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CAPÍTULO II INTERVENÇÕES NAS PEA

1. Intervenções eficazes para crianças com PEA

1.2. Intervenções de competência social

Existem vários métodos de ensino criativos e eficazes para ajudar as crianças com PEA a melhorarem as suas capacidades sociais, desenvolvendo comportamentos sociais apropriados. Estas técnicas de ensino variam no que toca a alguns aspetos importantes, como são: "(...) quem inicia a troca social [adulto ou companheiro], o contexto [ensino individual ou ensino em grupo] e o objectivo social específico que está a ser ensinado [iniciativa ou resposta, jogo, etc.] (Mastergeorge et al., 2003, p. 163). Apresentamos de seguida, ainda que de forma resumida, algumas técnicas de ensino, com fundamentos empíricos, para melhorar as capacidades sociais das crianças com PEA.

Uma das técnicas assenta nos designados grupos de capacidades sociais e é administrada por adultos. Para muitos investigadores e médicos o comportamento social de crianças com PEA deve ser ensinado no próprio contexto social e não em ambientes de ensino individualizado, pelo que as intervenções de grupo são aqui regularmente incluídas. Estes grupos de capacidades sociais podem englobar apenas crianças com a mesma patologia, ou podem incluir outras crianças e de participação aberta. É de salientar que a maioria dos grupos, alvo de estudo empírico e descritos na literatura, foi desenvolvida para crianças com PEA que falam e têm um grau de funcionamento consideravelmente elevado. A fim de pôr em prática as capacidades sociais, os grupos sociais recorrendo a variadas atividades como, «lições» sociais didáticas, jogos, atividades de grupo, períodos de conversação, atividades relacionadas com alimentação, e por vezes, passeios de campo, exercitam, normalmente em ambiente escolar,

"(...) muitas vezes a linguagem corporal apropriada e o contacto visual, o reconhecimento e compreensão de emoções, a assunção de um ponto de vista e capacidades de conversação. Os comportamentos básicos importantes para as interacções, tais como apresentar-se a si mesmo, juntar-se a um grupo, cumprimentar, negociar, partilhar e esperar pela sua vez (...). Adicionalmente, estes grupos ensinam também capacidades de resolução de problemas sociais, tais como lidar com situações como a chacota e ouvir um «não», ser deixado de fora, e regular e expressar as emoções de forma adequada à idade". (Mastergeorge et al, 2003, p. 163)

Dentro da variedade de propostas e programas destacamos as intervenções, igualmente mediadas por adultos, como histórias sociais, mais conhecidas como técnica

das histórias de Carol Gray (Mastergeorge et al., 2003; Valdez, 2005). São histórias

escritas, ou "conversações desenhadas" que traduzem ensinamentos e regras sociais, como saber esperar pela sua vez, saudar as pessoas, saber partilhar, etc., com o intuito de clarificar interações sociais. São materiais manuseados num contexto individualizado e adaptados a cada caso dependendo do nível de desenvolvimento de cada criança, constituindo um suporte visual que facilita a aprendizagem de condutas sociais apropriadas em contextos específicos. As pistas visuais constituem outro recurso criativo de estímulo das iniciativas sociais, descrito por Krantz e McClannahan e consistem em deixar pistas impressas no trabalho diário das crianças com a finalidade de estimular as iniciativas sociais. Os jogos sociais, que consistem em pequenas dramatizações realizadas durante um intervalo na escola, aumentam também as interações entre colegas. Outro sistema de intervenção pode passar pela prática de

técnicas sociais para serem usadas em ambiente doméstico. Estas, para que tenham

maior êxito, devem ser praticadas de forma diária e contar com a colaboração dos pais no desenvolvimento e implementação destas em casa. Outra abordagem ainda apresentada por Mastergeorge et al. (2003, p. 166) "(...) para ensinar o comportamento social (e também muitas outras capacidades) é a modelização por vídeo (Dorwick e Jesdale, 1991)". Esta abordagem educativa, também apontada por Valdez (2005), consiste na recriação de situações sociais a partir da realização de uma gravação vídeo, de segundos apenas, com a representação, por parte de um "modelo" (adulto ou colega), de um determinado comportamento ou situação socioculturalmente definida com o objetivo de ser posteriormente imitado. Mastergeorge et al. (2003, p. 166), citando Krantz et al. (1991), sublinham a importância e eficácia desta técnica para os sujeitos com PEA "(...) já que capitaliza as suas habitualmente boas capacidades visuais e também o seu interesse natural pela televisão e pelos meios audiovisuais".

Outro tipo de intervenções destinadas a melhorar o comportamento social, e com elevado grau de sucesso no aumento das interações sociais das crianças pequenas com autismo, são as técnicas mediadas pelos companheiros. Aqui, os mediadores são efetivamente os companheiros da criança. Num contexto atual de preocupação crescente pela inclusão escolar de crianças com incapacidades, não é pois de estranhar que esta abordagem assuma tanta importância. Esta técnica consiste pois, em ensinar os colegas em idade pré-escolar, que não revelam incapacidades, a iniciar comportamentos de faz de conta subordinados a temas como partilhar, ajudar, demonstrar afeto e apreço para com as crianças com autismo. O treino destes jogos de faz de conta começa por ser realizado entre as crianças "normais" e os adultos, até as crianças terem bem assimiladas as estratégias. Num momento seguinte, estas crianças são conduzidas a interagir, "dramatizar" com as crianças-alvo. Inicialmente, estes pequenos "atores" são reforçados pelos adultos pelos seus esforços, mas é depois gradativo e cuidadosamente retirado.

Por último, referimos as técnicas comportamentais naturalistas no ensino de comportamentos sociais em contexto de aprendizagem também mediadas pelos companheiros. Trata-se de uma abordagem semelhante à que expusemos na secção dedicada à linguagem com resultados positivos tanto ao nível do comportamento social recíproco, como das iniciativas sociais, bem como ao nível da maior aceitação dos companheiros.

Após a apresentação das variadas intervenções socias para crianças com PEA, podemos assim concluir que as inabilidades sociais características do autismo são remediáveis. Todas estas técnicas de ensino criativas foram desenvolvidas com o fim de melhorar a qualidade e a frequência dos comportamentos sociais destas crianças. Contudo, e particularmente eficazes, parecem ser as mediadas pelos companheiros, uma vez que existe uma maior facilidade de generalização das interações com os companheiros.