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Até o presente momento, os argumentos foram apresentados de forma individual; no entanto, para a analise que se pretende fazer dos argumentos inseridos nos acórdãos, eles devem ser vistos como parte de um todo e em constante interação. Essa interação, ensinam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 523), além de ser contínua, atua em vários níveis: “interação entre diversos argumentos enunciados, interação entre estes e o conjunto da situação argumentativa, entre estes e sua conclusão e, enfim, interação entre os argumentos contidos no discurso e aqueles que têm este último por objeto.”

As condições em que se desenvolvem os fenômenos da interação são imprecisos, não têm seus limites bem definidos, mas, mesmo assim, são eles que determinam em grandes proporções a escolha do argumento, a amplitude e a ordem da argumentação. Ao empregar seus esforços argumentativos, o orador utiliza a força dos argumentos, dissertam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 524). Ela será variável e adaptar-se-á de acordo com o auditório e com o objetivo da argumentação, medindo-se pela dificuldade de refutação do argumento, bem como por suas próprias qualidades.

A força do argumento é medida por meio de um elemento normativo, que pode ser considerado uma das premissas da argumentação ou, ao menos, não se separa da noção de força. Lança-se dúvida sobre o que constitui o argumento forte: ele é eficaz porque determina a adesão do auditório ou é um argumento válido que determina a adesão do auditório? A força do argumento é uma qualidade descritiva ou normativa? Seu estudo depende da psicologia individual e social ou da lógica? A diferença de dois pontos de vista, baseada na dissociação normal-norma, é abarcada por Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 526), os quais dizem que não pode ser absoluta, uma vez que tanto o normal quanto a norma somente se definem em relação a um auditório, em que as reações fornecem a medida do normal, enquanto a adesão fundamenta as normas de valor.

Destacam Perelman e Olbrechts ([1988] 2005, p. 526) que essa diferenciação é muito importante quando as reações de um auditório determinam o normal e a compreensão de um outro é que fornece o critério da norma. A posição mais elevada da norma sobre o normal teria relação recíproca daquela de um auditório sobre o outro, e a distinção entre persuadir e convencer é essa hierarquização dos auditórios. A dissociação da eficácia de um argumento

de sua validade é que diminui sua eficácia, porque a interação entre o normal e a norma é uma via de mão dupla, na lição de Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 527): “se a eficácia, em certas circunstâncias, fornece o critério do válido, a idéia que se faz do válido não pode deixar de ter efeito sobre a eficácia das técnicas que visam persuadir e convencer.”

O parâmetro adotado por Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 528) para determinar a intensidade do argumento é a regra de justiça: o que convenceu em uma determinada situação poderá, também, convencer em uma situação semelhante ou análoga. A força dos argumentos, em grande parte, depende de um contexto tradicional que limitará a argumentação pelo hábito, pela lei, pelos métodos e técnicas próprias da disciplina em que se desenvolveu o raciocínio, e indicará o que é relevante, ou não, para a discussão. O contexto filosófico também exerce influência sobre a força dos esquemas argumentativos, quer seja pela determinação da estrutura do real e pelas justificações que elas lhes dão, quer pelos critérios do conhecimento e da prova válidos ou pela hierarquia dos auditórios que elas adotam.

A força dos argumentos pode ser usada de forma implícita ou explícita, como fator argumentativo, tanto pelo orador como pelo auditório. Essa força, na lição de Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 530), poderá ser superestimada através das seguintes técnicas: apresentar uma conclusão como mais certa do que é no entendimento do próprio orador; estender os acordos particulares, alcançados durante a discussão, sem que o interlocutor tenha dado sua adesão explícita. Por outro lado, também é possível limitar o alcance de uma argumentação, de manter a conclusão abaixo do que o autor podia esperar, consoante esclarecem Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 530). É quando essas técnicas são chamadas de atenuação, porque dão uma impressão positiva de ponderação, de sinceridade, contribuindo para afastar a ideia de que a argumentação é um expediente. Podem ser reconhecidas nas figuras da insinuação, da reticência, da litotes132, da diminuição e do eufemismo133, e têm a função de expressar uma vontade de moderação. As hipóteses e as utopias também podem diminuir as intenções da argumentação.

Da mesma forma que é possível o orador aumentar ou moderar a força dos seus argumentos, poderá utilizar técnicas para diminuir os argumentos do adversário, por meio da emoção exagerada sobre o assunto, desproporcional ao objetivo pretendido. Outra forma de

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Figura que consiste no emprego de uma expressão que diz pouco para fazer entender muito. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/litotes>. Acesso em: 25 set. 2015.

133Figura de linguagem baseada na substituição de palavra ou expressão que possa ter sentido triste, grosseiro, ou seja, apenas desagradável, por outra de sentido mais suave ou conveniente (p. ex.: traseiro no lugar de bunda, esguio no lugar de magro, descuidado no lugar de irresponsável, etc.). Disponível em: <http://www.aulete.com.br/litotes>. Acesso em: 25 set. 2015.

minimizar de antemão os argumentos dos adversários, de acordo com Perelman e Olbrechts- Tyteca ([1988] 2005, p. 531), é atribuir ao efeito de determinados argumentos, não seu valor próprio, mas diversos outros fatores relacionados à pessoa do orador. Essa técnica atua em três níveis diferentes: (a) no nível do juízo: a severidade normal de um pessoa é apresentada para diminuir o alcance de uma apreciação severa; (b) no nível do discurso: as qualidades do orados são destacadas (espírito, humor, talento), operando-se uma dissociação entre a força real dos argumentos e sua aparência, na qual se misturam o que se deve a eles e o que se deve a outros fatores; e (c) no nível da teoria da argumentação: no mais das vezes ,haverá a negação de força aos argumentos, por si só. Seus efeitos serão atribuídos a fatores irracionais ou à simples forma do discurso.

Pode-se, ainda, minimizar a força dos argumentos dos adversários, destacando-lhes o caráter genérico, previsto. E, por ser previsto, o argumento torna-se banal, esclarecem Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 532), não sendo levados em consideração ao adotar a posição que se defende. Além disso, pode ser considerado um expediente ou, também, através do ʽargumento próprio para a causaʼ que, em geral, adiciona algo às já existentes informações ou hábitos do pensamento. Nesse caso, utiliza-se o argumento do adversário acrescentando algo para lhe dar um entendimento diferente e até mesmo, contrário àquele que lhe era vinculado. Toda refutação reconhece no argumento combatido um valor considerável que deve merecê-la com o objetivo de obter prestígio, atrair melhor a atenção do auditório, assegurar aos argumentos utilizados determinada força no futuro e, assim, considerá-lo minimizado, a ponto de considerar a refutação suficiente, apontam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 533).

Argumentos que estão inseridos em um sistema (o que dificilmente acontece) têm condições de fazer um cálculo de probabilidades para uma conclusão fundamentada em várias premissas. Nesses casos, a probabilidade é fixada e relações são dadas para, reciprocamente, avaliar a possibilidade dessas premissas, a partir da observação de uma conclusão. A interação entre argumentos não consegue fornecer a precisão e a univocidade exigida por aqueles que estão inseridos em um sistema; no entanto, essas interações existem mesmo assim. A mais importante delas, pontuam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 535), é a chamada

convergência. Efetiva-se a interação dos argumentos quando vários argumentos diferentes

resultarem em uma mesma conclusão, sendo ela geral ou parcial, definitiva ou provisória. Isso porque não é possível que vários argumentos, completamente errôneos, resultem em uma mesma conclusão. Dessa interação podem surgir enumerações, exposição sistematizada ou um argumento de convergência claramente referido.

A convergência, algumas vezes, pode ser identificada de forma experimental, através da consiliência e da congruência. De acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 535-536), a primeira, a partir de Whewell, representa o fundamento mais sólido do raciocínio indutivo como, por exemplo, o número de Avogadro; e a segunda, é oposta à simples coerência. Exemplificam com a situação em que há várias testemunhas pouco dignas de credibilidade e que, ao prestarem depoimento, sem antes terem feito qualquer combinação, são concordantes em suas falas. O valor de seus testemunhos ganham força diante dessa situação, e o mesmo ocorre quando as opiniões individuais ganham força se existe a concordância de um número grande de pessoas.

Reconhece-se a convergência, também, entre um grupo conhecido e um argumento que o confirma. Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 536) exemplificam: “fato novo que corrobora um sistema científico, interpretação de um texto particular que corrobora um sistema jurídico, uma concepção de valores.” A convergência será dita difusa e não pode ser explicitamente alegada, quando se pretende relacionar áreas consideradas separadas umas das outras. Nesse caso, explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 536), é com “o

corpus inteiro do saber, das crenças que a argumentação tenderá a ser convergente.”

Modifica-se a força persuasiva da convergência por meio de uma avaliação sobre ela própria, tratando-se de argumentos intimamente ligados, dependentes um dos outros, dos quais os primeiros são objetos em que os segundos se baseiam. Não se fala, nesse caso, na interação de argumentos de um mesmo plano. O interesse está voltado para as relações entre conclusão e argumentos e de que forma estes são influenciados pela conclusão.

Outro ponto importante a ser observado é o alcance da argumentação, sua amplitude. No caso de duas demonstrações, em que as duas são coercitivas e partem das mesmas premissas para chegar às mesmas conclusões, normalmente, a mais curta parecerá a mais adequada, defendem Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 538). Na argumentação, isso não acontece, porque as premissas sempre podem ser fundamentadas ao apoiarem outras teses aceitas, com exceção dos casos em que as premissas são desenvolvidas no interior de um contexto dado previamente. As conclusões, no mesmo sentido, podem prolongar a argumentação, ultrapassando o objeto de debate quando se apoiam em algumas de suas consequências, com exceção de quando o ponto a ser julgado está bem delimitado. A acumulação útil dos argumentos não tem qualquer restrição e oferece benefícios para a relação dos argumentos e para a diversidade dos auditórios.

A argumentação complementar é um tipo de ampliação do argumento muito significativa e é reconhecida a partir dos argumentos inseridos como complementares de

argumentos anteriores, dos quais são completamente dependentes. Toda a dissociação do tipo aparência-realidade poderá ser completada de forma útil, através de uma explicação da diferenciação entre os termos I e II. Esse tipo de argumentação explica o atrativo da aparência, que poderá ter como consequência o aparecimento de uma convergência, explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 539).

Os autores, Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 540), ainda, situam a argumentação negativa no âmbito de revelar e combater os obstáculos postos diante da eficácia da argumentação positiva. Mostram o que motivou o auditório a não reagir como deveria aos acontecimentos ou aos discursos. Serve, mais uma vez, para desenvolver argumentos que seduzem o ouvinte, haja vista o auditório ser influenciado por razões que ele mesmo desconhece ou que não se atreveria a revelar.

A acumulação de argumentos pode ser justificada em função da diversidade dos auditórios, sem existir a necessidade de interação entre os argumentos, independentemente do número de ouvintes ao qual o orador se dirige. Isso fica mais claro, de acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 541), quando se encontram argumentos que parecem incompatíveis em um mesmo discurso, mas que, efetivamente, não o são, porque se aplicam a situações ou a auditórios diferentes. Essa situação é comum no Direito, quando as partes, ao apresentarem seus fatos e fundamentos, sejam eles na condição de autores ou na condição de réus, utilizam todos os argumentos disponíveis para abranger os mais diversos auditórios (parte adversária, juízes, desembargadores).

Os fatores que determinam a extensão dos argumentos podem ser limitados por diversos elementos: limites temporais ou espaciais, regras de procedimento ou de compostura e pela atenção que o auditório pode e quer conceder ao orador. Dependem, também, do número de oradores participantes do debate e seus papéis. A amplitude do discurso, de acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 543), depende do gênero do discurso e das funções que se atribuem ao auditório e, diante da abundância de fatores que se deve considerar, a regra a ser seguida é a de que o discurso se apresente na medida justa.

Deve-se considerar que a amplitude dos argumentos, em dado momento, pode ser perigosa, e o risco a ser evitado na extensão dos argumentos se faz na sua seleção, a partir das seguintes considerações, de acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 545- 546): como os argumentos utilizados influenciam a ideia que o ouvinte faz do orador, de forma que um argumento fraco poderá prejudicar o seu prestigio; como os argumentos podem levar o auditório a pensar coisas que não tinham chamado sua atenção antes, já que poderão interferir em posições já internalizadas; um argumento apresentado no discurso que parece

incompatível com as próprias afirmações do orador pode torná-lo ridículo ou criar dúvidas sobre sua sinceridade; um argumento apresentado no discurso que parece incompatível com as teses já admitidas pelo auditório dará trabalho ao orador para retificar a incompatibilidade apresentada; apresentar argumentos hipotéticos pode fazer crer que o orador não tinha confiança em seus argumentos anteriores.

As considerações anteriores, para evitar os perigos da extensão dos argumentos, poderão determinar a renúncia a certos argumentos. Além de outros elementos do discurso, renuncia-se, também, por causa das opiniões manifestadas pelo auditório, seja ele o auditório particular ou o auditório universal, de que o próprio orador faz parte. A utilização de argumentos fracos, explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 548), além de prejudicar outros argumentos mais fortes, presumirá que não existem melhores ou que sequer existem outros argumentos à disposição do orador. O silêncio também pode presumir a inexistência de outros argumentos úteis, como nos argumentos fracos. Os argumentos que apresentam uma réplica fácil são perigosos, por proporcionarem benefícios àquele que não introduziu o argumento no discurso. E o argumento que pode fazer o ouvinte ter uma interpretação desfavorável também é perigoso, e deve ser bem considerado na hora de sua aplicação.

Para evitar os perigos da amplitude dos argumentos apontados, utilizam-se todos os recursos que objetivam evitar ou dificultar a refutação, consoante destacam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 550-551): se a intenção é proteger a pessoa do orador do efeito negativo produzido por um argumento, será dito que eles foram sugeridos ou impostos ao orador; para evitar os efeitos negativos de argumentos incompatíveis e, normalmente, o orador introduz uma argumentação complementar, já alertando sobre a possibilidade de existir incompatibilidades entre os argumentos enunciados ou entre os argumentos e as crenças do auditório, demonstrando seu empenho em evitar esses inconvenientes; para se proteger dos perigos dos argumentos fracos, alega-se que sua função é subsidiária; e para se proteger dos perigos da diversão, insiste-se na importância de tudo quanto se adianta. Além de argumentos com efeitos perigosos, existem outros cujo uso demasiado explícito é indelicado e, outros tantos que são vedados. Sua utilização é por insinuação, alusão ou ameaça de utilização e, por esse motivo, representam uma semirrenúncia. Essa semirrenúncia a determinados argumentos ocasiona figuras de renúncia que manifestam mais do que a simples moderação do orador, salientam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 552), e, assim, podem ser representadas: (a) pela reticência: evoca uma ideia, mas deixa seu desenvolvimento para o ouvinte; e (b) pela preterição: sacrifício imaginário de um argumento.

As renúncias e as semirrenúncias são consideradas concessões. As concessões se encontram no campo da oposição aos perigos do exagero, da falta de limites, explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 552), e seus efeitos aproximam-se daqueles que se tem ao “não eliminar sistematicamente de uma exposição todas as circunstâncias desfavoráveis.” Serão fracassadas as concessões que permitirem inserir uma abertura num conjunto de elementos supostamente solidários. Por outro lado, só terão sucesso se tiverem como objetos elementos secundários.

A concessão é reconhecida sempre que se segue o interlocutor em seu próprio terreno; contudo, deve preocupar-se com as armadilhas que surgem nesse campo, de forma que Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 554) as apresentam: em uma delas, renuncia-se a combater o argumento do adversário, por ser reconhecida a impossibilidade de enfraquecê-lo. Ao mesmo tempo, mostra-se a pouca importância que aquele argumento tem; outra forma de concessão é ceder e, logo em seguida, voltar atrás. O orador reconhece que uma opinião atribuída a ele é errônea ou nega tê-la expresso, mas apenas para elaborar outra mais desagradável.

A ordem dos argumentos é um fator importante na argumentação, uma vez que sua adesão depende do auditório. Não é o caso da demonstração formal, na qual parte-se dos axiomas para terminar nos teoremas, e essa é a sua ordem. No caso da argumentação, o auditório modifica-se de acordo com o desenvolvimento argumentativo, e o orador procura condicionar esse auditório pelo discurso. Nos termos de Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 556), o discurso “não deixa o ouvinte tal como era no início, mas tampouco modifica-lhe as crenças de um modo irremediável, como fazem os elos de uma demonstração.” As mudanças do auditório são, a um só tempo, efetivas e contingentes, e, por esse motivo, a importância na ordem dos argumentos é relevante.

Por ser a argumentação, essencialmente, a adaptação do auditório, a ordem dos argumentos persuasivos deve considerar todos os fatores possíveis para favorecer a adesão dos ouvintes. Para fazer essa escolha, Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 557) apresentam três pontos de vista:

(a) o da situação argumentativa: preocupa-se com a influência das etapas anteriores da discussão sobre as possibilidades argumentativas do orador. O foco são as premissas que o auditório é levado a admitir, progressivamente; (b) o do condicionamento do auditório: preocupa-se com as modificações de

atitude do auditório ocasionadas pelo discurso. O foco são os sucessivos efeitos sofridos pelo ouvinte;

(c) o das reações provocadas no auditório: preocupa-se com a forma de apreensão de uma ordem do discurso pelo auditório.

Considerando que, na argumentação, as premissas são variáveis, elas podem valorizar-se no decorrer da argumentação, como podem, também, modificar a intensidade de sua aderência. A ordem dos argumentos, no geral, explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 557), será condicionada pelo desejo de destacar novas premissas, de dar presença a certos elementos e de obter determinados comprometimentos do interlocutor. Essa ordem é, ainda, uma das condições que determina a amplitude da argumentação, e tem como objetivo a conservação da reflexão individual no caminho certo, assim como define que direções úteis não sejam abandonadas antes do tempo (que certas premissas tenham presença suficiente para servir de ponto de partida da reflexão).

A compreensão de determinados argumentos só pode ser aceita se outros são conhecidos, de forma que aqui uma ordem se impõe. Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 557) explicam que, por vezes, o argumento é constituído da seguinte ordem: argumento da direção, da gradação e da amplificação. A mudança de ordem, quase sempre, acarreta a criação de um novo argumento e, normalmente, não é uma simples permutação. Isso inclui o que se consideram os elementos da argumentação. Como o que se busca com a argumentação é assegurar a apresentação de premissas firmes, “pode-se admitir que a exposição de fatos, ou seja daquilo que usufrui acordo mais amplo, será colocado favoravelmente no início de um discurso” apontam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 559). É o que acontece com a maioria das explanações jurídicas.

Podem-se encarar os argumentos como enunciados distinto que interagem, mas que podem ser dispostos de uma forma bem flexível. É possível, também, escolher agrupar ou dispersar os argumentos; todavia, essas escolhas sempre repercutirão na argumentação. Um discurso argumentativo, por ser revestido de complexidade, não pode ser reduzido a um enunciado da tese seguido de sua demonstração e será, normalmente, identificado por partes. O discurso judiciário é reconhecido pelos gregos, destacam Perelman e Olbrechts-Tyteca ([1988] 2005, p. 560), como sendo constituído de exórdio, narração, prova, refutação,