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4.2. APRESENTANDO OS RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ONLINE

4.2.2. Sobre os responsáveis desses jovens

A terceira seção se chamava “Sobre sua família” e foi pensada a partir dos estudos de Pierre Bourdieu. A ideia era conhecer a profissão e a escolaridade dos responsáveis quando o jovem respondente era criança para pensar na família enquanto instituição socializadora primária e construtora do habitus desse sujeito. O habitus é uma construção social que permanece em transformação ao longo da vida dos indivíduos, porém seus primeiros arranjos começam pela família, que através dos costumes, exemplos, conversas e ensinamentos vai transmitindo e construindo esse habitus na criança. Karl Maton (2018) argumenta que o habitus é estruturado pelas condições materiais de existência e também pelo campo em que os atores estão inseridos, já que os espaços sociais também são estruturados e estruturantes e nessa relação entre estruturas ou conjunto de princípios organizadores é que se originam as práticas dos atores. Segundo o autor:

Portanto, as práticas não são simplesmente o resultado de nosso habitus, e sim de relações entre nosso habitus e nossas circunstâncias atuais. Dito de outro modo, nós não podemos compreender as práticas dos atores em termos apenas de seus habitus – o habitus representa simplesmente uma parte da equação; a natureza dos campos onde ele está ativo é igualmente crucial (MATON, 2018, p. 76, grifo do autor)

Para Pierre Bourdieu, o processo educativo de uma criança está relacionado ao habitus e capitais que ela possui a partir das pessoas que a cuidam, de sua família próxima. Se os responsáveis possuírem uma escolaridade maior, conhecerem e compreenderem como uma escola funciona, há uma tendência de que a criança seja bem-sucedida em seu processo escolar71. Esse sucesso é decorrente das antigas experiências dos familiares, do capital escolar adquirido, da compreensão do linguajar e da rotina escolar e da subordinação da rotina familiar à rotina educacional, entre outros fatores. Sobre isso, Bourdieu e Passeron argumentam no livro “A Reprodução”:

Se é verdade que a relação que um indivíduo mantém com a Escola e com a cultura que ela transmite é mais ou menos “desembaraçada”, “brilhante”, “natural”, “laboriosa”, “tensa” ou “dramática”, segundo a probabilidade de sua sobrevivência no sistema, e se se sabe, por outro lado, que em seus veredictos o sistema de ensino e a “sociedade” levam em conta a relação com a cultura tanto quanto a cultura, vê-se tudo que se deixa de compreender quando não se recorre ao princípio da produção das diferenças escolares e sociais mais duráveis, isto é, o habitus – esse princípio gerador e unificador das condutas e das opiniões que é também o seu princípio explicativo, já que tende a reproduzir em cada momento de uma biografia escolar ou intelectual o

71 Não se pode esquecer que Bernard Lahire (1997) organiza um estudo em que busca as exceções de sucesso

escolar em meios populares, quando se percebe que os responsáveis não possuem capital escolar suficiente, mas seus filhos conseguem ter bons desempenhos educacionais.

sistema das condições objetivas de que ele é o produto (BOURDIEU; PASSERON, 1992, p. 170-171).

Devido a essas questões teóricas, essa seção e a próxima abordam aspectos educacionais. Além disso, essa terceira parte questionava sobre filhos, se os jovens já seriam pais ou mães. Com relação aos entrevistados, nenhum deles possui filhos. A maioria dos respondentes também não gerou descendentes até o momento, como se pode observar através do gráfico abaixo.

Gráfico 17 - Presença de filhos

Fonte: elaboração da autora

Do total de respondentes, somente dez jovens possuem filhos. Desses, apenas uma jovem afirmou ter dois filhos (um de três anos e outro que estava a caminho no período em que ela respondeu às perguntas), os demais possuem um filho ou filha. Outra curiosidade encontrada nesse pequeno grupo de pais jovens: entre os dez sujeitos que são progenitores, há um casal de alunos que se conheceu no Colégio Godói. O pai possui vinte anos, branco, reside em Porto Alegre, se diz casado ou vivendo com uma companheira, afirma ganhar entre um e dois salários mínimos. A mãe possui dezenove anos, branca, se diz casado ou vivendo com um companheiro e afirma ganhar até um salário mínimo. Eles são um dos três casais que se conheceram na escola.

Já as demais respondentes são mulheres entre 20 e 24 anos. Uma reside em Alvorada, outra em Eldorado do Sul e as demais seis moram em Porto Alegre. Entre elas, três não residem com os pais das crianças, porém com a sua família (sendo que duas famílias não possuem a presença paterna também). A maioria delas vive com uma renda de até dois salários, apenas uma respondente vive com uma renda superior a R$ 3.000,00 (US$ 750). A tabela a seguir

157 10 0 50 100 150 200 Não Sim

apresenta informações mais detalhadas sobre essas jovens, salientando que o casal de antigos alunos não aparece.

Tabela 36 - Informações sobre as mulheres que são mães

Idade Cor/Etnia Reside com Local de

residência

Renda

Mulher 1 21 anos Branca Marido e filha Eldorado do

Sul

R$ 1.908,00 a R$ 2.862,00 (US$ 477 a US$

715.50)

Mulher 2 20 anos Parda Esposo Porto Alegre R$ 954,00 a R$

1.908,00 (US$ 238.50 a

US$ 477)

Mulher 3 22 anos Branca Marido e filha Porto Alegre Mais que R$

3.816,00 (US$ 954)

Mulher 4 22 anos Branca Mora com os pais Porto Alegre R$ 954,00 a R$

1.908,00 (US$ 238.50 a

US$ 477)

Mulher 5 23 anos Branca Marido e filha Porto Alegre R$ 954,00 a R$

1.908,00 (US$ 238.50 a

US$ 477)

Mulher 6 22 anos Negra Pais, irmã e filho de

três anos (grávida novamente) Porto Alegre R$ 954,00 a R$ 1.908,00 (US$ 238.50 a US$ 477)

Mulher 7 24 anos Branca Mãe, padrasto e

irmãos

Porto Alegre R$ 954,00 a R$

1.908,00 (US$ 238.50 a

US$ 477)

Mulher 8 21 anos Branca Marido e filha Alvorada R$ 2.862,00 a R$

3.816,00 (US$ 715.50 a

US$ 954) Fonte: elaboração da autora

O gráfico de número 18 indica a escolaridade dos responsáveis do jovem. Pelas respostas foi possível inferir que nem todos os sujeitos responderam pensando no momento da infância. Alguns comentaram a escolaridade dos responsáveis no momento atual. Infelizmente, não foi possível diferenciar de maneira clara quais respostas remetiam ao passado e quais se referiam ao momento atual.

Gráfico 18 - Escolaridade dos responsáveis

Fonte: elaboração da autora.

Para a construção desse gráfico, foram analisadas 228 respostas. Como havia a possibilidade de marcar mais de uma opção, o número ultrapassou os 167 respondentes. A maior parcela dos responsáveis (44,3%) concluíram o ensino médio (2º grau). Interessante perceber que essa escolaridade foi alcançada ou até superada por esses jovens. De certa maneira é possível pensar que as vivências escolares dos mais velhos contribuíram para as trajetórias escolares desses sujeitos que estavam matriculados no Colégio Godói e concluíram a educação básica.

Retomando argumentos de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (1992), o habitus primário é construído pela família. Se esse núcleo familiar possui experiências e memórias favoráveis do processo de escolarização, essas vivências podem influenciar a maneira que esse jovem entende e valoriza o processo educativo. Sendo assim, pode haver a “boa vontade cultural” e a “docilidade escolar” que os autores afirmam existir nas camadas médias da sociedade, pois esse grupo compreende a escola e os diplomas como uma possibilidade de crescimento e ascensão social. O capital escolar torna-se uma oportunidade de conseguir melhores colocações dentro dos campos em que esses agentes estão inseridos72. Mesmo que

72 Posteriormente, Pierre Bourdieu e Patrick Champagne (1997) escreveram o texto “Os excluídos do interior” em

que atualizam algumas argumentações apresentadas no livro “A Reprodução”, com relação à desvalorização dos diplomas, a facilidade de aprovação dentro do sistema educacional francês que promove uma exclusão “branda” dos estudantes que não estariam preparados o suficiente para prosseguir nos estudos e conquistar melhores oportunidades educacionais, a violência física e verbal por parte dos estudantes que percebem que os diplomas e

1 0 20 49 101 25 27 3 2 0 20 40 60 80 100 120 Não sei Nenhuma escolaridade - analfabeto. Ensino fundamental / 1º grau completo Ensino fundamental / 1º grau INCOMPLETO Ensino médio / 2º grau completo Ensino médio / 2º grau INCOMPLETO Ensino superior / faculdade Pós-graduação Outro

algumas respostas sejam do momento atual, em que houve uma procura por outros cursos, faculdades, ou pela continuidade dos estudos básicos, essa preocupação em investir na área educacional permanece presente no núcleo familiar.

Também é possível perceber que quarenta e nove pessoas não finalizaram nem o ensino fundamental (1º grau), representando 21,5% do total. Nesse sentido, houve um crescimento educacional entre gerações, pois os novos sujeitos finalizaram a educação básica. Além disso, podem estar matriculados em cursos técnicos ou superiores. No caso dos entrevistados, três indicaram que tinham familiares que não finalizaram o ensino fundamental (Ana, Beatriz e Mateus). Contudo, os três jovens estão dando continuidade a seus estudos: Ana está em um curso técnico de panificação no IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul), Beatriz cursa a faculdade de Jogos Digitais em uma instituição privada e Mateus cursa Ciências Biológicas na UFRGS.

Voltando ao questionário, duas pessoas escreveram outras respostas, indicando diferentes interpretações para a pergunta “Qual o grau de escolaridade das pessoas que eram responsáveis por você enquanto criança?”. Uma pessoa respondeu “Segundo Grau completo, atualmente cursando o ensino superior”, indicando essa troca de temporalidade presente entre a pergunta e a resposta. Outro sujeito respondeu que “Ambos fizeram cursos técnicos”.

Ao analisar as respostas, foi possível perceber que uma combinação de escolaridade aconteceu repetidamente. Dezoito jovens assinalaram que seus responsáveis tinham o ensino médio (2º grau) completo e o ensino fundamental incompleto (1º grau). Essa combinação vai ao encontro do gráfico, pois essas duas opções foram as mais marcadas. Interessante pensar que esses dezoitos jovens tinham como exemplos familiares uma pessoa que encerrou o ciclo básico de estudos e, ao mesmo tempo, outra pessoa que não conseguiu terminar o fundamental. Nesse aspecto, Bernard Lahire (1997) ressalta que os casos de “sucesso” escolar73 podem ser explicados através de um leque de hipóteses, sendo necessário um estudo sobre a estrutura familiar em que se encontra a criança. No entanto, uma configuração familiar estável, com

os estudos não vão oportunizar melhores condições de vida (como antigamente oportunizariam), entre outros aspectos.

73 Lahire (1997) organizou uma pesquisa em que pretendia analisar o sucesso escolar nos meios populares. Para

isso, o autor selecionou para sua pesquisa 27 crianças que estavam na segunda série do primeiro grau da França na década de 1990. Este pesquisador procurou compreender as famílias dessas crianças (que se caracterizavam por ter um chefe de família com capital escolar fraco e uma situação econômica modesta) e a maneira como se constituíram mecanismos que influenciam no sucesso ou fracasso escolar. Ao contrário de Pierre Bourdieu, este autor procura os casos de exceção, que não estão inseridos nas tendências estatísticas de uma parcela da sociedade.

relações sociais frequentes e duráveis entre os membros da família, contribui para uma configuração que favorece o sucesso na escola:

Através de uma presença constante, um apoio moral ou afetivo estável a todo instante, a família pode acompanhar a escolaridade de uma criança de alguma forma (por exemplo, através de um autoritarismo meticuloso ou uma confiança benevolente). Neste caso, a intervenção positiva das famílias, do ponto de vista das práticas escolares, não está voltada essencialmente ao domínio escolar, mas a domínios periféricos.

Moral do bom comportamento, da conformidade às regras, moral do esforço, da perseverança, são esses os traços que podem preparar, sem que seja consciente ou intencionalmente visada, no âmbito de um projeto ou de uma mobilização de recursos, uma boa escolaridade (LAHIRE, 1997, p. 26).

Com relação aos entrevistados, o número total de respostas também superou a quantidade de sujeitos: foram 20 respostas sobre a escolaridade dos responsáveis. Para essa questão, foi elaborado um gráfico específico.

Gráfico 19 - Escolaridade dos responsáveis dos jovens entrevistados

Fonte: elaboração da autora

Seguindo as demais respostas do questionário online, metade dos responsáveis pelos jovens entrevistados concluíram o ensino médio (segundo grau). Laura e Ricardo apontaram que dois responsáveis tinham curso superior. Mais uma vez, volta-se a questão da pergunta e as possibilidades de interpretação de quem responde: o pai de Ricardo não finalizou a faculdade de educação física, mas cursava enquanto ele era criança (tanto que Ricardo frequentava as

3 3 10 2 2 0 2 4 6 8 10 12

Ensino fundamental / 1º grau completo Ensino fundamental / 1º grau INCOMPLETO Ensino médio / 2º grau completo Ensino médio / 2º grau INCOMPLETO Ensino superior / faculdade

aulas junto com o pai). Já o pai de Laura finalizou a faculdade de administração depois um longo tempo, como surge no trecho da entrevista a seguir:

Laura: O pai sim, a muito tempo atrás...a mãe não chegou a fazer a faculdade...terminou o ensino médio, mas não chegou a fazer a faculdade...e o pai fez daquele jeito...ele diz que passou 8 anos fazendo administração com um caderno só...[risos]...não era uma pessoa muito aplicada...

Pesquisadora: Mas ele se formou?

Laura: É. Ele se formou, mas se formou por...assim né... Pesquisadora: E ele fez onde?

Laura: Ah, eu acho que... nem me lembro onde é que foi, acho que foi lá em [CIDADE DO INTERIOR DO RS]...ou foi aqui...não sei...

Pesquisadora: Ele é de lá?

Laura: A mãe é de lá... E aí depois que ele foi pro quartel aí ele...foi pra lá porque ele queria sair de casa e tal, ele tinha problema com o vô, enfim. Daí eles se conheceram lá, inclusive, eu acho que foi lá que ele fez a faculdade, mas não tenho muita certeza... Mas foi...não foi nada de destaque, assim, ele fez pra “Ei, tô formado! Deu!”... (LAURA, 2018)

Com relação à combinação encontrada várias vezes “ensino médio (2º grau) completo e o ensino fundamental incompleto (1º grau)”, dos entrevistados somente Ana indicou essa possibilidade. Ela se refere a sua avó, que não concluiu os estudos, e a sua mãe que finalizou o ensino médio. Além da avó de Ana, os pais de Beatriz e o pai de Mateus não concluíram os estudos. Letícia e Bernardo indicaram que seus responsáveis não concluíram o ensino médio, já Fernando, Vítor e Mateus afirmaram que seus responsáveis terminaram o ensino fundamental. No caso de Mateus, sua mãe foi quem finalizou o ensino fundamental.

Outro questionamento que gerou respostas distintas foi “Qual a profissão/ocupação das pessoas que eram responsáveis por você enquanto criança?”. Mais uma vez o aspecto da infância foi compreendido por alguns, porém não todos. Essa pergunta não tinha opções, portanto, foram diferentes respostas elencadas e analisadas. A maioria dos jovens responderam sobre as profissões dos pais ou somente das mães. Entretanto, também apareceram avós e irmãos. Para essa análise foram construídas duas tabelas: uma extensa, apresentando todas as 167 respostas, e está em anexo ao final do trabalho (ANEXO 3).

A outra tabela encontra-se abaixo e foi elaborada a partir da contagem das profissões que foram mencionadas mais de uma vez pelos jovens. Esta tabela é composta de três colunas, sendo a primeira com as profissões que apareceram mais de uma vez, a segunda coluna indica a quantidade de vezes que essas profissões foram mencionadas pelos jovens e, por fim, se havia alguma especificidade na profissão. Observe a seguir:

Tabela 37 - Profissões dos responsáveis que surgiram mais de uma vez no questionário Profissão/ocupação Quantidade Especialidade / Especificação

Não respondeu 6

Doméstica / Empregada /

Empregada Doméstica / Diarista

21 Enfermagem 9 Enfermeira – 2 Técnica de Enfermagem – 5 Auxiliar de Enfermagem – 2 Motorista / Taxista 12 Metalúrgico 4

Dona de casa / Do lar 18

Autônomo(a) 9

Aposentado(a) 9

Professor(a) / Pedagoga(o) 10

Comerciante 9

Técnico 9 Sem especificação – 2

Eletrônica – 2 Manutenção – 2 Químico – 1 Laboratorial – 1 Refrigeração – 1 Caminhoneiro / Carga e descarga de caminhão 3 Cabeleireira 2 Babá 2

Cuidadora 4 Sem especificação – 2

De idosos – 2

Assistente Administrativo 2

Empresário(a) 5

Mecânico 2 Sem especificação – 1

Aeronáutico – 1

Carteiro 2

Vendedor(a) 11

Gerente 5 Sem especificação – 1

Loja – 2 Comercial – 1 Padaria – 1

Secretária 5 Sem especificação – 4

Secretária Executiva – 1

Auxiliar 12 Saúde Bucal – 1

Administrativo – 5 Escritório – 1 Creche – 2 Produção – 2 Higienização – 1 Operadora de Telemarketing 4 Vigilante 5 Segurança 3 Contador(a) 3 Eletricista 2 Corretor de Imóveis 2

Servidor ou Funcionário Público 3

Carpinteiro 4

Serviços Gerais 7

Pedreiro 2

Fonte: elaboração da autora

De todos os sujeitos, seis não responderam. A profissão mais mencionada foi "Doméstica / Empregada / Empregada Doméstica / Diarista" com 21 respostas. Esses termos foram elencados na mesma opção, pois foram considerados sendo da mesma ocupação relacionada à limpeza e à higiene. Outro cargo que aparece nessa área foi uma "auxiliar de higienização" que foi contabilizada na categoria "auxiliar", mas também trabalha com limpeza de ambientes.

Comparando respostas, a pergunta sobre quem residia com o jovem apresentou uma presença feminina importante da mesma forma que essa questão sobre a ocupação dos responsáveis. As domésticas foram as profissões mais mencionadas, sendo que a segunda ocupação foi "dona de casa / do lar" (com 18 menções). Continuando com as profissões socialmente consideradas femininas, temos enfermagem (9), professora / pedagoga (10), cabeleireira (2), babá (2), cuidadora (4), secretária (5) e costureira (2). Mesmo que as respostas apresentem professores (pais ou responsáveis do sexo masculino), temos uma quantidade maior de profissões femininas elencadas na tabela (somando as mencionadas acima com as domésticas e as donas de casa, temos 73 referências no total). Quando contabilizamos profissões socialmente consideradas masculinas, temos 46 menções: motorista / taxista (12), metalúrgico (4), caminhoneiro / carga e descarga de caminhão (3), mecânico (2), carteiro (2), vigilante (5), segurança (3), eletricista (2), carpinteiro (4), serviços gerais (7), pedreiro (2).

Através da tabela é possível perceber que as profissões mencionadas não são as que possuem a melhor remuneração ou prestígio social. A prestação de serviços predomina, como motorista / taxista, caminhoneiro, babá, cuidadora, vigilante, segurança, carpinteiro, serviços gerais, pedreiro, etc. Infelizmente, não existe a possibilidade de saber se essas pessoas que prestam serviços estavam empregadas com carteira assinada e direitos trabalhistas garantidos ou se viviam “de bicos”, ganhando a vida de maneira autônoma a partir da demanda de serviços que apareciam para eles. Por exemplo: um jovem de 22 anos afirmou que seus pais não tinham o fundamental completo e que o pai era motorista de ônibus e a mãe doméstica. Esse motorista estava empregado. Por outro lado, quem indicou que o pai era carpinteiro não apresentou maiores informações. Poderia haver autônomos que trabalhavam em casa, bem como poderiam ter aqueles que trabalhavam em uma carpintaria. Não há certeza.

A planilha também apresenta profissionais que possuem alguma especialização, técnico ou graduação. Professores, enfermeiras, técnicas de enfermagem, metalúrgicos, técnicos em eletrônica são alguns exemplos de ocupações que necessitam de formação específica. Podem não ser as ocupações com as melhores remunerações, contudo alguns desses responsáveis poderiam ter salários melhores que aqueles que indicaram ser prestadores de serviços.

Cinco jovens mencionaram que seus responsáveis eram empresários, sem mencionar a área ou o porte da empresa74. Algumas respostas ficaram ambíguas ou indefinidas, como: aposentado, autônomo, gerente, servidor ou funcionário público. Aposentado não seria uma ocupação, mas um momento da vida que a pessoa está recebendo o retorno do seu investimento na previdência social. Os autônomos podem ser de diferentes ocupações, ficando indefinido e se tornando uma categoria em si. Somente uma pessoa não especificou a empresa que um gerente trabalha, os demais especificaram.

Duas respostas chamaram a atenção por destoar das demais profissões. Uma jovem de 22 anos, que faz faculdade presencial, viajou para fora do país e atualmente mora em outro estado, afirmou que seu pai era mecânico aeronáutico e sua mãe dona de casa. Inclusive essa profissão paterna vai reverberar nas escolhas para o futuro dessa jovem, que em outro momento do questionário afirmou que gostaria de trabalhar com projetos aeronáuticos. Outra jovem, também com 22 anos, que mora com os pais, e atualmente frequenta o curso de Relações Internacionais da UFRGS, mencionou que seus responsáveis eram “Secretária executiva e professor de pós-graduação”. O ensino fundamental dessa jovem foi um pouco em escola pública e particular. O ensino médio foi todo no Colégio Godói.

Sobre os entrevistados, foi organizada uma tabela apresentando as respostas para essa questão.

Tabela 38 - Profissões dos responsáveis apresentada pelos jovens entrevistados

Entrevistado Respostas

Ana

Minha vó era babá e minha mãe não tinha emprego fixo

Bruna

Minha mãe era funcionária do Sine

Beatriz Caseiros

Bernardo Gerente de loja e Vendedora

Fernando

Meu pai metalúrgico e minha vendedora

Vítor Comerciantes/Serviços Gerais

74 Com exceção de um jovem de 22 anos, que reside com os pais e irmão em Alvorada, que afirmou que seus pais

Júlio Serviços Gerais e líder de equipe

Lucas Securitária e eletricitário

Letícia Motorista/Diarista

Laura Comerciante (pai)

Mateus

Quando criança, minha mãe trabalhava como dona de casa, ela não tinha emprego. De vez em quando, ela fazia faxinas.

Meu pai trabalhava como

vigilante.

Natália Manicure

Ricardo

Meu pai era vendedor de serviços em transportes aéreos. Minha mãe cuidava de casa e de mim.

Virgínia Cobradora de ônibus

Valentina Auxiliar de higienização