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2.5 Alguns dos princípios do SUS na política de atenção à aids

2.5.1 Integralidade

O princípio da integralidade emergiu no movimento sanitário brasileiro, uma bandeira de luta que soma-se ao ideal de uma sociedade mais justa e igualitária. A integralidade é repleta de sentidos e envolve todas as ações de saúde, desde o atendimento individual entre médico e paciente, alcançando até as formulações das políticas de saúde (PINHEIRO; MATTOS, 2001).

É intrínseca ao conceito de integralidade na saúde a superação da atenção fragmentada, reducionista, na perspectiva de garantir uma atenção integral e que realmente atenda às necessidades das pessoas, com seus fatores sociais e psicológicos.

Cabe defender a integralidade como um valor a ser sustentado e defendido nas práticas dos profissionais de saúde, um valor que se expressa na forma como os profissionais respondem aos pacientes que lhe procuram (PINHEIRO; MATTOS, 2001).

A integralidade está presente no encontro, na conversa em que a atitude do médico busca prudentemente reconhecer, para além das demandas explícitas, as necessidades dos cidadãos no que diz respeito à sua saúde. Também está presente na preocupação desse profissional com o uso das técnicas de prevenção, tentando não expandir o consumo de bens e serviços de saúde nem dirigir a regulação dos corpos (PINHEIRO, 2008).

Com o SUS, iniciou-se um processo marcado por mudanças jurídicas, legais e institucionais nunca antes observadas na política de saúde do Brasil. O acesso aos serviços possibilitou o aparecimento de ricas e diferentes experiências centradas na integralidade (PINHEIRO, 2008).

A integralidade traz, portanto, um convite aos formuladores das políticas de enfrentamento de certas doenças ao desafio de tornar compatíveis a perspectiva de controle, erradicação ou mesmo simples mudança da magnitude da doença no país, estado e municípios, e a perspectiva dos direitos aos portadores da doença ao acesso aos serviços assistenciais. Isso implica que os formuladores não podem ter uma apreensão das necessidades de saúde da população exclusivamente através de indicadores epidemiológicos. Ou, de outro modo, não podem reduzir as políticas de saúde a políticas que tem por único objetivo reduzir a magnitude de certas doenças (PINHEIRO; MATTOS, 2003, p. 55).

A política de aids no Brasil, desde os primórdios nas primeiras ações no estado de São Paulo, já se respaldava no conceito da integralidade, garantindo assistência às pessoas com a doença e, simultaneamente, estabelecendo canais de comunicação, prevenção e informação, indo além do atendimento da doença propriamente dita.

No Brasil, talvez, seja a resposta governamental à aids a que mais se aproxima do principio da integralidade nesse ultimo sentido (o de abarcar a perspectiva preventiva quanto a perspectiva assistencial). A resposta governamental brasileira destoou de uma série de recomendações emanadas de agencias internacionais, como o Banco Mundial sobre as políticas frente à aids. A resposta brasileira, entretanto, norteou-se pelo princípio da integralidade, de modo que o governo assumiu a responsabilidade de distribuir gratuitamente os antirretrovirais aos pacientes com a doença, sem descuidar das práticas preventivas (PINHEIRO; MATTOS, 2001, p. 60).

A atenção à aids foi instituída como uma política especial, que não tinha condições de aguardar a consolidação dos princípios do SUS em toda rede de serviços

de saúde. Após iniciar suas ações, o movimento ocorreu ao contrário, a política de aids alavancou os princípios do SUS e mostrou que é possível implantá-los, mantendo a universalidade e a primazia das ações pelo poder público.

As criticas que se fazem ao programa de aids em relação ao SUS é sua excessiva verticalização. Assim enquanto a aids dispõe de recursos relativos, outras áreas da saúde sofrem escassez. Isso porque por pressão comunitária, mas também porque, como dizem os defensores do programa, o controle da doença é urgente e não pode esperar a consolidação de um sistema com todos os empecilhos que impedem o seu desenvolvimento em um país com as desigualdades do Brasil. Pode-se dizer que a verticalização se deve à historia que levou a construção do programa (FRANÇA, 2008, p. 58).

O (DDAHV é responsável pela regulação das ações em DST/aids em território nacional. Sua missão pauta-se em “formular e fomentar políticas públicas de DST, HIV/aids e hepatites virais de forma ética, eficiente e participativa, fundamentadas nos Direitos Humanos e nos princípios e diretrizes do SUS”. O Departamento tem dois grandes objetivos: “Reduzir a transmissão do HIV, das doenças sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; Melhorar a qualidade de vida das pessoas com DST, HIV, aids e hepatites virais” (O QUE FAZ O DEPARTAMENTO, s/d).

O DDAHV, como política pública, tem por meta a redução da incidência da doença e a melhora da qualidade de vida das pessoas portadoras. Para isso, definiu diretrizes como o fortalecimento, a implementação e a ampliação da institucionalização das ações de prevenção, promoção e assistência às DST, HIV e aids na rede do SUS, de forma integral e equânime, conforme os princípios do SUS, a promoção da defesa dos direitos humanos e a redução do estigma e da discriminação (VAL, 2012).

Para atingir esses resultados, seis grandes processos são considerados prioritários (O QUE FAZ O DEPARTAMENTO, s/d):

· fortalecimento da rede de atenção e linhas de cuidado às DST, aids e hepatites virais;

· prevenção, diagnóstico precoce da infecção pelo HIV e pelas hepatites virais e redução de risco e vulnerabilidade;

· promoção de direitos humanos e articulação com redes e movimentos sociais;

· aprimoramento e desenvolvimento da vigilância, informação e pesquisa; · aprimoramento da governança e da gestão;

· acesso universal aos medicamentos, preservativos e outros insumos estratégicos.

Uma das questões atuais na epidemia da aids é o acesso ao diagnóstico para o HIV, reconhecendo-se que o Brasil tem aproximadamente 250 mil pessoas infectadas pelo vírus que não foram diagnosticadas. Para ampliar o acesso à testagem, há campanhas de mobilização, como a “FIQUESABENDO”, que busca conscientizar a população sobre a importância da realização do exame, em especial o teste rápido diagnóstico para o HIV(FIQUESABENDO:..., s/d).18

O conjunto de ações para controle e assistência na arena do HIV/aids no Brasil seguem os princípios do SUS e também está inserido na agenda internacional liderada pela Unaids. Passados dez anos após a Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Ungass), o progresso na resposta global à aids foi discutido novamente em junho de 2011. O resultado da reunião foi uma nova declaração política de compromisso dos estados membros, inclusive o Brasil, sendo um quadro de perspectivas e desafios a serem enfrentados nos próximos anos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, DEPARTAMENTO DE DST, AIDS E HEPATITES VIRAIS, 2

Quadro 4 — Seis metas globais na aids a serem cumpridas até 2015. Brasil. 2012 1. Reduzir pela metade a transmissão sexual do HIV

2. Reduzir pela metade a transmissão do HIV em usuários de drogas 3. Garantir que nenhuma criança nasça com HIV

4. Aumentar o acesso à terapia antirretroviral para alcançar 15 milhões de pessoas em tratamento

5. Reduzir pela metade a mortalidade por tuberculose em pessoas vivendo com HIV;

6. Fechar o gap global de recursos para aids para atingir financiamento entre US$ 22 bilhões e US$ 24 bilhões por ano e reconhecer que os investimentos na

resposta à aids são uma responsabilidade compartilhada

Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, 2012.

O Brasil desenvolve um conjunto de ações com outros países, compreendendo que a saúde publica é fundamental para o desenvolvimento social e econômico. Assim, o País

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Os testes rápidos são realizados a partir da coleta de uma gota de sangue da ponta do dedo. O sangue é colocado em um dispositivo de testagem. Para chegar ao resultado, o profissional que o realiza segue um fluxo determinado cientificamente. Se o resultado for negativo, o diagnóstico é fechado. Em caso de resultado positivo para o HIV, é feito outro teste para confirmação. Assim, o resultado tem a mesma confiabilidade dos exames convencionais e não há necessidade de repetição em laboratório (FIQUESABENDO:..., s/d).

está comprometido com o apoio e a troca de conhecimento com outras nações, visando à promoção da saúde para todos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, DEPARTAMENTO DE DST, AIDS E HEPATITES VIRAIS, 2012).

A declaração política também aponta a necessidade de aprimorar o acesso aos serviços de saúde das populações vulneráveis, como aquelas formadas por homens que fazem sexo com homens, usuários de droga e profissionais do sexo, assim como de eliminar iniquidades e abuso com base em gênero.