2.1. Múltiplas perspetivas da inteligência
2.1.2. As novas abordagens do estudo da inteligência
2.1.2.3. Teoria triárquica da inteligência de Sternberg
Partindo de uma abordagem cognitiva à inteligência, o psicólogo Sternberg desenvolveu uma teoria à volta do constructo inteligência a que chamou teoria triárquica da inteligência. De acordo com esta teoria, a inteligência é muito mais do que um conjunto de
33 aptidões pois integra uma série de facetas — internas, contextuais e experiencias (Almeida, Guisande e Ferreira, 2009; Sternberg, 1999, 2006; Sternberg e Prieto, 1991). A teoria triárquica sugere que existem três aspetos principais da inteligência: (i) o componencial, que foca as componentes mentais envolvidas na análise da informação necessária à resolução de problemas; (ii) o experiencial, que salienta o modo como as experiências anteriores afetam a inteligência e como essa experiência é trazida para os problemas; (iii) o contextual, que entra em linha de conta com o sucesso com que as pessoas lidam com as exigências do dia-a-dia.
Segundo Sternberg e Prieto (1991) a subteoria componencial especifica os processos que subjazem ao processamento da informação e como estes ajudam a entender o comportamento inteligente. Esta subteoria explica três tipos de componentes: meta- componentes, componentes de realização e componentes de conhecimento-aquisição:
— os meta-componentes são processos executivos de ordem superior que se usam para planear uma atividade, controlar e avaliar o resultado. Os meta-componentes que explicam a inteligência são: a) reconhecer e definir um problema é a capacidade para determinar o melhor procedimento para o enfrentar; b) selecionar uma série de passos para resolver o problema; c) selecionar a estratégia mais adequada para combinar os passos selecionados; d) representar a informação para ter uma imagem clara sobre a eficácia ou não da estratégia escolhida; e) localizar as fontes necessárias para resolver o problema; f) controlar os processos de resolução do problema e sua avaliação.
— os componentes de realização são processos de ordem inferior que executam as instruções que os meta-componentes dão. Os principais componentes, resultantes da teoria componencial, são: a) codificar, que consiste em identificar os atributos de um estímulo, usando a informação armazenada; b) inferir, que estabelece relações entre os estímulos; c) correspondência, que consiste em descobrir relações entre as relações; d) aplicar, as inferências a novas situações, processo mediante o qual se extrapola a relação induzida a novas situações; e) comparar, que consiste em decidir qual das possibilidades alternativas é a melhor para solucionar um problema; f) justificar, que supõe decidir se a solução escolhida é boa para resolver o problema. — os componentes de conhecimento-aquisição são os processos que se usam para adquirir informação nova, recordar a já existente e transferi-la a um novo contexto e são três os componentes essenciais: a) codificação seletiva, consiste em localizar e usar os elementos relevantes para a solução de um problema, ignorando os irrelevantes; b) combinação seletiva, integra toda a informação de uma forma plausível num todo; c) comparação seletiva, supõe relacionar a informação nova com a que previamente foi adquirida a fim de lhe dar significado.
A subteoria experiencial, que Sternberg e Prieto (1991) consideram ter como finalidade mediar as relações entre a componencial e a contextual, remete para a questão da familiaridade das tarefas e seu impacto no desempenho cognitivo. A maioria das tarefas e situações são inicialmente novas, mas conforme o indivíduo vai adquirindo experiência, pode
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controlar e automatizar as situações. Segundo a perspetiva da teoria triárquica entende-se que existem dois elementos importantes no desenvolvimento cognitivo do indivíduo: capacidade para enfrentar situações novas e capacidade para automatizar a informação. Nas tarefas em que existe uma familiarização, o processo de realização é assumido como local e automático, requerendo níveis de processamento pré-consciente e não hierárquico (Almeida, Guisande e Ferreira, 2009). Esta situação pode ser uma explicação para o facto de as pessoas mais experientes apresentarem melhores resultados do que os inexperientes.
A subteoria contextual (Sternberg e Prieto, 1991) explica a utilização dos componentes da inteligência em situações da vida diária. Existem três tipos de mecanismos — adaptação, modelação e seleção, através dos quais o sujeito se relaciona com o seu meio. A adaptação, a modelação e a seleção são funções do pensamento inteligente à medida que ele decorre num contexto. Podem ser usadas hierarquicamente mas não necessariamente. A adaptação implica a modificação das próprias funções cognitivas e afetivas para alcançar um ambiente adequado às necessidades, interesses e motivações. A seleção implica a procura de alternativas mais adequadas às necessidades e capacidades do indivíduo. A modelação implica a modificação do ambiente para conseguir uma melhor adaptação do indivíduo. Esta subteoria, segundo Almeida, Guisande e Ferreira (2009), contrapõe a utilidade de uma capacidade abstrata, como o fator g, e apela antes à capacidade do sujeito para processar a informação em contexto, podendo essa informação ser mais ou menos familiar.
Sternberg, diz Feldman (2001), argumenta que o sucesso na carreira exige um tipo de inteligência bem diferente da que está envolvida no sucesso académico. Enquanto este tem como base o conhecimento de informações específicas obtidas através da leitura e da audição, a inteligência prática é sobretudo aprendida através da observação e da modelagem. Portanto de acordo com a teoria triárquica da inteligência há três aspetos que interagem na inteligência (Davidson e Downing, 2000; Furnham, 2011). O primeiro, subteoria componencial, que é interno ao indivíduo, consiste nas habilidades de processamento de informação que guia o comportamento da inteligência, referindo-se à capacidade para fazer novas aprendizagens, pensar analiticamente e resolver problemas. O segundo, subteoria experiencial, envolve a capacidade de criar uma correspondência ideal entre uma habilidade e um ambiente externo, referindo-se à capacidade para combinar diferentes experiências de modo criativo e único. O terceiro, subteoria contextual, envolve a capacidade de capitalizar sobre as suas experiências para processar tanto novas como desconhecidas informações com sucesso, referindo-se à capacidade para lidar com os aspetos práticos do ambiente e para se adaptar a contextos novos e mutáveis.
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