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CAPÍTULO 1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

1.3 INFORMAÇÕES PARA NEGÓCIOS

O conceito de informações para negócios (business information), apesar de não ser recente, ainda não apresenta um consenso quanto a sua terminologia, aparecendo na literatura sob expressões variadas. Em 1970, por exemplo, um verbete de conceito similar – business literature – foi mencionado na Enclyclopedia of Library and Information Science. Desde então, o tema tem sido abordado em denominações variadas que ora direcionam ao ambiente tecnológico, ora ao ambiente industrial, ora ao ambiente de negócios, numa profusão de vertentes cujo retrospecto pode ser visto em Borges e Campello (1997), bem como em Januzzi e Montalli (1999)39.

sua origem nas atividades de inteligência militar que foram absorvidas pelo Estado e, posteriormente, pelas organizações.

37O conceito de ponto cego é apresentado por Castro e Abreu (2006, p.16) como a situação na qual há um

descolamento entre a percepção que se tem sobre o ambiente competitivo e o que está realmente acontecendo.

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AGUILAR, F. J. Scanning the business environment. New York: The Macmillan Company, 1967.

39 Alguns exemplos mencionados, dentre outros, são Vernon (1984), para quem esse tipo de informação

corresponde a dados, fatos e estatísticas necessários à tomada de decisão nas organizações de negócios, Lavin (1992) e Hayden (1989), que dividem a informação para negócios em duas categorias: a informação interna e a externa, e Haythornthwaite (1990) que busca estabelecer uma tipologia para essas informações.

Montalli (1994) apresenta um conceito para o termo definindo-o como a informação que subsidia o processo decisório de empresas industriais, prestadoras de serviço e comerciais no que se refere a produtos, finanças, estatística, legislação e mercado. É importante observar que esta é uma denominação abrangente e que pode se desdobrar em uma série de classificações que visam conceituar de maneira específica a informação para negócios, como se pode ver no mapeamento feito por Mafra Pereira (2006). Esse autor procurou consolidar a análise feita por vários pesquisadores preocupados em identificar onde se localizam as informações a serem utilizadas pelas organizações para o desenvolvimento de suas estratégias (Figura 3), não se restringindo ao termo “informações para negócios”, mas categorizando as fontes de informação utilizadas pelas organizações. Observa-se, pelo levantamento efetuado, a predominância de seis tipos macro de categorias: fontes externas e internas, fontes formais e informais e fontes pessoais e impessoais.

Figura 3. Autores e as principais categorias de fontes de informação organizacionais

Fonte: Mafra Pereira (2006, p.53)

O estudo feito por Mafra Pereira (2006), apesar de ter uma vertente longitudinal – de 1967 a 2003 – não foi exaustivo, podendo ser incluídos nesse repertório vários outros autores. Só na década de 1980, por exemplo, Porter (1986) identificou fontes de informação para

análise da indústria, Hayden (1989) classificou as informações para negócios em duas categorias – informação interna e externa – e Degent (1986) identificou oito principais categorias de fontes de dados: competidores, governo, fornecedores, clientes, associações profissionais, associações de classe, empregados e outras fontes. Conforme destacado por Hartman et al (1994), os estudos sobre fontes de informações de negócios são assuntos de interesse crescente e ainda devem ser cada vez mais necessários caso se mantenha esse ritmo de desenvolvimento tecnológico e informacional.

Entre os autores que poderiam ser ainda citados para enriquecer a discussão nesta temática, dois trabalhos chamam a atenção por suas abordagens: o primeiro, realizado por Cendón (2003), buscou caracterizar as fontes de informação identificadas como bases de dados digitais, num diagnóstico que procurou analisá-las quanto à qualidade, forma de acesso, organização e volume produzido40. A autora identifica e analisa nove categorias de bases de dados de interesse para negócios tendo como referência o conceito de que informação para negócios engloba:

informações mercadológicas (tais como análises de fatias de mercado,

padrões de consumo e gastos de consumidores, e estudos de seus comportamento e estilos de vida, pesquisas de opinião, informação sobre investimento em propaganda por diversos setores e medidas de audiência de canais de rádio e televisão); informações financeiras (tais como desempenho financeiro de empresas, mercado financeiro e outras informações para investimento, disponibilidade de assistência financeira, taxas de câmbio, custo de crédito etc.); informações estatísticas (tais como recenseamentos, índices econômicos ou estatísticas sobre indústrias); informações sobre empresas e

produtos (tais como histórico e informações cadastrais de empresas e

informações sobre fusões e aquisições); informações jurídicas (tais como leis, regulamentação de impostos e taxações) e outras informações fatuais e analíticas sobre tendências nos cenários político-social, econômico e financeiro, nos quais operam organizações empresariais.41 (CENDÓN, 2003, p.17)

O estudo de Cendón (2003) permitiu verificar que o ambiente de negócios possui uma amplitude de fontes externas inseridas no ambiente digital e concluir que não há uma disponibilização unificada de informações, nem uma publicação ou portal que compile e

40A relevância deste estudo consiste não apenas na identificação de bases de dados para negócio em contexto

digital, mas também na caracterização desse tipo de fonte, demonstrando como estas se configuram, pois as facilidades proporcionadas pela tecnologia para acesso a informações em ambientes digitais exigem que as organizações estabeleçam critérios sobre a qualidade das informações disponíveis.

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caracterize as fontes de informações para negócios em âmbito nacional, cabendo às organizações mapearem aquelas fontes cujas informações se relacionem ao seu ramo de atividades.

A outra pesquisa que se pretende destacar foi realizada por Silva, Campos e Brandão (2005) visando propor um esquema de classificação das fontes de informação para negócios. Os autores, em suas análises, e como questão motivadora na idealização da proposta, consideraram três aspectos: a dificuldade de se encontrar informações relevantes e úteis em tempo adequado, a ausência de um sistema unificado de classificação que facilitasse a busca de informações relacionadas ao ambiente de negócios e a característica unidimensional das classificações existentes, que dificulta as articulações necessárias para se encontrar informações relevantes. Nesse sentido, os autores propuseram um esquema que contempla um arranjo tridimensional que considera três eixos: o ambiente de negócio, as fontes de informação e o ramo de atividade econômica (Figura 4)

Figura 4. Estrutura tridimensional de classificação de fontes de informação

Fonte: Silva, Campos e Brandão (2005)

No eixo “ambiente de negócio”, os autores definiram sete dimensões: mercado ou concorrência, fornecedores, ambiente tecnológico, recursos humanos, infraestrutura e logística, ambiente econômico e ambiente sócio-demográfico. Em relação à classificação das fontes de informação, os autores também estabeleceram sete categorias como diretrizes: informações estatísticas, financeiras, históricas, regulatórias, bibliográficas, sobre produtos e serviços e uma categoria de outras. Completando a tríade, o ramo de atividade econômica segue a classificação estabelecida pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que apresenta semelhanças estruturais com a Classificação Industrial Internacional de todas as atividades econômicas (CIIU), o que possibilita efetuar comparações com

estruturas internacionais. Esta proposição permite a confecção de uma matriz a ser completada pelas organizações, conforme modelo apresentado na figura abaixo (Figura 5), o qual, cabe ressaltar, não implica no preenchimento obrigatório de todos os campos.

Figura 5. Modelo de esquema de classificação de fontes de informação para negócios

Ramo de atividades (segundo CNAE) :

Ambiente

Fontes de informação

Estatística Financeira Histórica e biográficas

Produtos e serviços

Regulatórias Bibliográficas Outras

Mercado ou concorrência Fornecedores Tecnológico Recursos Humanos Infraestrutura e logística Economico Sócio-demográfico

Fonte: Adaptado de Silva, Campos e Brandão (2005)

É oportuno destacar que o modelo proposto pelos autores contribui para a discussão sobre fontes de informação para negócios, mas não em bases epistemológicas. O modelo é uma proposta pragmática de delimitação de ambiente de monitoramento externo que pode se configurar em um instrumento de suporte às organizações para se posicionar em frente a um dos paradoxos que envolvem o binômio informação-organização, relacionado à identificação de fontes relevantes para o segmento no qual a organização está inserida.

Considera-se que as iniciativas das pesquisas citadas são relevantes, pois, até a década de 1980, definir as fontes de informação para negócios era uma tarefa “trivial”, uma vez que a informação se encontrava disponível em um formato e frequência conhecidos. No final dos anos 1990, entretanto, esse cenário se alterou, tendo Shenk (1997) alertado sobre a sobrecarga de informações como um novo e importante problema emocional, social e político, cenário que se configura como consequência dos efeitos do desenvolvimento das TICs. Conforme pontuado por Silva e Ribeiro (2004), a informação digital tomou conta do quotidiano das pessoas e transformou a vida em sociedade de uma forma muito profunda.

Esse desenvolvimento tecnológico, que por um lado ampliou o leque informacional, também trouxe para as organizações novas alternativas para o registro e gerenciamento das

informações produzidas por elas próprias. Neste aspecto, sistemas informatizados que congregam informações das áreas financeiras, de produção, marketing, recursos humanos, dentre outras, foram desenvolvidos numa tentativa, não apenas de congregar todos os setores da organização numa mesma plataforma, mas, também, de auxiliar as organizações a manipular as informações de forma sistematizada visando subsidiar os gestores no processo decisório. Estas informações do ambiente interno organizacional também se caracterizam como uma vertente das informações para negócios42 e se diferenciam daquelas primeiras no sentido de que as fontes são menos numerosas e estão concentradas no ambiente interno da organização, o que não quer dizer, entretanto, que sejam menos complexas.

Um dos maiores desafios relacionados às fontes internas de informação é conhecer todas as informações que estão disponíveis – seja em suporte físico, digital ou vinculado aos funcionários – e gerenciar para que as informações sejam registradas favorecendo o compartilhamento. Este é um aspecto destacado por Degent (1986) que alerta para uma dificuldade encontrada, principalmente no nível estratégico, relacionada ao registro de informações originadas nos contatos pessoais dos gestores, que muitas vezes não dispõem de tempo ou motivação para registrá-las de forma que possam ser preservadas.

Seja oriunda do ambiente externo ou interno, a seleção das fontes de informação a serem utilizadas nas organizações deve observar, segundo afirmação feita por Porter (1989), questões como os objetivos a serem cumpridos, a “área técnica” na qual se está inserida, o nível de recursos disponíveis para acesso as fontes e a demanda apresentada pelos funcionários (independente do nível hierárquico). As habilidades em coletar, organizar e utilizar informações para subsidiar seus processos são fatores que, segundo Rezende (2002), irão determinar a excelência da organização no mercado.

Como reflexão desse cenário complexo que envolve o desenvolvimento tecnológico e a informação – parafraseando McGee e Prusak (1994) – indaga-se até quando as organizações acreditarão que a próxima geração de tecnologia trará a “arma decisiva” que solucionará o problema do excesso informacional. Não há dúvidas, segundo os autores, de que os produtos e serviços de tecnologia da informação continuarão a evoluir, mas eles não são os únicos responsáveis por garantir o uso eficiente da informação: o problema fundamental continua a

42Cabe ressaltar que alguns autores referenciam informações para negócios apenas como aquelas relacionadas ao

ambiente externo da organização. Na presente pesquisa, optou-se por unificar os ambientes interno e externo na definição de que as informações para negócio são aquelas destinadas a subsidiar o processo decisório organizacional, não havendo discriminação ou exclusão devido a sua origem – interna ou externa , sua categoria – formal ou informal, ou seu suporte – impresso, digital, pessoal, televisivo, radiofônico, etc....

ser ter acesso a informação confiável, em tempo hábil e no local adequado e saber utilizá-la de modo a criar um diferencial competitivo. Está claro que as respostas não estão na tecnologia. O que também é uma afirmação simplista. É importante, mas não é tudo...

A existência de nova tecnologia não é, por si só, o que está criando valor adicional na sociedade contemporânea, mas, sim, a sua utilização efetiva ao possibilitar o incremento do uso da informação pelos indivíduos e organizações. Facilita compreender esse argumento quando se observa que a tecnologia, em princípio, é acessível a qualquer organização, mas o que irá fazer com que ela se torne relevante é a forma como será utilizada e poderá gerar vantagem competitiva e inovação. Considera-se que a espinha dorsal de um processo decisório nas organizações são os indivíduos e a informação. As tecnologias se conformam como um meio, assim como outros maquinários e equipamentos existentes nas organizações43. Drucker (2001) chamou a atenção para esse fato ao mencionar que “o foco é a informação. Pelo simples motivo de que a maior transformação é a transformação na informação. A mudança não está nos instrumentos: a mudança é o fato de a informação estar acessível a todos”.

Considera-se, com base nessa perspectiva, que a tecnologia cria alternativas, mas o desafio passa a ser a escolha “útil” (em oposição à escolha perfeita), o que envolve comportamentos, preferências e práticas informacionais.