• Nenhum resultado encontrado

3 CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO

3.1 O Macroambiente de Trabalho: Malha Rodoviária Brasileira e as Condições de

3.1.3 Polícia Rodoviária Federal: missão e estrutura

A estruturação das rodovias e seu consequente policiamento são relativamente recentes. A primeira polícia pública para patrulhamento de estradas foi criada em 1928, com a finalidade de exercer a fiscalização de três rodovias (Rio-Petropólis, Rio-São Paulo e União Indústria), no governo de Washington Luís (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL - DPRF, 2011). No período em que eram injetados os primeiros investimentos no desenvolvimento da infraestrutura rodoviária do país (PEREIRA; LESSA; CARDOSO, 2008), a chamada “Polícia de Estrada” foi organizada por um patrulheiro cuja função era percorrer e fiscalizar as três rodovias com o auxilio de 450 vigias (da Comissão de Estradas de Rodagem) e duas motocicletas (DPRF, 2011).

A denominação “Polícia Rodoviária Federal” (PRF) ocorreu com sua vinculação ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, atual DENIT) em 1945. Somente com a Constituinte (1988), até então pertencente ao Ministério dos Transportes, a PRF é incorporada ao Sistema Nacional de Segurança Pública com a missão de patrulhar ostensivamente as rodovias federais. Mais recentemente (1991) a PRF torna-se Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF) e integra a estrutura organizacional do Ministério da Justiça. Sob diferentes perspectivas, sustentabilidade e natureza da instigação, pode-se afirmar que o DPRF é um órgão de auto-sustentabilidade advinda da arrecadação de multas e parcerias de cooperação técnica e financeira. Sob a perspectiva da natureza da motivação das atividades empenhadas, é tanto uma polícia proativa, quanto reativa; enquanto as ações proativas são disparadas e direcionadas pela própria polícia, em algumas vezes até mesmo em conflito com a população e suas demandas, a ação reativa é originada e direcionada às solicitações da população (BAYLEY, 2002).

As atribuições do DPRF e seu corpus são determinados principalmente pelo Regimento Interno do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (Portaria nº 1.375) (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007), Código de Trânsito Brasileiro, no qual é definida como polícia de trânsito, e pelo Decreto 1.655/95 (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007; POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2011), que versa sobre a competência da PRF23. Como missão, cabe à PRF “fiscalizar diariamente mais de 61 mil quilômetros de rodovias e estradas federais, zelando pela vida daqueles que utilizam a malha viária federal para

23 A atuação da PRF é definida ainda no Artigo 144 da Constituição Federal, na Lei 8.112/90 – Estatuto do

Funcionário Público Civil da União e Portaria Ministerial/MJ Nº 1.017/2002 que versa sobre o Regimento Interno.

exercer o direito constitucional da livre locomoção” (POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2011). Possível resquício de seu passado de polícia de trânsito vinculada ao Ministério dos Transportes, o caráter amplo e vago de sua missão, talvez justifique o descontentamento por parte dos gestores de delegacias baianas com a missão considerada “não clara”.

Semelhantes em seu conteúdo, o Regimento Interno e o Decreto 1.655/95 estabelecem que à Polícia Rodoviária Federal enquanto órgão do Ministério da Justiça (2007) é responsável por atribuições que podem ser alocadas em três eixos:

a) Segurança Pública

Policiamento ostensivo com finalidade de preservar a ordem e incolumidade de pessoas, patrimônio da união e de terceiros; escolta de autoridades e cargas (superdimensionadas ou perigosas); atividades investigativas como perícias, levantamentos de locais e boletins de ocorrências; assegurar a livre circulação de pessoas/veículos; controlar o tráfico de crianças e adolescentes nas rodovias e estradas federais; manter ações integradas com os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, de Transporte e de Segurança Pública no combate à violência no trânsito e segurança pública.

b) Autoridade de Trânsito

Fiscalização, aplicação de sanções e execução de atividades relacionadas ao cumprimento de legislações de trânsito (incluindo o transporte de pessoas e bens); promover atividades de educação para a segurança do trânsito; informar ao órgão competente as condições de tráfego, conservação e sinalização das vias que possam comprometer a segurança do trânsito e adotar medidas emergenciais à sua proteção; prevenção de acidentes.

c) Serviço de socorro a vítimas de acidentes

Administração de primeiros socorros e devido encaminhamento de vítimas.

Resultante da diversidade de atividades executadas, o DPRF é um departamento de polícia altamente compartimentalizado e especializado, composto por oito unidades que se desdobram em 88 divisões (figura 6):

• Unidades Centrais: Gabinete - DPRF/GAB, Corregedoria-Geral - CG, Coordenação-Geral de Planejamento e Modernização Rodoviária - CGPLAM, Coordenação-Geral de Operações - CGO, Coordenação-Geral de Recursos Humanos - CGRH, Coordenação-Geral de Administração - CGA.

• Unidades Desconcentradas: Superintendências Regionais de Polícia Rodoviária Federal - SRPRF, Distritos Regionais de Polícia Rodoviária Federal - DRPRF.

Figura 6 - Organograma do Departamento de Polícia Rodoviária Federal Fonte: http//:www.dprf.gov.br

Dentre as divisões encontram-se Núcleos cujas atividades são diretamente relacionadas ao combate a crimes, que são:

• Divisão de Operações de Inteligência;

• Seção de Contra-Inteligência, que compete principalmente o intercâmbio com os demais órgãos do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública;

• Coordenação de Controle Operacional e Núcleo de Operações Especiais, aos quais competem, respectivamente, coordenar/supervisionar e executar, acompanhar e promover:

1. Policiamento, segurança, inspeção e fiscalização de trânsito;

2. Prevenção e repressão aos crimes de roubo e furto de veículos e cargas, tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, tráfico de armas, munições e produtos controlados, contrabando, descaminho, falsificação de produtos, adulteração de combustíveis, outros crimes contra o patrimônio e demais delitos praticados nas rodovias e estradas federais;

3. Combate ao trabalho escravo, à exploração sexual infanto-juvenil, ao tráfico de seres humanos, aos crimes ambientais, à lavagem de dinheiro, ao crime organizado e demais delitos transnacionais que utilizem as rodovias sob jurisdição para sua consecução.

• Seção de Policiamento e Fiscalização, responsável por planejar, supervisionar e executar:

1. Policiamento, escolta, segurança e medicina rodoviária, inspeção e fiscalização de trânsito, transporte de pessoas e bens, controle e arrecadação de multas, prevenção e repressão ao roubo e furto de veículos e de cargas, prevenção e levantamento de locais de acidentes, socorro e salvamento de vítimas, credenciamento de escoltas, estatísticas e transitometria.

• Núcleo de Policiamento e Fiscalização, responsável por programar, coordenar e executar:

1. Policiamento e segurança rodoviária, credenciamento de escoltas, inspeção e fiscalização do trânsito, transporte de pessoas e bens, prevenção e repressão de roubo e furto de veículos e de cargas, identificação e monitoramento de locais de acidentes, socorro e salvamento de vítimas, elaborar estatísticas e transitometria.

Com estrutura atual de vinte e uma Superintendências Regionais24, cinco Distritos Regionais e 150 Delegacias25, O DPRF dispõe de 400 Postos (ou Bases) de Fiscalização ao longo de todo território nacional (POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2011). Quando se considera a relação entre o número de delegacias por 100.000km nos estados que ocupam a primeira e segunda posição em extensão rodoviária, enquanto Minas Gerais, detentor da maior malha (269.545,5 km) (GOVERNO DE MINAS GERAIS, 2011) conta com sete delegacias, a Bahia com 122.390km de rodovias e estradas (BANCO NACIONAL DO NORDESTE, 2009) possui oito delegacias para cada 100.000km de rodovias. Não é possível afirmar que usuários da malha rodoviária federal na Bahia usufruam de um policimanento mais ou menos eficente, apenas inferir a superioridade numérica estrutural (de delegacias) na malha baiana em relação à mineira.

A análise interestadual comparativa e adequada consideraria o número de postos policiais por trecho, ocorrências de roubos, viaturas e homens. No entanto, a obtenção desses dados não foi possível, por razões apontadas no início deste capítulo. Com relação ao número de bases de fiscalização por delegacia baiana, nos 6.512 quilômetros de malha federal (RIOS, 2009), dez delegacias totalizam 26 postos distribuídos entre as cidades de Simões Filho, Feira de Santana, Jequié, Senhor do Bonfim, Itabuna, Seabra, Paulo Afonso, Vitoria da Conquista, Eunápolis e Barreiras. A alocação de postos por Delegacia não é explicada unicamente pela extensão da malha rodoviária; fluxo e características dos veículos que utilizam pelas vias e geografia são fatores relevantes.

Comparada com outras polícias, a Polícia Rodoviária Federal26 é considera pelos próprios policiais como “o primo rico” dentre as polícias públicas. Enquanto os servidores da Polícia Civil e da Polícia Militar do estado se queixam da ausência de estrutura e

24 Os estados são divididos em unidades administrativas chamadas de Regionais, que podem abranger mais

de um estado, são divididas em Delegacias. Nos estados maiores a regional será uma Superintendência, nos estados menores, um Distrito (POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2011).

25 Contabilizando uma delegacia a mais que o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, a Portaria 1.375

quantifica as 151 delegacias que compõem as Superintendências por unidade da federação: Goiás, com sete delegacias; Mato Grosso, com oito delegacias; Mato Grosso do Sul, com dez delegacias; Minas Gerais, com dezoito delegacias; Rio de Janeiro, com dez delegacias; São Paulo, com dez delegacias; Paraná, com sete delegacias; Santa Catarina, com oito delegacias; Rio Grande do Sul, com quatorze delegacias; Bahia, com dez delegacias; Pernambuco, com oito delegacias; Espírito Santo, com quatro delegacias; Alagoas, com três delegacias; Paraíba, com três delegacias; Rio Grande do Norte, com quatro delegacias; Ceará, com cinco delegacias; Piauí, com cinco delegacias; Maranhão, com cinco delegacias; Pará, com cinco delegacias; Sergipe, com duas delegacias; Rondônia e Acre, com cinco delegacias. Os cinco distritos regionais são localizados em Tocantins, Distrito Federal, Amazonas, Amapá e Roraima (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007).

26Gaspary, Selau e Amaral (2008) citam brevemente um estudo (ver SANTOS, 2004) sobre fatores que

contribuem para a motivação ou desmotivação dos Policiais Rodoviários Federais, com relação a condições de trabalho e conforto, apesar de 39,53% dos entrevistados a consideraram regular, 18,60% ruim e 13,95% péssima, 79,55% dos policiais afirmaram sentirem-se motivados para o trabalho.

instrumental para operações e investigações, que abrangem desde a irrisória cota diária de combustível veicular ao armamento/veículos inadequados e insuficientes, o principal desafio enfrentado pela PRF é a falta de contingente humano.

As queixas de efetivo insuficiente, relatadas de modo recorrente tanto pelo quadro operacional, quanto gestor, surgiram em entrevistas e em questionários quando abordadas as questões relativas aos principais problemas enfrentados pela instituição e fatores que favorecem os roubos a ônibus, respectivamente, conforme trechos a seguir: “Falta efetivo para fiscalizar adequadamente” (Questionário 8); “Assaltos a caminhoneiros e veículos pequenos, ações rápidas de difícil repressão pela falta de efetivo” (Questionário 9); “O roubo a ônibus é um dos maiores problemas devido à falta de material humano na PRF” (Questionário 23); “Condições da rodovia, distância da força policial e falta de efetivo das instituições de segurança” (Questionário, 4); “Falta de policiamento no local de madrugada” (Questionário 8); “Resposta das polícias é lenta devido falta de efetivo e distâncias na BR” (Questionário 09); “Condições da rodovia – ondulações, quebra-molas, falta de policiamento” (Questionário 13); “Falta de movimento, policiamento e sinal de celular” (Questionário 21); “Distância entre postos e entre viatura, grandes distritos sem policiamento” (Questionário 25).

De fato, o efetivo atual de policiais na Sede em Salvador é 79,46% (89 policiais) do efetivo mínimo necessário (112 policiais); já nas delegacias, a defasagem é superior, encontra-se 68,75% (506) do efetivo mínimo, em lugar de 736 policiais, totalizando déficit de 70,17%. Há alguns anos sem concursos para aumento de efetivo e com o anúncio de suspensão de concursos federais pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior (SAMPAIO, 2011), não há, ao menos a médio prazo, perspectiva de ampliação do efetivo.