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Informação sobre: Jesus Cristo e o Islão O diálogo inter-religioso

No documento CaminhosdeJesusCristo (páginas 102-105)

Este texto () é um contributo para um melhor entendimento entre as religiões e para um "diálogo inter-religioso" sereno, à semelhança do que tem vindo a acontecer desde há muitos anos. Estas observações não pretendem realizar uma caracterização exaustiva do Islão, já que (-) existem diferentes escolas e denominações com diferenças legais e teológicas. ()

O Alcorão (*) e as outras religiões do Livro Islão significa "submissão à vontade de Deus".

O livro sagrado do Islão, o Alcorão, é visto como a revelação das escrituras ao profeta Muhammad por Deus ou pelo Anjo Gabriel - que também pode ser identificado na religião cristã como o

conhecido Arcanjo Gabriel. Certo é, que o Alcorão viria a ganhar uma importância capital. Para além disso, é ainda importante a interpretação de outras tradições (Suna; literalmente: "hábito") transmitidas em narrações do tempo do profeta (Hadith). Um profeta é, em todo o seu

comportamento, um ser humano e nenhum Deus. Não devemos esquecer que, tal como acontece no seio dos cristãos, também existem muçulmanos que não conhecem exactamente a sua

Sagrada Escritura.

Cristãos e Judeus são mencionados directamente no Alcorão, em parte como "Povo da Escritura" (Povo do LIvro, por ex., Sura 4,171*) e como "Filhos de Israel". Assim, eles também têm o direito a dedicar-se ao estudo do Alcorão(*) - ainda que, em geral, não o façam. A teologia estuda

igualmente as Sagradas Escrituras de todas as outras religiões, investigando entre outros aspectos, a evolução histórica da sua interpretação. As Sagradas Escrituras devem, no entanto, ser estudadas com respeito. Uma parte dos comentadores muçulmanos do Alcorão revelou que existe dele uma forma original - bem guardada por Deus -, a qual apenas é acessível aos puros Anjos e aos puros Enviados Divinos; uma outra parte é acessível, de acordo com a interpretação segundo a qual o leitor do Alcorão na Terra se deve encontrar num estado de pureza.

O profeta é considerado um enviado para um "tempo" (ou um período), em que os enviados divinos não aparecem (Sura 5,19*). O Alcorão faz a distinção entre "crentes", no sentido dos ensinamentos do profeta Muhammad, "Povo do Livro" (Povo da Escritura), e "infiéis". Com o "Povo do Livro" são designados especialmente os Judeus e os Cristãos, que ao lado dos muçulmanos possuem a mesma tradição; por vezes também os zoroastras (Sura 22,17*). Pois o Alcorão reconhece um conjunto de "profetas", todos eles revelando aos seus povos ou no seu tempo os ensinamentos concordantes em si sobre Um Deus, o Juízo Final e a Oração ( por ex., Sura 6, 83- 92; Sura 7, Sura 4,136*). As pessoas que crêem nos princípios comuns dessas religiões não são consideradas no próprio Alcorão como infiéis. (Sura 5,48* e.o.) Nos primeiros séculos do Islão não foi exercido nunhum constrangimento sobre os Cristãos e os Judeus para que se convertessem a esta religião (fiél aos ensinamentos do Alcorão, "Nenhuma coacção nas coisas de fé", ver Sura 2, 256*).

Deus.

Allah - na versão pré-islâmica e do árabe clássico al-ilah - tem enquanto vocábulo semita

seguramente a mesma origem que "Elohim", uma designação para Deus no idioma hebraico dos livros de Moisés.

"Infiéis" - literalmente algo como: "Incrédulos" - no sentido mais estrito e em tempo de vida do profeta Maomé, os politeístas e os idólatras, contra os quais ele combatia na Arábia e para quem já a Bíblia dos Judeus e dos Cristãos alertava. No sentido mais lato, são considerados "Infiéis" no Islão, aqueles que não crêem no único Deus e no Dia do Juízo Final. Por vezes, este termo é utilizado para incorrectamente designar os não-Muçulmanos; outras vezes é usado para excluir mesmo os muçulmanos pertencentes a outras correntes de fé islâmica.

Jesus Cristo no Alcorão.

Releve-se o facto de no Alcorão Jesus ser reconhecido em diversas passagens como profeta; como o enviado divino, e também como "palavra" de Deus, com um significado sem explicação mais detalhada, bem como um espírito divino (Sura 4,171), "criado como Adão" (Suras 2, 3, 5,...). Ele usufrui portanto de um estatuto certamente bem melhor num Islão correctamente interpretado do que aquele que lhe é reconhecido por alguns teólogos modernos, que apenas vêem nele o reformador social. Somente a doutrina da filiação divina de Jesus no contexto do posterior Dogma da Santíssima Trindade, - entendida pelos Cristãos no tempo de Muhammad de forma já bem pragmática -, é que não foi aceite no Alcorão. Cristãos que pudessem explicar com autenticidade o que inicialmente se desejava expressar, de forma que pessoas com outros pontos de vista

pudessem compreender, já não havia muitos (por ex., Sura 6,101*). Na epístola de Paulo aos Romanos 1.4 consta que Jesus surge por obra do Espírito Santo e é "concebido como Filho", e não resultado de um nascimento. Os Cristão poderiam, de facto, concordar com a tese da fé muçulmana, segundo a qual Deus não nasce e Jesus não foi dado à luz mas sim criado. Para além disso, o conceito (grego) "Logos" - que na Bíblia remete para a origem divina e o envio de Jesus Cristo aos Homens - foi traduzido nos Evangelhos também como sendo "A Palavra" (ver texto atrás), termo que no Alcorão é usado para Jesus. Será que nas inspirações do Alcorão - tal como na Bíblia - se encontram ocultos segredos, que nem Muçulmanos nem Cristãos

conseguiram até agora decifrar, e assim discutem em vão sobre termos? Mesmo quando os Cristãos apresentem estes dogmas, de forma que possam ser entendidos como um "princípio politeísta", isso não corresponde à maneira como Jesus pregou: "Orai ao Pai (Deus) em meu Nome (ou seja, interiormente unido a Jesus)" - Bíblia, Evangelho segundo S. João 15:16. Tudo se centra na vida de Jesus em torno de um Deus, com o qual Ele se encontrava profundamente unido e para o qual Ele próprio quer conduzir os Homens.

O conceito "Logos" (do grego, no Evangelho segundo S. João, 1 a "Palavra de Deus", uma expressão que aí se encontra relacionada com Jesus Cristo) surge na tradução do Alcorão de Rudi Paret (versão alemã) desligada de Jesus, sendo no entanto noutras edições do Alcorão entendido como "tarefa" divina ou "vontade" de Deus (Sura 13,2 e 13,11*).

O Alcorão encara Jesus "como Adão", criado por Deus a partir do barro (Sura 3,59*) e fala de um "Enviado Divino" do Espírito Santo, que anuncia a Maria o nascimento imaculado de Jesus (Sura 19,17-22*). Na versão cristã, é o Anjo de Deus que anuncia o nascimento de Jesus por obra do Espírito Santo. Também consta do Alcorão, que Jesus recebeu a unção do Espírito Santo / Espírito da Divindade (Sura 5,110*).

Segundo o Alcorão, o jovem Jesus anuncia a sua Ressurreição (Sura 19,33*), com o que, no entanto, também poderia ser interpretado como a parusia (a segunda vinda de Cristo ao mundo) para o "Juízo Final" (o dia do Julgamento por Deus, com a ressurreição dos crentes, como é

frequentemente citado no Alcorão. Ver a seguir Sura 4,159* () . O Alcorão refere que Jesus subiu aos céus em vida (Sura 4,157 -159*, Sura 3,55*).

Os muçulmanos e os cristãos não chegam a consenso sobre a morte de Jesus crucificado antes da sua Ascensão ao Céu, e a sua ressurreição pela vontade de Deus - como crêem os Cristãos - ou se a Ascensão ao Céu se fez em vida, sem ter havido crucificação, como crêem os

Muçulmanos. Comum às duas religiões é no entanto a crença, que Jesus no momento da Ascensão não estava morto mas, por ex., pregava aos Homens.

Já na Sura 3,55* e 5,48* está escrito, „...eu irei purificá-lo" e „...regressareis a mim e eu (Deus) irei decidir entre vós sobre aquilo (que durante a vida terrena) vos desuniu". Os Cristãos e os

Muçulmanos poderiam aguardar em paz a revelação de mais alguns segredos, em vez de discutirem.

O mesmo está escrito no Alcorão sobre a Ressurreição dos crentes no dia do Juízo Final (Sura 36,77-83; Sura 69,13-37; Suras 75 e 99* e.o.). Jesus virá ao mundo pela segunda vez e julgará os crentes em nome de Deus (Sura 4,159; comp. Sura 16,89*). Aqueles que, mesmo que não sejam muçulmanos, creiam em Deus e no dia do Juízo Final, e pratiquem o bem (), não terão, segundo o Alcorão, que recear o Dia do Julgamento (Sura 2,62; Sura 4,123-124; Sura 7,170*). O Último Julgamento é, tanto no Alcorão com na Bíblia, claramente um acto divino e não depende dos Homens, quer sejam eles Cristãos, Muçulmanos ou Judeus.

(As comparações entre as religiões aqui feitas não têm como finalidade questionar a independência do Alcorão.)

Sobre os princípios éticos do Alcorão e do Cristianismo

Certo é que os princípios éticos das 3 "Religiões de Abraão" são profundamente semelhantes. Os Mandamentos também são mencionados no Alcorão, ainda que de forma dispersa , e.o. na Sura 17,22-39; Sura 5,38-40; Sura 2,188; Sura 4,135; Sura 2,195; e Sura 17,70* (dignidade humana). O Alcorão proíbe, por exemplo, rigorosamente e sem excepção, a morte de inocentes (Sura 5,27- 32*). O termo "Gihad" (Dschihad), significa apenas: "Luta"; o significado acrescido de "Guerra Santa" não tem origem no Alcorão mas sim em citações de Maomé e das escolas islâmicas ***): A luta moral e espiritual interior contra os vícios e as fraquezas do Homem é considerada a "Grande Dschihad", uma luta a que é atribuído um significado bem mais importante do que às

confrontações exteriores. (Compare-se, por ex., a mensagem de Jesus "tira primeiro a trave do teu próprio olho..."- Com isso, muitos dos conflitos externos perderiam assim a sua razão de ser.) A "Dschihad da Palavra" é uma representante pacífica da fé. A "Dschihad da Mão" é o exemplo prático e formador do crente na fé. A "Dschihad da Espada" também é designada por "Pequena Dschihad"; só está permitida para defesa de crentes que tenham sido atacados e isto "sem

excessos" (comp. Alcorão Sura 2,190*). A "severidade" no trato com crentes de outras religiões é, no entanto, mencionada no Alcorão (Sura 48,29*, Sura 47,4*).

São inúmeras as regras tradicionais que contemplam a relação entre pessoas de sexos diferentes, inclusive a proibição de contrair matrimónio com membros de outras religiões, etc.

Da prática islâmica fazem parte: "O testemunho de que não existe outro Deus além de Alá e Maomé é o seu Profeta;

a obrigatoriedade das orações diárias estipuladas (Sura 2,177*);

o Jejum anual no nono mês do ano lunar muçulmano a cumprir pelos crentes (Sura 2,185*); a Peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, que cada crente deverá realizar (Sura 2,196*);

e a Zakkat (Doação obrigatória para fins sociais) (Sura 2,177*)"

No Islão actual não existe uma instância central com competência de decisão nas questões ético- religiosas. No entanto, as posições partilhadas por uma significativa maioria de eruditos islâmicos poderiam vir a ser aceites por grande parte dos muçulmanos.

*) Recorreu-se e.o. ao "Alcorão, na tradução de Rudi Paret", Editora Kohlhammer (versão alemã), cuja transcrição satisfaz os requisitos científicos e na qual é feita uma clara diferenciação entre as traduções literais e as inserções para uma melhor compreensão idiomática dos textos. Para enumeração dos versículos recorreu-se aqui à versão

egípcia, reconhecida e aceite nas comunidades islâmicas. Outras traduções poderão utilizar a uma das outras duas enumerações; nesse caso, encontrará a referida passagem pouco antes ou depois do número do versículo indicado na mesma Sure. A difícil tradução do Alcorão não é tão problemática para os excertos a que neste texto se recorreu. O significado das passagens do Alcorão foi objecto de comparação aqui com "O Alcorão, traduzido e

comentado por Adel Theodor Khoury, 2007 (versão alemã) ", cuja transcrição também foi reconhecida pelos eruditos islâmicos, (por ex., o Dr. Inamullah Khan, ex - Secretário Geral do Congresso Mundial Islâmico), em cujos

comentários são também abordadas as tradicionais interpretações das diferentes correntes islâmicas. ***) Mesmo as históricas "cruzadas cristãs" não estavam radicadas na Bíblia, mas foram antes de tudo actos

simplesmente humanos, os quais são repudiados hoje, por ex., por muitos cristãos europeus. Retornar para o índice desta página

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