ser concedidas Licenças Obrigatórias sobre determinada patente, entre outras razões, sempre que se verifique existir falta ou insuficiência de exploração da invenção patenteada ou se o titular durante três anos consecutivos e sem justo motivo ou base legal deixar de proceder à sua exploração49.

A questão central reside em estar atento ao que de novo se passa e obter a informação certa no momento exato para se poder tomar a decisão de aproveitar as oportunidades, podendo explorar algum invento que seja útil aos projetos de investigação em curso.

No entanto, existem algumas limitações quanto ao que pode ser patenteado que é necessário acautelar, donde se salientam, (i) as descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; (ii) os materiais existentes na natureza, incluindo os materiais nucleares; (iii) as criações estéticas; (iv) os projetos, os princípios e métodos de exercício de atividades intelectuais em matéria de jogo ou na área das atividades económicas, “assim como os programas de computadores, como tais, sem qualquer contributo” e (v) as apresentações de informação (CPI, 2009, p. 84 Art.º 52.º, ponto 1).

Acrescem a estas limitações, entre outras, a impossibilidade de patentear métodos de tratamento cirúrgico ou terapêutico do corpo humano ou animal, assim como os métodos de diagnóstico aplicados ao corpo humano ou animal. Contudo, apesar destas restrições, podem ser patenteados os produtos, substâncias ou composições utilizados em qualquer desses métodos.

De acordo com a Regra Geral sobre o Direito à Patente, este pertence ao inventor ou seus sucessores por qualquer título (CPI, 2009, p. 88 Art.º 58º, pontos 1 e 2).

Os pedidos de patente, obedecendo aos trâmites legais impostos, podem ser efetuados pela via nacional (no país de origem do inventor), pela via que se verificaram no período da amostra (1980-2001), cerca de 73% haviam caducado até ao final de 2001. Destas, também mais de dois-terços não passaram além dos 10 anos de vigência” (Godinho, 2003, p. 85).

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Em todo o caso, “as licenças obrigatórias só podem ser concedidas quando o potencial licenciado tiver desenvolvido esforços no sentido de obter do titular da patente uma licença contratual em condições comerciais aceitáveis e tais esforços não tenham êxito dentro de um prazo razoável” (CPI, 2009, p. 116 Art.º 107.º, ponto 3).

europeia, passando a patente, se concedida, a vigorar em todos os 36 países aderentes mais quatro a quem foi atribuída uma extensão50, ou pela via internacional ou PCT, tornando-se válida nos 144 países signatários51. Em todo o caso, para requerer a denominada patente europeia52, é necessário efetuar o pedido no país de origem do inventor ou no EPO. No caso do PCT, o pedido pode ser realizado no Instituto Nacional do país de origem do inventor, no EPO ou mesmo na OMPI (ou WIPO).