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1.2 O P RINCÍPIO DA I GUALDADE NOS I NSTRUMENTOS I NTERNACIONAIS F UNDAMENTAIS EM M ATÉRIA

1.2.3 Instrumentos de Protecção da União Europeia

de protecção dos direitos económicos e sociais. Mais de metade dos Estados-Membros do Conselho da Europa são partes na Carta. Este instrumento estabelece um sistema de queixas que visa determinar se os Estados partes cumprem as obrigações assumidas em virtude do mesmo.

Na segunda parte da CSE(R) constatamos a referência ao princípio da igualdade no art.º 20.º, intitulado “Direito à igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e de profissão, sem discriminação baseada no sexo”58.

Ainda na segunda parte da Carta constatamos nova referência à igualdade, no art.º 27.º intitulado “Direito dos trabalhadores com responsabilidades familiares à igualdade de oportunidades e de tratamento”. Este artigo tem em vista assegurar o exercício efectivo do direito à igualdade de oportunidades e de tratamento, entre trabalhadores de ambos os sexos com responsabilidades familiares, e entre estes trabalhadores e os outros trabalhadores.

Há cerca de nove anos, o combate à discriminação na UE conheceu um forte impulso com o reconhecimento de novos poderes para acabar com a discriminação em razão do sexo, raça ou origem étnica, religião ou crença, idade, deficiência e orientação sexual. Em resultado deste processo, e na sequência da entrada em vigor do Tratado de Amesterdão em 1999, foi incluído um novo artigo (art.º 13.º), no Tratado que instituiu a COMUNIDADE EUROPEIA59.

O art.º 13.º assinalou um marco significativo na luta contra a discriminação a nível da UE, na medida em que conferiu à Comunidade poderes para adoptar acções de combate à discriminação com base em novos motivos, incluindo a raça ou a origem étnica, a religião ou crença, a deficiência e a orientação sexual.

A adopção do art.º 13.º configurou o reconhecimento crescente da necessidade de desenvolver uma abordagem coerente e integrada da luta contra a discriminação.

Esta abordagem teve por objectivo maximizar os esforços conjuntos de combate à discriminação e aproveitar a transferência de experiências e boas práticas nos vários domínios. Fornece uma base mais eficaz para tratar situações de discriminação múltipla e permitiu abordagens jurídicas e políticas comuns que abrangiam os diferentes motivos, incluindo definições comuns de discriminação60.

Para pôr em prática as medidas de luta contra a discriminação perspectivou-se um enquadramento jurídico necessário para a sua plena concretização. Assim, a COMISSÃO EUROPEIA agiu com celeridade para efectivar as competências definidas no

59 O Tratado de Amesterdão foi assinado em 2 de Outubro de 1997. Após ratificação pelos quinze Estados-Membros da União Europeia, o Tratado de Amesterdão entrou em vigor no dia 1 de Maio de 1999. Alterou os Tratados da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia, e atribuiu uma nova numeração às suas disposições, e inclui em anexo, as versões compiladas dos Tratados da União Europeia e do Tratado que institui a Comunidade Europeia. O Tratado de Amesterdão alterou os artigos do Tratado da União Europeia, que em vez de serem identificados pelas letras de A a S, passaram a ser numerados. O Tratado de Amesterdão foi publicado no Jornal Oficial nº C 340 de 10 de Novembro de 1997. É de salientar que o Tratado de Amesterdão é o primeiro tratado internacional a mencionar explicitamente a protecção em razão da orientação sexual. Para aprofundar a forma como a orientação sexual é tratada a nível da União Europeia, mais propriamente após a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão, sugere-se a leitura das seguintes obras: ILGA-EUROPE (1999), After Amsterdam:

Sexual Orientation and the European Union – A Guide, (Krickler, Kurt, Coord.), Bruxelas:

Publicações da ILGA-Europa; BELL, Mark (2002a), Anti-discrimination Law and the European Union, Oxford: Oxford University Press; BELL, Mark (2002b), After the Framework Directive:

Combating Discrimination Outside Employment, Universidade de Leicester: Edição da ILGA -Europe, pp.13-15, e ainda, WAALDIJK, K. e MEIJERS, E. M. (2006), Sexual Orientation Discrimination in the European Union: National Laws and the Employment Equality Directive, Cambridge: Cambridge University Press.

60 Vid., na matéria, COMUNIDADES EUROPEIAS (2004), Livro Verde – Igualdade e Combate à Discriminação na União Europeia Alargada, Bruxelas: Edição da Comissão das Comunidades Europeias, pp. 5-6.

art. 13.º, e apresentou no final de 1999 um pacote de propostas. Estas levaram à adopção unânime pelo Conselho em 2000, de duas directivas inovadoras que visavam garantir a todas as pessoas que vivem na EU, a possibilidade de beneficiaremde uma protecção jurídica eficaz contra a discriminação61.

Assim, a primeira directiva sobre igualdade racial, proíbe a discriminação directa e indirecta, bem como o assédio e quaisquer instruções no sentido de discriminar pessoas com base na origem racial ou étnica. Abrange áreas como o emprego, a formação, a educação, a segurança social, os cuidados de saúde, a habitação e o acesso a bens e serviços. A segunda directiva, sobre igualdade no emprego, coloca a tónica na discriminação no emprego e na actividade profissional, bem como na formação profissional. Incide na discriminação directa e indirecta, bem como no assédio e em instruções no sentido de discriminar pessoas com base na religião ou crença, deficiência, idade e orientação sexual.

As directivas sobre igualdade racial e igualdade no emprego foram complementadas por um “Programa de Acção Comunitário de Luta Contra a Discriminação (2001-2006)”62. Este programa abrangeu todos os motivos definidos no

61 A Directiva 2000/43/CE do Conselho, que aplica o princípio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou étnica (publicada no JO L 180 de 19 de Julho de 2000), e a Directiva 2000/78/CE do Conselho, que estabelece um quadro de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional (publicada no JO L 303 de 2 de Dezembro de 2000). Vid, na matéria, COMUNIDADES EUROPEIAS (2000a), “Directiva 2000/43/CE do Conselho de 29 de Junho de 2000 que Aplica o Princípio de Igualdade de Tratamento Entre as Pessoas, Sem Distinção de Origem Racial ou Étnica”, in Jornal Oficial das Comunidades Europeias, pp. 22-26, e ainda, COMUNIDADES EUROPEIAS (2000b), “Directiva 2000/78/CE do Conselho de 27 de Novembro de 2000 que Estabelece um Quadro Geral de Igualdade de Tratamento no Emprego e na Actividade Profissional”, in Jornal Oficial das Comunidades Europeias, pp. 16-22. Para comprender melhor o contexto em que foram tomadas as novas leis para a igualdade na União Europeia, após o surgimento das duas novas directivas, ver, por exemplo, FREDMAN, Sandra (2001), “Equaliy: A New Generation?”, in Industrial Law Journal, vol. 30, n.º 2, pp. 145-168.

62 Decisão 2000/750/CE do Conselho de 27 de Novembro de 2000, que estabelece um

“Programa de Acção Comunitário de Luta Contra a Discriminação (2001-2006)”, publicado no JO L 303 de 2 de Dezembro de 2000. Apresentam-se dois exemplos de projectos apoiados pelo programa. O primeiro exemplo é do domínio da Comissão Europeia, que publicou em Maio de 2003, os resultados de um inquérito de opinião intitulado “Eurobarómetro 57.0 – Discriminação na Europa”. Este inquérito revelou que a maioria dos europeus acredita que a origem étnica, a religião, a deficiência ou a idade, podem constituir um obstáculo na procura de emprego, mesmo numa situação de igualdade de qualificações. Neste inquérito, a grande maioria dos europeus continua a opôr-se a todas as formas de discriminação, em qualquer circunstância. O segundo exemplo refere-se a matéria de sensibilização. Assim, em Junho de 2003, a Comissão Europeia lançou uma campanha informativa intitulada “Pela Diversidade – Contra a Discriminação”, que se estendeu por um período de tempo de cinco anos. Esta campanha destinava-se a informar os cidadãos dos seus direitos e deveres ao abrigo da legislação europeia e nacional, em matéria de anti-discriminação, bem como promover os

art.º 13.º, à excepção do sexo, que é tratado separadamente pelo programa da COMUNIDADE EUROPEIA em matéria de igualdade entre homens e mulheres.

Podemos dizer que as directivas “igualdade racial” e “igualdade no emprego” se inspiram em anteriores textos legislativos da COMUNIDADE ECONÓMICA EUROPEIA, em matéria de igualdade entre homens e mulheres. Muitas das definições e conceitos jurídicos usados nas duas directivas, foram inspirados por legislação no domínio da igualdade entre os géneros e em jurisprudência do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA

COMUNIDADE EUROPEIA na mesmaárea.

Por seu turno, o ulterior desenvolvimento dalegislação em matéria de igualdade entre homens e mulheres na Eu, recorreu a algumas inovações introduzidas por estas duas directivas63. Convém também sublinhar que estas directivas reforçaram significativamente o nível de protecção contra a discriminação em toda a UE. Em consequência, quando se trata de legislação neste domínio, a UE possui um dos quadros jurídicos mais avançados do mundo64. As duas directivas implicaram alterações significativas às legislações nacionais de todos os Estados-membros, mesmo daqueles onde a lei anti-discriminação era já exaustiva.

B) Tratado de Lisboa

A adopção de medidas para a igualdade e de combate à discriminação conta-se também entre os objectivos fundamentais da UNIÃO EUROPEIA, consubstanciados no recente Tratado de Lisboa, que altera o Tratado da União Europeia e o Tratado que institui a Comunidade Europeia65.

efeitos positivos da diversidade para as empresas e o conjunto da sociedade. Vid., na matéria, MARSH, Alan e SAHIN-DIKMEN, Melahat (2003), Eurobarometer 57.0 - Discrimination in Europe, Bruxelas: Edição do Directório Geral do Emprego e Assuntos Sociais da Comissão Europeia.

63 Vid, na matéria, COMUNIDADES EUROPEIAS (2004), p. 6.

64 Tem vindo também a registar-se um interesse considerável da comunidade internacional nos recentes desenvolvimentos a nível da UE, cuja legislação anti-discriminação se encontra entre as mais avançadas do mundo, e é considerada um pouco por toda a parte um modelo eficaz. Para além dos novos Estados-membros e dos países candidatos, a Comissão Europeia tem sido solicitada a lançar um diálogo sobre anti-discriminação com os países dos Balcãs ocidentais, e os países abrangidos pela nova política de vizinhança da Comunidade. O princípio da não discriminação foi reafirmado no Acordo de Cotonou, celebrado entre a UE e 78 países da África, Caraíbas e Pacífico, constituindo um dos temas do diálogo político que está na base da cooperação com estes países (art.º 13.º do Acordo de Parceria ACP-EU, assinado em Cotonou em 23 de Junho de 2003). Vid., na matéria, COMUNIDADES EUROPEIAS (2004), p. 13.

65 O Tratado de Reforma ou Tratado de Lisboa, segundo o acordo alcançado pelo Conselho da União Europeia em Lisboa a 19 de Outubro de 2007, é o que substitui a

No preâmbulo do referido Tratado de Lisboa podemos constatar a referência à igualdade no art. 1.º: “Inspirando-se no património cultural, religioso e humanista da Europa, de que emanaram os valores universais que são os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de Direito.”. Também no art.º 1.º - A (“Disposições gerais”) podemos constatar nova referência à igualdade: “A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de Direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias.

Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.”.

A nível do art.º 8.º do Título II (“Disposições relativas aos princípios democráticos”), também podemos constatar o princípio da igualdade: “Em todas as actividades, a União respeita o princípio da igualdade dos seus cidadãos, que beneficiam de igual atenção por parte das instituições, órgãos e organismos. É cidadão da União qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-Membro. A cidadania da União acresce à cidadania nacional, não a substituindo.”.

Constituição Europeia estipulada no abandonado Tratado pelo qual se Estabelece uma Constituição para a Europa de 2004. O novo tratado pelo qual a União Europeia passará a ter personalidade jurídica própria, para assinar acordos internacionais a nível comunitário, foi assinado no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, a 13 de Dezembro de 2007. A emenda proposta pela Presidência alemã do Conselho da União Europeia a 19 de Maio de 2007 incluia a

"essência da Constituição". A proposta foi apresentada após as reuniões de trabalho entre a presidência e os delegados dos 27 Estados-membros, durante o primeiro semestre de 2007.

Decidiu-se abandonar o formato do Tratado Constitucional e, em alternativa, dar impulso a um tratado clássico que introduzisse emendas nos dois tratados actualmente em vigor, o Tratado da União Europeia e o Tratado da Comunidade Europeia, que passaria a chamar-se Tratado sobre o funcionamento da União. Portugal, que assumiu a presidência da União Europeia durante o segundo semestre de 2007, lançou uma Conferência Intergovernamental nos dias 23 e 24 de Julho para acabar a redação do texto, coincidindo com a reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros. O novo Tratado foi apresentado na cimeira de 18 de Outubro em Lisboa, com a intenção de ser assinado pelos líderes nacionais antes de terminar o ano de 2007. Neste momento o processo de ratificação está em curso, com o objectivo de que o texto entre em vigor a 1 de Janeiro de 2009. O tratado contém duas cláusulas essenciais: uma modifica o Tratado da União Europeia (ou Tratado da União Europeia, originalmente, Tratado de Maastricht); outra modifica o Tratado que institui a Comunidade Europeia (ou Tratado da Comunidade Europeia, originalmente, Tratado de Roma de 1957). O Tratado da União Europeia conservará o seu nome, e o Tratado da Comunidade Europeia tornar-se-á um tratado sobre o funcionamento da União, União que passa a ter personalidade jurídica própria. O termo “Comunidade” será substituído por “União”, e será explícito que os dois tratados constituem a base sobre a qual a União é fundada. O Tratado de Lisboa encontra-se disponível para consulta no Jornal Oficial da União Europeia C 306, de 17 de Dezembro de 2007.

Ainda a nível do ponto 1 do art.º 10.º - A do Capítulo 1 – (“Disposições gerais relativas à acção externa da União”) constatamos nova referência ao princípio da igualdade: “A acção da União na cena internacional assenta nos princípios que presidiram à sua criação, desenvolvimento e alargamento, e que é seu objectivo promover em todo o mundo: democracia, Estado de Direito, universalidade e indivisibilidade dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais, respeito pela dignidade humana, princípios da igualdade e solidariedade e respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional.”.

Também no ponto 3, do art. 2.º, e tendo em linha de conta a vertente negativa do princípio da igualdade, podemos constatar que “A União combate a exclusão social e as discriminações e promove a justiça e a protecção sociais, a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as gerações e a protecção dos direitos da criança.”.

É também de salientar o art. 5.º - B (Título II - “Disposições de aplicação geral”) que refere que “Na definição e execução das suas políticas e acções, a União tem por objectivo combater a discriminação em razão do sexo, raça ou origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual.”.

C) Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (CDFUE) trata-se de um documento que reúne, num texto único, pela primeira vez na história da União Europeia, o conjunto dos direitos cívicos, políticos, económicos e sociais, dos cidadãos europeus e de todos os residentes no território da União.

A Carta dos Direitos Fundamentais, que é mencionada no Tratado Reformador da União Europeia - Tratado de Lisboa, foi solenemente proclamada no dia 12 de Dezembro de 2007, em Estrasburgo (França), pelos presidentes de três instituições da União Europeia: o Presidente do Parlamento Europeu (HANS-GERT PÖTTERING), o Presidente da Comissão Europeia (JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO), e o Presidente em exercício do Conselho da União Europeia (JOSÉ SÓCRATES). O Tratado de Lisboa não inclui a CDFUE no seu conteúdo (passou a figurar num anexo), limitando-se a fazer referência à sua proclamação, mas conferindo-lhe força jurídica. De salientar que a Polónia e o Reino Unido obtiveram um regime de excepção66.

66 Recorde-se que antes de figurar no Tratado de Lisboa de 2007, a CDFUE já existia como instrumento de protecção, tendo sido solenemente proclamada no Conselho Europeu de Nice, que teve lugar entre 7 e 9 de Dezembro de 2000. O art.º 21.º da Carta abrange os seis

A Carta dos Direitos Fundamentais (CDFUE) contem um capítulo inteiro dedicado à igualdade, – Título III - intitulado “Igualdade”, que abarca os artigos 20.º a 26.º. No art.º 20.º da Carta enuncia-se o princípio geral da igualdade formal nos seguintes termos: “Todas as pessoas são iguais perante a lei.”. Em relação ao art.º 21.º este incide sobre o “Princípio da Não Discriminação”. Este artigo, inspirado no art.º 13.º do Tratado da Comunidade Europeia, e no art.º 14.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, incluiu também uma referência à não-discriminação por razões de características genéticas, baseada no art.º 11.º da Convenção relativa aos Direitos Humanos e da Biomedicina, firmada em Oviedo a 4 de Abril de 1997.

Assim, no n.º 1 do referido art.º 21.º, podemos ler que “É proibida a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões políticas ou outras, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual.”. Também no n.º 2 do referido artigo é reforçado o princípio da não discriminação: “No âmbito de aplicação do Tratado que institui a Comunidade Europeia e do Tratado da União Europeia, e sem prejuízo das disposições especiais destes Tratados, é proibida toda a discriminação em razão da nacionalidade.”.

Também o reconhecimento da igualdade material pode considerar-se incluído no art.º 23.º da Carta, apesar de apenas se fazer referência à igualdade entre homens e mulheres: “Deve ser garantida a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios, incluindo em matéria de emprego, trabalho e remuneração. O princípio da igualdade não obsta a que se mantenham ou adoptem medidas que prevejam regalias específicas a favor do sexo sub-representado.”.

motivos repertoriados no art.º 13.º do Tratado da Comunidade Europeia, bem como as sete razões adicionais (origem social, características genéticas, língua, opiniões políticas ou outras, pertença a uma minoria étnica, riqueza e nascimento). Até 14 de Dezembro de 2007, a carta era um documento não impositivo, mas actualmente tem um carácter vinculativo, visto que o novo Tratado de Lisboa lhe atribui valor jurídico. No ponto 1 do art.º 6.º do Tratado de Lisboa, constatamos que “A União reconhece os direitos, as liberdades e os princípios enunciados na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, de 7 de Dezembro de 2000, com as adaptações que lhe foram introduzidas em 12 de Dezembro de 2007, em Estrasburgo, e que tem o mesmo valor jurídico que os Tratados. De forma alguma o disposto na Carta pode alargar as competências da União, tal como definidas nos Tratados. Os direitos, as liberdades e os princípios consagrados na Carta devem ser interpretados de acordo com as disposições gerais constantes do Título VII da Carta que regem a sua interpretação e aplicação e tendo na devida conta as anotações a que a Carta faz referência, que indicam as fontes dessas disposições.”.

Para lésbicas, gays e bissexuais, a carta é importante por causa das suas normas sobre não-discriminação, expressas no parágrafo 1 do seu art.º 21. A CDFUE encontra-se disponível para consulta no Jornal Oficial da União Europeia C 303 de 14 de Dezembro de 2007.

Para finalizarmos este sub-capítulo, apenas uma chamada de atenção para uma recente decisão do PARLAMENTO EUROPEU que instituiu o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos (2007) - Para uma Sociedade Justa”. Assim, o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos” pretendeu sensibilizar a população para os benefícios de uma sociedade justa e solidária. Preconizou iniciativas de sensibilização, que tinham por objectivo, combater atitudes e comportamentos discriminatórios, bem como informar os cidadãos sobre os seus direitos e obrigações.

Inscreveu-se numa abordagem transversal do combate à discriminação, que deverá permitir assegurar a aplicação correcta e uniforme do enquadramento legislativo comunitário em toda a Europa, pondo em evidência os seus princípios essenciais e angariando o apoio activo do público à legislação em matéria de não-discriminação e igualdade67.

Pela importância desta decisão, e pelo facto do que esta poderá ainda representar para a luta contra a discriminação sofrida por muitas pessoas LGBT a nível da União Europeia, e tendo em consideração os propósitos deste trabalho, passamos a enunciar os artigos mais pertinentes da referida decisão. Assim, no art.º 1.º intitulado “Ano Europeu” constatamos que “O ano de 2007 será designado Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”.

Enquanto no art.º 2.º intitulado “Objectivos” podemos constatar que os objectivos do “Ano Europeu” são os seguintes:

a) Direitos — sensibilizar para o direito à igualdade e à não discriminação, assim como para a problemática das discriminações múltiplas — O Ano Europeu salientará a mensagem de que todas as pessoas têm direito à igualdade de tratamento, independentemente do sexo, origem étnica ou racial, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual. O Ano Europeu permitirá às populações expostas à discriminação conhecerem melhor os seus direitos e a legislação europeia existente em matéria de não discriminação;

67 Dez anos depois do “Ano Europeu Contra o Racismo” e seis anos depois da adopção da legislação de referência contra a discriminação, a União Europeia redobra os seus esforços de promoção da igualdade de oportunidades para todos na Europa. Aproveitando o êxito do

“Programa de Acção Comunitária de Luta contra a Discriminação”, a União Europeia designou 2007 como o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”. Esta iniciativa pretendeu dar um novo impulso para que a igualdade de tratamento se torne uma realidade para todas as pessoas na União Europeia. Vid, na matéria, Decisão n.º 771/2006/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 17 de Maio de 2006, que institui o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos (2007) - Para uma Sociedade Justa”, publicada no Jornal Oficial da União Europeia L 146/7, de 31 de Maio de 2006.

b) Representação — Fomentar um debate sobre formas de aumentar a participação na sociedade de grupos que são vítimas de discriminação e de obter uma participação equilibrada entre homens e mulheres — O Ano Europeu incentivará a reflexão e a discussão sobre a necessidade de promover a participação acrescida destes grupos na sociedade e o seu envolvimento nas acções destinadas a combater a discriminação, em todos os sectores e a todos os níveis;

c) Reconhecimento — Facilitar e celebrar a diversidade e a igualdade — O Ano Europeu salientará o contributo positivo que as pessoas, independentemente do sexo, origem racial ou étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual, podem dar à sociedade como um todo, em particular acentuando os benefícios da diversidade;

d) Respeito — Promover uma sociedade mais coesa — O Ano Europeu sensibilizará para a importância de eliminar estereótipos, preconceitos e a violência, de promover boas relações entre todos os membros da sociedade e, em especial, entre os jovens, e de fomentar e divulgar os valores subjacentes ao combate à discriminação.

Ainda uma especial atenção para o art.º 4.º intitulado “Integração da igualdade dos géneros” onde podemos ler que “O Ano Europeu deve tomar em consideração as diferentes formas como as mulheres e os homens sofrem a discriminação por razões de origem racial ou étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual.”.

É de recordar que Portugal assumiu a Presidência da União Europeia no 2.º semestre do ano 2007. Portugal foi um importante exemplo europeu na luta contra a discriminação68.

Na Conferência de Encerramento do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, que decorreu a 19 e 20 de Novembro no Centro Cultural de Belém em Lisboa, a Coordenadora Nacional da Estrutura de Missão para o Ano Europeu, DR.ª ELZA PAIS, afirmou que em Portugal pretendeu-se que as iniciativas do

“Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”, envolvessem num grande movimento de sensibilização e discussão, todas as pessoas em todos os locais do país.

Assim, foram realizadas cerca de 300 acções, além das 19 previstas no Plano Nacional de Acção. Particular destaque mereceu também a discriminação em razão da orientação

68 Mais concretamente em relação à luta contra a discriminação das pessoas LGBT, e tendo como pano de fundoa Presidência Portuguesa da União Europeia, que se cumpriu de Julho a Dezembro de 2007, uma chamada de atenção para um documento realizado pela ILGA -EUROPE, onde esta organização instou a presidência portuguesa a desempenhar um papel activo na luta contra a discriminação sofrida pelas pessoas LGBT. Vid., na matéria, ILGA-EUROPE

(2007a), Memorandum to the Portuguese Presidency of the European Union: July – December 2007, Bruxelas: Edição da Ilga-Europe.