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conceitos importantes para a teoria de Pierre Bourdieu. Em seguida, analisou-se alguns aspectos sobre o campo desta pesquisa: o ensino médio brasileiro, apresentando reflexões de diferentes autores sobre a escola e a trajetória do ensino secundário nacional a partir da década de 2010.

De alguma forma essa tendência tecnicista e de formação de mão de obra permanece na reforma do ensino médio de 2017.

Agora, esta seção pretende apresentar alguns dados nacionais, estaduais e municipais sobre o ensino médio de maneira a contribuir nas análises do campo e para contextualizar posteriormente os dados elaborados para o Colégio Estadual Cândido José de Godói. As informações relacionadas ao ensino médio foram obtidas através do Anuário Brasileiro da Educação Básica36 e das Sinopses Estatísticas da Educação Básica organizadas pelo Inep37.

Sobre a taxa líquida de matrículas38 do ensino médio, o Anuário Brasileiro de 2017 e 2019 apresentaram os seguintes dados nacionais entre 2001 e 2018.

Gráfico 1 - Taxa líquida de matrículas no ensino médio entre 2001 e 2015 (%) – Brasil

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação da Educação Básica (2017)

36 O Anuário Brasileiro da Educação Básica é uma publicação anual organizada pelo movimento Todos pela Educação e pela Editora Moderna. Os dados publicados e analisados nessa edição são gerados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Ministério da Educação.

37 O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira é uma autarquia federal vinculada ao

MEC. Foi criado em 1937 e possui como missão contribuir para a elaboração de políticas educacionais nos diferentes níveis de governo para contribuir no desenvolvimento do país. As Sinopses Estatísticas da Educação Básica presentam dados referentes a estabelecimento, matrícula, função docente, movimento e rendimento escolar, para as diferentes modalidades de ensino brasileiras: Ensino Regular (Educação Infantil e Ensino Fundamental e Médio), Educação Especial e Educação de Jovens e Adultos. Os dados estão distribuídos de acordo com as regiões brasileiras e suas respectivas unidades da federação. Site: http://portal.inep.gov.br/sinopses-estatisticas-da- educacao-basica

38 A taxa líquida de matrículas é a divisão entre o número de matrículas de alunos com idade prevista para estar

Gráfico 2 - Taxa líquida de matrículas no ensino médio entre 2012 e 2018 (%) – Brasil

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação da Educação Básica (2019)

Quando comparamos os dados dos dois gráficos, acompanhamos um crescimento ao longo dos anos. Entre 2001 e 2015, o aumento na taxa líquida de matrículas foi de 21,5 pontos percentuais. Nos últimos anos o crescimento foi contínuo: comparando as diferenças entre as taxas de 2009 até 2015 (seis anos) a diferença percentual é de 7,8 pontos. Realizando o mesmo cálculo para o gráfico 2, entre 2012 e 2018 a diferença foi de 7,7 pontos percentuais. Porém, a taxa líquida de matrículas no Brasil para o ensino fundamental no mesmo período é superior a 90%, indicando que para o ensino médio há uma diminuição no público estudantil.

Os próximos dois gráficos indicam a taxa de atendimento dos jovens entre quinze e dezessete anos que estão na escola independente da série.

Gráfico 3 - Taxa de atendimento de jovens entre 15 e 17 anos entre 2001 e 2015 (%) – Brasil

Gráfico 4 - Taxa de atendimento de jovens entre 15 e 17 anos entre 2012 e 2018 (%) – Brasil

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação da Educação Básica (2019)

Quando se analisa a taxa de atendimento escolar dos jovens com idade para o ensino médio (entre 15 e 17 anos), é possível perceber que os jovens estão dentro da escola, mas não na etapa educacional esperada. Podem estar retidos no ensino fundamental, bem como inscritos em outras modalidades de ensino, como a Educação de Jovens e Adultos (EJA). No gráfico 4 indica que o ano de 2016 foi o primeiro a registrar uma porcentagem acima de 90% dos jovens entre 15 e 17 frequentando a escola.

A taxa líquida de matrículas se modifica quando se consideram aspectos econômicos ou raciais. Os Anuários Brasileiros analisados apresentaram dados sobre esses recortes sociais nos anos de 2015, 2017 e 2018. Observe os gráficos abaixo:

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica (2017)

Gráfico 6 - Taxa líquida de matrículas no Ensino Médio (%) – Brasil – 2017 e 2018

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica (2019)

De acordo com o gráfico 5, para os 25% mais ricos do país, a taxa líquida de matrículas para o ensino médio sobe 23,9 pontos percentuais além da média nacional (de 62,7% para 86,6%). Como essa parcela populacional em sua maioria é branca, se observa uma taxa líquida de matrículas superior para brancos do que para pretos e pardos. Quando se considera a parte da população mais pobre, o acesso ao ensino médio diminui, tendo uma diferença de 10,2 pontos percentuais abaixo da média nacional (de 62,7% para 52,5%). À vista disso, mesmo que a taxa líquida de matrículas tenha aumentado com o passar dos anos, pois em 2001 o índice era de 41,2% e em 2015 passou para 62,7%, é necessário estar ciente que esses números se modificam quando são relacionados com aspectos econômicos e raciais. Quando se compara as taxas entre os gráficos, é possível perceber um aumento em todas as porcentagens, porém não houve uma mudança estrutural: brancos e ricos continuam acima da média nacional.

Com relação ao Rio Grande do Sul, essa taxa líquida de matrículas, para o período entre 2001 e 2015, variou menos (11,9 pontos percentuais), conforme a tabela abaixo:

Tabela 4 - Taxa líquida de matrículas (%) – Rio Grande do Sul

Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

Taxa 48,3 50,3 52,8 56,4 53,1 55,3 53,8 55,6 55,8 55,3 54,3 58,7 59,2 60,2

Comparando as taxas estaduais com as nacionais, até 2009 o Rio Grande do Sul possui uma taxa líquida de matrículas maior que a nacional. A partir de 2011 até 2015, houve uma inversão e a taxa nacional superou a estadual.

O Anuário Brasileiro apresenta duas tabelas sobre algumas possibilidades de estudo dos jovens entre 15 e 17 anos para os anos de 2015 e 2018. Seguem abaixo:

Tabela 5 - Jovens entre 15 e 17 anos que estão matriculados ou que estão fora da escola – 2015

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica (2017)

Tabela 6 - Jovens entre 15 e 17 anos que estão matriculados ou que estão fora da escola – 2018

Comparando as tabelas, percebe-se que a população nessa faixa etária diminuiu entre os anos. Da mesma forma, a porcentagem relativa dos jovens que estão matriculados no ensino fundamental aumentou, sendo que em 2015 eram 18% do total e em 2018 representavam 18,7% do total. Importante destacar que o ensino fundamental de nove anos iniciou em 2007, ou seja, em 2015 era o último ano do ensino fundamental de oito anos. A partir de 2016, passou a existir o nono ano e o estudante pode finalizar o ensino fundamental com quinze anos completos (o que contribuiria para o aumento da porcentagem dos matriculados nessa etapa de ensino).

Os estudantes do ensino médio também aumentaram, passando de 56,4% do total em 2015 para 63,1% do total em 2018. Os estudantes inscritos na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), tanto de fundamental quanto de médio, também aumentaram alguns pontos percentuais entre os dois anos. Esse aumento no público estudantil reduziu a porcentagem dos jovens que não estudam e não concluíram o ensino médio (passando de 14,6% em 2015 para 8% do total de jovens em 2018). Da mesma forma, diminuiu a quantidade de jovens que não estudam, mas finalizaram a educação básica (em 2015 eram 6,6% e em 2018 baixou para 5,3%). Pode-se pensar nessa parcela juvenil que não está mais estudando como pertencente à “geração nem-nem”39, sujeitos entre 15 e 29 anos que não estão estudando e também não estão

no mercado de trabalho. Com relação ao termo, Mariléia Silva (2016) ressalta o julgamento moral que pode estar atrelado ao “nem-nem”, como se os jovens não estivessem preocupados em estudar ou trabalhar, vinculando, mais uma vez, a juventude como um tempo de moratória social, sem responsabilidades com o futuro.

Começaríamos com a ideia representada de que poderia se tratar de uma geração nem isso, nem aquilo, ou seja, jovens que nada fazem: não tomam iniciativa, não são proativos, desistem com facilidade e, por suposto, estariam na contramão do discurso da empregabilidade (SILVA, 2016, p. 122, destaque da autora).

A autora continua argumentando que o “nem-nem” pode aludir à infantilidade e imaturidade, realizando o jogo de palavras entre “nem-nem” (nem estuda e nem trabalha) e “neném” (bebê, criança recém-nascida). Para seu estudo, Mariléia Silva (2016) utilizou dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem em Domicílio) de 2012, que indicava o seguinte quadro: a população jovem entre 15 a 29 anos que não trabalhava e nem estudava era 9,6 milhões de pessoas, representando 19,6% dessa população na respectiva faixa etária. Desses 9,6 milhões de sujeitos, 70,3% eram jovens mulheres, apontando uma questão de gênero nessa

39 Com relação ao termo “nem-nem”, há variantes em outros idiomas, por exemplo: ni-ni em espanhol ou NEET

parcela juvenil40. Outro aspecto dessa pesquisa que pode contribuir para a ideia de juventude irresponsável é que dos jovens “nem-nem”, 58,4% já tinham um ou mais filhos. Segundo a autora, isso poderia

[...] dar margem a condenar pela irresponsabilidade da procriação sem planejamento familiar, culminando no seguinte julgamento: a geração nem nem é constituída por aqueles que não desejam estudar e nem trabalhar, posto que ainda não amadureceram o suficiente ou não se atentaram aos novos desafios exigidos pelo mundo globalizado (SILVA, 2016, p. 123, destaque da autora).

No que concerne aos “nem-nem”, Adalberto Cardoso (2013) argumenta que esse fenômeno não pode ser tratado como algo novo, pois se trata do desemprego juvenil em larga escala. O autor destaca diferenças encontradas entre o contexto europeu e o brasileiro. Para a Europa, os dados utilizados foram da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) entre as décadas de 1990 e 2010. Segundo o autor, a partir da crise econômica de 2008, ocorreu um aumento dessa parcela “nem-nem” da população juvenil europeia. Os jovens de classe média foram afetados e perceberam que seus projetos de manter a condição social de seus pais (ou até melhorá-la) não iriam acontecer. Sendo assim, essa condição “nem-nem” foi vivida como forma de luta contra o neoliberalismo, surgindo diferentes movimentos de contestação e de melhorias de vida a partir de 2008 na Europa.

Já para o caso brasileiro, Cardoso (2013) afirma que a geração “nem-nem” é uma condição de permanência das desigualdades na sociedade brasileira. Utilizando-se de dados do IBGE, o autor destaca que os jovens “nem-nem” fazem parte de um problema estrutural que gera exclusão e desigualdade a longo prazo:

No Brasil, a recorrência no tempo da taxa “nem nem” de exclusão (que lhe confere um caráter estrutural) não produziu os mesmos protestos que na Europa, em parte porque ela afeta mais as classes subalternas e as famílias mais pobres. E é exatamente por essa razão que o país não pode considerar normal ou aceitável que um em cada dez de seus jovens do sexo masculino entre 18 e 25 anos esteja fora da escola e do mercado de trabalho. Essa proporção não é homogeneamente distribuída no território, sendo muito pior nas regiões e municípios mais pobres do país e, mais ainda, nas famílias de baixa renda. Isto é, a taxa “nem nem” de exclusão é maior nas regiões e famílias mais vulneráveis, e, nesse sentido, deve ser tratada como um dos elementos

centrais dessa vulnerabilidade (CARDOSO, 2013, p. 310).

40 Ismália Silva (2017) e Adalberto Cardoso (2013) argumentam que historicamente no país coube às mulheres o

trabalho não remunerado com relação aos cuidados da casa e dos filhos. Sendo assim, essa característica dificulta a entrada e a permanência da mulher no mercado de trabalho formal ou a sua continuidade nos estudos, principalmente quando elas são as únicas responsáveis pela criação dos filhos. Cardoso (2013) ressalta que mesmo quando se constitui uma família (e a mulher não está como única responsável), o companheiro pode perder o emprego ou ter um vínculo empregatício menos qualificado e instável, favorecendo que a mulher procure retornar ao mercado de trabalho ou continuar estudando para melhores oportunidades de emprego. Essa busca será em condições de desvantagens com as demais mulheres que não saíram do mercado de trabalho ou permaneceram estudando e naquele momento estão melhores qualificadas.

Importante salientar que Cardoso (2013) não concorda com o recorte etário utilizado pela OCDE, dos 15 aos 29 anos. O autor considera que não faz sentido comparar um jovem de 15 anos com outro de 29, pois os momentos biográficos, suas potencialidades e possibilidades são distintas. À vista disso, propõe que a faixa etária dos “nem-nem” seja pensada dos 18 aos 25 anos. Aos 18 anos, o sujeito estaria provavelmente com sua trajetória escolar finalizada e entrando no mercado de trabalho. Dessa forma, essa idade seria geradora

[...] das tensões e inseguranças típicas das transições biográficas cruciais, e que resulta em frustração de expectativas de emprego para boa parte deles ou, ainda, de inserção precária e insegura no mercado de trabalho (CARDOSO, 2013, p. 301).

A delimitação final de 25 anos justifica-se através da estabilidade nas taxas “nem-nem” observada pelo autor dos 25 aos 29 anos, como se a idade a partir desse momento perdesse influência:

Isto é, parece plausível imaginar que, na explicação da condição “nem nem”, ganham relevância características multidimensionais, extraetárias, relativas ao ambiente social mais geral em que os jovens passam a circular (CARDOSO, 2013, p. 301).

À vista disso, a faixa etária utilizada por Cardoso (2013) não abarca os estudantes do ensino médio. Contudo, pode-se pensar que esses sujeitos que aparecem nas tabelas estando fora da escola e não concluindo a educação básica, sofrem com as consequências dessa desigualdade estrutural assinalada pelo autor. Mesmo que a conclusão da educação básica não seja garantia de continuidade dos estudos ou de emprego digno, os jovens percebem que sem os certificados de conclusão dos ensinos fundamental e médio a possibilidade de encontrar um emprego se torna mais difícil, favorecendo o desemprego ou subemprego juvenil.

Deste modo, Adalberto Cardoso (2013) anuncia que combater a condição “nem-nem” dos jovens é combater um mecanismo gerador de exclusão e desigualdade a longo prazo. Para isso, o autor enumera caminhos possíveis, a partir de políticas públicas destinadas a esse grupo social, como: inclusão emergencial via mercado, por meio de políticas de renda, investimentos na educação, incentivos aos jovens para que permaneçam na escola, políticas de cotas para o ingresso nas universidades e ensino técnico, acessibilidades para portadores de necessidades especiais, educação sexual de maneira a evitar gravidez na adolescência e investimentos de empregos de qualidade. Essas políticas a longo prazo desativariam esse mecanismo gerador de desigualdades na sociedade brasileira.

O Anuário Brasileiro de 2017 apresenta a porcentagem de jovens de 19 anos que finalizaram a educação básica entre 2001 e 2015. A tabela abaixo apresenta os dados nacionais e estaduais.

Tabela 7 - Jovens de 19 anos que concluíram o ensino médio (%)

Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015 Brasil 33,3 35,9 38,1 39,9 41,4 44,8 46,6 48,5 51,6 53,4 53 54,3 56,7 58,5

RS 33 40,3 38,9 47,4 41,4 51,6 44,5 48,9 52 53,6 49,3 48,8 56,4 57,6

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica (2017)

Salienta-se que um jovem de 19 anos que tenha finalizado a educação básica pode ter tido em seu percurso escolar momentos de repetência ou evasão, pois a idade estipulada para finalizar a escola de ensino médio é de dezessete anos. Como é possível observar pela tabela, houve um aumento na porcentagem comparando 2001 com 2015, porém há uma flutuação entre os anos, tanto para o Brasil quanto para o Rio Grande do Sul.

Sobre a quantidade de matrículas no ensino fundamental e médio para Brasil, Rio Grande do Sul e Porto Alegre, entre 2010 e 2016 (recorte temporal da pesquisa), as Sinopses Estatísticas do Inep indicam os seguintes dados:

Tabela 8 - Número de matrículas ensino fundamental (2010-2016)

BRASIL

ANO TOTAL

ANOS

INICIAIS ANOS FINAIS

2010 31.148.207 16.893.490 14.254.717 2011 30.490.476 16.486.880 14.003.596 2012 29.826.627 16.134.889 13.691.738 2013 29.187.602 15.877.501 13.310.101 2014 28.571.512 15.805.134 12.766.378 2015 27.931.210 15.562.403 12.368.807 2016 27.691.478 15.442.039 12.249.439

RIO GRANDE DO SUL

ANO TOTAL

ANOS

INICIAIS ANOS FINAIS

2010 1.540.142 802.768 737.374 2011 1.503.344 790.798 712.546 2012 1.463.240 813.238 650.002 2013 1.422.852 794.950 627.902 2014 1.374.717 771.776 602.941 2015 1.337.697 747.314 590.383 2016 1.338.719 725.732 612.987 PORTO ALEGRE ANO TOTAL ANOS

INICIAIS ANOS FINAIS

2010 187.288 99.852 87.436

2012 178.595 101.500 77.095

2013 172.826 98.439 74.387

2014 166.765 95.440 71.325

2015 160.610 92.585 68.025

2016 162.374 90.212 72.162

Fonte: Sinopses Estatísticas da Educação Básica – Inep

É possível perceber uma diminuição nas matrículas totais em todos os níveis administrativos. Essa diminuição ocorre também entre os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Adentrar no ensino público não é o problema, a questão está em permanecer estudando e ter persistência para continuar dentro do sistema escolar. Se essa dificuldade já está presente no ensino fundamental, no ensino médio se torna pior. Primeiro, porque o ensino médio está “no meio do caminho”, ou seja, recebe estudantes do ensino fundamental que podem não ter um percurso escolar tranquilo, desistindo de continuar os estudos depois de algumas tentativas. Além disso, nem todos os estudantes que finalizam o ensino fundamental continuam estudando, encerrando seu percurso escolar nessa primeira etapa.

Pensando a partir de Bourdieu e Passeron (1992), o arbitrário cultural e a violência simbólica já produziram desistências ao longo do fundamental, portanto os estudantes do ensino médio podem ser considerados persistentes. Esse aspecto da violência simbólica que afasta uma parcela estudantil deve ser considerado juntamente com a desigualdade social brasileira que favorece o abandono dos estudos. A tabela abaixo apresenta as matrículas por modalidade de ensino secundário para o mesmo recorte temporal. Salienta-se que a sigla EM significa Ensino Médio.

Tabela 9 - Número de matrículas por modalidade de ensino médio (2010-2016) BRASIL

ANO TOTAL

EM

propedêutico Normal/Magistério41

Curso Técnico Integrado (EM Integrado) 2010 8.358.647 7.960.337 182.537 215.773 2011 8.401.829 7.979.293 164.800 257.736 2012 8.377.942 7.945.765 133.608 298.569 2013 8.314.048 7.855.385 120.246 338.417 2014 8.301.380 7.833.168 101.224 366.988 2015 8.076.150 7.590.465 93.919 391.766 2016 8.133.040 7.601.197 102.833 429.010

RIO GRANDE DO SUL

ANO TOTAL

EM

propedêutico Normal/Magistério

Curso Técnico Integrado (EM Integrado) 2010 411.763 391.931 14.341 5.491 2011 404.940 384.621 12.246 8.073 2012 402.506 379.529 11.173 11.804 2013 396.297 370.162 10.870 15.265 2014 396.596 366.387 10.998 19.211 2015 385.200 352.640 11.596 20.964 2016 357.808 324.223 11.285 22.300 PORTO ALEGRE ANO TOTAL EM propedêutico Normal/Magistério

Curso Técnico Integrado (EM Integrado) 2010 49.339 48.047 1.292 - 2011 48.346 47.163 1.119 64 2012 48.309 46.794 1.096 419 2013 47.250 45.488 1.077 685 2014 48.141 46.117 1.165 859 2015 47.359 45.351 1.116 892 2016 42.665 40.746 1.135 784

Fonte: Sinopses Estatísticas da Educação Básica – Inep

Nesse recorte temporal, o Rio Grande do Sul perdeu 53.955 matrículas de ensino médio totais entre 2010 e 2016. Já Porto Alegre teve uma diminuição de 6.674 matrículas para o ensino médio. Através da tabela é possível perceber que a maioria das matrículas nos três níveis está no ensino médio propedêutico. Após um crescimento nas matrículas nacionais, há um período de queda. Interessante perceber que as matrículas do ensino médio integrado aumentaram entre

41 O curso Normal/Magistério forma docentes para trabalhar com a Educação Infantil e os primeiros anos do ensino

fundamental. Não é uma graduação, mas um curso de nível médio. Seu surgimento no país é antigo, remonta a 1835 com a criação da Escola Normal no Rio de Janeiro. Diversas reformulações ocorreram desde o período imperial até a República, sendo que nos anos 1940 e 1950 este curso foi fundamental para formação das professoras que trabalhavam no ensino primário. Pelo site da SEDUCRS, o curso Normal/Magistério ocorre no Rio Grande do Sul de duas formas: integrado ao ensino médio, dividido em três blocos (Formação Geral, Parte Diversificada e Formação Profissional), com a duração de 3 anos e 6 meses (sendo esses seis meses o estágio supervisionado). A outra modalidade é o Curso Normal enquanto aproveitamento de estudos, posterior ao ensino médio, com a duração de dois anos (incluído um estágio supervisionado de seis meses). Maiores informações ver: https://educacao.rs.gov.br/curso-normal Acesso em: 27 dez. 2019.

2010 e 2016, contrariando os números quando se observa somente a totalidade de matrículas. No caso de Porto Alegre, não foi registrada nenhuma matrícula em 2010 para o ensino médio integrado. Porém, a partir de 2011 surgiram esses dados e em 2016 havia 784 sujeitos cursando essa modalidade de ensino.

Com relação às matrículas divididas por série e por mantenedora, os dados apresentados são:

Tabela 10 - Matrículas da PRIMEIRA SÉRIE do ensino médio dividido por mantenedora (2010-2016) BRASIL

ANO TOTAL EM

Total

1ª série Federal Estadual Municipal Privada 2010 8.358.647 3.472.373 39.363 3.033.846 32.458 366.706 2011 8.401.829 3.425.009 45.472 2.970.212 30.129 379.196 2012 8.377.942 3.411.191 47.460 2.940.017 27.552 396.162 2013 8.314.048 3.359.382 48.230 2.899.315 24.547 387.290 2014 8.301.380 3.362.127 52.587 2.893.077 21.687 394.776 2015 8.076.150 3.198.357 57.704 2.740.065 19.494 381.094 2016 8.133.040 3.176.240 66.954 2.740.561 18.355 350.370

RIO GRANDE DO SUL

ANO TOTAL EM

Total

1ª série Federal Estadual Municipal Privada

2010 411.763 182.204 2.550 161.453 2.019 16.182 2011 404.940 179.287 3.585 157.867 1.581 16.254 2012 402.506 181.458 3.693 158.594 2.507 16.664 2013 396.297 169.350 3.547 147.318 2.397 16.088 2014 396.596 167.772 4.133 144.753 2.345 16.541 2015 385.200 161.016 4.518 138.009 1.995 16.494 2016 357.808 135.565 4.796 122.376 1.864 6.529 PORTO ALEGRE ANO TOTAL EM Total

1ª série Federal Estadual Municipal Privada

2010 49.339 21.014 261 16.178 37 4.538 2011 48.346 20.683 321 15.846 28 4.488 2012 48.309 21.997 325 16.368 469 4.835 2013 47.250 20.872 329 15.396 586 4.561 2014 48.141 21.082 366 15.463 587 4.666 2015 47.359 20.847 354 15.044 513 4.936 2016 42.665 15.082 347 13.199 468 1.068

A tabela 10 exibe na segunda coluna o total de matrículas por todas as séries do ensino médio para posteriormente, na terceira coluna, apontar as matrículas da primeira série. Por ser o primeiro ano do ensino médio, a quantidade de matrículas é maior que os demais anos. Desse total, é possível afirmar que as escolas estaduais predominam na quantidade de estudantes.

Destaca-se nessa tabela o ensino privado. Em todas as esferas administrativas, a queda das matrículas entre 2015 e 2016 foram as mais altas nas escolas particulares. No caso do RS, em 2015 houve 16.494 matrículas na primeira série. No ano seguinte, a queda foi de 9.965 estudantes a menos. Em Porto Alegre ocorreu a mesma situação, com 3.868 alunos a menos entre 2015 e 2016 na rede privada. As matrículas que cresceram nesse período foram da rede federal, devido ao crescimento dos Institutos Federais que oferecem esse nível de ensino. A seguir serão apresentadas as matrículas da segunda série.

Tabela 11 - Matrículas da SEGUNDA SÉRIE do ensino médio dividido por mantenedora (2010-2016)

Fonte: Sinopses Estatísticas da Educação Básica – Inep BRASIL

ANO Total 2ª série Federal Estadual Municipal Privada 2010 2.579.183 28.383 2.206.279 27.826 316.695 2011 2.634.905 30.243 2.247.659 23.526 333.477 2012 2.611.416 35.571 2.206.705 21.802 347.338 2013 2.618.081 37.473 2.210.542 19.373 350.693 2014 2.607.836 37.547 2.207.818 17.177 345.294 2015 2.611.531 39.979 2.208.695 15.929 346.928 2016 2.572.939 44.817 2.175.115 15.359 337.648

RIO GRANDE DO SUL

ANO Total 2ª série Federal Estadual Municipal Privada