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3. Metodologia

3.2. Investigação interpretativa

“A investigação qualitativa em educação assume muitas formas e é conduzida em múltiplos contextos” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 16), que neste caso segue uma metodologia qualitativa de cariz naturalista interpretativa, adotando uma estratégia de observação participante. É uma investigação naturalista porque o local da investigação é onde se verificam os fenómenos, em que a fonte direta dos dados é o local onde toda a interação entre professores e alunos tem, naturalmente, o seu espaço — sala de aula, e o investigador é o instrumento de recolha de dados. Sendo uma investigação de cariz interpretativa, em que o produto resulta de um processo de interpretação, é forte a importância dada ao significado dos dados e ao entendimento do significado como algo que é conferido pelos atores às ações nas quais se empenham (Bogdan e Biklen, 1994). Sendo um estratégia de observação participante, procura-se também conhecer os processos, dinâmicas e perspetivas dos intervenientes numa determinada situação mas em que não existe preocupação em descrever o seu caráter único e em delimitá-lo como caso.

A observação dos participantes é, na opinião de Tuckman (2000), o dispositivo mais utilizado para a recolha de dados e, na investigação qualitativa em educação isto significa, muitas vezes, estar sentado na sala de aula, de uma forma tão discreta quanto possível e observar os professores e os alunos. Tuckman (2000) acentua mesmo, que significa apenas olhar, não necessitando ser um “olhar” totalmente não-estruturado pois normalmente significa procurar encontrar algo. Assim, o aspeto mais crítico da observação é “olhar”, tentando apreender tanto quanto for possível, sem influenciar aquilo para que se está a olhar. Contudo, cada observador, deve estar prevenido de que o que se passa perante si, representa — pelo menos em parte — uma performance que visa influenciar os seus juízos de valor. Esta situação é inevitável e quanto mais observações, o investigador fizer, e quanto mais discreto permanecer, menos vai influenciar provavelmente o que se está a passar junto de si.

Portanto, o foco da investigação qualitativa é a compreensão mais forte dos problemas, é estudar o que influencia comportamentos, atitudes ou crenças, pois uma investigação qualitativa tem como objetivo encontrar o sentido dos fenómenos. Como o seu estudo é situado no local onde este ocorre, pretende-se interpretar os significados,

81 percetíveis ou ocultos, que lhe são conferidos pelos sujeitos/atores nele envolvidos (Fernandes, 1991 e Tuckman, 2000). Compreende, ainda, um conjunto de questões de investigação, em que as notas de campo contêm descrições e reflexões, representando assim, não só os dados, mas também a sua análise (Tuckman, 2000).

Com todas estas características do design escolhido para a investigação, integrei-me na vida do grupo, observando e não interferindo no rumo dos acontecimentos. Não registando meramente o que observei, uma vez que se pretende interpretar os dados recolhidos.

Assim, os pressupostos de uma investigação deste tipo correspondem aos estabelecidos por Bogdan e Biklen (1994), que referem que uma investigação qualitativa associa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características. Os dados recolhidos são ricos em pormenores descritivos mas de complexo tratamento estatístico e é privilegiado a compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação. Desta forma, estes autores descrevem cinco características fundamentais da investigação qualitativa: (1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural, sendo o investigador o instrumento principal, que se introduz, com maior ou menor grau, no ambiente onde pretende recolher os dados assumindo que o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que ocorre; (2) os dados recolhidos são descritivos, sendo organizados em forma de palavras ou imagens e não em números e, os investigadores tentam analisá-los, com toda a sua riqueza, respeitando, o mais possível, a forma como eles foram registados ou transcritos; (3) os investigadores qualitativos interessam-se sobretudo pelo processo considerando os resultados ou produtos em segundo lugar; (4) os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva, não se pretendendo confirmar hipóteses prévias, mas antes construir abstrações com base em dados particulares; (5) o significado é de importância vital na abordagem qualitativa, fazendo com que os investigadores qualitativos se preocupem em se certificar de que as diferentes perspetivas estão a ser apreendidas adequadamente.

Ainda, na opinião de Tuckman (2000), as características do processo de uma investigação deste tipo são: (i) a investigação é sistemática, pois é um processo estruturado havendo regras a que se deve obedecer para a realizar; (ii) a investigação é lógica, pois obedece a um sistema que assenta na lógica, sob muitos aspetos, tendo em conta que a lógica inerente a um processo de investigação válido faz com que este constitua um instrumento de grande valor na tomada de decisões, relativamente ao processo de intuição, para a recolha de dados; (iii) a investigação é irredutível, pois o investigador aplica metodologias analíticas relativamente aos dados reconhecidos, para reduzir a confusão de determinados fenómenos e objetos, construindo categorias concetuais mais gerais e compreensíveis, fazendo com que este processo de redução consista no transformar a realidade empírica num constructo abstrato e concetual, na tentativa de compreender a relação entre os fenómenos, e de predizer o modo como estas relações se podem aplicar noutros contextos; (iv) a investigação é replicável e transmissível uma vez que o processo de investigação, na medida em que dá origem a um documento, possibilita a generalização e permite a réplica e é, por sua própria

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natureza, muito menos transitório do que os produtos resultantes de outros processos de resolução de problemas.

Um estudo desta natureza implica um grande envolvimento, afetivo e emocional, do investigador. E, uma questão importante a considerar é: será esta investigação objetiva? Bogdan e Biklen (1994) referem que a objetividade é definida como o facto de se considerar de igual forma toda a informação recolhida ou de não se assumir nenhum ponto de vista particular em detrimento de outro. Segundo Eisenhart (Ponte, 2006) o investigador deve estar envolvido na atividade como um insider mas ser capaz de refletir sobre ela como um outsider. Desta forma, tendo presente a necessidade de respeitar a objetividade da investigação fui mais além e tive em conta os seguintes aspetos que Bogdan e Biklen (1994) salientam ser importantes: as identidades dos sujeitos devem ser protegidas, para que a informação que o investigador recolhe não possa causar-lhes qualquer tipo de transtorno ou prejuízo; os sujeitos devem ser tratados respeitosamente e de modo a obter a sua cooperação na investigação; ao negociar a autorização para efetuar um estudo, o investigador deve ser claro e explícito com todos os intervenientes relativamente aos termos do estudo e deve respeitá- lo até à sua conclusão; ao escrever os resultados deve ser-se autêntico.