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Técnica de análise de dados

3. Metodologia

3.6. Técnica de análise de dados

“A análise de dados é o processo de busca e de organização sistemático de (…) materiais que foram sendo acumulados, com o objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 205). Como salientam estes autores, analisar os dados recolhidos significa interpretar o material recolhido e dar-lhes sentido e, a análise dos dados

89 pressupõe a organização, a divisão, a síntese, a procura de padrões, a descoberta do que é relevante e a decisão do que se vai transmitir aos outros.

Desta forma, a organização da análise dos dados, segundo Bardin (2002), passa por três fases distintas e cronológicas: (1) a pré-análise, em que se faz a organização propriamente dita, correspondendo a um período de intuições, mas com o objetivo de tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas; (2) a exploração do material, considerando que se as diferentes operações da pré-análise foram convenientemente concluídas, a fase da análise não é mais do que a administração sistemática das decisões tomadas, podendo no entanto ser uma fase longa e fastidiosa, que consiste essencialmente em operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas; (3) o tratamento dos resultados, em que os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos de forma a poderem ser feitas inferências e interpretações.

Após a recolha dos dados estes precisam de ser tratados e, segundo Bardin (2002), torna-se necessário saber a razão porque se analisa, e deve-se explicitá-lo de modo a que se possa saber como analisar. Na sua opinião tratar o material é codifica-lo e, deste modo, os dados precisam de ser organizados e categorizados segundo critérios relativamente flexíveis e previamente definidos, de acordo com os objetivos da pesquisa.

Assim, para poderem ser tratados os dados, foram transcritas integralmente todas as aulas, num total de dezanove, bem como todas as notas de campo, divididos em pequenos episódios, que foram posteriormente categorizadas, segundo um protocolo de identificação construído para o efeito e apresentado em detalhe no capítulo 4. No contexto desta investigação, um episódio é definido como um segmento (momento) da aula, tendo todas as aulas sido divididas em pequenos momentos de acordo com a contextualização da situação, por exemplo, se a intervenção era da professora ou se era dos alunos, ou se o assunto tratado mudava de rumo.

Além do memorando de observação estabelecido para a recolha de dados aquando da observação das aulas foi, também, necessário definir uma lista de categorias de codificação para a análise dos dados que, na opinião de Bogdan e Biklen (1994), constitui um instrumento para classificar os dados recolhidos, permitindo que esse material possa ser diferenciado. Para estes autores, determinadas questões e preocupações de investigação podem mesmo originar a definição de categorias e, por outro lado, algumas das categorias (ou mesmo subcategorias) podem surgir enquanto a recolha de dados está a ser realizada, considerando também que a primeira tentativa para atribuir as categorias de codificação dos dados é na realidade um teste de viabilidade das categorias que foram identificadas.

A codificação, para Bardin (2002), corresponde a uma transformação efetuada segundo regras precisa dos dados brutos. É um processo de tipo estruturalista e comporta duas etapas: o inventário (isolar os elementos) e a classificação (repartir os elementos, e portanto procurar ou impor uma certa organização às mensagens). Essa transformação, diz Bardin (2002), por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do

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conteúdo, ou da sua expressão, suscetível de esclarecer o investigador acerca das características dos dados. Na sua opinião a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género, com os critérios previamente definidos. As categorias, são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns desses elementos. Classificar elementos em categorias, impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros e o que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles. Porém, cada conjunto de dados pode ser codificado de acordo com mais de uma categoria, extraídas de mais de uma família de codificação (Bogdan e Biklen, 1994). Para estes autores, as famílias de codificação deverão proporcionar alguns instrumentos para o desenvolvimento de categorias de codificação que serão úteis na classificação dos dados mas não implica que a análise seja apenas com os olhos nos dados e não das perspetivas e expetativas que o investigador tem, pois são os valores sociais e as maneiras de dar sentido ao mundo que podem influenciar quais os processos, atividades, acontecimentos e perspetivas que os investigadores consideram suficientemente importantes para codificar (Bogdan e Biklen,1994).

Entretanto, existem para Bardin (2002), boas e más categorias e um conjunto de categorias boas, deve possuir as seguintes qualidades: (a) exclusão mútua — cada elemento não deve existir em mais de uma divisão, mas se em determinadas situações tal não é possível, cabe ao investigador providenciar para que não haja ambiguidade na hora da escolha; (b) homogeneidade — o princípio da exclusão mútua depende da homogeneidade das categorias e num mesmo conjunto categorial, só se pode funcionar com um registo e com uma dimensão da análise; (c) pertinência — a categoria é considerada pertinente quando está adaptada ao material de análise escolhido e quando pertence ao quadro teórico definido; (d) objetividade e fidelidade — diferentes dados, ao qual se aplicam a mesma grelha categorial, devem ser codificados da mesma maneira, mesmo quando submetidos a várias análises; (e) produtividade, um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultados férteis.

Além da necessidade de definir boas categorias, temos que ter em conta que uma investigação qualitativa proporciona muitos dados significativos e consistentes, mas também muito difíceis de serem analisados. Assim sendo, quando são muitos dados a analisar, tendo em conta que os códigos categorizam a informação a diferentes níveis, às categorias de codificação podem ser associadas, e neste caso foram, subcategorias de forma a facilitar a difícil tarefa que é analisar os dados de que se dispõe. As categorias são mais abrangentes do que as subcategorias que dividem os códigos principais em categorias mais pequenas, não esquecendo que o conjunto das categorias e subcategorias deve ser exaustivo e que devem ser mutuamente exclusivas.

Sendo a análise de dados uma tarefa morosa e complexa, para a sua organização recorri ao programa de análise de dados qualitativos Atlas.ti (versão 7). Este programa

91 desenvolvido em Berlim, num projeto de colaboração entre o Departamento de Psicologia da Universidade de Berlin e Thomas Muhr, que tem sido alvo de atualizações desde a sua criação em 1989.

O programa permitiu que após a categorização dos dados, estes fossem armazenados e estruturados através de diagramas, mapas e redes. O programa não foi usado como gerador de categorias ou subcategorias, mas possibilitou olhar para os dados e para a minha categorização de diferentes formas, permitindo-me analisar todos os dados em grande e em pequena escala, fazendo uma análise por categorias e respetivas subcategorias, por aula e por professora. Estas diferentes representações proporcionadas pelo programa facilitaram a análise.

Na figura 3.6. encontra-se a reprodução de um ecrã de computador contendo um episódio de uma aula da professora Mariana associado a seis subcategorias de análise, segundo a representação proporcionada pelo Atlas.ti.

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4. Protocolo para a identificação das