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CAPÍTULO III A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM PEA

4. Métodos pedagógicos de intervenção educacional

4.1. Método TEACCH

A metodologia TEACCH surgiu nos anos 60 na sequência de um projeto de investigação desenvolvido por Eric Schopler, que tinha como propósito ensinar aos pais de crianças com PEA técnicas comportamentais e métodos de educação especial que correspondessem às necessidades dos seus filhos. Na sua tese de doutoramento, Schopler pretendia provar que o autismo não era uma doença emocional e que a sua origem em nada se relacionava com as eventuais relações frias de vinculação entre pais e crianças. Eric quis assim demonstrar que o autismo

"(...) seria um modo perturbado de experienciar e compreender o mundo, incluindo um défice nos processos sensoriais, modos de pensamento e compreensão não usuais, interações sociais restritas, perturbação da comunicação e interesses restritos". (Lima,

2012, p. 47)

Este método foi depois desenvolvido na década de 70, por este psicólogo americano, e seus colaboradores, no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, como resposta a uma falta de atendimento educacional para as crianças com autismo nestes dois estados. Este projeto tinha como propósito coligir todas as informações e recursos necessários para o desenvolvimento e implementação de programas de tratamento psicoeducacional individualizado para crianças com autismo, a partir da co-terapia entre pais e terapeutas, com a missão de permitir aos indivíduos autistas participarem o mais possível, significativa e independentemente, na comunidade. O programa centra-se, portanto, não só na ajuda às pessoas com PEA como também às suas famílias, sempre com uma

preocupação superior de preparar os autistas para serem mais autónomos e atenuarem os seus comportamentos não desejados, "(...) para que vivam ou trabalhem de forma mais autónoma possível em casa, na escola ou no local de trabalho" (Pereira & Serra, 2006, p. 51).

Monte e Santos (2004, p. 9) referem que a metodologia TEACCH se baseia:

"(...) na adaptação do ambiente para facilitar a compreensão da criança em relação a seu local de trabalho e ao que se espera dela. Por meio da organização do ambiente e das tarefas de cada aluno, o TEACCH visa o desenvolvimento da independência do aluno de forma que ele precise do professor para o aprendizado de atividades novas, mas possibilitando-lhe ocupar grande parte de seu tempo de forma independente".

No mesmo sentido, Lima (2012, pp. 47-48) descreve o modelo TEACCH como

"(...) um modelo de ensino que através de uma «estrutura externa», organização de espaço, materiais e atividades, permite criar mentalmente «estruturas internas» que devem ser transformadas pela própria criança em «estratégias» e, mais tarde, automatizadas de modo a funcionar fora da sala de aula em ambientes menos estruturados. O objetivo final é ajudar a criança com Autismo a crescer da melhor maneira possível, de modo a atingir o máximo de autonomia na idade adulta".

Por outras palavras, o programa de tratamento e educação TEACCH baseia-se em ensinar de forma estruturada com uma variedade de ambientes, incluindo a casa da criança e a escola. Trata-se pois, de um programa estruturado assente na premissa que os autistas, em geral, aprendem melhor por visualização e apreciam rotinas estruturadas. A este propósito, Nelles (n.d., p. 55) realça a importância dos meios visuais ilustrando que

"Les repères visuels c'est un peu pour la personne autiste ce qu'est la canne blanche pour les aveugles. La canne rassure et rend autonome, peu importe le trajet, l'activité. Mais tant qu'il sera non-voyant, l'aveugle aura besoin de sa canne".

Assim, o ambiente de uma sala organizado de acordo com o método TEACCH conjuga variados materiais visuais para organizar o ambiente físico através de rotinas e sistemas de trabalho, com o objetivo principal de tornar o ambiente mais compreensível, com vista à independência do sujeito autista. Desta forma, a criança aprende a estruturar o seu quotidiano e a comunicar através do uso de figuras. Como refere Nelles (n.d.) a previsibilidade do dia, o desenvolvimento de cada atividade, o dispor de um meio de comunicação visual, evita e mesmo previne muitas crises de angústia e ansiedade no

sujeito autista, assim como comportamentos difíceis. Com a finalidade de atingir estes objetivos, e como já anteriormente referimos, este programa apoia-se na perspetiva desenvolvimental, no ensino estruturado e na colaboração dos pais e professores.

De acordo com os princípios do programa TEACCH, para que uma sala esteja bem estruturada são indispensáveis cinco fatores:

- Estruturação física do espaço;

- Organização visual, como o horário diário ou os modelos visuais; - A gestão de problemas de comportamento;

- Elaboração de um sistema de comunicação expressiva-recetiva;

- Desenvolvimento de um plano de intervenção personalizado que permita aos educadores avaliar os progressos da criança.

O ensino estruturado inclui a utilização de uma rotina de trabalhos. Deste modo a sala tem que ser um espaço com áreas bem definidas e separadas por fronteiras físicas (armários, biombos, etc.). Na sala existe o espaço para aprender, trabalhar, brincar e lanchar. Assim, a criança saberá o que se espera dela quando se dirige para cada uma das referidas áreas, dado que as aprendizagens destas crianças se constroem em rotinas organizadas. O horário é também importante porque dá à criança uma noção de sequência das atividades que irá efetuar durante o dia. Este é colocado à entrada da sala e o tipo do mesmo varia de acordo com o nível de desenvolvimento da criança. Deste modo, podem ser utilizados horários com objetos reais, fotografias, imagens, pictogramas e palavras. Todos os símbolos devem ter as palavras associadas e a disposição do horário pode ser na vertical de cima para baixo, ou na horizontal da esquerda para a direita. Não menos importante, é o plano de trabalho, pois informa a criança do que tem que fazer numa determinada área. Aqui, esta cumpre o trabalho sem supervisão do professor, o que contribui para a sua autonomia. Nesta área, a mesma executa as tarefas que já aprendeu anteriormente na área da sala destinada a «aprender». O plano de trabalho é, assim, organizado e estipulado pelo professor. As tarefas, que dele constam vão sendo diversificadas de acordo com as aprendizagens efetuadas.

Este modelo baseado no ensino estruturado e na individualização procura compensar os défices cognitivos, sensoriais, sociais, comunicacionais e comportamentais presentes no autismo. Em suma, e como referem Monte e Santos (2003, p. 29),

"O método TEACCH não utiliza o ensino estruturado como uma técnica para organizar o ensino da criança, mas sim para encontrar a forma de estrutura e organização que melhor se adapte à criança e pela qual ela possa compreender melhor o seu ambiente e, assim, aprender de forma mais eficiente".

No mesmo sentido, Nelles (n.d.) ilustra a filosofia do programa TEACCH com a imagem de um quadro. Ou seja, esta psicóloga sublinha que não se trata de integrar um autista num determinado quadro, mas de criar, construir e adaptar um quadro (estrutura) em função de cada autista, com o objetivo principal de dar à pessoa autista os meios para melhor compreender o que se passa à sua volta, para melhor se poder expressar e para melhor viver.