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Partindo da principal premissa do Interacionismo Simbólico de compreender a natureza das interações e das ações humanas (BLUMER, 1969; MEAD, 1972), a análise e compreensão das observações realizadas, das narrativas dos entrevistados contemplará as seguintes dimensões: macro, meso e micro (PAES-MACHADO; NASCIMENTO, 2004). Estas três dimensões configuram níveis hierárquicos que resultaram em categorias de análise. Na primeira dimensão, encontram-se os processos sociais que favorecem a vitimização, a saber: precariedade da malha rodoviária, empobrecimento de segmentos populacionais, policiamento deficitário, morosidade do judiciário e fortalecimento do crime organizado. Na dimensão intermediária encontram-se as condições do processo de trabalho que se relacionam com a vitimização, tais como: os itinerários, as medidas de segurança e de responsabilização adotadas pelas empresas de transportes coletivos. E por último, na dimensão central, encontram-se os danos produzidos pela vitimização como estresse, transtornos ansiosos, adicção, sentimentos de medo e vulnerabilidade, ferimentos e óbitos.

Diferentes tipos de textos são considerados narrativas, não apenas as histórias contadas, o que faz deles narrativas é a sequência e consequência, como os eventos são selecionados, organizados, conectados e avaliados como significativos para um público particular (RIESSMAN, 2005). Este estudo produziu diferentes tipos de narrativas, como notas de Diários de Campo e transcrições de entrevistas que requerem diferentes métodos para uma análise aprofundada, de acordo com a concepção de narrativa e metodologia de análise de Riessman (2005). Nesse sentindo, empregou-se a análise temática proposta pela autora, na qual enfatiza-se o conteúdo do texto ou o que é dito, de modo que pesquisadores da teoria fundamentada nos dados “criam agrupamentos conceituais a partir dos dados. A tipologia de narrativas organizadas por tema é a estratégia típica de representação, com estudos de caso ou vinhetas fornecendo ilustração” (RIESSMAN, 2005, p. 02)13.

Para o emprego da análise temática observou-se os critérios de recorrência de sentidos, exaustividade, contradições e dualidades, contradições e pertinência. Observou-se

13 Emphasis is on the content of a text, ‘what’ is said more than ‘how’ it is said, the ‘told’ rather than the

‘telling’. A (unacknowledged) philosophy of language underpins the approach: language is a direct and unambiguous route to meaning. As GROUNDED THEORISTS do, investigators collect many stories and inductively create conceptual groupings from the data. A typology of narratives organised by theme is the typical representational strategy, with case studies or vignettes providing illustration (RIESSMAN, 2005, p. 02).

ainda, os componentes estruturais básicos das narrativas, embora nem sempre todos estejam presentes: resumo; orientação quanto ao tempo, lugar, personagens e situação; ao tempo, lugar, personagens e situação, o ponto crítico do evento; avaliação, onde o narrador retrocede e comenta a emoção e o significado, que é a ‘alma’ da narrativa; a resolução e o encerramento com o retorno ao momento presente (RIESSMAN, 2005).

Da articulação entre os objetivos propostos neste estudo as seguintes categorias analíticas foram eleitas:

• Relações e condições de trabalho do rodoviário interurbano na Bahia. • Cronologia dos roubos no território nacional.

• Autores e formas de roubos a ônibus.

• Vitimização por roubos e seus efeitos na saúde e relações de trabalho. • Medidas de atenção e suporte às vítimas.

• Defesas organizacionais e pessoais.

A análise da vitimização por roubos foi organizada a partir dos pressupostos teóricos da Teoria das Vantagens Ecológicas e da Teoria das Atividades Rotineiras. As categorias teórico-operacionais estiveram em constante relação dialética com as categorias nativas ou êmicas (HARRIS, 1999).

Quanto a análise do banco de notícias, a análise do jornal A Tarde iniciou-se com uma pré triagem das notícias divulgadas diariamente no jornal e separação das matérias cujas chamadas contivessem qualquer um dos termos: assalto, roubo, saques, ônibus/coletivos, transporte, rodovia(s), estrada(s), rodoviário(s), motorista(s), cobrador(es) e passageiro(s). As notícias relacionadas a “roubos a ônibus” e às “condições das estradas de rodagem na Bahia” foram analisadas detalhadamente e catalogadas em duas planilhas; a primeira permitiu a caracterização da malha rodoviária do estado, das condições de tráfego e conservação das rodovias; a segunda planilha permitiu a análise dos roubos e inclui data e horário, modo de abordagem e agrupamento dos autores do delito, itinerário e empresa, reações dos envolvidos, vítimas do evento e foco da notícia. Obviamente, poucos relatos continham todas essas informações. Uma terceira planilha foi desenvolvida para indexação das notícias sobre roubos a ônibus urbanos a fim de subsidiar possíveis comparações futuras entre roubos a coletivos urbanos e interurbanos.

O banco de notícias do jornal Folha de São Paulo foi composto por notícias que se referiam exclusivamente a roubos a ônibus em rodovias, no território nacional, excluindo-

se as condições de conservação das vias. Para a seleção de notícias, realizada pelos servidores do próprio jornal, utilizou-se o cruzamento dos termos: assalto, roubo, rodovia(s), estrada(s), saque(s), ônibus/coletivo e passageiro(s). Uma planilha construída pela pesquisadora permitiu que fossem analisados a localização temporal (mês, década e ano) e espacial (estado, região e itinerário) do evento, modo de abordagem, agrupamento e ação dos autores do delito, reações dos envolvidos, perdas, danos e vítimas do evento. Na recuperação de informações a respeito de autores dos roubos a ônibus, recorreu-se também aos arquivos de um complexo penitenciário da cidade de Salvador, onde se buscou prontuários de possíveis sentenciados pela prática de roubo. A estratégia foi abandonada depois de constatada a insuficiência de informações contidas nos prontuários.