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CAPÍTULO 5. PERCURSO METODOLÓGICO

5.2 MÉTODO QUADRIPOLAR ADAPTADO À CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

A proposta inicial de um Método Quadripolar foi apresentada pelos autores belgas Paul de Bruyne, Jacques Herman e Marc de Schoutheete123, na década de 1970, que conceberam uma prática metodológica para as pesquisas em Ciências Sociais sob uma perspectiva de “diretrizes orientadoras”. Esta perspectiva implicava no rompimento do pressuposto do método científico visto como um plano instrumental composto de etapas lineares, no qual o percurso metodológico de uma pesquisa é reduzido a uma sequência de procedimentos cronológicos, e passa a vislumbrá-lo a partir de “instâncias articuladas”.

O objetivo dos autores foi romper com o poder “esmagador”, baseado em um excesso de formalismos, dos métodos das Ciências Naturais e buscar uma autonomia para as pesquisas nas áreas humanas e sociais. Tal intento culminou na elaboração de uma proposta para a prática científica estruturada em quatro polos metodológicos – denominados epistemológico, morfológico, teórico e técnico – que possibilita perceber o processo de pesquisa de maneira holística e sistêmica, com interpretações e análises contínuas e retornos constantes e alternados entre os polos. Este viés torna o fazer científico dinâmico e articulado, fundamentando a cientificidade das ciências sociais por meio de uma dinâmica quadripolar e dotando-a de integridade metodológica (SILVA, 2014).

Alguns autores, baseados na proposição de Bruyne, Herman e De Schoutheete, desenvolveram adaptações do Método Quadripolar reorganizando os polos, mas mantendo a linha articuladora e o pensamento holístico que o caracteriza. Silva e Ribeiro (2002), Silva (2006, 2014), Martins e Theóphilo (2007) e Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1994) adaptaram a proposta original, sendo que a proposta de Silva e Ribeiro (2002) atualizada por Silva (2014) trouxe essa abordagem aplicada à Ciência da Informação.

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A vertente proposta por Silva (2014), apresentada na Figura 12, redefine o desenho do modelo proposto pelos autores belgas e realoca algumas premissas do modelo original em relação ao que contém cada polo. Mantém, contudo, a ideia de retroalimentação, que atua como uma “espiral”, permitindo que todos os polos sejam revisitados a todo o momento, articulando-os entre si. Seu desenho geral a situa numa perspectiva mais orientadora do que instrumental.

Figura 12. Método Quadripolar adaptado à Ciência da Informação

Fonte: Silva (2014, p.32)

O polo epistemológico, no modelo proposto por Silva (2014), pode ser considerado como um polo estruturante, pois ele encerra o paradigma que irá orientar a pesquisa e influenciar toda a dinâmica da investigação. Contempla a “função de vigilância crítica” – terminologia utilizada pelos autores belgas – que, no modelo adaptado à CI, visa garantir a objetivação científica e aplicação coerente do paradigma.

Já o polo teórico abrange a estruturação dos conceitos, a elaboração das hipóteses e a escolha das abordagens a serem utilizadas na interpretação da questão da pesquisa. Neste polo, o problema deve ser evidenciado por meio da pergunta de partida e definição da problemática. Devem ser contempladas as revisões de literatura e o suporte conceitual, pois o polo teórico é responsável por respaldar a técnica e dar sentido aos resultados obtidos na pesquisa.

A recolha dos dados e posterior análise ocorrem no polo técnico, instância na qual as estratégias de pesquisa são operacionalizadas e por meio da qual o pesquisador irá vislumbrar o objeto. Silva (2014) destaca que esses polos – técnico e teórico – são os polos centrais do método, cuja combinação em contínuo “vai e vem” assegura uma flexibilidade investigativa crucial, condição que será referência para a formação do objeto científico, que ocorre no polo

morfológico. Este último polo contempla os resultados da pesquisa e confirma ou questiona o paradigma que norteou a investigação. Constitui-se o plano no qual os dados são organizados e apresentados.

Considera-se que a utilização do Método Quadripolar aplicado à CI, como princípio norteador, consolida a vertente de estudos que se pretende com a presente pesquisa que procura, no seu percurso metodológico, uma coerência nos processos investigativos que possibilite pensar o fazer científico de forma holística por meio de um método capaz de assegurar os princípios de validade e confiabilidade, características intrínsecas à Ciência. Parte-se do pressuposto de que a característica “pós-positivista, sistêmica e construtivista” é uma das maiores vantagens do método e que uma de suas mais significativas contribuições é permitir verificar que a construção de um trabalho científico se consolida nas interpretações e voltas constantes entre os princípios preconizados em cada polo, que tem sua essência na “interação dialética” (ALMEIDA; SILVA; GUIMARÃES, 2012).

Na presente pesquisa tem-se a perspectiva Durandiana dos estudos do imaginário, a abordagem psicossocial de estudos de sujeitos informacionais e a abordagem neoclássica de estudos das organizações no polo Epistemológico estruturando a condução da pesquisa. No polo Teórico as proposições da psicologia analítica, as arenas de uso da informação nas organizações, as Estruturas Antropológicas do Imaginário e a Abordagem Clínica da Informação forneceram os conceitos e o aporte teórico necessário ao desenvolvimento dos trabalhos. A parte empírica abordada no polo Técnico foi desenvolvida por meio do estudo de caso, da entrevista semiestruturada, da técnica do incidente crítico, da manifestação poética, do Teste Arquetípico de Nove Elementos e da análise projetiva. O polo morfológico contempla, por fim, os aspectos inconscientes envolvidos no fenômeno infocomunicacional relacionados à tomada de decisão por gestores evidenciados por meio da dimensão simbólico- afetiva e pela identificação dos micro-universos míticos.

Cabe destacar que a “revisitação” que o método proporciona em todos os seus polos durante o desenvolvimento da pesquisa (Figura 13) permite ao investigador atentar para não cair em desacordo sobre pontos fundamentais estabelecidos, o que auxilia a conformação da desejada cientificidade e coerência epistemológica. Neste trajeto, importa analisar o material coletado com a devida abertura hermenêutica, cuidando para não haver “o encontro de dados que se quer encontrar”.

Figura 13. Estrutura metodológica da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora

Considera-se que a utilização desse método como princípio norteador consolida uma vertente de estudos que vislumbra uma coerência nos processos investigativos que possibilita pensar o fazer científico de forma holística, o que permite consolidá-lo como um método capaz de assegurar os princípios de validade e confiabilidade, caracerística intrínsecas à Ciência.