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Neste capítulo, descrevo e analiso como a professora e os alunos desenvolveram as aç es e pli a , le e i te p eta o te to e u e e to de let a e to ue o o eu a aula 30. Nessa aula, a professora discutiu com os alunos um texto intitulado de Maio. Dia da A oliç o da Es avatu a . Ao fazer um levantamento de quando e quantas vezes ocorreram as ações indicadas no Quadro 8, percebemos ue a p ofesso a dese ol eu a aç o E pli a o te to oite ta ezes, a aio ia delas a o pa hada da aç o Realiza e e í ios ep oduzidos po eio de foto pias ou i e g afo . Bus a os o p ee de o o os alu os se envolveram com a escrita através dessas ações. Organizamos o capítulo em quatro seções: na primeira, analisamos o momento em que a professora apresenta e dá as primeiras explicações sobre o texto e a atividade; na segunda seção, os alunos são organizados em grupo para a leitura do texto; na terceira, a professora retoma o texto e acrescenta oralmente informações; na quarta, os alunos fazem a interpretação escrita do texto.

11.1 Apresentação do assunto da aula: a Abolição da Escravatura

A análise de como as crianças podiam ter acesso à escrita em sala de aula levou à identificação de vários momentos em que esse acesso se dava por meio da explicação feita pela professora sobre um texto, uma atividade ou conteúdo, ou seja, durante o trabalho pedagógico. Esses eram momentos que ocupavam parte significativa do horário de aula: a professora coordenava os trabalhos e buscava ter todos os alunos como seus interlocutores. A seguir, apresentamos o primeiro momento quando a professora introduz o tema e explica a atividade para os alunos. Buscamos, nessa seção, evidenciar a organização do trabalho docente e as possibilidades criadas para que as crianças participassem das discussões sobre o texto escrito.

No dia 14 de maio de 2012, a professora apresentou o texto intitulado 13 de Maio: Dia da Abolição da Es a atu a , desta a do uei ia t a alha o Hist ia e Geog afia . Esse período de estudo foi iniciado com alguns questionamentos. A Tabela 13 mostra esse primeiro momento de introdução ao assunto da aula. A Tabela foi organizada da seguinte

maneira: na primeira coluna, identificamos as linhas; na segunda, os colaboradores; na terceira, as falas e ações; na quarta, os comentários analíticos. Interessa-nos, com a TAB. 13, focalizar algumas das interações das crianças com a professora em torno do assunto da aula. Nessa transcrição, podemos ver que a professora introduz o tema da aula a partir de questionamentos sobre o assunto e como os alunos respondem a eles.

Tabela 13 -Vocês sabem quem eram os escravos, gente?

Linha Colaboradores Falas e ações Comentários analíticos

1 Profa. Dia 13, que deu no/ Os alunos chegam

agitados do recreio. A professora espera que eles se acalmem. Em seguida, faz perguntas sobre o tema da aula.

2 Domingo, não é?/

3 13 de maio foi o dia da/

4 Abolição da escravatura/

5 O que ocês acham que é isso?/

6 Abolição da escravatura/

7 Ronaldinho: Que ela trabalha muito/ Ronaldinho, ao mesmo

tempo que retira o caderno da mochila, responde. A quem ele se refere?

8 Profa. O quê?/ A professora pergunta

novamente ((olhar de estranhamento)).

9 Fala alto Ronaldinho/

10 não tô ouvindo, não/

11 Ronaldinho: Que ela trabalha muito/ Repete a resposta.

12 Profa. A abolição da escravatura/

13 ocê acha que é /

14 quem trabalha muito/

15 Cristiano: Oh:::,tia/

16 eu acho que é o dia que/

17 libertou os escravos/

18 Profa. Então, a abolição da escravatura,/ A professora confirma

a fala de Cristiano e explica que eles vão ler um texto pequeno sobre a escravidão, que ela vai entregar na folha e que eles terão que responder algumas perguntas sobre o texto.

19 exatamente Cristiano,/

20 foi quando a escravidão foi abolida do Brasil, certo?/

21 Então nós vamos (...)/

22 tem um textinho aqui que vocês (...)/

23 eu vou reunir em grupo/

24 que é melhor para vocês trabalharem./

25 Vocês vão ler o textinho/

26 tem umas perguntas aqui/

27 para resolver a respeito disso./

28 E é isso mesmo./

29 Vocês sabem quem eram os escravos, gente? Eram os:::

30 Alunos: Negros. Vários alunos

respondem.

31 Profa. Negros. A professora confirma.

32 Messi De cabelo ruim.

33 Profa. Os negros que tinham a pele preta mesmo. Prosseguindo, a

professora faz uma caracterização dos negros a partir das características físicas. 34 Tem gente que fala que é moreno, não é?

35 Mas a ve dade, a uele ali ais es u o . 36 Não::: aquele ali que é preto mesmo,

37 a cor bem cheguei mesmo.

38 Então, era esses mesmo (...).

39 Que eles eram tratados pior até do que cachorro.

40 Que nem todos os cachorros são tratados mal.

41 A gente vê isso na televisão, vê na casa da gente, não é?

42 E tem cachorro que ainda vivia muito melhor e vive do que certos negros.

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

No trecho descrito na TAB. 13 a professora ainda não havia entregado a folha com o texto para os alunos. Ronaldinho retirava o caderno de História da mochila e, ao ouvir o questionamento da professora, foi logo respondendo: Que ela trabalha muito li has e . É provável que ele tenha associado o tema a alguma outra discussão feita em sala de aula, quando professores trabalham datas comemorativas como o dia da Consciência Negra ou mesmo em discussões no meio familiar acerca dos lugares de trabalho ocupados por pessoas negras na sociedade brasileira, hipótese levantada com base nos dados retratados na TAB. 3, pois, como Ronaldinho era uma criança negra, poderia ter vivenciado discussões a esse respeito no meio familiar (Ver capítulo 3).

E seguida, C istia o espo deu: eu a ho ue o dia ue/li e tou os es a os . A professora confirmou a fala de Cristiano e explicou o que seria feito na aula. Em seguida, fez outro uestio a e to: Vocês sabem quem eram os escravos, gente? (linha 29). Os alunos espo de a se os eg os e Messi ai da essaltou: de a elo ui . A p ofesso a e t o prosseguiu caracterizando os escravos pelas características físicas.

A professora continuou com a explicação sobre a situação dos negros antes da Abolição da Escravatura, sobre os preconceitos a que estavam expostos e ainda estão. Falou a respeito da desigualdade de condições sociais desse grupo étnico. Abordou também sobre a chegada dos negros ao Brasil e frisou muito os castigos dados aos negros. Em determinado momento, a professora fez o seguinte comentário:

Apanhavam, e muitos dos castigos, gente, não eram só apanhar não. Eles rancavam a unha, eles cortavam o dedo, eles cortavam a língua dos negros. Eles faziam judiações e castigos, não era deixar eles presos lá dentro da Senzala, não. Não era pra deixar com fome, não. Porque eles deixavam com fome, também sem água e sem comida, sem nada. Os maus tratos não é maus tratinhos, não. Então os negros foram mal tratados e ainda são.Viu gente? Não com aquela força de antigamente, porque hoje em dia tem lei, né. Qualquer coisa ocê abre um processo e ainda ocê faz um dinheirinho contra algum (inaudível) alguém fizer contra a gente. Mas antigamente não tinha, não. Então, presta atenção no texto aí. (Notas. Caderno de Campo, 2012)