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Os dados analisados foram produzidos a partir de sessões de observação participante, pesquisa documental, entrevistas semi- estruturadas e questionários. Como um estudo qualitativo exploratório (MINAYO, 1999), optou-se pela triangulação de dados

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Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos da Bahia.

10 Agência Nacional de Transporte Terrestre.

e métodos recorrendo-se a diferentes fontes, categorias de entrevistados, espaços e instrumentos de produção de dados (DENZIN, 1989 apud DUARTE, 2009).

Por natureza, a metodologia qualitativa tem como foco os significados e a fala como a matéria-prima (MINAYO; SANCHES, 1993), portanto, um dos instrumentos eleitos para a produção de dados foi a entrevista semi-estruturada como possibilidade de narrativas e diálogos marcados “pela perspectiva da alteridade, do reconhecimento do outro como um não eu diferente e essencial ao acabamento do eu” (ASSUNÇÃO FREITAS, 2003, p.8).

As entrevistas se compuseram de duas seções (Apêndices 1 e 2), sendo a primeira um formulário para coleta de informações sóciodemográficas sobre os participantes, e a segunda, um roteiro de questões subdivididas em blocos temáticos a serem complementados no decorrer das interações. Para privilegiar a dimensão interativa, (BRUYNE et al, 1977; AYRES, 2001) e oportunidades de narrativas-livres (BRUNER, 1997) com interesse na qualidade da interação/relação entre entrevistadora-entrevistados e dos dados obtidos, a ordem de apresentação das questões e do formulário foi alterada com o propósito de criar oportunidades de narrativas-livres dos participantes.

A entrevista é mais que uma técnica e instrumento, é um momento de interação, onde informações que somente o entrevistado tem acesso são possíveis de serem recuperadas. Nessas interações, a narrativa surge como forma de esquematização e organização da experiência (BRUNER, 1997). A narrativa possui pressupostos próprios que a tornou um método em si, extremamente adequado para coleta de dados. Esses pressupostos definidos por Bruner (2001) foram esquematizados por Correia (2003): a) as narrativas tem uma estrutura temporal medida pelos eventos ou ações humanas; b) é possível avançar ou recuar no tempo; c) as ações possuem motivos envolvendo estados intencionais, crenças, desejos e valores, em lugar de serem determinadas por uma relação causa-efeito; d) considerando que a interpretação da narrativa não é única, há possibilidades de questionamentos, oportunidades para contestações e negociação de versões; g) rompe com o canônico para ser contada, liga o excepcional e o comum.

Assim como as observações, as entrevistas com os rodoviários foram realizadas em momentos diferenciados como durante o curso da atividade de trabalho, em pausas, em horários e dias diversos (dias da semana e fins de semana, antes e depois de feriados), períodos de baixo e de alto fluxo de passageiros (como férias e datas festivas). Tanto nas observações livres, quanto nas focalizadas buscou-se registrar (VELHO, 1987; GEERTZ, 1992) recorrências e eventos apontados como inéditos referentes a rotinas, relações e

condições de trabalho, alimentação, vestuário e temas comuns em conversações. As viagens nos coletivos urbanos auxiliaram a compreender o ambiente de trabalho e a rotina do rodoviário além de permitir aproximações entre essa modalidade e a interurbana.

Alguns participantes foram entrevistados em outros espaços, além de terminais rodoviários, como no consultório médico de uma empresa de transporte e em consultório próprio de uma profissional de saúde, em universidades e um participante foi entrevistado em sua própria residência; em todos os contextos zelou-se por preservar os entrevistados da especulação e constrangimentos provocados por observadores. A duração das entrevistas variou entre cinco minutos e uma hora e trinta minutos aproximadamente, as entrevistas mais longas ocorreram em restaurantes, consultórios e universidades. Utilizaram-se mais anotações em Diário de Campo, devido a pouca disponibilidade de tempo e desconfiança dos rodoviários e ao ruído típico dos terminais rodoviários, do que gravações em arquivos de áudio.

As entrevistas e observações ocorreram, sobretudo, em estações rodoviárias e viagens às cidades:

• Paulo Afonso: região do Sertão Baiano, fronteiriça entre os estados Pernambuco e Alagoas;

• Feira de Santana, Candeias, Simões Filho, São Sebastião do Passé, Camaçari e Salvador12: compreendendo a capital e Região Metropolitana de Salvador;

• Bom Jesus da Lapa: região fronteiriça entre o oeste do estado e Chapada Diamantina.

A escolha das cidades e itinerários observou o pertencimento destas às listas de

hotspots para roubos.

Os registros em Diário de Campo (VELHO, 1987; GEERTZ, 1992) eram descritivos, reflexivos ou com notas teóricas e algumas vezes impressionistas; pequenos trechos desses registros são integrados à tese. Tanto nos registros de Diário de Campo, quanto nos trechos de entrevistas reproduzidos ao longo deste relatório de tese buscou-se modificar minimamente o texto original com correções para facilitar o entendimento do leitor; a preservação da originalidade dos relatos teve como objetivo permitir ao leitor

12 Informações da SINART apontam o terminal rodoviário de Salvador, com área construída de 21.500 m²,

possui um movimento de 14,4 milhões de usuários/ano, enquanto o terminal de Feira de Santana recebe um momento de 2,3 milhões de usuários/ano, com área construída de 5.100 m²; e o terminal de Camaçari, com 2.900 m², tem movimento estimado em um milhão de usuários/ano. Fonte: http://www.sinart.com.br/institucional.php

compreender, mais que o conteúdo narrado, compreender o modo como a história é narrada, seus atores e como interagiram com a interlocutora. Na reprodução utilizou-se aspas simples para sinalizar as passagens nas quais o entrevistado reproduzia sua fala ou de outra pessoa incluída no relato; colchetes foram empregados para esclarecimentos feitos pela pesquisadora para facilitar a compreensão do leitor, já na finalização deste estudo.

A pesquisa documental se pautou em dois objetivos articulados: resgatar a história dos roubos a ônibus e contextualizar a problemática no cenário atual; constituir uma base de dados a partir da qual fosse possível identificar tendências, reações sociais e dialogar com outras fontes. Dois bancos de notícias analisados, jornal ‘A Tarde’, no período de janeiro de 2003 a junho de 2011, e ‘Folha de São Paulo’, de 1971 a dezembro de 2009, totalizaram 136 artigos. O primeiro deles é o jornal baiano de maior circulação e número de sucursais no estado, o período abrange desde a primeira publicação encontrada em versão online até o encerramento do primeiro semestre de 2011, último ano de produção de dados em campo; o segundo jornal, um dos maiores jornais do país, foi analisado desde a primeira notícia publicada (1971) sobre a temática até o último dia de 2009.

Como recurso auxiliar na complementação de dados foi aplicado um questionário (Apêndice 5) em policiais rodoviários e militares em eventos de formação restritos a instituições policiais, totalizando 41 questionários. Composto por dez questões o instrumento foi dividido em blocos temáticos abordando as condições da malha rodoviária federal e estadual, fiscalização das rodovias, evolução dos índices de roubos, perfil dos ofensores, defesas adotadas e seus efeitos.

No âmbito das considerações éticas em pesquisa e da necessidade de sigilo de informações, entre elas muitas contidas em processos criminais em andamento, e de proteção a pessoas, salienta-se que a identidade das participantes, instituições e pessoas citadas é preservada, portanto, os nomes encontrados no corpo deste trabalho são fictícios. Também por reconhecimento das especificidades das situações de vivência de vitimização e percepção de risco, a fim de evitar ou minimizar sofrimento emocional possivelmente decorrente da retomada de questões ansiógenas, as entrevistas foram realizadas exclusivamente pela pesquisadora que possui formação em psicologia clínica e com disponibilidade de encaminhamento a serviços de referência de entrevistados, quando a necessidade ou interesse em atendimento psicológico fossem identificados. O projeto de pesquisa com registro nº 066/09 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA em 15 de Dezembro de 2009.