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CAPÍTULO VI TRATAMENTO DE DADOS

2. Discussão dos resultados

2.4. Que articulação se estabelece entre a escola e a família?

Do testemunho de todos os entrevistados sobressaiu clara a importância do envolvimento e colaboração da família no processo educativo das crianças com PEA, indo de encontro ao defendido por diversos autores, e de que demos conta no capítulo II.

Porém, na prática, se por um lado os professores e as educadoras destacaram a existência de "(...) uma ligação muito grande e (...) uma abertura muito grande entre

nós e os pais (...)" (PEE1), do outro lado as mães não confirmaram esta estreita ligação

e articulação entre a escola e a família.

Assim, a partir dos testemunhos recolhidos junto dos PEE e das EER observámos que a articulação se concretiza "através de reuniões (…) em conversas

informais" (EER2), e a partir de "(...) um caderninho (...) de recados que vai para a mãe, vai para a educadora, passa por nós (...)" (PEE1), onde "(...) avanços e recuos vão sendo transmitidos, de nós para eles, para os pais, e (...) para os educadores (…) e eles também nos vão transmitindo isso (...) e com a terapeuta da fala também, diariamente" (PEE1).

Da parte das mães, e apesar de confirmarem a existência de articulação estabelecida através de "(...) informação escrita num caderninho (...)" (M2) e

"conversas, às vezes, muitas vezes (...) em que dizem o que é que fizeram, o que é que não fizeram" (M1), afirmaram ao mesmo tempo, que "não fazem (...) comigo não fazem (...) a verdadeira articulação escola/pais, não" (M2).

Na sequência destas afirmações, e a partir das palavras desta mãe, foi revelada a necessidade de querer "(…) ter mais articulação, mais informação sobre as dificuldades

que eles sentem na «Mariana»... o feedback, como é que ela esteve em termos de aquisição (...). Eu não tenho muito esse feedback!" (M2), acrescentando que "(...) esse trabalho é feito numa avaliação final de trimestre, que eu acho que é pouco" (M2).

Mais foi sublinhado por esta mãe que "eu (...) estava interessada em dar mais

continuidade (...) eu trabalho muito a minha filha em casa (...) se eu soubesse quais foram as dificuldades dela nesta semana na sala TEACCH talvez eu fosse ao encontro delas, e ao encontro das minhas avaliações, das necessidades que eu avaliei".

Daqui concluímos que existe colaboração e articulação entre a escola e a família, ainda que, do ponto de vista das mães, se revele insuficiente.

Sobre esta matéria, recordamos a opinião de Rivière (2010) que considera imprescindível a existência de uma colaboração estreita entre a família e a escola, constituindo esta relação, e na opinião de muitos outros investigadores, um dos fatores mais relevantes no êxito das tarefas educativas e terapêuticas com crianças autistas. Inferimos assim, que as mães corroboram este pensamento, considerando que o sucesso e ajuda a prestar aos seus filhos teria tanto mais êxito quanto maior fosse a articulação e colaboração com a escola, já que a existência desta colaboração estreita "(...) era uma

mais-valia, era fundamental. (...) porque a mãe é a pessoa que melhor conhece e melhor sabe como lidar com ele e sabe o que é que funciona, e o que é que não funciona" (M1).

Ainda a este propósito, relembramos as palavras de Costa (2001, p. 109) que relata que

"A investigação demonstrou que o interesse dos pais pelo sucesso escolar dos seus filhos e, eventualmente a sua ajuda, constituem um dos principais factores que contribuem para esse mesmo sucesso (Wang, 1994). Nesta medida, os pais devem ser considerados como um recurso fundamental que caberá à escola, na medida do possível, incentivar e apoiar, criando as condições para que sintam que são encarados como verdadeiros parceiros".

Na UEEA em estudo, constatámos porém que estas mães revelaram não serem encaradas como verdadeiros parceiros pela escola, na medida em que, afirmaram que

ficar lá muito tempo, que eles é que estão com o menino, que eles é que sabem, pronto (...)" e "eles [professores] preferem que os pais não tenham [participação]" (M1).

No que toca à existência de formação promovida pelo AE, todos os elementos da amostra, exceto a PEE2, declararam que o mesmo organizou formação específica sobre as PEA: uma este ano, e "(...) no ano passado houve também formação (...)" (M1). Constatámos pois, e também pelos documentos constantes no Anexo 11, facultados pelo AE, ter sido dado cumprimento ao disposto na alínea b), do n.º 6, do art. 25.º do DL n.º 3/2008. Realçamos que estas iniciativas, e como se comprova pelas próprias brochuras de divulgação das ações, contaram com a colaboração da APPDA de Viseu e também com a colaboração dos pais.

Não obstante a assunção, pelas mães, da importância da realização destas formações - "(...) foi muito bom" (M1)- , foram tecidas críticas sobre a escassez de formação, da sua realização tardia (já no final do ano letivo) e ainda sobre o facto de, inicialmente, se destinarem apenas a professores: "(...) acho que deveria haver mais

(...)" (M1); "(...) abriu-se uma sala que se diz ser especializada para, mas não houve formação, não deram formação... era a coisa fundamental (...) achei que foi uma falha muito grande da parte da escola não ter dado a formação, nem que fosse a preparação antes de começar..." (M1); e "(...) fez duas formações destinadas a professores, e por arrasto os pais depois também tiveram... foram convidados! Mas era destinada a professores" (M2). Pelo exposto, evidenciámos, por parte das mães, um certo

desencanto pelo facto das famílias não se encontrarem à partida envolvidas a este nível e não lhes ter sido facultada "formação" inicial. Ajuda profissional que, como afirma Rivière (2010) assume importância vital.

Importa ainda esclarecer a resposta da PEE2 "(...) eu acho que não, nunca

promoveu (...)" formação, querendo a mesma apenas realçar que a iniciativa não partiu

da direção do agrupamento de escolas, ao qual, de resto, a docente pertence. A mesma partiu dos professores de educação especial, que como relatou "(...) promovi uma sessão

de esclarecimento cá na escola para os professores, pessoal docente e não docente e pais/encarregados de educação, e este ano, também, eu com 2 colegas (...)".

Do exposto, e no que toca ao trabalho de articulação que é feito entre o AE e a família ao nível de formação, podemos afirmar que, embora o mesmo exista, não é

suficiente e, como foi testemunhado, o mesmo revelou-se de certa forma extemporâneo, ainda que sempre tenha sido considerado positivo.