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4.2. APRESENTANDO OS RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ONLINE

4.2.4. Informações sobre trabalho e renda

Esta parte do questionário foi intitulada de “Trabalho e Renda” e se propunha a analisar os diferentes tipos de emprego ou ocupações desses jovens, sua jornada de trabalho e se essas ocupações tinham assegurados os direitos trabalhistas. A primeira questão abordava o trabalho com carteira assinada. Se a ocupação atual do sujeito estava registrada. Pelas respostas foi possível perceber uma alta taxa de informalidade nas ocupações desses jovens, pois 108 pessoas responderam que trabalhavam sem carteira assinada (aproximadamente 64,7% do total).

Gráfico 27 - Trabalho com carteira assinada

Fonte: elaboração da autora

Sobre a quantidade de horas trabalhadas em média por semana, 37 pessoas (22,1% do total) não responderam essa questão. Daqueles que responderam, houve um empate na quantidade de sujeitos que trabalham trinta horas por semana (30 sujeitos ou 23% do total) e mais de quarenta horas semanais. Somando as duas jornadas, temos 46% do público respondente trabalhando no mínimo 30 horas semanais. Esses jovens possuem uma rotina de trabalho exaustiva. 59 108 0 0 50 100 150

Gráfico 28 - Número de horas trabalhadas em média por semana

Fonte: elaboração da autora

Onze pessoas indicaram outras opções que não estavam elencadas na questão. Dessas, oito sujeitos afirmaram que não trabalham, uma pessoa indicou que dedicava 20 horas para projetos da universidade (iniciação científica), outro jovem assinalou que trabalha 36 horas e um jovem afirmou trabalhar 55 horas por semana. Esse jovem respondeu que reside no interior do Rio Grande do Sul com a família da namorada e que trabalhava 55 horas semanais, de segunda a sábado.

No tocante aos entrevistados, três jovens (Beatriz, Fernando e Júlio) afirmaram que trabalhavam com carteira assinada. Os demais responderam que não. Essa resposta poderia indicar que não houvesse algum tipo de ocupação ou atividade remunerada por parte dos demais jovens. Porém, quando se analisa as entrevistas, percebe-se outras ocupações que não estavam inseridas em serviços com carteira assinada. Por exemplo: Letícia trabalhava em duas atividades, como caixa em uma danceteria de Porto Alegre e como massoterapeuta. São ocupações que geram renda, mas não são um emprego fixo. Bruna e Mateus eram bolsistas dentro das suas universidades. Natália estagiava em uma secretaria estadual e Bernardo em uma empresa de publicidade na época do questionário e, no momento da entrevista, trabalhava na empresa familiar. Vítor trabalhava durante a semana na farmácia municipal de Eldorado do Sul e aos finais de semana na farmácia da irmã. Quando ocorreu a entrevista, Vítor recentemente tinha saído do estágio na farmácia pública. Nos primeiros momentos da entrevista, esse assunto foi abordado:

Pesquisadora: Mas então eu não te atrapalho agora, tipo, tu tá...tu saiu do serviço? Vítor: Não, agora eu sou só...é que eu trabalhava em duas farmácias...daí a outra que eu trabalho é só final de semana, sábado e domingo...

Pesquisadora: Mas aí é farmácia...

Vítor: É farmácia comercial, é da minha irmã...

Pesquisadora: Ah, tua irmã...ela também é farmacêutica? 17 14 30 28 30 11 37 0 5 10 15 20 25 30 35 40

Menos de 20h por semana 20h por semana 30h por semana 40h por semana Mais de 40h por semana Outra Não respondeu

Vítor: Em Eldorado...Eu trabalhava na municipal e na outra...Ela tá... vai se formar daqui a um ano no IPA também.

Pesquisadora: Por isso que tu fez farmácia?

Vítor: Não, é que tipo, eu queria alguma coisa da saúde e eu queria alguma coisa relacionada a química, e daí farmácia fica perfeito...( VÍTOR, 2018).

O próximo gráfico apresenta a jornada de trabalho semanal. É possível perceber que a maioria dos jovens trabalhava de segunda a sexta, representando cerca de 50,9% do total de respostas.

Gráfico 29 - Jornada de trabalho

Fonte: elaboração da autora

Dezoito pessoas trabalhavam de segunda a sábado, folgando domingo (10,8% do total). Das pessoas que marcaram outras opções, seis afirmaram que não trabalhavam. Uma pessoa explicou sua jornada de mais de 40h semanais: essa jovem trabalha de segunda a sexta, mais dois domingos ao mês e alguns feriados. Outro sujeito declarou que seu trabalho estava relacionado à iniciação científica, sendo assim ocorreria em dias combinados. Uma jovem afirmou que era empresária, portanto trabalhava nos dias e horários necessários. Os demais indicaram: “Sou autônoma, portanto não tenho dias fixos”; “Expediente de segunda a sexta e alguns serviços finais de semana”; “De segunda a sábado com folga no domingo ou de terça- feira a domingo com folga na segunda”; “De terça a sábado”; “Segunda a segunda com folga fixa na semana e dois domingos no mês”; “Noturna e só aos finais de semana”; “Trabalho no meu emprego fixo 12h por (36h de folga)”.

Quando questionado se esse jovem já trabalhou alguma vez com a carteira assinada, a relação se inverte. Cento e seis sujeitos (63,5% do total) já trabalharam com carteira assinada. Infelizmente não foi perguntado por quanto tempo.

85 18 2 6 0 1 16 39 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Segunda a sexta-feira Segunda a sábado Só aos finais de semana Finais de semana e uma folga semanal Noturna e semanal Noturna e só aos finais de semana Outro Não respondeu

Gráfico 30 - Trabalho com carteira assinada alguma vez na vida

Fonte: elaboração da autora

Comparando as informações desses dados encontrados no questionário com o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do primeiro trimestre de 2019, dos grupos de idade que estão ocupados77 no Brasil, 12,4% são de jovens entre 18 e 24 anos (idade dos sujeitos que responderam ao questionário). A maior parcela nacional de ocupação pertence aos adultos (entre 40 e 59 anos). Quando se observa a região sul, o percentual de jovens ocupados sobe um pouco, para 12,9%. A tabela abaixo apresenta a distribuição das pessoas ocupadas no Brasil e nas regiões desde 2012 até o primeiro trimestre de 2019.

Pela tabela, entre o primeiro trimestre de 2018 e o primeiro trimestre de 2019, a variação percentual nacional foi pequena (0,1 pontos percentuais) entre os jovens de 18 a 24 anos. No caso da região sul, a queda foi maior (0,6 pontos percentuais a menos) para o mesmo grupo etário.

77 Por ocupação, a pesquisa PNAD define que pessoas ocupadas são: “São classificadas como ocupadas na semana

de referência as pessoas que, nesse período, trabalharam pelo menos uma hora completa em trabalho remunerado em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios (moradia, alimentação, roupas, treinamento etc.), ou em trabalho sem remuneração direta em ajuda à atividade econômica de membro do domicílio ou parente que reside em outro domicílio, ou, ainda, as que tinham trabalho remunerado do qual estavam temporariamente afastadas nessa semana. Consideram-se como ocupadas temporariamente afastadas de trabalho remunerado as pessoas que não trabalharam durante pelo menos uma hora completa na semana de referência por motivo de férias, folga, jornada variável ou licença remunerada (em decorrência de maternidade, paternidade, saúde ou acidente da própria pessoa, estudo, casamento, licença-prêmio etc.). Além disso, também foram consideradas ocupadas as pessoas afastadas por motivo diferente dos já citados, desde que o período transcorrido do afastamento fosse inferior a quatro meses, contados até o último dia da semana de referência” (IBGE, 2019, p. 2).

106 60 1 0 50 100 150

Tabela 39 - Distribuição das pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas, na semana de referência, por grupos de idade, segundo as Grandes Regiões (2012 - 2019)

Fonte: PNAD – Primeiro trimestre de 2019

No que se refere ao trabalho precarizado dos jovens, um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a juventude brasileira, no período entre 2001 e 2013, indicava que a inserção do jovem no mercado de trabalho naquele momento já era complicada pela alta taxa de desemprego, baixa qualidade e alta rotatividade presente. Segundo Corseuil; Franca; Poloponsky (2016), a alta prevalência de emprego informal entre os jovens tornava-se preocupante pela precarização da relação de trabalho, a proteção social deficiente e o prejuízo na trajetória profissional do sujeito. Segundo os autores, o jovem que ingressava no mercado de trabalho com uma ocupação informal possuía um crescimento de salário menor do que o jovem que ingressava em um posto de trabalho formal, com os direitos sociais garantidos. Com

relação a taxa de informalidade entre jovens de 2001 a 2013, os autores apresentam as seguintes informações:

Gráfico 31 - Taxa de informalidade dos jovens entre 2001 e 2013 por faixa etária

Fonte: CORSEUIL; FRANCA; POLOPONSKY (2016)

Quando se divide a análise por faixas etárias, a população de 15 e 17 anos torna-se a faixa de idade que mais sofre com o trabalho informal. Já as faixas etárias dos jovens que responderam ao questionário (de 18 a 24 anos) possuíam menos índices de informalidade. A medida que o jovem vai se tornando adulto, as taxas vão diminuindo. Porém, quando se observa a partir do gênero ou da cor/etnia, os dados são distintos.

Gráfico 32 - Informalidade por GÊNERO entre 2001 e 2013

Gráfico 33 - Informalidade por RAÇA/COR entre 2001 e 2013

Fonte: CORSEUIL; FRANCA; POLOPONSKY (2016)

Sobre o gênero, de 2004 a 2009 as taxas de informalidade foram diminuindo. Porém, as mulheres nesse período tinham índices de informalidade maiores que os homens. A partir de 2011 até 2013 essa questão se inverteu e foram os homens que tiveram mais empregos informais. No que concerne a cor/etnia, mais uma vez os afro-brasileiros e indígenas se encontram em uma situação desfavorável. Mesmo que no período estudado tenha ocorrido uma queda no percentual de informalidade, as ocupações mais precárias e com menos direitos assegurados ficaram com os negros, pardos e indígenas. A diferença chega a dezessete pontos percentuais em 2001 entre ocupações informais dos brancos e amarelos com relação a ocupações informais dos negros, pardos e indígenas. Não se pode deixar de mencionar que esses dados vão até 2013. Ainda não havia ocorrido o golpe78 de 2016 e a aprovação de leis que

flexibilizam as relações trabalhistas. Dessa forma, infere-se que esses jovens podem estar em situações mais precarizadas de serviços atualmente do que em 2013.

A última questão dessa seção perguntava se o jovem trabalhava ou estagiava enquanto estava matriculado no ensino médio.

78 Em 2016, a presidenta eleita democraticamente Dilma Rousseff sofreu um processo de impeachment que

resultou na cassação do seu mandato. Em seu lugar ficou o vice-presidente Michel Temer. As acusações versaram sobre desrespeito à lei orçamentária e à lei de improbidade administrativa por parte da presidente, além de lançarem suspeitas de envolvimento da mesma em atos de corrupção na Petrobrás, que eram objeto de investigação pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava Jato. Dilma foi retirada do governo, porém não ficou impedida de se candidatar novamente a cargos públicos.

Gráfico 34 - Trabalhava ou estagiava durante o ensino médio

Fonte: elaboração da autora

Noventa e nove sujeitos responderam que tinham alguma atividade que resultava em remuneração enquanto estavam no ensino médio (cerca de 59,3% do total). Essa porcentagem vai ao encontro do que Dayrell e Carrano (2014) afirmam sobre os jovens brasileiros. De acordo com os autores, boa parcela dos jovens no Brasil trabalha ou possui alguma atividade remunerada, pois esse dinheiro pode contribuir tanto no sustento da família quanto na possibilidade de ter um “dinheiro para si”. Muitos jovens utilizam essa remuneração para comprar produtos que estão na moda ou usufruírem de espaços sociais que demandam gastos, como festas, cinemas ou restaurantes. Dessa forma, a juventude brasileira é uma juventude que trabalha e estuda, distanciando-se dessa ideia de juventude como espaço para somente estudar e ter uma vida mais tranquila, sem compromissos trabalhistas.

Sobre os entrevistados, sete jovens confirmaram que estagiavam ou trabalhavam na época da escola e oito responderam que não exerciam atividade remunerada. Uma das jovens que não trabalhava na época da escola e também não possuía nenhuma bolsa-auxílio era Valentina. Sua mãe trabalhava na higienização do Hospital de Clínicas e também realizava faxinas fora do turno de serviço. Apesar das dificuldades, havia um desejo de que seus filhos (Valentina e os irmãos) somente estudassem para ter um bom desempenho escolar. A jovem comentou na entrevista sobre esse esforço da mãe em manter os filhos somente estudando:

Pesquisadora: Mas assim, ao longo da tua vivência, da tua infância, ela era mais dona de casa ou ela trabalhava?

Valentina: Da vivência...é tipo... da vivência da minha irmã, ela era eu acho que mais dona de casa, mas depois que ela se separou do pai dela...ela...trabalhava fora...ficava muito...eu ficava muito com meu irmão...Aí ela e a minha irmã mais velha trabalhavam, ela tinha acho que, sempre teve, eu acho que uns 2, 3 empregos, uma coisa assim...

[...]

Valentina: Ela cuidava de criança...Trabalhava de...ela trabalha ainda aqui na higienização do Clínicas...Eeeeee fazendo faxina também...

Pesquisadora: por fora, assim... Valentina: por fora.

Pesquisadora: Bah, trabalho pesado...

Valentina: Ela sempre trabalhou bastante assim...que ela queria que a gente estudasse...então ela "Não, eu não quero que vocês se preocupem, eu quero que vocês

99 67 1 0 50 100 150

vão estudando"...aí...[risada]...meus irmãos meio que... [risada] (VALENTINA, 2018).

Pode-se pensar nesse exemplo da Valentina a partir de Bourdieu e Passeron (1992) através da boa vontade cultural e dos esforços que as classes com menos capitais realizam para que seus filhos permaneçam estudando e tenham um resultado positivo. No caso de Valentina, sua dedicação oportunizou conquistar a vaga no primeiro vestibular da UFRGS que a garota realizou, passando direto da escola básica para o ensino superior.

A próxima seção abordará questões sobre planejamento, projetos e futuro desses jovens, buscando entender como esses sujeitos se imaginam futuramente e o que gostariam de estar vivendo.