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O cenário da pesquisa: zoom nos distritos de Campo Limpo e M’bo

A coordenadoria de saúde sul da cidade de São Paulo é formada pelos distritos: Campo Limpo; M´boi Mirim; Capela do Socorro, Santo Amaro e Parelheiros. O presente estudo foi realizado com residentes no território de Campo Limpo, com os distritos administrativos de Campo Limpo, Vila Andrade e Capão Redondo, e também de M’boi Mirim, com os distritos administrativos do Jardim Ângela e do Jardim São Luiz, que especificamente realizam acompanhamento para o HIV/aids no SAE Jardim Mitsutani. Esses distritos fazem divisa com os municípios de: Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu.

A população que vive nos distritos administrativos de Campo Limpo e M’boi Mirim ultrapassa a população de grandes cidades do estado de São Paulo. De acordo com Censo do IBGE de 2010, o município de Guarulhos tem população de 1.221.979 habitantes; Campinas, 1.080.113; São Bernardo do Campo, 765.463; São José dos Campos, 629.921; Santos, 419.400. Assim, se Campo Limpo e M’boi Mirim formassem um município no estado de São Paulo, ocuparia o segundo lugar no ranking dos municípios mais populosos.

Tabela 3 — População por faixa etária, distritos de Campo Limpo e M’boi Mirim, 2011. São Paulo. 2013

Distritos Faixa etária Total

0-9 anos 10-19 anos 20-59 anos 60 anos ou mais

Campo Limpo 94.898 104.814 371.832 46.742 618.286 M’boi Mirim 91.096 103.136 337.579 39.357 571.168 Total 185.994 207.950 709.411 86.099 1.189.454 Fonte: BOLETIM CEINFO..., 2012.

Segundo o BOLETIM CEINFO... (2012), Campo Limpo tem uma população estimada de 321.882 mulheres e 296.404 homens; M’boi Mirim, de 295.332 mulheres e 275.836 homens.

A região de Campo Limpo reúne os distritos periféricos de Campo Limpo e Capão Redondo, contendo 237 favelas; há 15 áreas de risco de desabamento, de forma que, em períodos de fortes chuvas, a região é assolada pelas enchentes de córregos, em função do despejo de entulho em locais irregulares. Déficit habitacional e enchentes são os grandes problemas da região; na falta de habitações adequadas, parte da população menos favorecida passa a viver em submoradias, à beira de córregos (BORELLI, 2012, p. 65).

Sobre a região de M’boi Mirim, a pesquisadora destaca:

A história de M’boi Mirim, que inclui os distritos de Jardim Ângela e Jardim São Luís, vincula-se ao desenvolvimento da região de Santo Amaro, polo de industrialização nos anos 1960. O processo de ocupação intensificou-se no auge do processo industrial, quando diversas vilas começaram a surgir na zona sul. Eram, na maioria, moradias dos operários que estavam chegando de vários estados e do interior paulista para trabalhar nas fábricas que se instalaram em Santo Amaro, até a explosão demográfica da região, a partir do fim da década de 1960, quando a ocupação tornou-se desordenada, inclusive em áreas de preservação de mananciais (BORELLI, 2012, p. 65).

O conceito de vulnerabilidade social vem sendo estudado para compreensão das desigualdades sociais, caracterizada por múltiplas dimensões. “A vulnerabilidade social é entendida como uma combinação de precariedades, de falta de recursos socioeconômicos com circunstâncias peculiares do ciclo de vida familiar, como a presença de grupos demográficos específicos” (SÃO PAULO [município], 2004, p. 22).

Também de acordo com o Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo:

A privação no contexto urbano é um fenômeno bastante complexo, com múltiplas dimensões e de difícil mensuração direta, o que muitas vezes impõe a geração de indicadores aproximados. Pode-se considerar que a sobreposição territorial de fenômenos como privação socioeconômica (indicadores de renda e escolaridade ruins), presença de certos grupos etários, incidência de riscos específicos (certos agravos à saúde, exposição à violência), além de precárias condições de acesso a políticas públicas, indicam locais onde é muito plausível encontrar famílias em situação de vulnerabilidade, que, em tese, deveriam ser objeto de intervenções públicas específicas. É esse somatório de precariedades que, para além das simples linhas de pobreza, expressa as condições de vulnerabilidade social, inscritas em determinados territórios da cidade (SÃO PAULO [município], 2004, p. 35).

Um importante indicador que auxilia na compreensão da desigualdade na cidade de São Paulo é o índice paulista de vulnerabilidade social (IPVS), elaborado pela Fundação Seade: proporciona ao gestor do setor público e à sociedade uma visão

detalhada das condições de vida do município, com a identificação e localização espacial das áreas que abrigam os segmentos populacionais mais vulneráveis à pobreza (SÃO PAULO [município], 2004).

Com a composição de indicadores socioeconômicos e demográficos, o IPVS classifica e gradua cada setor censitário em seis grupos de vulnerabilidade social, sendo o grupo 1 o mais bem classificado e o 6 o pior, separado por cores. A dimensão socioeconômica compõe-se da renda apropriada pelas famílias e do poder de geração dessa renda por seus membros. Já a dimensão demográfica está relacionada ao ciclo de vida familiar.

A Figura 2, a seguir, mostra a divisão cidade de São Paulo de acordo com as coordenadorias de saúde, as supervisões técnicas de saúde e as subprefeituras. O objetivo de sua inclusão neste trabalho é facilitar a localização os distritos de Campo Limpo e M’boi Mirim. A Figura 3 é o Mapa da Vulnerabilidade Social da cidade de São Paulo de 2004, marcado por cores que detalham o grau de vulnerabilidade.

Os distritos administrativos de Campo Limpo concentram-se no Grupo 4 (vulnerabilidade média), com predomínio na concentração de famílias jovens e crianças pequenas, considerando-se que há bairros com excelentes índices nessa região.30 Nos

distritos de M’boi Mirim, há predomínio dos IPVS 4 e 6, com altíssima vulnerabilidade social, com destaque aos bairros do distrito do Jardim Ângela, localizados próximos a áreas de mananciais. É nítida a concentração dos maiores índices de vulnerabilidades na região sul da cidade de São Paulo

As moradias de ambas as regiões retratam o aumento populacional, com construções feitas em espaços cada vez menores, processo que constitui um aglomerado de moradias: quanto mais próximo do comércio da região, menor é esse espaço. Nos bairros mais distantes dos centros comerciais locais, há construções com espaços mais amplos, como nos bairros próximos à represa de Guarapiranga, Jardim Aracati e Cidade Ipava, localizados no distrito do Jardim Ângela.

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A favela de Paraisópolis, localizada no distrito de Vila Andrade, é considerada a segunda maior favela paulistana. Com aproximadamente 85 hectares, corresponde a 8,2% dos 1.030 hectares do distrito. Estima-se que sua população ultrapasse 30 mil habitantes. A densidade demográfica é de 520 habitantes por hectare; comparando-se esses dados com os da densidade demográfica do distrito de Vila Andrade (72,2 habitantes por hectare) e do Morumbi (30 hab/ha), ficam claros os contrastes e a disparidade no uso do solo urbano nessa região de São Paulo. Enquanto as áreas já precárias das favelas sofreram um incremento de sua população e das construções, em proporções bem elevadas, as áreas do entorno tiveram um crescimento menor ou até mesmo um decréscimo de sua população (SILVA, 2006).

FIGURA 2: MAPA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 2: Mapa da cidade de São Paulo de acordo com as supervisões técnicas de saúde e

subprefeituras. Disponível em: <http://intranet.saude.prefeitura.sp.gov.br/areas/ceinfo/divulgacao>; acesso em: 5 jan. 2013.

FIGURA 3: MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIAL DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 3: Mapa da vulnerabilidade social da cidade de São Paulo. 2004. Disponível em:

<www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/observatorio_social/mapas/index.php?p= 2012>; acesso em: 5 jan. 2013.

Segundo o Censo de 2010, nos distritos de Campo Limpo há 47.824 construções denominadas “aglomerados”,31 com 165.494 pessoas. Nos de M’boi Mirim, são 43.220

construções, com 152.166 pessoas, com média de 3,5 pessoas por família nos dois territórios.

A população negra e parda nos distritos de Campo Limpo é de 157.709 pessoas, com rendimentos mensais que variam entre R$ 927,31 e R$$ 1.132,80. Nos distritos de M’boi Mirim, a população negra e parda é de 160.395 pessoas, com rendimentos entre R$ 896,53 e R$ 922,95 (BOLETIM CEINFO..., 2012).

Em 1995, o distrito do Jardim Ângela apresentava uma taxa de 112 homicídios por 100 mil habitantes (índice que subia para 200/100 mil quando calculado apenas sobre a população masculina entre 15 e 25 anos). No fim dos anos 1990, esse distrito foi apontado pela ONU como a região mais violenta do planeta. Porém, de 1999 até 2005, ano em que os últimos dados foram divulgados, o número de homicídios não para de cair — verificou-se uma queda de mais de 50%, sendo que, em 2005, o índice atingiu seu número mais baixo em décadas: 43 homicídios por 100 mil habitantes (ALESSI, 2007).

Um conjunto de entidades sociais atua em ambas as regiões. Em M’boi Mirim, cabe destaque para a Sociedade Santos Mártires, liderada pelo padre irlandês Jaime Crowe. Um passo importante dessa entidade foi a organização anual da Caminhada pela Vida e pela Paz, a partir e 1996, com saída do Jardim Ângela até o Cemitério São Luiz. A mobilização conta com aproximadamente cinco mil pessoas, que protestam contra a violência e a ausência de serviços públicos na região. Em seguida foi fundado o Fórum em Defesa da Vida, que congrega mais de 200 entidades (ALESSI, 2007).

Pesquisa relatada em Giosa (2010) revelou que a região administrativa da Subprefeitura de Campo Limpo, com seus três distritos, tinha 155 famílias, e 338 crianças e adolescentes estavam inseridos no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.32 Dentre os três distritos, o Capão Redondo concentrava 58% das crianças e dos

adolescentes, 30% em Campo Limpo e 12% em Vila Andrade. Sobre o distrito do Capão Redondo, Giosa (2010, p. 67) destaca:

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O conceito de “aglomerado subnormal” foi utilizado pela primeira vez no Censo Demográfico de 1991. Tem certo grau de generalização, de forma a abarcar a diversidade de assentamentos irregulares existentes no País, conhecidos como “favelas”, “invasões”, “grotas”, “baixadas”, “comunidades”, “vilas”, “ressacas”, “mocambos”, “palafitas”, etc. (IBGE, 2010).

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Esse Programa, financiado pelo governo federal, a partir de 2001, teve como objetivo erradicar o trabalho infantil, com repasse mensal de recurso financeiro para as famílias com crianças e adolescentes em atividades laborais e de exploração (GIOSA, 2010).

O vertiginoso processo de industrialização pelo qual a cidade de São Paulo passou nas últimas décadas, contribuiu para uma gradual alteração na condição de vida de sua população. Em especial, o Distrito de Capão Redondo sofreu grandes transformações. Seus moradores têm convivido com a realidade do desemprego e subemprego, ausência de renda, dificuldade de acesso à habitação digna, aos transportes e a uma rede de serviços insuficiente. Há um alto grau de violência em decorrência da grande presença da rede de tráfico de drogas na região, que tem envolvido em suas malhas, um significativo número de crianças e adolescentes.

Quadro 6 — Estabelecimentos/serviços de saúde existentes na Supervisão de Saúde de Campo Limpo, Coordenadoria Regional de Saúde Sul, 2013

Serviços de Saúde Quantidade

Unidade Básica de Saúde 28

Atendimento Médico Ambulatorial (AMA) 5

Atendimento Médico Ambulatorial Especialidade (AMA E) 2

CAPS Adulto II 2

Núcleo Integrado de Reabilitação 2

Centros de Convivência e Cooperativa(Cecco) 2

Serviços de DST/Aids 2

Pronto Atendimento 1

Núcleo Integrado de Saúde Auditiva 1

Outros 1

Fonte: RELAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS/SERVIÇOS..., 2013.

Quadro 7 — Estabelecimentos/serviços de saúde existentes na Supervisão de Saúde de M’boi Mirim, Coordenadoria Regional de Saúde Sul, 2013

Serviços de Saúde Quantidade

Hospitais Municipais 2

Unidade Básica de Saúde 31

Atendimento Médico Ambulatorial (AMA) 8

Atendimento Médico Ambulatorial Especialidade (AMA E) 1

Ambulatório de Especialidades 1

CAPS Álcool e Drogas III 1

CAPS Adulto II 1

Núcleo Integrado de Reabilitação 2

Centros de Convivência e Cooperativa(Cecco) 1

Outros 2

No distrito de Campo Limpo, está localizada a Associação Espaço de Prevenção e Atenção (Epah).33 Fundada em 1994, em São Paulo, é uma organização não

governamental que atua na promoção da saúde, da prevenção e dos cuidados para o HIV/aids.

No distrito administrativo Jardim São Luiz está situada a Casa de Apoio Resplendor, destinada para o acolhimento de pessoas em tratamento de HIV/aids em situação de vulnerabilidade social. No distrito do Jardim Ângela está localizada a Associação Conviver e Viver, que, em parceria com o PM DST/Aids desenvolve atividades de prevenção para DST/HIV.

Entre os anos de 1980 e 2010, a região de Campo Limpo contabilizou 1.839 casos de aids; a de M’boi Mirim, 1.803 casos (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO PM DST/AIDS, 2011).

A rede de serviços da politica de assistência social nas duas regiões conta com diversas modalidades, por meio de convênios entre a Secretaria Municipal de Assistência Social (Smads) e entidades sociais.