• Nenhum resultado encontrado

PowerPoint 1: Aula expositiva e debate.

3.4 Instrumentos de Coleta de Dados

Para esta pesquisa foram utilizados alguns instrumentos para o registro dos dados coletados em sala de aula: questionário, filmagens, atividades feitas pelos alunos e notas de campo do pesquisador realizadas após algumas aulas. As duas aulas semanais da turma pesquisada eram geminadas, ou seja, duas aulas seguidas com 50 minutos de duração cada, uma vez por semana, ou seja, em cada semana os alunos tinham aula de inglês por 1 hora e 40 minutos. Todavia, não foi esse o tempo total das filmagens semanais realizadas para a coleta de dados desta pesquisa, pois houve diversos momentos em que as filmagens não foram feitas porque, como na maioria das escolas, alguns alunos chegavam atrasados, parte do tempo de aula era usado para avisos, semana de prova, excursões, turmas que se unem porque um ou mais professores não compareceram, etc.

O quadro 9 abaixo apresenta o cronograma das aulas onde os registros foram gerados. Porém, o cronograma difere um pouco do planejamento de ensino apresentado anteriormente, pois foram necessárias algumas modificações no decorrer do bimestre.

Quadro 9 – Cronograma das aulas

Aula Conteúdo

Aula 1 Unidade 1 English around the world

Aula 2 Unidade 2 Significance of the English Language Aula 3 Unidade 3 Communicating with deaf-blind people

Aula 4 Unidade 4 Social inclusion

Aula 5 Unidade 5 Discrimination, trabalho com dicionário e placas

Aula 6 Unidade 6 Racism

Aula 7 Unidade 7 Gender issues - stereotypes

Aula 8 Unidade 8 Twitter, produção escrita e outras discussões Fonte: Elaborado pelo autor.

Para organização dos registros desta pesquisa, as atividades e discussões que envolveram cada tema, foram chamadas de unidade. As aulas um e dois, apresentadas no próximo capítulo, serão discutidas na mesma seção por abordarem temas semelhantes, mas foram divididas no Quadro 9 acima por terem sido realizadas em momentos distintos. As demais unidades serão analisadas em seções diferentes.

Um dos procedimentos de coleta de dados utilizados durante a pesquisa aqui relatada, como foi dito, foi a aplicação de um questionário aos alunos participantes. A aplicação desse questionário teve por objetivo buscar informações pessoais dos alunos, sobre sua relação com a Libras, com a Língua Inglesa e sobre a opinião de cada um sobre os conteúdos e temas das aulas pesquisadas. O questionário continha questões fechadas e abertas. Para responder às questões abertas, os alunos foram filmados, pois utilizaram a Libras. As demais questões foram respondidas através das respostas de múltipla-escolha. As informações pessoais, como nome e data de nascimento, e as perguntas 1 a 3 contribuíram para que fosse elaborado o Quadro 8, que traz um panorama geral do perfil dos alunos e foi apresentado na seção anterior. As perguntas 4 a 8 tinham o objetivo de esclarecer que tipo e/ou tempo de contato os alunos possuíam com a língua inglesa fora da escola e o interesse deles para aprender essa língua. As perguntas 9 a 11 buscaram saber a opinião dos alunos sobre as aulas e os temas discutidos durante a pesquisa.

Além da aplicação do questionário, as aulas do primeiro bimestre, conforme já apresentado, foram também filmadas em vídeo como parte do processo de coleta de dados desta pesquisa. Essa filmagem foi importante para registrar com clareza as comunicações realizadas em Libras entre os alunos e o professor, além de registrar outras características visuais da sala de aula, como as reações dos alunos durante algumas atividades. Como o professor foi também o pesquisador, algumas observações só foram possíveis após os vídeos serem assistidos. Para o registro escrito das interações em Libras contidas nas filmagens, foram utilizadas traduções em português. Essa escolha se deu porque o objetivo desta pesquisa não se concentra nas estruturas linguísticas da Libras em si, mas nas produções de sentido dos alunos através dessa língua a partir dos textos em inglês. Entretanto, quando se tratar de um sinal específico que mereça destaque, serão utilizadas as glosas18, comum em pesquisas que envolvem

18

O sistema de nomeação de sinais isoladamente é denominado GLOSAS. Conforme a proposta de Quadros e Karnopp (2004), glosa é o uso de palavras do português que permitem a identificação

línguas de sinais. A utilização desse recurso, presente em poucos momentos desta pesquisa, visa, portanto, a realizar a transcrição da Libras tentando manter as características inerentes às línguas de sinais no momento das interações entre alunos e professor. Através das glosas, as traduções da Libras para o português são feitas utilizando uma escrita em caixa alta, podendo conter informações e descrições de expressões não-manuais, além de diversas outras características da Libras, como a ordem sintática, flexões etc. Essa opção foi suficiente para atender aos objetivos desta pesquisa e foi baseada em Quadros e Karnopp (2004).

As atividades realizadas em sala de aula constituíram-se, também, como um instrumento para os registros desta pesquisa. O planejamento bimestral previa, inicialmente, algumas aulas sobre a conscientização de se aprender inglês. Como uma espécie de avaliação diagnóstica, utilizei, portanto, uma rápida atividade de reconhecimento de marcas famosas em inglês de postos de gasolina, vídeo games, celular, lanchonetes, nomes de sites etc. Para minha surpresa, muitos alunos não conheciam marcas diversas como Burger King, Subway, Apple, Twitter etc. Após a discussão, falei sobre a língua inglesa presente em todo o mundo, sobre a quantidade de pessoas que falam o idioma e em que países a língua é falada. Em seguida, mesmo já tendo contato com surdos há cerca de dez anos, uma pergunta (em Libras), traduzida aqui para o português, me deixou surpreso:

Cisco: Então nesses países as pessoas movimentam a boca de maneira muito diferente do que vemos aqui no Brasil?

Professor: Sim.

Cisco: Então mexe para eu ver.

Essa pergunta e outros desafios identificados nesse início, que serão detalhados no próximo capítulo, fizeram com que eu refletisse e tivesse ainda mais atenção nas aulas planejadas que ainda iriam acontecer. O aluno que fez a pergunta acima foi Cisco, aluno que, como já visto, possuía boa habilidade de leitura labial e, consequentemente, de fala (português), ainda que não tivesse uma articulação muito clara em alguns momentos. Nesse caso, pode-se dizer que o aluno é oralizado, mas, mesmo assim, é considerado surdo. A minha surpresa não veio pelo fato de o aluno ter me pedido para semântica do sinal utilizado em Libras. Dessa forma, o uso da palavra do português faz apenas uma referência ao sinal que é utilizado em Libras, não mantendo uma relação biunívoca com o sinal.

que eu falasse em inglês para que ele percebesse as diferentes articulações, mas sim por ele ter questionado se as pessoas nos outros países mexiam a boca de maneira diferente dos brasileiros. Isso me fez entender a pouca compreensão que os alunos tinham da diversidade linguística existente no mundo. Devido a isso, aulas que eram para ser introdutórias tornaram-se mais demoradas e demandaram mais tempo que o previsto.

No geral, as aulas envolveram discussões em Libras que se relacionavam com os temas propostos nos textos em língua inglesa; atividades de compreensão do texto escrito e do vocabulário em LI; uma pequena dinâmica utilizando tangram e uma pequena produção escrita em LI.

Também como parte dos procedimentos de coleta de dados, o professor- pesquisador utilizou notas de campo, realizadas sempre ao final das aulas. As notas de campo do professor-pesquisador contribuíram para incrementar as reflexões sobre tudo o que aconteceu em sala de aula. Percepções, sentimentos e outras interpretações do professor-pesquisador registradas nas notas de campo, foram analisadas, considerando os detalhes que podem emergir através dessas notas, e serão apresentadas e debatidas no próximo capítulo.