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Integração do Cadastro Imobiliário Urbano ao Registro

Rambo (2000) demonstrou que a sistemática de retificações na matrícula, a partir de informações provenientes do CIU foi exigida para todo o Brasil através da LRP, pela qual o legislador recusou na época a proposta de Carvalho (1998, p. vii-viii202, 395-407203 e 475- 479204) que em 1947 e depois em 1969 tentou implantar o Cadastro Urbano e Rural como

202“O Código Civil de 1916 trouxe inegável progresso ao Registro de Imóveis ao atrair ao âmbito deste [...] para fortalecê-lo a presunção de titularidade em favor de quem nele figurar. Todavia, ficou a meio caminho do seu alvo, deixando de adotar o princípio de fé pública e o cadastro, para os quais faltavam na ocasião os elementos essenciais. [...] Por duas vezes, liguei-me a tentativas de aperfeiçoamento do registro, primeiro em 1947, quando redigi para o governo o Projeto de Lei Agrária, depois, em 1969, quando preparei para o Ministério da Justiça um Anteprojeto de Reorganização do Registro de Imóveis. [...] Da primeira vez, preocupei-me sobretudo em acrescentar o cadastro ao registro, mas em vão. Da segunda, cogitei não só disso como de lhe propor inovações de direito material e de direito formal”. (CARVALHO, 1998, p. vii-viii). 203Consiste noCapítulo 21 – Planta e Cadastro, onde Carvalho propõe o desenvolvimento gradativo de um

novo Cadastro como sendo um setor do RI, mediante arquivamento de plantas do agrimensor sem previsão de aprovação pelas prefeituras. A falta de certificação do Município, atestando em certidão a existência dos limites no CIU, não foi citada no texto, mas parece ser substituída pela assinatura dos confrontantes na Planta do Imóvel, atestando a veracidade dos limites ali descritos. “A planta parte da iniciativa do interessado, sendo subscrita por ele e pelo agrimensor que a elaborou. Todavia, convém que, embora continue, a partir da iniciativa do interessado, ela seja subscrita também pelos confrontantes, que assim atestarão a veracidade das linhas de divisas formadoras do perímetro. Como se sabe, o imóvel é definido pelo perímetro, de sorte que, vindo este reconhecido pelos confrontantes, se assegura à planta, integrante do título, muito mais firmeza.” (p. 395). “No entanto, parece chegada a ocasião de liquidar esse incrível alheamento cartorial à planta, aproveitando a sua passagem, para imprimir a sua estampa no livro de inscrição para conhecimento de

terceiros, bastando [...] reproduzir a planta na folha de matrícula. §Esse aperfeiçoamento [...] faz o nosso

registro passar à frente do alemão, onde, por enquanto, a inserção do plano geográfico na inscrição ainda constitui um augúrio doutrinário” (p. 399). “Uma vez instalado o cadastro num cartório, a conferência da planta passa a fazer parte do exame da legalidade do título, porque todos os títulos com suas plantas hão de passar pelo cadastro, a fim de que se verifique se a representação individual dos imóveis é compatível com a sua representação coletiva. A generalidade desse encaminhamento abrange os títulos e plantas de divisões e demarcações” (CARVALHO, 1998, p. 405).

204Anteprojeto de Lei apresentado pelo autor Carvalho ao Ministro da Justiça em fevereiro de 1969 (revisto). (CARVALHO, 1998, p. 475-479).

sendo um setor do RI. A proposta contém alternativas para superar a quase inexistência, no Brasil, de Cadastros naquela época.

Apesar das enormes dificuldades que os técnicos dos Cadastros tem enfrentado, tentando durante décadas se entender com a política corporativista de advogados e de registradores, na doutrina se entende que a proposta de Carvalho tem pontos positivos, indicando que a implantação, mesmo parcial, ocorrerá na direção desejada. Carvalho (1998) afirma que, quando a LRP introduziu a matrícula no nosso RI:

também previu o seu correlacionamento com o cadastro, para o que incluiu entre os requisitos a identificação do imóvel ‘a sua designação cadastral, se houver’ (Lei nº 6.015, de 1973, art. 176, parágrafo único, II, nº 3,in fine). Embora haja lançado essa deixa para o estabelecimento do cadastro, na realidade a previsão caiu em ponto morto. Oxalá se possa saudar em breve o advento, senão do cadastro, pelo menos da cópia da planta na folha da matrícula do imóvel. (CARVALHO, 1998, p. 407).

Carneiro (2000) apresentou uma “proposta de reforma dos cadastros visando a sua

integração com o Registro de Imóveis” (p. 4), conforme tendências “identificadas em

estudo da FIG a partir de projetos desenvolvidos em outros países” (p. 2). Propõe unificar gradativamente o registro e os levantamentos cadastrais (p. 21) em uma só instituição, deixando claro que “Enquanto não houver um órgão ou profissional com responsabilidade técnica e fé pública para produção e manutenção dos dados cadastrais, os cadastros permanecerão nas prefeituras.” (CARNEIRO, 2000, p. 153).

Segundo indica a Lei n. 10.931/2004 (art. 59, modificando a LRP, art. 212, 213 e 214), os agrimensores autorizados para medições ‘cadastrais’ avulsas, aparentemente estariam dispensados de encaminharem e aprovarem as plantas no Município, o qual passaria a depender de convênios para atualizar seus dados. Tal dispositivo pode ser inconstitucional, por omitir e ameaçar descaracterizar a competência do Município (CRFB, art. 30, V e VII) no controle direto dessas medições.

Nalini (1996, p. 18) demonstra ser relativa a proposta de Diniz, segundo a qual o aperfeiçoamento e a complementação das matrículas de todos os imóveis particulares formará um perfeito cadastro geral da propriedade imobiliária no Brasil. Numa tentativa de reorganizar o sistema registral urbano, destaca a possibilidade de integrar o Cadastro ao Registro. Entretanto, considera aceitável a implantação efetiva de Cadastro independente:

O núcleo conceitual comum tende a considerar Registro de Imóveis e Cadastro uma só coisa. [...] No Uruguai, já se tentou converter os dois organismos em um só Banco de Dados ou fundi-los em híbridas serventias. (NALINI, 1996, p. 23).

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A pretensa finalidade essencialmente fiscal do cadastro gera desconfiança de parte dos registradores. [...] Preservada a distinção entre as instituições, nada impediria que contribuíssem os registradores para a efetiva implantação do cadastro: Já se definiu o Cadastro como ‘o registro público que investiga permanentemente, por meio de operações técnicas e periciais, a ubicação, extensão e valor de cada uma das parcelas que formam a riqueza territorial do país’.

Não se trata de converter o cadastro em seção das serventias prediais, embora esta constituísse a proposta de Afrânio de Carvalho [...]. Já possuem os registradores, portanto, fundamento normativo para a realização de uma verdadeira reengenharia cartorial. [...] Construir uma nova doutrina de operacionalidade na inscrição. Conferir ao cartorialismo sinonímia de eficiência, esvaziando-o do teor semântico vinculativo a práticas obsoletas, corporativistas e eticamente inadequadas. (NALINI, 1996, p. 25-26) (Destaques nossos).